Você acredita no Brasil?
A princípio intitulei
este artigo com uma
afirmação: “Eu acredito
no Brasil”. Logo após,
entendi que este título
revelador da minha
opinião poderia
influenciar os que, por
espírito de sistema, se
posicionam contrários a
tudo, não importando do
que se trate. Sendo
assim, achei melhor
transferir o trabalho de
pensar aos que possam
ler este texto,
perguntando a eles:
“Você acredita no
Brasil?”
Humberto de Campos, em
crônica do seu livro
póstumo
Reminiscências,
editado em 1935, afirma:
“Voltaire costumava
dizer que a política e a
guerra eram as duas
missões naturais do
homem na Terra”.
Realmente, a política e
as guerras andam muito
juntas.
Mas, no caso do Brasil e
seu povo, a sua missão
natural vai muito além
e, se passa pela
política, não passa pela
guerra. É certo que a
história do nosso país
pode narrar periódicas
agitações sociais,
conflitos civis e golpes
de natureza política,
além de alguns embates
bélicos externos, porém,
nada por nossa exclusiva
iniciativa. Tanto que a
expressão “sem derramar
uma gota de sangue” é
frequentemente utilizada
em muitos momentos em
que se queira referir às
conquistas que o nosso
povo tenha obtido, neste
ou naquele campo.
Se fizermos um esforço
para esquecer o que
passou, desde a sua
descoberta no ano de
1.500, e pensarmos no
futuro, podemos
acreditar no nosso país
e no seu povo? Há
motivos para isso?
Provavelmente o
materialista, o
incrédulo e o pessimista
não encontrarão razões
para acreditar, pois
estes pensam tudo no
curto prazo. São movidos
a egoísmo. Mas, para o
espiritualista sensato,
o crente racional, o
patriota otimista,
acostumados a projetar
os seus sonhos para o
futuro, trabalhando o
presente, há sim por que
cultivar grandes
expectativas.
O Brasil é um país com
grande território, e
novamente fazendo alusão
ao escritor Humberto de
Campos, os seus
contornos geográficos
lembram o desenho de um
coração – o coração do
mundo –, o que nos leva
a pensar nas coisas do
sentimento.
O brasileiro é
sentimental por
excelência. Dizem também
que é solidário,
fraterno, acolhedor,
expansivo e alegre. Isso
não é pouco. Se em
muitas situações não tem
se comportado como seria
desejável, é por fazer
parte de um povo ainda
jovem, de caráter não
totalmente amadurecido,
embora pujante; e por
estar ainda buscando a
sua identidade, embora
já tenha feito reais
progressos.
Na verdade, somos
bem-vistos pelos
estrangeiros. E muitos
países e seus governos
sabem muito bem o que
representa o Brasil no
concerto dos povos, e o
que representará em
futuro breve.
Basta dizer que além das
terras imensas, já
citadas, todas férteis,
o seu subsolo é
riquíssimo em minérios
sólidos e líquidos. Há
água também, muita água
doce por lá. Suas
florestas exuberantes e
vastas abrigam fauna e
flora invejáveis e
cobiçadas. Há muito sol,
belezas naturais. Sua
cultura e sua arte são
respeitadas, lá fora. E
o seu povo, apesar de
moço, é inteligente,
trabalhador, religioso,
alegre. E pacífico. Não
devemos nos alarmar com
os índices atuais de
indisciplina e
incivilidade. Apesar de
preocupantes, eles são
transitórios.
Se olharmos para a nossa
condição de cem anos
atrás, teremos motivos
para comemorar. Somos
outros, hoje. E seremos
cada vez melhores à
medida que amadurecermos
como povo e como nação.
Não acreditamos na
guerra. Não está no
nosso gene, nem tampouco
na formação moral da
nossa gente esse tipo de
preocupação. E a
política (ou os
políticos) que tem
irritado tanto os
brasileiros, se renovará
com a renovação de cada
um destes. Os nossos
hábitos e costumes já
são bem melhores hoje do
que no passado. E, se
Voltaire estiver certo,
a política sendo
intrínseca à missão
humana na Terra, o homem
se transformando a cada
dia, ela o acompanhará
nos seus melhores
esforços.