Regilda Medeiros, em carta
publicada nesta mesma
edição, pergunta-nos por que
uma pessoa toma um gole de
bebida e logo a seguir muda
a personalidade, as feições
e fica agressiva com os
amigos. “Dentro da visão
espírita, seria o quê?”
Há vários aspectos a
considerar quando o assunto
é alcoolismo.
No livro Trilhas da
Libertação, de Manoel
Philomeno de Miranda,
psicografado pelo médium
Divaldo Franco, o médico
desencarnado dr. Carneiro de
Campos tece várias
considerações sobre o
assunto.
Segundo ele, no começo a
pessoa pode experimentar
euforia e dinamismo motor
com o uso dos alcoólicos,
perdendo, porém, o controle,
o senso crítico e
tornando-se inconveniente. À
medida que a dependência
aumenta e o uso se torna
mais frequente, a bebida
alcoólica afeta o sistema
nervoso, o trato digestivo,
o aparelho cardiovascular.
As complicações que
degeneram em gastrite e
cirrose hepática tornam-se
inevitáveis, levando à
morte, qual sucede no câncer
do esôfago e do estômago.
Além disso, do ponto de
vista psíquico, o alcoólatra
muda completamente o
comportamento e suas reações
mentais se alteram,
começando pelos prejuízos da
memória e culminando no
delirium tremens, sem
retorno ao equilíbrio, que
não se dá nem mesmo quando o
indivíduo desencarna, visto
que, permanecendo vitimado
pelos vícios, quase sempre
buscará sintonia com
personalidades frágeis ou
temperamentos rudes,
violentos, na Terra, deles
se utilizando em processo
obsessivo para dar
prosseguimento ao infame
consumo do álcool,
aspirando-lhe agora os
vapores e beneficiando-se da
ingestão realizada pelo seu
parceiro-vítima, que mais
rapidamente se exaure.
No meio espírita sabe-se, já
faz tempo, da relação que
existe entre o consumo de
álcool e a obsessão. No
capítulo de abertura do
livro Diálogo dos Vivos,
obra publicada em 1974,
Herculano Pires escreveu:
“A obsessão mundial pelo
álcool, no plano humano,
corresponde a um quadro
apavorante de vampirismo no
plano espiritual. A medicina
atual ainda reluta – e
infelizmente nos seus
setores mais ligados ao
assunto, que são os da
psicoterapia – em aceitar a
tese espírita da obsessão.
Mas as pesquisas
parapsicológicas já
revelaram, nos maiores
centros culturais do mundo,
a realidade da obsessão. De
Rhine, Wickland, Pratt, nos
Estados Unidos, a Soal,
Carrington, Price, na
Inglaterra, até a outros
parapsicólogos
materialistas, a descoberta
do vampirismo se processou
em cadeia. Todos os
parapsicólogos verdadeiros,
de renome científico e não
marcados pela obsessão do
sectarismo religioso,
proclamam hoje a realidade
das influências mentais
entre as criaturas humanas,
e entre estas e as mentes
desencarnadas”.
O fato é de fácil
compreensão. A dependência
do álcool, como vimos nas
explicações do dr. Carneiro
de Campos, prossegue
além-túmulo e – não podendo
o Espírito obter a bebida no
local em que agora reside –
ele só consegue satisfazer
sua compulsão pela bebida
associando-se a um encarnado
que beba, o que tem sido
confirmado por vários
autores, como André Luiz e
Cornélio Pires.
Este último, na mesma obra
acima citada, disse a um
amigo, que o consultou sobre
o tema, que “cachaça, meu
caro João, recorda simples
tomada que liga na
obsessão”. E, finalizando
sua resposta vazada em
versos, reafirmou: “Eis no
Além o que se vê, seja a
pinga como for, enfeitada ou
caipira, é laço de
obsessor”.
É possível, portanto,
deduzir que o alcoólatra
encarnado, além dos efeitos
do álcool sobre seu
psiquismo, passe a agir sob
a influência da entidade
vampirizadora, como já foi
descrito em mais de uma
oportunidade por autores
diversos.
Eis, na sequência, um
exemplo colhido no livro
Nos Domínios da Mediunidade,
de André Luiz, psicografado
pelo médium Francisco
Cândido Xavier.
Em determinada noite,
Hilário, André e Aulus, no
momento em que se dirigiam a
um centro espírita, ouviram
enorme gritaria. Dois
guardas arrastavam, de um
restaurante, um homem maduro
em deploráveis condições de
embriaguez. O mísero, que
esperneava e proferia
palavras rudes, achava-se
abraçado por uma entidade da
sombra, qual se um polvo
estranho o absorvesse. Num
átimo, a bebedeira alcançou
os dois, porquanto eles se
justapunham completamente um
ao outro, exibindo as mesmas
perturbações.
O Assistente Aulus convidou
seus pupilos a entrar no
restaurante, onde havia
muita gente. As emanações do
ambiente produziram
indefinível mal-estar em
André. Junto de fumantes e
bebedores inveterados,
criaturas desencarnadas de
triste feição se demoravam
expectantes. Algumas sorviam
as baforadas de fumo
arremessadas ao ar, ainda
aquecidas pelo calor dos
pulmões que as expulsavam,
encontrando nisso alegria e
alimento. Outras aspiravam o
hálito de alcoólatras
impenitentes.
Indicando essas entidades,
Aulus explicou que muitos
irmãos já desvencilhados do
vaso carnal se apegam com
tamanho desvario às
sensações da experiência
física, que se cosem aos
amigos encarnados
temporariamente
desequilibrados nos costumes
desagradáveis por que se
deixam influenciar.
Hilário estranhou por que
Espíritos mergulham em
prazeres dessa espécie.
Aulus lhe respondeu:
"Hilário, o que a vida
começou, a morte continua...
Esses nossos companheiros
situaram a mente nos
apetites mais baixos do
mundo, alimentando-se com um
tipo de emoções que os
localiza na vizinhança da
animalidade. Não obstante
haverem frequentado
santuários religiosos, não
se preocuparam em atender
aos princípios da fé que
abraçaram, acreditando que a
existência devia ser para
eles o culto de satisfações
menos dignas, com a
exaltação dos mais
astuciosos e dos mais
fortes. O chamamento da
morte encontrou-os na esfera
de impressões delituosas e
escuras e, como é da Lei que
cada alma receba da vida de
conformidade com aquilo que
dá, não encontram interesse
senão nos lugares onde podem
nutrir as ilusões que lhes
são peculiares, porquanto,
na posição em que se veem,
temem a verdade e
abominam-na, procedendo como
a coruja que foge à luz".
(Nos Domínios da
Mediunidade, cap. 15, págs.
137 a 139.)
Acreditamos que as
informações acima podem
fornecer à leitora a
resposta à pergunta que nos
foi encaminhada.
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