Reunião espírita
faz lembrar um
filme de ficção
científica
Rara
oportunidade
que,
independentemente
da forma como
for conduzida,
deveria ser
motivo de estudo
pelos espíritas
Imagine você,
leitor,
participando de
uma reunião em
uma sala do
Centro Espírita
com as janelas
completamente
vedadas e, no
lugar do palco
no salão, tem
uma cela de
prisão feita com
grossas barras
de ferro e na
frente uma
cortina preta.
O dirigente da
reunião explica
que os Espíritos
irão utilizar o
ectoplasma para
a realização de
fenômenos.
Trata-se de uma
substância que
todos possuem e
que o médium tem
a condição de
liberar em maior
quantidade. Ela
detém o poder de
atuar tanto no
campo material
como no âmbito
espiritual. O
ectoplasma é
muito sensível à
luz e para ser
manipulado
necessita da
escuridão.
Os convidados de
várias religiões
e mesmo
agnósticos
entram e uma
pessoa indica
onde cada um
deve se sentar.
Todos
acomodados, o
médium de
efeitos físicos
entra na cela,
está no lugar da
habitual cabine,
acompanhado por
dois
trabalhadores da
casa. Senta em
uma cadeira fixa
que está presa
no chão ao lado
de um
toca-discos. É
algemado e
acorrentado nos
braços e nos
pés. A cela é
trancada,
colocado um
cadeado, uma
corrente de
metal e ainda um
lacre. Ao saírem
da cela, os
trabalhadores
polvilham talco
no chão para
depois
verificarem a
possível
presença de
pegadas, o que
denunciaria
fraude.
Logo no início
apagam-se
completamente as
luzes conforme
exige o
protocolo desse
tipo de reunião.
Todos ficam na
escuridão total,
não enxergando
nem a silhueta
do companheiro
sentado ao lado.
Silêncio total.
Faz-se uma prece
e novamente o
silêncio
profundo e
expectante.
De repente
aparecem
pequenas luzes
coloridas que
passeiam pelo
teto da sala em
trajetórias
elaboradas.
Ouve-se música
vinda da vitrola
que está dentro
da cabine.
Passados alguns
minutos surge
uma voz que
saúda a todos e
deseja uma boa
reunião. Essa
mesma voz agora
parece também
vagar acima das
cabeças dos
participantes,
ora falando em
um canto, ora
falando em
outro. Todos
veem um tipo de
corneta com
cerca de meio
metro de
comprimento e
pintada com cor
fosforescente
que o Espírito
utiliza para
aumentar sua
voz, conforme
explicado pelo
dirigente.
A voz anuncia a
vinda de outro
Espírito e em
seguida todos
sentem um
perfume
característico
que apareceu não
se sabe de onde
e logo
desaparece da
mesma forma. O
Espírito saúda a
todos. É um
parente já
falecido de um
dos
trabalhadores da
casa. Deixa-se
ver por
instantes
acionando um
dial ligado por
um fio a uma
lâmpada de baixa
intensidade e
coloração
vermelha. Fala
palavras
carinhosas para
todos e se
despede
agradecendo a
oportunidade.
Novamente se
acende a fraca
luz em frente à
cela convidando
todos a focarem
na cortina preta
que a circunda,
outro item do
protocolo para o
exercício dessa
mediunidade. A
cortina se abre
possibilitando a
visão abrumada
de uma pessoa
vestida de
branco, com
mangas compridas
e um tipo de
túnica até ao
chão. É um
Espírito
materializado
que integra a
equipe que
costuma se
apresentar nesse
Centro. Ele está
atrás das grades
e devagar vai
falando da
necessidade de
se cultivar a fé
em Jesus e, ao
mesmo tempo,
todos veem o
corpo e as
vestes do
Espírito
transpassarem os
sólidos canos da
grade como se
eles fossem
desintegrados
para permitir a
passagem.
A entidade
prossegue com
seu discurso
sobre o amor,
bondade e a
caridade entre
os homens. Diz
que deixaram
para ela
distribuir,
entre os
presentes, rosas
para as mulheres
e cravos para os
homens. São
cerca de 40
pessoas e, de
súbito, todos
sentem cair no
colo, ao mesmo
tempo, a flor
correta para
cada sexo. O
Espírito se
retira
conclamando
todos ao bem.
Outro Espírito
comparece e a
todos
cumprimenta.
Agora é alguém
que gosta de
brincar.
Conversa e
aperta as mãos
dos
trabalhadores e
dirigentes do
Centro
demonstrando
sempre muita
alegria. Diz que
gosta muito de
uma música,
principalmente
de determinado
trecho e então
todos ouvem
exatamente
aquele trecho
indicando que
alguém colocou a
agulha no disco
no local
preciso.
Esse Espírito
avisa que vai
pegar alguma
coisa na sala ao
lado que está
trancada.
Imediatamente
diz que já pegou
e convida os
participantes a
descobrirem o
que é. As
pessoas tentam,
mas ninguém
acerta. Era um
guarda-chuva que
a entidade
parece ter feito
passar através
da parede.
O Espírito entra
na cela e depois
de um ou dois
minutos em
silêncio, nova
entidade surge
cumprimentando a
todos. Abre a
cortina, ascende
a luz vermelha e
deixa-se ver ao
lado do médium
que parece
dormir. Sai da
cela e comenta
sobre algumas
passagens do
evangelho
enquanto a
corneta
perambula pelo
teto batendo
levemente na
cabeça de
algumas pessoas.
Inesperadamente
todos observam
por um ou dois
minutos luzes
brancas e azuis
serem irradiadas
do peito do
Espírito
materializado,
com intensidade
suficiente para
iluminar seu
corpo sem
precisar ligar a
luz vermelha de
baixa
intensidade.
E nesse clima de
sucessão de
acontecimentos
inusitados, a
entidade se
despede e pede o
encerramento das
atividades. O
dirigente
agradece aos
Espíritos, faz
uma prece de
encerramento e
pergunta se o
médium está bem,
para em seguida
avisar que vai
acender as
luzes.
Acesas as luzes
verificou-se que
a cela estava
como fora
deixada.
Quebrou-se o
lacre da porta
de grade,
abriram o
cadeado,
retiraram a
corrente e
abriram a porta
constatando que
o talco estava
intacto no
chão. O médium
teve de ser
desalgemado,
aberto o cadeado
que segurava a
corrente em
volta dos braços
e o cadeado da
outra corrente
que mantinha os
pés dele presos
ao pé da cadeira
fixa ao chão.
Todos foram
convidados a
entrarem na cela
e verificarem a
possível
existência de
paredes e chão
falsos,
aberturas,
alavancas e
qualquer coisa
que denunciasse
fraude. Nada
encontrado.
As pessoas então
se despedem meio
sem jeito,
parecendo
refletir a
agitação de seus
pensamentos e
emoções
misturados a
impressões
passadas,
relativas à
devoção
religiosa com
surpresas de
show de mágica e
as perspectivas
de filmes de
ficção
científica. Que
mensagens foram
transmitidas? A
imortalidade do
Espírito? A
possibilidade de
se comunicar com
eles? A
reencarnação? A
existência de
outras
dimensões?
Gradativamente
cada pessoa
procura uma
explicação para
tudo o que
aconteceu de
modo a acomodar
os
acontecimentos à
suas crenças e
apaziguar seus
sentimentos de
volta ao
cotidiano.
(1)
(1)
O autor pede
informações de
médiuns e casas
espíritas que
realizaram esse
trabalho para a
continuidade de
suas pesquisas.
Ivan Franzolim é
escritor,
articulista e
pesquisador
espírita da
mediunidade de
efeitos físicos,
tendo
entrevistado
vários médiuns e
Centros, bem
como participado
de várias
reuniões desde a
década de 1980.