Qual a escola?
Já foi comentado
que em Jandiara,
tranquila
cidadezinha do
interior, vive
um povo ordeiro,
feliz; todos se
entendem, se
respeitam.
Embora naquela
cidade a tônica
seja o espírito
de fraternidade,
de tolerância e
de apreço entre
espíritas,
evangélicos,
católicos e
adeptos de
outros credos,
discutem-se, em
ocasiões várias,
pontos de vista
sobre fé
religiosa, cada
qual
considerando ser
a sua doutrina a
detentora única
da verdade.
No Grupo
Escolar, a
professora Maria
Tereza, vezes
sem conta, tem
sido a mediadora
em controvérsias
entre seus
pequenos alunos
nos
questionamentos
religiosos, como
a ocorrida
ontem.
- Creuza, agora
não dá. A tia
Tequinha pode
ouvir e ralhar.
- Sim, Nelma, no
recreio, então,
vamos conversar
- concordou Creuza, após
longo suspiro de
enfado.
Creuza,
engrossando a
fila dos
contestadores,
não aceitava e
queria
questionar a
crença de Nelma
na reencarnação.
No intervalo,
quando as demais
crianças foram
ao galpão para o
lanche e as
costumeiras
brincadeiras, as
duas garotas
permaneceram na
sala de aula
para trocarem
ideias a
respeito do tema
reencarnacionista.
Tendo percebido
o desencontro de
opiniões entre
Creuza e Nelma,
a professora
optou por ficar
acompanhando a
conversa, assim
desenvolvida:
- Não posso
admitir, Nelma,
que você
acredite mesmo
em reencarnação!
É tido e sabido
que Deus cria a
alma antes do
nascimento para
uma única vida
e, conforme seus
atos, irá para o
céu ou para o
inferno quando
morrer. O céu de
eternas delícias
e contemplação
do Divino, se
foi bom, ou o
inferno de
perpétuo
sofrimento, se
foi mau.
- Se é assim,
por que umas
almas são
criadas para
viverem pouco,
sem tempo para
fazerem o bem ou
o mal; outras
para viverem
anos e anos,
sujeitas a toda
a sorte de
tentações;
algumas nascem
em berço de ouro
com todas as
facilidades e
oportunidades do
mundo, quando a
grande maioria
nasce em lares
pobres, muitos
deles
miseráveis,
abaixo da linha
de pobreza?
-
Ah! Nelma, são
mistérios, não
podemos sondar a
vontade do
Senhor, ensinam
os mais velhos.
-
Lá em casa, Creuza, todas as
semanas nos
reunimos para o
Culto do
Evangelho no
Lar. Reza-se e
estuda-se. Meu
pai falou que
Deus cria os
Espíritos
simples e
ignorantes, mas
com
livre-arbítrio
para escolherem
seus destinos,
todos com as
mesmas
possibilidades
de
desenvolvimento,
de crescerem
espiritualmente
através de vidas
sucessivas, que
servirão para
aprendizado e
reparação de
erros cometidos,
até alcançarem o
aperfeiçoamento.
E minha mãe
completou: Daí,
a razão de Jesus
ter afirmado que
nenhuma de suas
ovelhas se
perderia.
-
Acho
impossível-
rebateu Creuza,
um tanto
agastada.
-
Papai diz
ainda que a
doutrina de
muitas vidas
explica a
Justiça Divina
ante as
diferenças
sociais, os
sofrimentos que
afligem homens
considerados
bons e
criancinhas que
nem chegaram à
idade da razão.
-
Mas ninguém se
lembra da tal
vida passada.
Não é verdade?
-
Como viver com
a lembrança dos
males
praticados? Como
conviver
pacificamente
com alguém que
fora nosso
inimigo
perverso? Seria
mais difícil e
penosa a
reconciliação. O
esquecimento é
uma bênção para
nós. O inimigo
de ontem pode
reencarnar hoje
como nosso pai
ou mãe, como
irmão ou irmã
para rompimento
das barreiras do
ódio e, reunidos
pelos laços de
família,
superarem suas
desavenças.
-
Cruz, credo,
Nelma! Inimigo
meu não quero
ver nem pintado
de ouro!
-
Sua religião
não ensina o
perdão? Creio
que todas elas
ensinam o que
Jesus viveu e
exemplificou: o
AMOR e o PERDÃO.
Você é que deve
estar desatenta,
esquecida do
ORAR e VIGIAR
para não cair em
tentação.
Esgotado o tempo
do recreio, a
meninada voltou
para a sala de
aula e as duas
deram por
encerrada a
discussão.
Continuando sua
aula, na parte
de geometria,
Maria Tereza
revisou ângulos,
triângulos,
quadriláteros e
polígonos.
Trinta minutos
antes do
encerramento, a
professora
referindo-se ao
diálogo que
presenciou entre
Nelma e Creuza,
contou uma
estória para
avaliação de
cada aluno sobre
o palpitante
assunto: - EM
QUAL ESCOLA VOCÊ
COLOCARIA SEU
FILHO?
Uma família que
se mudou para
uma nova cidade
resolveu visitar
as duas únicas
escolas
existentes no
lugar para
decidir em qual
delas
matricularia seu
filho.
Na primeira
escola visitada,
o diretor
explicou que,
lá, a criança
estuda durante
todo o ano e, no
final do
período, fará um
teste de
avaliação. Se
for aprovada,
irá, no ano
seguinte, para
uma classe
especial, com
todos os alunos
que se
dedicaram,
formando uma
classe de elite.
Se for
reprovada, a
escola manterá
criança trancada
em uma sala,
para sempre, com
os demais
reprovados. E
nem os pais
jamais poderão
ver os filhos...
nunca mais. Eles
NUNCA MAIS TERÃO
OUTRA CHANCE.
Na segunda
escola visitada,
os pais
verificam que o
sistema é
diferente. Ao
final do ano, as
crianças
aprovadas também
irão para uma
classe mais
avançada, mas as
que forem
reprovadas
repetirão o ano,
tendo que se
submeterem
novamente aos
ensinos e aos
testes nos quais
fracassaram,
TANTAS VEZES
QUANTAS FOREM
NECESSÁRIAS, até
serem aprovados.
Agora,
raciocinem, em
qual escola os
pais
matriculariam
seu filho.
Duvido que possa
existir qualquer
pessoa no mundo
que opte pela
primeira escola.
Duvido que
alguém tenha
coragem de expor
o próprio filho
a regime tão
cruel. Ora, se
nós, aqui na
Terra, não
aceitamos tal
método de
avaliação e
punição, será
que Deus, que é
infinitamente
superior a nós,
usaria esse
mesmo método
injusto?
INADMISSÍVEL!
Comparando a
eficiência das
duas escolas, a
primeira, ao
banir aqueles
que foram
reprovados,
teria um índice
limitado. Por
exemplo, se 50%
forem aprovados,
este índice
jamais será
alterado. Já a
segunda escola,
mesmo que, no
primeiro ano,
50% sejam
aprovados, como
ela oferece
outras
oportunidades,
no segundo ano,
com certeza,
muitos dos que
haviam sido
reprovados,
desta vez serão
aprovados,
aumentando o
índice de
eficiência, até
que, após vários
anos, 100%
estarão
aprovados.
Portanto, se o
objetivo da
escola é ENSINAR
e não PUNIR, a
segunda escola
é, sem dúvida
nenhuma,
superior.
Esta analogia
ilustra bem a
diferença entre
acreditarmos na
existência de
“apenas uma
vida”, de um
futuro
“julgamento
final”,
resultando em
“penas eternas”
e acreditarmos
na existência da
“reencarnação”,
possibilitando
infinitas
chances a todos,
até que um dia
possam atingir o
objetivo final
que é chegar à
condição de
“Espíritos
Puros”.
Sob a ótica de
vida única,
visualizamos um
Deus
INTOLERANTE,
VINGATIVO,
PUNITIVO. Ao
contrário, a
teoria
reencarnacionista
apresenta um
Deus TOLERANTE,
SÁBIO e
EDUCADOR, ao
mesmo tempo
infinitamente
JUSTO E
MISERICORDIOSO.
Esta é a estória
de um autor não
identificado,
que deve ser
muito bem
analisada, cada
um tire suas
próprias
conclusões.
Ninguém é
obrigado a
aceitar a
reencarnação,
mas também a
ninguém é dado o
direito de
menosprezar quem
a tem como
verdade
incontestável.
Após breve
oração de
agradecimento, a
professora Maria
Tereza encerrou
a aula do dia.