No dia 17 de janeiro o
leitor Alfredo Zavatte, de
Botucatu (SP), enviou a esta
revista uma interessante
questão relacionada com a
prática mediúnica:
Pode/deve um orientador
(doutrinador) de trabalhos
de desobsessão que trabalha
no Centro "A" ir trabalhar
como orientador no Centro
"B" no mesmo dia? Por
exemplo: o orientador
trabalha numa terça-feira
até às 18h na Casa Espírita
"A" e nesse mesmo dia
(terça-feira) ele vai, às
20h, trabalhar também como
orientador na casa "B". E se
for em dias diferentes?
Queremos deixar claro que
não somos contra um
orientador (doutrinador) ir
ajudar um grupo
recém-formado num Centro que
está iniciando seus
trabalhos de desobsessão,
mas sim de Centros que já
desenvolvem esse trabalho há
muitos anos.
A questão proposta suscitou
manifestações de diversos
leitores e colaboradores de
nossa revista.
Trata-se, evidentemente, de
um assunto importante,
especialmente porque, se
existem muitos cursos e
seminários voltados para a
preparação e educação de
médiuns psicógrafos e
psicofônicos, o mesmo
cuidado não se verifica no
tocante à doutrinação e ao
esclarecimento das entidades
comunicantes.
Por causa disso, toda vez
que se forma uma equipe de
trabalho é comum que algum
doutrinador/esclarecedor
assuma a tarefa da
doutrinação por algum tempo
– medida que, às vezes, se
prolonga por anos.
Há quem entenda não existir
nenhum inconveniente no fato
de uma mesma pessoa conduzir
duas reuniões mediúnicas em
dois Centros Espíritas, em
dias diferentes. Assim pensa
nosso irmão Gebaldo José de
Sousa, um dos colaboradores
da equipe de redação desta
revista.
A inconveniência, segundo
ele, haveria em quaisquer
outros médiuns – que não o
dirigente – participar de
dois grupos distintos,
inconveniência, aliás,
mencionada por André Luiz.
De fato, lemos no cap. 25 do
livro Desobsessão, de
André Luiz:
“Na obra da desobsessão, os
médiuns psicofônicos são
aqueles chamados a emprestar
recursos fisiológicos aos
sofredores desencarnados
para que estes sejam
socorridos. Deles se pede
atitude de fé positiva,
baseada na certeza de que a
Espiritualidade Superior
lhes acompanha o trabalho em
moldes de zelo e supervisão.
Compreendendo que ninguém é
chamado por acaso a tarefa
de tamanha envergadura
moral, verificarão
facilmente que, da
passividade construtiva que
demonstrem, depende o êxito
da empreitada de luz e
libertação em que foram
admitidos.
Atentos à função especial de
colaboradores e medianeiros
em que se acham situados, é
justo se lhes rogue o
cuidado para alguns pontos
julgados essenciais ao êxito
e à segurança da atividade
que se lhes atribui: 1 -
desenvolvimento da
autocrítica; 2 - aceitação
dos próprios erros, em
trabalho medianímico, para
que se lhes apure a
capacidade de transmissão; 3
- reconhecimento de que o
médium é o responsável pela
comunicação que transmite; 4
- abstenção de melindres
ante apontamentos dos
esclarecedores ou dos
companheiros, aproveitando
observações e avisos para
melhorar-se em serviço; 5 -
fixação num só grupo,
evitando as inconveniências
do compromisso de
desobsessão em várias
equipes ao mesmo tempo
(...)”. (Desobsessão,
cap. 25.)
Hermínio C. Miranda, no
livro Diálogo com as
Sombras, reitera a
orientação de André Luiz:
“Como a psicofonia é a
mediunidade mais indicada
para esse tipo de tarefa,
André Luiz nos oferece, no
seu já citado Desobsessão,
um valioso decálogo de
recomendações e sugestões.
Mesmo que o leitor disponha
de um exemplar, parece que
vale a pena reproduzir aqui
o texto. André considera
tais cuidados essenciais ao
êxito e à segurança da
atividade atribuída aos
médiuns.
É aconselhável, pois, aos
médiuns psicofônicos:
* Desenvolvimento da
autocrítica.
* Aceitação dos próprios
erros, em trabalho
mediúnico, para que se lhes
apure a capacidade de
transmissão.
* Reconhecimento de que o
médium é responsável pela
comunicação que transmite.
* Abstenção de melindres
ante apontamentos dos
esclarecedores ou dos
companheiros, aproveitando
observações e avisos para
melhorar-se em serviço.
* Fixação num só grupo,
evitando as inconveniências
do compromisso de
desobsessão em várias
equipes ao mesmo tempo.” (Diálogo
com as Sombras, Segunda
Parte, cap. 3.)
Resta-nos, então, examinar a
pergunta formulada pelo
leitor: a restrição citada
no tocante aos médiuns
psicofônicos estende-se aos
doutrinadores/esclarecedores?
Não existe nas obras
espíritas que conhecemos uma
orientação precisa a
respeito do assunto, salvo o
que Divaldo Franco consignou
na questão 90 do livro
Diretrizes de Segurança,
um diálogo em torno das
múltiplas questões da
mediunidade, escrito em
parceria com J. Raul
Teixeira.
Eis o teor completo da
referida questão:
90. O que podemos pensar da
atitude de muitos que, à
guisa de cooperarem com
vários Centros Espíritas, na
segunda-feira, frequentam um
trabalho num determinado
Centro; na terça estão num
trabalho mediúnico, noutro
Centro; na quarta-feira num
terceiro, e assim
sucessivamente?
Divaldo
– Há um ditado que diz:
“quem muito abarca, pouco
aperta”. Quem pretende fazer
tudo, faz sempre mal todas
as coisas. Por que essa
pretensão de ajudar a todos?
Se cada um cumprir com seu
dever, com dedicação, no
local em que o Senhor o
colocou, estará realizando
um trabalho nobilitante. A
presunção de atender a todos
é, de certo modo, uma forma
de autossuficiência, pois
quem assim age acredita que,
não estando em algum lugar,
as coisas ali não irão bem.
E quando desencarnar? Então
é melhor vincular-se a um
grupo de pessoas que lhe
sejam simpáticas, para que
as reuniões sérias, de que
trata O Livro dos Médiuns,
de Allan Kardec, possam
produzir os frutos
necessários e desejados.
(Diretrizes de Segurança,
questão 90.)
Além da observação feita por
Divaldo, lembremos que André
Luiz modificou em sua obra,
acima mencionada, o conceito
que sempre se fez, em nosso
meio, a respeito da figura
do doutrinador nas
atividades mediúnicas. Não
se trata tão somente de
mudança de termos. Como
sabemos, André Luiz não usa
o termo “doutrinador”, ao
qual ele prefere utilizar o
termo “médium esclarecedor”.
E para ele o
doutrinador/esclarecedor
deixa de ser um componente à
parte, para assumir uma
função específica, como um
dos membros de um
instrumento coletivo, um
grupo que necessita
trabalhar de forma
homogênea, como o leitor
pode verificar à vista do
texto seguinte:
“Os componentes da reunião,
que nunca excederão o número
de quatorze, conservem,
acima de tudo, elevação de
pensamentos e correção de
atitudes, antes, durante e
depois de cada tarefa.
(...)
Todos os componentes da
equipe assumirão funções
específicas. Num grupo de 14
integrantes, por exemplo,
trabalharão 2 a 4 médiuns
esclarecedores; 2 a 4
médiuns passistas e 4 a 6
médiuns psicofônicos.
Os médiuns esclarecedores e
passistas, além dos deveres
específicos que se lhes
assinala, servirão, ainda,
na condição de elementos
positivos de proteção e
segurança para os médiuns
psicofônicos, sempre que
estes forem mobilizados em
serviço.
Imprescindível reconhecer
que todos os participantes
do conjunto são equiparáveis
a pilhas fluídicas ou
lâmpadas, que estarão
sensibilizadas ou não para
os efeitos da energia ou da
luz que se lhes pede em
auxílio dos que jazem na
sombra de espírito. Daí o
imperativo do teor
vibratório elevado nos
componentes da reunião, a
fim de que os doentes da
alma se reaqueçam para o
retorno ao equilíbrio e ao
discernimento.”
(Desobsessão, cap. 20.)
Reportando-se ao mesmo
assunto, Hermínio C. Miranda
escreveu:
“Num grupo mediúnico,
chama-se doutrinador a
pessoa que se incumbe de
dialogar com os companheiros
desencarnados necessitados
de ajuda e esclarecimento.
(...)
Por outro lado, o chamado
doutrinador não é o
sumo-sacerdote de um culto
ou de uma seita, que se
coloque na posição de
mestre, a ditar normas de
ação e a pregar,
presunçosamente, um estágio
ideal de moral, que nem ele
próprio conseguiu alcançar.
A despeito disso, ele
precisa estar preparado para
exercer, no momento
oportuno, a autoridade
necessária, que toda pessoa
incumbida de uma tarefa, por
mais modesta, deve ter. Não
se deve esquecer, porém, de
que, no grupo mediúnico, ele
é apenas um dos componentes,
um trabalhador, e não
mestre, sumo-sacerdote ou
rei.” (Diálogo com as
Sombras, Segunda Parte, cap.
4.)
Na sequência de suas
observações sobre o tema,
Hermínio nos lembra que o
doutrinador é o porta-voz do
grupo e é nele que os
Espíritos desequilibrados
identificam a petulante
intenção de interferir com
seus planos pessoais, porque
é ele, usualmente, o
responsável pela direção dos
aspectos, por assim dizer,
terrenos, do trabalho, o que
empresta à tarefa um caráter
coletivo, no qual todos os
integrantes do grupo, não
importa a função que
exerçam, têm igual
responsabilidade.
Ora, essa responsabilidade
não cessa com o término da
reunião, visto que a tarefa
de atendimento prossegue no
plano espiritual, como
Divaldo lembra na resposta
que deu à pergunta “Qual o
objetivo de uma sessão
mediúnica?”:
“O médium é alguém que se
situa entre os dois
hemisférios da vida. O
membro de um labor de
socorro medianímico é alguém
que deve estar sempre às
ordens dos Espíritos
Superiores para os misteres
elevados.
À hora da reunião, devem-se
manter, além das atitudes
sociais do equilíbrio, a
serenidade, um estado de paz
interior compatível com as
necessidades do processo de
sintonia, sem o que,
quaisquer tentames nesse
campo redundarão inócuos,
senão negativos.
Depois da reunião é
necessário manter-se o mesmo
ambiente agradável, porque,
à hora em que cessam os
labores da incorporação, ou
da psicografia, o fenômeno
objetivo externo, em si, não
cessam os trabalhos
mediúnicos no mundo
espiritual. Quando um
paciente sai da sala
cirúrgica, o pós-operatório
é tão importante quanto a
própria cirurgia. Por isso,
o paciente fica
carinhosamente assistido por
enfermeiros vigilantes que
estão a postos para
atendê-lo em qualquer
necessidade que venha a
ocorrer.
Quando termina a lide
mediúnica, encerra-se,
momentaneamente, a tarefa
dos encarnados, a fim de que
estes a recomecem, logo
mais, no instante em que
penetrem a esfera do sono,
para prosseguir sob outro
aspecto, ajudando os que
ficaram de ser atendidos e
não puderam, por uma ou
outra razão. Então, convém
que, ao terminar a reunião
mediúnica seja mantida a
psicosfera agradável, em que
as conversas sejam
edificantes.” (Diretrizes
de Segurança, questão 31.)
Em face de todo o exposto,
parece-nos claro que,
ressalvada a situação
excepcional mencionada no
início deste texto, o
doutrinador/esclarecedor de
uma equipe mediúnica deve
fixar-se em um só grupo,
aplicando-se a ele e aos
demais participantes da
reunião mediúnica a mesma
restrição que André Luiz e
Hermínio C. Miranda fazem
com relação aos médiuns
psicofônicos.
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