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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 439 - 8 de Novembro de 2015

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)

 

 
Sobre Contos amigos...


Yvonne do Amaral Pereira foi uma espírita autodidata e portadora de prodigiosa mediunidade. Via, ouvia, conversava com os Espíritos e psicografava obras ditadas por eles de grande beleza espiritual. A mais extraordinária delas, com certeza, foi Memórias de um suicida, transmitida pelo Espírito do grande romancista português Camilo Castelo Branco, que adotou o pseudônimo de Camilo Cândido Botelho em sua narrativa dos atrozes sofrimentos passados por ele em função do seu suicídio na última existência.

Essa obra é um monumento de mais de 500 páginas, que nos alerta sobre as tristes e dolorosas consequências do suicídio para o Espírito que comete tal disparate ante as leis divinas. Foi publicada pela Federação Espírita Brasileira a partir de 1955 e, em 2012, a FEB editou-a pela 27ª vez. Além desse livro, Yvonne publicou, em vida, por essa editora, outras doze obras ditadas pelos Espíritos Léon Tolstoi, Charles e Bezerra de Menezes, sob a orientação dos Espíritos Léon Denis e Charles, além de Bezerra.

Mas, no ano passado, foram redescobertos quatro manuscritos inéditos, que vêm sendo publicados pela Federação: A família espírita, Evangelho aos simples, As três revelações e Contos amigos. São obras da lavra da própria autora, Yvonne, sob a inspiração dos benfeitores espirituais, que lhe pediram para assumir a autoria desses trabalhos.

A última delas, Contos amigos, é uma obra destinada a crianças e jovens, principalmente, e foi escrita em linguagem bastante coloquial, simples e objetiva. Traz uma série de contos com narrativas bucólicas e educativas. Sobre esse livro, que contém 156 páginas e onze capítulos, abordaremos alguns aspectos de alta relevância educativa e moral, contidos na 2ª reimpressão da 1ª edição, que transcrevemos e comentamos a seguir.

O primeiro capítulo, cuja estrutura serve de base aos outros dez, narra o conto intitulado O bom pastor, que contém quatro partes curtas relacionadas à interação humana com os animais: Nicolau, a ovelha fujona, O lobo da montanha e A volta ao aprisco. Os eventos desse conto remetem o leitor às reflexões contidas na "Moral da história", a um vocabulário e, por fim, a um poema. No caso, o soneto de Pereira Brasil intitulado O Amigo.

O segundo capítulo apresenta-nos As aventuras de Paulo, um menino transtornado pela mediunidade e levado a um centro espírita, que orientou sua família sobre a obsessão do jovem e seu tratamento espiritual. O poema que encerra esse capítulo é Na noite de Natal, psicografado por Chico Xavier e ditado pelo Espírito João de Deus.

Em seguida, temos as belíssimas histórias d'O cãozinho amoroso (cap. 3), d'O menino Raimundinho (cap. 4), de Um homem notável (cap. 5), da triste, mas consoladora história d'O menino desobediente (cap. 6) e da reencarnação do menino Tárley (cap. 7).

O cap. 8 volta a tratar do tema sobre a alma dos animais e suas relações com os humanos. Expõe-nos a história de dois jornalistas franceses, presos injustamente na Guiana Francesa, e fugitivos perdidos na mata paraense, que foram prevenidos por macacos para não comerem frutos venenosos. Um deles, por não acreditar no aviso dos nossos "irmãos menores", morreu envenenado; o outro optou por seguir a orientação dos símios e sobreviveu. É uma narrativa comovente, que nos traz à lembrança as palavras de Jesus: "Bem-aventurados aqueles que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus" (Mateus, 5:10.)

Os três últimos capítulos tratam da mediunidade de uma criança que salvou seus irmãos de se perderem na montanha repleta de cobras cascavéis (cap. 9). Expõe também o triste drama de Teresa, abnegada mãe abandonada à própria sorte pelos cinco filhos, depois de idosa (cap. 10). O último capítulo aborda "a inteligência dos animais".

Por fim, extraímos algumas frases da obra, para nossa reflexão:
 

O analfabetismo não causa apenas a ruína do indivíduo, mas também do país em que existe. Instruir uma criança ou um jovem, criar uma escola para alfabetização é obra meritória para aquele que a executa, mormente se o faz por abnegação. É gesto que repercute no seio divino, glorificando aquele que o teve (p. 76). 

No seu discurso de posse, a atual presidente brindou o Brasil com a seguinte frase: "Brasil, pátria da educação!", afirmando que esse será o lema do seu governo a partir de 2015. Roguemos aos céus para que todas as medidas sejam implantadas e esse seu sonho, que também é o nosso, se torne realidade em nosso país.

Outra brilhante frase da obra Contos amigos:
 

Nossa verdadeira individualidade reside em nosso ser espiritual, isto é, em nosso Espírito, em nossa alma. Nosso Espírito jamais morre, é eterno porque foi construído por Deus, de essências espirituais muito puras, imortais. Quando alguém morre é porque o corpo não pode mais conter o Espírito e, então, este abandona o corpo, que não mais serve, isto é, desencarna (p. 85).

O Espiritismo, termo criado por Allan Kardec para designar os fenômenos provenientes das mensagens dos Espíritos e sua Doutrina, não veio para substituir nenhuma religião, e, sim, complementar seus ensinamentos com base na ciência espírita, que não se confunde com a ciência humana, e em suas consequências filosóficas e morais. Ele foi inaugurado a 18 de abril de 1857, por meio d'O Livro dos Espíritos, que contém 1019 questões relacionadas a todos os problemas da humanidade e suas explicações provindas dos altos Planos espirituais. Assim, nossa imortalidade vem sendo comprovada com base na observação e experimentação apropriadas às manifestações não mecânicas, mas inteligentes, secundadas por confirmações dos pesquisadores sérios e cientistas renomados. A imortalidade da alma e seu retorno ao corpo físico, desse modo, já é assunto sobejamente sabido e não somente crido pelos espíritas.

Para complementarmos nossas reflexões, citamos a frase de Yvonne Pereira, contida na "Moral da história" do cap. 7, que trata sobre a reencarnação, nesse livro de beleza e simplicidade comoventes:

 

A reencarnação é a Lei divina, criada desde o princípio das coisas para o progresso e a evolução dos seres criados por Deus e para a reabilitação do homem que se fez pecador. Não devemos encobri-la das crianças, pois o seu conhecimento por parte destes seres delicados é de grande importância na reeducação do seu caráter, vindo de outras etapas reencarnatórias (p. 99).

Ao leitor, aos pais e educadores espíritas, recomendamos a leitura dessa obra tão instrutiva às almas de nossas crianças e jovens, sem, contudo, deixar de trazer ao estudioso espírita subsídios simples e belos, como são próprios dos relatos narrados pelas pessoas do interior deste nosso país continental.

 

Referência:

PEREIRA, Yvonne do Amaral. Contos amigos. 1ª ed., 2ª imp. Brasília: FEB, 2014.

Visite o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com
 


 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita