“Não matarás!”
“Ouvistes que
foi dito: Olho
por olho, dente
por dente. Eu,
porém, vos digo:
Não resistais ao
mal; mas se
alguém vos bater
na face direita,
oferecei-lhe
também a outra.”
Jesus (Mt
5:38-39).
O Doutor George
G. Ritchie1
integrava a
equipe médica
das tropas
aliadas, na
Europa, ao final
da Segunda
Guerra Mundial,
em 1945, onde
conheceu, num
campo de
concentração, um
judeu polonês
muito especial.
Falava
fluentemente
inglês, francês,
alemão e russo,
tão bem quanto o
polonês.
Por sua postura
ereta; olhos
brilhantes e
extraordinária
energia, o
médico
acreditava que
ele estava ali
há pouco tempo.
Ajudava na
solução de todo
tipo de
problemas.
Parecia
infatigável:
trabalhava de 15
a 16 horas por
dia, sem dar
sinais de
fraqueza. Todos
cansados e ele
dizia: “Temos
tempo para isso,
meu velho. Está
esperando o dia
inteiro para
ver-nos.”
Brilhava-lhe no
rosto a
compaixão pelos
companheiros de
prisão.
Um dia, o Dr.
George descobriu
que aquele homem
estava no campo
desde 1939! Por
seis anos vivera
com dieta de
fome, dormira em
cabanas
insalubres, sem
ar, mas
conservara sua
saúde física e
mental. Era
espantosa sua
resistência!
Grupos de judeus
oriundos de
vários países,
que se odiavam
mutuamente e
brigavam entre
si,
consideravam-no
um amigo e o
respeitavam.
À época, em
muitos campos,
judeus
libertados
empunhavam armas
e saíam a matar
alemães das
aldeias mais
próximas –
mulheres, idosos
e crianças, que
também haviam
sido vítimas das
agruras que a
guerra a todos
impõe.
Para evitar
isso, o polonês
falava aos
diversos grupos,
aconselhando-lhes
o perdão.
“– Para alguns
deles, não é
fácil perdoar.
Muitos perderam
membros da
própria
família.”
O polonês, em
resposta ao Dr.
Ritchie, falou
pela primeira
vez de si mesmo:
“– Morava num
bairro de
Varsóvia, com a
mulher, duas
filhas e três
filhos. Foram
metralhados em
minha presença,
pelos alemães.
Supliquei-lhes
que me matassem
também, mas
porque falava
alemão,
pouparam-me para
o trabalho.
Tinha que
decidir no ato
se passava a
odiar os jovens
soldados. Era
advogado e sabia
o que o ódio
podia fazer às
pessoas, aos
seus corpos e às
suas mentes!”
Naquele momento
crucial, optou
pelo perdão,
pelo amor e pela
vida, na mais
importante
decisão de sua
existência!
“Decidiu que,
fosse qual fosse
o tempo que lhe
sobrasse de
vida, iria
empregá-lo no
amor a todo ser
com quem viesse
a entrar em
contato.”
Opção que lhe
trouxera
equilíbrio à
mente e ao
corpo. Salutar,
o amor o salvara
e fizera dele um
ser incansável e
útil ao
próximo.
*
A cólera gera a
violência. O
ódio tudo
destrói: a
alegria, a
esperança e a
paz!
“Todos somos
contra a
violência, mas
não levamos
desaforo para
casa; explodimos
em público, com
palavrões e
gestos de
irritação;
ouvimos o rádio
na altura
máxima, em casa
ou no carro;
usamos o carro
ou a moto, sem
silenciador,
indiferentes ao
sossego dos
demais; vemos
revistas e
assistimos a
filmes
pornográficos,
fomentando a
agressão sexual;
buzinamos forte
para o carro da
frente, mal o
sinal de
trânsito mude;
somos propensos
a pensar mais
mal do que bem
do próximo.”
(Presença
Espírita, Ano
XIII, n. 137 -
nov/86. Órgão de
divulgação do C.
E. ‘Caminho da
Redenção’.)
As pequenas
violências
resultam na
extrema
violência dos
dias de hoje.
Indispensável
desarmar não só
fisicamente os
cidadãos, mas
também as
mentes!
Se armas
pacificassem,
muitos países,
entre os quais o
Brasil, Israel,
a Palestina, os
EUA – e as
várias partes do
mundo aonde
levam a espada
–, e muitos
outros, seriam
campeões da paz.
Entre os Dez
Mandamentos da
Lei de Deus,
recebidos por
Moisés no monte
Sinai – com duas
palavras de
clareza absoluta
– está o quinto
mandamento, que
dá título a
estas notas –
Êxodo, 20:13.
Não comporta
exceções! Não
fala em legítima
defesa.
No episódio da
prisão de Jesus,
“(...) Simão
Pedro puxou da
espada que
trazia e feriu o
servo do sumo
sacerdote (...)”.
Jo 18:10.
“Então Jesus lhe
disse: Embainha
a tua espada;
pois todos os
que lançam mão
da espada, à
espada perecerão.”
Mt 26:52.
“Não resistais
ao mal: mas se
alguém vos bater
na face direita,
oferecei-lhe
também a outra.”
Mt 5:39.
Jesus não só
preceituou, mas
exemplificou a
não resistência
ao mal. Nessa
passagem, mas
também diante de
Pilatos e em
todo o seu
calvário. Na
hora extrema,
rogou ao Pai por
toda a
humanidade. “Que
não sabe o que
faz”... ainda
hoje!
O Divino Mestre
sabe que
resistir ao mal
leva-o ao
crescimento. É
como jogar
gasolina no
incêndio que se
quer apagar. Ou
beber água
salgada, para
aplacar a sede!
Não é o que
vemos no mundo
dito moderno?
“Ninguém tem o
direito, em caso
algum, de
atentar contra a
vida de seu
semelhante: é um
crime aos olhos
de Deus, que vos
traçou a linha
de conduta que
tendes de
seguir. (...)
Enquanto na
Terra correr uma
gota de sangue
humano, vertida
pela mão dos
homens, o
verdadeiro reino
de Deus ainda se
não terá
implantado aí,
reino de paz e
de amor, que há
de banir para
sempre do vosso
planeta a
animosidade, a
discórdia, a
guerra.”
2
“Quando o homem
gravar na
própria alma os
parágrafos
luminosos da
Divina Lei, o
(...) cárcere
cerrará suas
portas (...).
Canhões serão
convertidos em
arados. Homens
de armas
volverão à
sementeira do
solo. O ódio
será expulso do
mundo. As
baionetas
repousarão.
As máquinas não
vomitarão chamas
para o incêndio
e para a morte,
mas cuidarão
pacificamente do
progresso
planetário.
A justiça
será
ultrapassada
pelo amor.”
3
*
No referendo de
23.10.05, os
brasileiros
perdemos a
oportunidade de
antecipar o
futuro, ao não
votar pelo
desarmamento, e
optar pela vida!
Triunfaram os
que ignoram que,
ao matar corpos,
tornam
invisíveis os
que praticam o
mal!
Somente a
educação moral
nos levará à
Paz, eis que
apenas o
conhecimento da
Verdade
realmente
liberta! (Jesus:
Jo 8:32).
Por enquanto,
podemos
construir a paz
dentro de nós e
à nossa volta,
no dia a dia,
sendo mais
gentis, mais
tolerantes, mais
solidários,
buscando aviar
as receitas e os
exemplos de
Jesus!
Referências:
1. RITCHIE,
George G.
Voltar do Amanhã.
6. ed. Nórdica:
Rio de Janeiro,
1980, p.
106-108;
2. KARDEC,
Allan. O
Evangelho
segundo o
Espiritismo.
120 ed. FEB: Rio
de Janeiro,
2002. Cap. XII,
it. 11, p. 205;
3. XAVIER,
Francisco C.
Pão Nosso.
Pelo Espírito
Emmanuel. 6.ed.
FEB: Rio de
Janeiro, 1979.
Cap. 41, p. 93.