A certeza ignorada
“A morte é um fenômeno
ínsito da vida, que não
pode ser
desconsiderado.” –
Joanna de Ângelis.
Por termos a certeza de
que, a cada manhã, o sol
despontará no horizonte,
sequer pensamos nisso o
que não impede o dia de
raiar novamente. Por
termos a certeza de que
a noite se instalará
sobre a face do planeta
quando dele a luz do
astro rei se afastar,
sequer pensamos na sua
chegada o que não
impedirá que as estrelas
se tornem visíveis.
Entretanto, existe uma
certeza, a maior da
existência, sobre a qual
ninguém detém nenhuma
dúvida, mas que
permanece entregue ao
nosso descuido,
indiferença e
esquecimento, atitudes
extremamente perigosas e
que não impedirão que
ela se concretize.
Na revista VEJA,
em sua edição de n.º
2383, de 23 de julho de
2014, página 68,
encontramos o seguinte
trecho que faz parte de
uma ampla reportagem
sobre um fato que chocou
o mundo: “Na
quinta-feira passada,
logo depois do
desaparecimento do
Boeing 777 da Malaysia
Airlines, um oficial
russo encarregado por
Moscou de dar ajuda aos
separatistas ucranianos,
jubilante, postou
durante algumas horas
apenas o registro de
mais um avião abatido. O
oficial julgava
tratar-se de um Na-26 –
Antonov turboélice de
transporte de tropas e
carga – da Força Aérea
da Ucrânia. Não era. O
avião abatido foi o
Boeing 777 com quase 300
civis inocentes de
várias nacionalidades a
bordo”.
Nessa mesma reportagem
encontramos a informação
de que um comissário de
bordo indiano, que não
estava escalado para
esse voo, trocou de
lugar com um colega na
última hora.
Na questão de número 853
de O Livro Dos
Espíritos, nos é
ensinado que nada há de
fatal, no verdadeiro
sentido da palavra, a
não ser o instante da
morte. Quando esse
momento chega, seja por
um meio ou por outro,
não poderemos dele nos
livrar.
Nessa mesma questão,
quando Kardec insiste ao
indagar que, qualquer
que seja o perigo que
nos ameace, não morremos
se a hora não é chegada,
a resposta reforça que
não pereceremos, tendo
disso milhares de
exemplos. Mas, quando é
chegada a nossa hora de
partir, nada pode
subtrair-nos dela.
Ora, se assim realmente
se passa, como todos os
dias temos provas desse
fato, por que teimamos
em ignorar a certeza
absoluta dessa
fatalidade?
Joanna de Ângelis
levanta várias hipóteses
para temermos a morte e,
por isso mesmo, nos
negarmos a pensar sobre
o inevitável: o primeiro
motivo é representado
pelo instinto de
conservação da vida, o
que evitaria o suicídio
diante dos sofrimentos
da existência; o segundo
motivo seria a
predominância da
natureza animal, fixando
aqueles que aqui se
enquadram em temer
deixar a vivência de
suas paixões as mais
variadas; o terceiro
motivo seria o
esquecimento temporário
da vida espiritual de
onde viemos e para onde
voltaremos
inapelavelmente um dia;
o quarto motivo seria
representado pela
descrição dos
sofrimentos atrozes que
aguardam a todos aqueles
que se dirigirem a um
inferno incompatível com
a Bondade Divina; e,
finalmente, o temor da
morte seria representado
pela falta de
informações sobre o
futuro do Espírito fora
do seu veículo carnal.
Seja qual for o nosso
motivo particular, quer
esteja ele contemplado
ou não nas hipóteses
levantadas por Joanna de
Ângelis, não poderemos
nos esconder ou nos
furtar ao instante
fatal. Então, por que
insistirmos em ignorar
essa certeza absoluta?
Quantos crimes não
deixariam de ser
cometidos se os seus
autores se detivessem em
contemplar essa
realidade da
transitoriedade da vida?
Quantas impunidades
deixariam de existir
porque não se teria
dúvidas da devida
prestação de contas a um
Tribunal incorruptível,
mais dia, menos dia?
Quanto orgulho, quanta
soberba se desfaria
diante da certeza
ignorada do final da
existência material?
Relembremos as palavras
de Constantino, Espírito
Protetor, em Bordéus,
1863, falando no
capítulo XX d’O
Evangelho segundo o
Espiritismo aos
trabalhadores da última
hora: “Eis o momento de
receberdes o salário;
empregai bem essa hora
que vos resta e não
olvideis jamais que a
vossa existência, tão
longa vos pareça, não é
senão um momento bem
fugidio na imensidade
dos tempos que formam
para vós a eternidade”.
Será que essas palavras
nos ajudarão a parar na
devida meditação sobre
essa certeza tão
ignorada?!
Ou será que o nosso
relógio trabalha em um
compasso de tempo
diferente do de
Constantino?