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O Espiritismo responde
Ano 9 - N° 414 - 17 de Maio de 2015
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 
BLOG
ESPIRITISMO SÉCULO XXI
 

 

No dia 17 de janeiro o leitor Alfredo Zavatte, de Botucatu (SP), enviou a esta revista uma interessante questão relacionada com a prática mediúnica: 

Pode/deve um orientador (doutrinador) de trabalhos de desobsessão que trabalha no Centro "A" ir trabalhar como orientador no Centro "B" no mesmo dia? Por exemplo: o orientador trabalha numa terça-feira até às 18h na Casa Espírita "A" e nesse mesmo dia (terça-feira) ele vai, às 20h, trabalhar também como orientador na casa "B". E se for em dias diferentes? Queremos deixar claro que não somos contra um orientador (doutrinador) ir ajudar um grupo recém-formado num Centro que está iniciando seus trabalhos de desobsessão, mas sim de Centros que já desenvolvem esse trabalho há muitos anos. 

A questão proposta suscitou manifestações de diversos leitores e colaboradores de nossa revista.

Trata-se, evidentemente, de um assunto importante, especialmente porque, se existem muitos cursos e seminários voltados para a preparação e educação de médiuns psicógrafos e psicofônicos, o mesmo cuidado não se verifica no tocante à doutrinação e ao esclarecimento das entidades comunicantes.

Por causa disso, toda vez que se forma uma equipe de trabalho é comum que algum doutrinador/esclarecedor assuma a tarefa da doutrinação por algum tempo – medida que, às vezes, se prolonga por anos.

Há quem entenda não existir nenhum inconveniente no fato de uma mesma pessoa conduzir duas reuniões mediúnicas em dois Centros Espíritas, em dias diferentes. Assim pensa nosso irmão Gebaldo José de Sousa, um dos colaboradores da equipe de redação desta revista.

A inconveniência, segundo ele, haveria em quaisquer outros médiuns – que não o dirigente – participar de dois grupos distintos, inconveniência, aliás, mencionada por André Luiz.

De fato, lemos no cap. 25 do livro Desobsessão, de André Luiz: 

“Na obra da desobsessão, os médiuns psicofônicos são aqueles chamados a emprestar recursos fisiológicos aos sofredores desencarnados para que estes sejam socorridos. Deles se pede atitude de fé positiva, baseada na certeza de que a Espiritualidade Superior lhes acompanha o trabalho em moldes de zelo e supervisão. Compreendendo que ninguém é chamado por acaso a tarefa de tamanha envergadura moral, verificarão facilmente que, da passividade construtiva que demonstrem, depende o êxito da empreitada de luz e libertação em que foram admitidos.

Atentos à função especial de colaboradores e medianeiros em que se acham situados, é justo se lhes rogue o cuidado para alguns pontos julgados essenciais ao êxito e à segurança da atividade que se lhes atribui: 1 - desenvolvimento da autocrítica; 2 - aceitação dos próprios erros, em trabalho medianímico, para que se lhes apure a capacidade de transmissão; 3 - reconhecimento de que o médium é o responsável pela comunicação que transmite; 4 - abstenção de melindres ante apontamentos dos esclarecedores ou dos companheiros, aproveitando observações e avisos para melhorar-se em serviço; 5 - fixação num só grupo, evitando as inconveniências do compromisso de desobsessão em várias equipes ao mesmo tempo (...)”. (Desobsessão, cap. 25.)   

Hermínio C. Miranda, no livro Diálogo com as Sombras, reitera a orientação de André Luiz: 

“Como a psicofonia é a mediunidade mais indicada para esse tipo de tarefa, André Luiz nos oferece, no seu já citado Desobsessão, um valioso decálogo de recomendações e sugestões. Mesmo que o leitor disponha de um exemplar, parece que vale a pena reproduzir aqui o texto. André considera tais cuidados essenciais ao êxito e à segurança da atividade atribuída aos médiuns.

É aconselhável, pois, aos médiuns psicofônicos:

* Desenvolvimento da autocrítica.

* Aceitação dos próprios erros, em trabalho mediúnico, para que se lhes apure a capacidade de transmissão.

* Reconhecimento de que o médium é responsável pela comunicação que transmite.

* Abstenção de melindres ante apontamentos dos esclarecedores ou dos companheiros, aproveitando observações e avisos para melhorar-se em serviço.

* Fixação num só grupo, evitando as inconveniências do compromisso de desobsessão em várias equipes ao mesmo tempo.” (Diálogo com as Sombras, Segunda Parte, cap. 3.)

Resta-nos, então, examinar a pergunta formulada pelo leitor: a restrição citada no tocante aos médiuns psicofônicos estende-se aos doutrinadores/esclarecedores?

Não existe nas obras espíritas que conhecemos uma orientação precisa a respeito do assunto, salvo o que Divaldo Franco consignou na questão 90 do livro Diretrizes de Segurança, um diálogo em torno das múltiplas questões da mediunidade, escrito em parceria com J. Raul Teixeira.

Eis o teor completo da referida questão: 

90. O que podemos pensar da atitude de muitos que, à guisa de cooperarem com vários Centros Espíritas, na segunda-feira, frequentam um trabalho num determinado Centro; na terça estão num trabalho mediúnico, noutro Centro; na quarta-feira num terceiro, e assim sucessivamente?

Divaldo – Há um ditado que diz: “quem muito abarca, pouco aperta”. Quem pretende fazer tudo, faz sempre mal todas as coisas. Por que essa pretensão de ajudar a todos? Se cada um cumprir com seu dever, com dedicação, no local em que o Senhor o colocou, estará realizando um trabalho nobilitante. A presunção de atender a todos é, de certo modo, uma forma de autossuficiência, pois quem assim age acredita que, não estando em algum lugar, as coisas ali não irão bem. E quando desencarnar? Então é melhor vincular-se a um grupo de pessoas que lhe sejam simpáticas, para que as reuniões sérias, de que trata O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, possam produzir os frutos necessários e desejados. (Diretrizes de Segurança, questão 90.)

Além da observação feita por Divaldo, lembremos que André Luiz modificou em sua obra, acima mencionada, o conceito que sempre se fez, em nosso meio, a respeito da figura do doutrinador nas atividades mediúnicas. Não se trata tão somente de mudança de termos. Como sabemos, André Luiz não usa o termo “doutrinador”, ao qual ele prefere utilizar o termo “médium esclarecedor”. E para ele o doutrinador/esclarecedor deixa de ser um componente à parte, para assumir uma função específica, como um dos membros de um instrumento coletivo, um grupo que necessita trabalhar de forma homogênea, como o leitor pode verificar à vista do texto seguinte: 

“Os componentes da reunião, que nunca excederão o número de quatorze, conservem, acima de tudo, elevação de pensamentos e correção de atitudes, antes, durante e depois de cada tarefa.

(...)

Todos os componentes da equipe assumirão funções específicas. Num grupo de 14 integrantes, por exemplo, trabalharão 2 a 4 médiuns esclarecedores; 2 a 4 médiuns passistas e 4 a 6 médiuns psicofônicos.

Os médiuns esclarecedores e passistas, além dos deveres específicos que se lhes assinala, servirão, ainda, na condição de elementos positivos de proteção e segurança para os médiuns psicofônicos, sempre que estes forem mobilizados em serviço.

Imprescindível reconhecer que todos os participantes do conjunto são equiparáveis a pilhas fluídicas ou lâmpadas, que estarão sensibilizadas ou não para os efeitos da energia ou da luz que se lhes pede em auxílio dos que jazem na sombra de espírito. Daí o imperativo do teor vibratório elevado nos componentes da reunião, a fim de que os doentes da alma se reaqueçam para o retorno ao equilíbrio e ao discernimento.” (Desobsessão, cap. 20.)

Reportando-se ao mesmo assunto, Hermínio C. Miranda escreveu: 

“Num grupo mediúnico, chama-se doutrinador a pessoa que se incumbe de dialogar com os companheiros desencarnados necessitados de ajuda e esclarecimento.

(...)

Por outro lado, o chamado doutrinador não é o sumo-sacerdote de um culto ou de uma seita, que se coloque na posição de mestre, a ditar normas de ação e a pregar, presunçosamente, um estágio ideal de moral, que nem ele próprio conseguiu alcançar. A despeito disso, ele precisa estar preparado para exercer, no momento oportuno, a autoridade necessária, que toda pessoa incumbida de uma tarefa, por mais modesta, deve ter. Não se deve esquecer, porém, de que, no grupo mediúnico, ele é apenas um dos componentes, um trabalhador, e não mestre, sumo-sacerdote ou rei.” (Diálogo com as Sombras, Segunda Parte, cap. 4.)  

Na sequência de suas observações sobre o tema, Hermínio nos lembra que o doutrinador é o porta-voz do grupo e é nele que os Espíritos desequilibrados identificam a petulante intenção de interferir com seus planos pessoais, porque é ele, usualmente, o responsável pela direção dos aspectos, por assim dizer, terrenos, do trabalho, o que empresta à tarefa um caráter coletivo, no qual todos os integrantes do grupo, não importa a função que exerçam, têm igual responsabilidade.

Ora, essa responsabilidade não cessa com o término da reunião, visto que a tarefa de atendimento prossegue no plano espiritual, como Divaldo lembra na resposta que deu à pergunta “Qual o objetivo de uma sessão mediúnica?”:  

“O médium é alguém que se situa entre os dois hemisférios da vida. O membro de um labor de socorro medianímico é alguém que deve estar sempre às ordens dos Espíritos Superiores para os misteres elevados.

À hora da reunião, devem-se manter, além das atitudes sociais do equilíbrio, a serenidade, um estado de paz interior compatível com as necessidades do processo de sintonia, sem o que, quaisquer tentames nesse campo redundarão inócuos, senão negativos.

Depois da reunião é necessário manter-se o mesmo ambiente agradável, porque, à hora em que cessam os labores da incorporação, ou da psicografia, o fenômeno objetivo externo, em si, não cessam os trabalhos mediúnicos no mundo espiritual. Quando um paciente sai da sala cirúrgica, o pós-operatório é tão importante quanto a própria cirurgia. Por isso, o paciente fica carinhosamente assistido por enfermeiros vigilantes que estão a postos para atendê-lo em qualquer necessidade que venha a ocorrer.

Quando termina a lide mediúnica, encerra-se, momentaneamente, a tarefa dos encarnados, a fim de que estes a recomecem, logo mais, no instante em que penetrem a esfera do sono, para prosseguir sob outro aspecto, ajudando os que ficaram de ser atendidos e não puderam, por uma ou outra razão. Então, convém que, ao terminar a reunião mediúnica seja mantida a psicosfera agradável, em que as conversas sejam edificantes.” (Diretrizes de Segurança, questão 31.)

Em face de todo o exposto, parece-nos claro que, ressalvada a situação excepcional mencionada no início deste texto, o doutrinador/esclarecedor de uma equipe mediúnica deve fixar-se em um só grupo, aplicando-se a ele e aos demais participantes da reunião mediúnica a mesma restrição que André Luiz e Hermínio C. Miranda fazem com relação aos médiuns psicofônicos.


 


 
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