Afinal, somos os
“patrões”...
Abro os jornais todos os
dias e só vejo notícias
desagradáveis,
pessimistas,
desalentadoras, “pra
baixo”. Parece-me ler,
ou melhor, ouvir uma
orquestra regida por
maestro negligente
dirigindo maus músicos
que entoam uma canção
única, como se fosse um
mantra do mal.
Lembro-me de que, ao
cursar o antigo
“Colegial” – início dos
anos 1970 -, um dos meus
professores passou à
classe um teste
vocacional. Feita a
avaliação, coube-me uma
sugestão principal:
jornalismo. Confesso que
me senti um tanto
vaidoso, pois aquela
indicação para um jovem
como eu que gostava das
letras, dava
certo “status”. Uma
segunda opção seria
advocacia. Nem uma
coisa, nem outra:
enveredei pelo ramo
contábil, mais pelas
circunstâncias do que
por gosto meu.
Atualmente, ao folhear
os jornais, não sei se
posso considerar aquela
vaidade como
justificável, e me
espanto com o teor das
matérias que leio. Não
me refiro aos escândalos
propriamente (Ai
daqueles por quem venham
os escândalos! -
Mateus, V: 29-30), que
sempre existiram e a
Imprensa sempre os
explorou, mas a certa
“vocação” de muitos
profissionais do
jornalismo para o ruim,
o desastroso, o
destrutivo, a perfídia.
É como se tivessem saído
da Universidade com
pleno domínio das
técnicas de como dar a
má notícia. O que se lê
nos principais jornais é
quase sempre o lado
negativo, espetaculoso
do fato, raramente o
contrário. E na
programação jornalística
de TV talvez seja pior.
Assisti um dia destes, a
uma âncora de um
jornal famoso, depois de
uma sequência de
notícias escabrosas,
ficar pálida como se
fosse ter uma síncope e,
logo em seguida, dizer
que ia mudar de assunto,
entrar com uma
reportagem sobre moda
(!).
Num país imenso como o
Brasil (para falar só de
nós), com duzentos
milhões de habitantes,
há que ter muita gente
fazendo coisa boa,
digna, útil, servindo de
exemplo para o
semelhante. Construindo,
educando, pensando
sério, agindo sério, de
modo que não é tão
difícil assim dar boas
notícias. Mas não se vê
isso em boa parte da
Imprensa, que parece
ter-se transformado numa
sofisticada indústria
das más notícias.
Como deve sofrer o
verdadeiro jornalista
tendo que servir a
causas pequenas e
transitórias a que é
obrigado a pautar,
diária e
incessantemente. Tanto
que já se chegou a dizer
que “boa notícia não dá
ibope”. Não podemos
aceitar que a mídia
jornalística seja tão
somente reprodutora dos
acontecimentos. Isso
seria negar que a
população fosse capaz de
produzir coisas boas.
Temos que reagir,
selecionando o que é
melhor para nós, afinal,
somos os “patrões”. Não
somos obrigados a encher
nossa mente, nosso
coração, nossa casa, de
vibrações pesadíssimas,
sob a falsa alegação de
que estamos sendo
informados.
De tanto exporem os
defeitos e as desgraças
da sociedade,
meticulosamente
recolhidos nas choupanas
ou nos palácios, nos
becos e nas grandes
avenidas; de tanto
seguirem cartilhas já
ensebadas que priorizam
a audiência e o choque
psicológico no público,
muitos destes
jornalistas acabam se
acostumando e se
esquecem da finalidade
da sua função:
prioritariamente
informar e esclarecer, e
não deprimir o leitor ou
espectador.
Repito: há muita coisa
boa acontecendo, a ser
trabalhada pelos
jornalistas nesse Brasil
grande, que poderia
ajudar bastante na sua
construção e
“reconstrução”,
principalmente nesse
período de crise
transitória, e depois
dela ainda. Não podemos
viver só de crise.
Precisamos de ideias e
iniciativas corajosas,
de pensamentos
construtivos, de emoções
saudáveis, de esperança
viva, de bons exemplos,
de notícias que mostrem
o lado bom do homem e da
vida.
Allan Kardec, na
Revista Espírita de
1858, já enfrentava esse
comportamento
sensacionalista da
Imprensa, afirmando que
o Espiritismo – enquanto
coisa séria – não era
tratado por ela senão
com pilhérias e
desprezo, ao passo que
se dava grande espaço
aos acontecimentos mais
vulgares. Em 1868, na
mesma “Revista”,
Kardec é mais explícito:
“É desagradável que os
jornais tenham menor
pressão em reproduzir as
boas ações, em geral, do
que os crimes e os
escândalos. Se há um
fato que testemunha a
perversidade humana,
pode-se estar certo de
que será repetido em
toda a linha, como
atrativo à curiosidade
dos leitores. O exemplo
é contagioso. Por que
não pôr antes, aos olhos
das massas, o do bem e
não o do mal?”
Se por um lado não
podemos viver alienados
do mundo, por outro não
é justo que, ao abrir os
jornais toda manhã, ou
ligar a TV, nos
deparemos
sistematicamente com o
trabalho escravo de
alguns jornalistas
submetidos a editorias
egoístas e materialistas
que poderiam, se
quisessem, colaborar, e
muito, com a paz geral,
a educação de todos, e a
consolidação de valores
morais na sociedade, mas
que, a mim e a tantos,
têm feito um grande mal.
Reduzir tudo quanto
adotamos por simples
hábito e não nos
interessa
verdadeiramente, e
escolher sempre, para o
nosso próprio bem, o que
nos possa trazer
acréscimos, creio que
seja uma solução ao
nosso alcance.