Falsos profetas aos
borbotões
Guardai-vos dos falsos
profetas que vêm ter
convosco cobertos de
peles de ovelha e que
por dentro são lobos
rapaces. Conhecê-los-eis
pelos seus frutos. Podem
colher-se uvas nos
espinheiros ou figos nas
sarças? Assim, toda
árvore boa produz bons
frutos e toda árvore má
produz maus frutos. Uma
árvore boa não pode
produzir frutos maus e
uma árvore má não pode
produzir frutos bons.
Toda árvore que não
produz bons frutos será
cortada e lançada ao
fogo. Conhecê-lo-eis,
pois, pelos seus frutos.
(Mateus, cap. VII, vv.
15 a 20.)
Cuidado. Muito cuidado.
Estejamos atentos. Não
nos deixemos enganar.
Jesus está dizendo a
seus discípulos e a
todos nós para sermos
espertos e não cairmos
na lábia dos falsos
profetas. Como eles
grassam por aí! Pelo
visto, desde que o mundo
é mundo, as pessoas se
iludem com facilidade.
Daí a importância de tal
advertência. É preciso
prudência.
E o que significa
prudência? Do latim
providere, prudência
quer dizer olhar
adiante, preparar,
antecipar. O prudente,
portanto, enxerga longe,
percebe a enganação bem
antes e prevê que, cedo
ou tarde, a farsa ou
ilusão virá por terra.
À primeira vista, temos
a impressão que o Cristo
se refere somente aos
falsos profetas
religiosos, que
infelizmente aparecem
aos montes. Podemos, no
entanto, ir mais fundo
no ensinamento e
percebermos falsos
profetas em várias
situações. Mas vamos nos
ater primeiramente ao
aspecto religioso do
ensinamento e tendo
sempre em mente que
toda árvore boa produz
bons frutos e toda
árvore má produz maus
frutos. Por isso, se
a árvore é má, de lá não
sairão pêssegos carnudos
ou maçãs suculentas,
embora muita gente
iludida viva cutucando
os galhos da árvore má
com um bambu, na
esperança de que caia
uma fruta saborosa.
É sabido que líderes
evangélicos aproveitam a
boa-fé e a credulidade
alheias para amealhar
fortunas. Pedem dinheiro
no culto, seja ao vivo
ou pela TV, e fazem um
invejável pé-de-meia. Ao
mesmo tempo, perseguem
homossexuais e membros
de outras religiões. Não
satisfeitos, incitam os
fiéis a fazerem o mesmo.
Resultado: centros de
umbanda e candomblé
depredados e seguidores
apedrejados, imagens de
Nossa Senhora sendo
chutadas e quebradas
etc.
Jesus nunca perseguiu ou
apedrejou ninguém.
Condenava, sim, a
hipocrisia, mas
convidada as pessoas a
se despirem de
preconceitos e
convenções e segui-lo,
ajudando-o na construção
de um mundo socialmente
mais justo, em que os
menos favorecidos tenham
voz ativa.
Tais líderes
evangélicos, no entanto,
torcem os ensinamentos
do Cristo e os utilizam
para semearem a
discórdia e iludirem
pessoas desavisadas. E
para encherem os bolsos
também. Quero deixar
claro que não estou me
referindo a todas as
lideranças de todas as
igrejas evangélicas.
Muitos são boas pessoas
e contra esse
mercantilismo que tomou
conta de algumas
denominações. Pregam,
inclusive, o diálogo
inter-religioso.
Mas como estamos falando
de falsos profetas,
lamento profundamente
que alguns pastores
utilizem os ensinamentos
cristãos para arrancar
dinheiro de cidadãos. E
infelizmente, por falta
de prudência – e também
às vezes por carência –,
as pessoas se deixam
enganar. E isso não é
prerrogativa do Brasil.
Em 1995, houve um ataque
com o gás venenoso sarin
no metrô de Tóquio,
capital do Japão, país
de primeiríssimo mundo.
Mais de 6.000 pessoas
foram asfixiadas e 13
morreram. As
investigações concluíram
que o atentado fora
praticado por membros da
seita Verdade Suprema.
Criada em 1984 por um
homem chamado Shoko
Asahara, a Verdade
Suprema foi cooptando
vários estudantes da
elite universitária
japonesa. Baseada
(Pasmem!) em alguns
princípios budistas
devidamente adulterados,
transformou-se não só
numa seita, mas também
numa rede de negócios e
organização política com
unidades paramilitares
que produziam agentes
químicos e armas leves.
Segundo o site
www.cristaoconfuso.com,
Asahara, que fundou a
seita depois de ter sido
preso por vender
medicamentos chineses
sem licença, conseguiu
isenção de impostos para
criá-la e instalou-se
com seus seguidores ao
pé do Monte Fuji. Por
falar em seguidores,
havia rituais pelos
quais os adeptos
recém-chegados tinham de
passar. Um deles era
beber a água na qual o
líder havia tomado banho
(Eca!). Depois de um
tempo de adesão, o
seguidor adquiria o mais
maravilhoso dos
privilégios: beijar o
dedão do pé do líder
(Duplo Eca!).
A Verdade Suprema
divulgava uma teoria de
fim do mundo baseada em
Nostradamus. Seus
membros, portanto,
deveriam se preparar
para a batalha do fim
dos tempos. Com isso,
virou uma espécie de
estado paralelo e
começou a fazer atos
terroristas, achando que
o Armageddon (Odeio esta
palavra!) se aproximava.
Depois do atentado em
Tóquio, acabou a
brincadeira do falso
profeta e seus
seguidores. O líder foi
preso e condenado à
morte (Aí, não!). Outros
seguidores receberam
pena de prisão perpétua.
E a árvore má que nunca
havia produzido bons
frutos foi arrancada.
A História também está
coalhada de falsos
profetas. O que dizer de
Adolf Hitler, que
incitou o povo alemão a
segui-lo, a fim de
recuperarem a supremacia
germânica, que havia
saído derrotada da I
Guerra Mundial? Contando
com forte aparato de
comunicação, amealhou
seguidores, fundou o
partido nazista, que
subiu ao poder em 1933,
declarou guerra ao mundo
anos depois, invadiu
vários países e se
tornou o responsável
pelo genocídio de
milhões de judeus. E
levou muitos a seguirem
sua crueldade, diga-se.
Apesar de a religião, a
História e várias outras
áreas terem falsos
profetas entre seus
representantes, vou, a
partir de agora, falar
de pseudoprofetas que
geralmente passam
despercebidos e que
podem estar bem perto de
nós. Para tanto, vou me
valer do livro
Criatividade em
Propaganda, da
autoria do publicitário
Roberto Menna Barreto.
Experiente no assunto,
Roberto, logo no
primeiro capítulo, chama
atenção para um tipo que
encontramos muito em
nossas atividades
cotidianas: o
especialista
incompetente. Ele está
presente nas empresas,
hospitais, dá
entrevistas na TV etc.
Geralmente, quando
contemplamos o quadro de
executivos de um grupo
empresarial, achamos que
todos eles são top de
linha; profissionais
supercompetentíssimos e
megapreparadíssimos.
Será? Segundo Menna
Barreto, pelo fato de
toda empresa ter um ou
outro buraco
administrativo e altos e
baixos nos serviços, os
especialistas
incompetentes acabam se
aninhando nessas brechas
e são tolerados anos a
fio, muitas vezes sem
serem descobertos. E
como temem que os
colegas descubram,
camuflam-se na própria
especialidade. De que
forma? Transformando-a
num quebra-cabeças que
só ele – o especialista
incompetente – sabe
montar. É, por fim, a
pessoa que não atende às
exigências da função que
assumiu. Por isso, faz
com que ela pareça mais
complexa do que de fato
é. Roberto ressalta:
O raciocínio é óbvio: se
ele consegue lidar com
tal complexidade, sem
dúvida é um gênio.
Observa o livro, com
muita propriedade, que
devemos ter cuidado com
o médico que não explica
direito a doença que
diagnosticou em nós; com
o advogado que prepara
argumentos que o juiz
não entende (e o
cliente, muito menos);
com o executivo que
nunca tem tempo para
nada; com o economista
que, ao ser perguntado
sobre alguma conjuntura
econômica, cita outro
economista em vez de dar
uma resposta própria;
com o gerente de
marketing que vive
utilizando expressões em
inglês; com o ministro
da Fazenda que vai à TV
explicar o novo plano
econômico, mas ninguém
consegue entender como
funciona; com o colega
de trabalho que vive com
a mesa cheia de papéis
para que tenhamos a
impressão de que ele é
deveras assoberbado etc.
Trabalhei numa empresa
da área editorial por
cerca de cinco anos.
Certa vez, um executivo
de vendas foi
contratado. Muito
simpático, vivia
viajando. Nunca estava
na sede. O local de
trabalho dele era a
estrada, indo de filial
em filial. Era difícil
falar com ele. A
correspondência que
enviava à equipe e
superiores era cheia de
frases feitas e lugares
comuns e sempre
terminavam com a
seguinte frase: Seja
feliz.
Um belo dia, uma
profissional mais
competente que ele foi
contratada para um cargo
de assessoria. Ele, com
medo de ser descoberto,
tentou boicotá-la. Foi
demitido. Acabara a
farsa.
Você, caro leitor, já
deve ter se deparado com
algum profissional
assim. Nem sempre são
más pessoas. Muitas
vezes, nem têm
consciência de que são
assim. São pessoas do
mundo, lutando por um
espaço. São inseguros,
ansiosos... Devemos
tratá-los com bondade e
paciência e, aos poucos,
fazê-lo ver que não é
assim que se procede.
Senão, a árvore será
arrancada.
Mas do outro lado da
questão está o
especialista competente.
Quem é ele? É o
profissional que
simplifica o assunto
para que o leigo
entenda. Vários gênios
da humanidade eram
assim. Oscar Niemeyer,
conta Roberto, explicou
a criação de Brasília em
um folheto de 20
páginas. Tudo de forma
original e objetiva, sem
firulas, palavras
difíceis ou equações
matemáticas muito
elaboradas.
William Faulkner (1897 –
1962) foi um célebre
escritor
norte-americano; prêmio
Nobel de Literatura em
1949. Soube como ninguém
narrar a decadência do
sul dos Estados Unidos.
Certa vez, perguntaram a
Faulkner como ele
escrevia. Se ele fosse
um especialista
incompetente, é quase
certo que diria que se
trancava no quarto para
se concentrar e buscar
inspiração. Ou então,
que esperava um lampejo
criativo brotar ao
caminhar por entre os
bosques. Mas como é dos
times dos que
simplificam, respondeu
que escrevia da esquerda
para a direita. Simples
assim.
Nijinski (1890 – 1950),
notável bailarino e
coreógrafo russo, ficou
famoso, entre outros
predicados, pelo
incrível salto em
suspensão, que o fazia
ficar no ar mais tempo
que os demais. Um dia,
perguntaram como ele
conseguia o feito. Se
fosse um falso profeta
da dança, inventaria uma
tese mirabolante
mesclada a horas de
dedicação estafante. Mas
como não era nada disso,
Nijinski deu a seguinte
resposta: É só dar um
pulo bem alto e parar lá
um pouco. Mais
simples e genial que
isso, impossível.
Roberto Menna Barreto
faz, ainda, uma
observação muito
interessante. Ele diz
que os especialistas
incompetentes conspiram
contra os talentosos, a
favor da mediocridade.
Falsos profetas que
temem ser desmascarados
e dão um jeito de
neutralizar a
inteligência da
simplicidade e manter os
menos favorecidos na
ignorância. É só nos
lembrarmos de nomes como
Sócrates, Santa Catarina
de Siena, Gandhi e
Giordano Bruno. Almas
nobres que pagaram com a
vida por serem simples e
afrontarem os conchavos
e fanatismos dos falsos
profetas então
dominantes. E o mais
simples de todos, Jesus
Cristo, autor do
ensinamento ora
analisado. Ninguém mais
do que ele foi claro e
objetivo. No entanto,
tido à conta de mero
agitador, foi
crucificado graças a um
julgamento parcial,
arranjado às pressas
pelas autoridades
judias, e também graças
à multidão teleguiada
pelos ardis dos falsos
profetas, que induziram
a massa a preferir
Barrabás ao Cristo.
Por fim, Allan Kardec,
no livro Espiritismo
e Justiça Social -
Luiz Gonzaga Pinheiro
enfatiza que Kardec pôs
abaixo castelos de carta
de embusteiros seculares
ao acabar com os
mistérios do
além-túmulo, os
milagres, o sobrenatural
etc. Acabou com o
dogmatismo e com tudo
que foi sendo enxertado
e adulterado na mensagem
cristã ao longo dos
séculos. Um gênio que
tornou tudo mais
simples.
Filósofo por excelência,
Kardec, todavia, é
desconsiderado nos
círculos filosóficos.
Talvez porque ele seja
simples e objetivo.
Filósofos, em
contrapartida, costumam
ser amantes do texto
rebuscado que quase
ninguém entende. Serão
alguns deles falsos
profetas?
BIBLIOGRAFIA:
1- PINHEIRO,
Luiz Gonzaga.
Espiritismo e Justiça
Social. EME Editora.
2ª Ed., 2004, Capivari,
SP.
2- BARRETO,
Roberto Menna.
Criatividade em
Propaganda. Summus
Editorial. 3ª Ed., 192,
São Paulo, SP.
http://www.minasnews.com/site/noticia/1040/mundo/mundo/fanatico-terrorista-se-entrega-no-japao-apos-16-anos-de-fuga.html
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