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Entrevista Espanhol Inglês    
Ano 9 - N° 439 - 8 de Novembro de 2015

ANDRÉ RIBEIRO FERREIRA
andure@uol.com.br
Brasília, DF (Brasil)      

 

 
Carlos Campetti: 

"O que nos ocupa é o sincero propósito de auxiliar as pessoas interessadas em praticar a mediunidade de forma
segura e produtiva”

O conhecido escritor fala sobre sua mais recente obra e comenta sua motivação ao escrever, seus compromissos e sua
atuação no movimento espírita
 

Carlos Roberto Campetti (foto), natural de Tanabi (SP), reside atualmente em Brasília (DF). Nasceu de pai espírita e mãe católica. Começou a ler Kardec e André Luiz aos 9 anos de idade. É autor dos livros Pases a la Luz del Espiritismo, em parceria com Simoni Privato Goidanich, e Trabalho Mediúnico - desafios e possibilidades, em parceria com a espo-

sa Vera Campetti. Participou da fundação de vários grupos espíritas na Espanha e nos Estados Unidos. Vinculado à Federação Espírita Brasileira e à Federación Espirita Española, é também médium e palestrante e tem colaborado na preparação de trabalhadores para centros espíritas e atuação no movimento espírita. Jornalista de formação, tem mestrado em Administração de Negócios e especialização em Marketing. 

Fale-nos sobre sua atuação espírita e sobre o Carlos escritor. Qual o seu propósito? Comente sobre suas obras. 

Faço palestras, gosto de ministrar seminários e cursos de preparação de trabalhadores para as diversas áreas de atuação dos centros espíritas. Ajudamos a fundar vários centros e prestamos assessoria a diversos outros. Como jornalista, desde antes da minha formação em 1981, já escrevia artigos em português e, mais tarde, em espanhol,  com publicação em revistas como Reformador, RIE, Anuário Espírita e outras revistas de Portugal e Espanha, além de jornais leigos. O propósito é contribuir para a divulgação do Espiritismo, a melhoria do ser humano, começando pela minha própria. Escrevemos, em espanhol, Pases a la Luz del Espiritismo porque havia poucos livros sobre esse tema naquele idioma. Trabalho Mediúnico - desafios e possibilidades foi escrito na medida em que as experiências iam sendo desenvolvidas por mais de dez anos. Não é um livro teórico. É eminentemente prático. 

O que motivou a elaboração do livro Trabalho Mediúnico - desafios e possibilidades? 

Percebemos que, em função da nossa experiência, da Vera, minha mulher, e minha, poderíamos elaborar um livro de simples entendimento tratando desse tema tão fundamental para os centros espíritas. Viajando pelo Brasil e pelo mundo, observamos muita carência nessa área. Muitos trabalhos mal orientados, problemas de obsessão coletiva por falta de entendimento da proposta de Allan Kardec. Dessa forma, partimos da base, a Codificação, e, especialmente, O Livro dos Médiuns, compulsando as mais diferentes obras publicadas sobre o assunto para colocar suas orientações em prática em lugares como o Brasil, Uruguai, Espanha, Estados Unidos e Coreia do Sul, para depois descrever essa prática em linguagem simples e direta, de fácil entendimento. Sempre admiramos No Invisível, de Léon Denis, e Diálogo com as Sombras, de Hermínio Miranda. Pensamos então que poderíamos colaborar com nossa experiência na mesma área, mas em diferente vertente do trabalho mediúnico, com base nas experiências de outra ordem que vivemos em alguns países. 

Qual a grande contribuição da obra para a Doutrina Espírita?      

Esperamos que os interessados no assunto mediunidade leiam o livro e o estudem em grupo, como material de apoio, como sempre utilizamos os livros de Léon Denis e Hermínio Miranda, que são resultado das experiências desses dois escritores no campo da mediunidade em centros espíritas.  

Que método foi utilizado e quanto tempo levou na elaboração literária? 

Vera é formada em letras e diplomata de carreira. Lê desde os dois anos e meio e já leu tudo o que lhe caiu nas mãos, inclusive enciclopédias, pois seu pai foi vendedor de livros durante um tempo. Reuniu uma bagagem impressionante ao longo de sua vida. Escreve com uma precisão de dar gosto, dizendo com as palavras certas o que precisa ser dito sobre cada assunto. Escrevemos o livro a quatro mãos: tudo o que ela escreveu eu revisei e vice-versa, procurando apresentar, sobre cada assunto, a visão da dialogadora e do médium. Tomou-nos cerca de dez anos a elaboração do livro. Não tínhamos pressa nem pretensões de “fazer sucesso”. O que nos ocupa é o sincero propósito de auxiliar as pessoas interessadas em praticar a mediunidade de forma mais segura e produtiva, sob as orientações de Kardec e Jesus. 

Foi influenciado pela prática de alguma instituição ou a iniciativa é particular? 

Tudo o que fazemos no e para o movimento espírita tem por base nossa formação na Federação Espírita Brasileira. Aliás, a primeira vez que nos falamos, a Vera e eu, foi na porta de entrada do trabalho mediúnico que passei a frequentar e que ela tinha começado a frequentar fazia pouco tempo na FEB. No entanto, nossa experiência se ampliou bastante em função da participação no movimento espírita em diversos países. Não é o mesmo você frequentar grupos já existentes e bem dirigidos, ou frequentar outros grupos mal orientados e desequilibrados, ou, inclusive, você ter que iniciar do zero um centro, com tempo limitado a três anos, para deixá-lo funcionando nos aspectos doutrinário, administrativo e financeiro. 

Como você vê a qualidade da literatura espírita no momento atual? 

Vejo com preocupação. Há quem anuncie que vende sete mil títulos espíritas. No entanto, os livros que realmente seguem a proposta de Kardec, que passaram pelo crivo universal do ensino dos Espíritos, não passam hoje de uns dois mil e já é muito, pois se uma pessoa ler três livros por mês levará dez anos para ler 420 obras. Por isso nossa constante insistência para que os verdadeiramente interessados estudem primeiro Kardec para saberem distinguir o joio do trigo, trabalho que ninguém poderá fazer pelo leitor, uma vez que não poderemos ter "index librorum prohibitorum" ou “recomendatorum” no movimento espírita. As trevas se imiscuem com habilidade e ganham terreno onde há invigilância e acomodação. Bezerra de Menezes tem alertado em diversas mensagens sobre os riscos deste momento e o papel que nos cabe como espíritas conscientes. 

Quais as principais dificuldades a superar? 

A principal dificuldade se chama interesse pessoal. Toda vez que as pessoas formaram partidos ou grupos à parte “melhores do que os outros” ou “únicos detentores da verdade” tivemos problemas na história da humanidade. Aristóteles disse que o povo que não conhece a própria história está fadado a repeti-la. Complementamos: se não aprendemos com os enganos do passado, vamos cometê-los até aprender a acertar. Personalismo é um grave problema e completamente incompatível com uma prática mediúnica saudável. O caminho seguro para superar a dificuldade é cultivar a humildade, a solidariedade, o amor de uns pelos outros, sem discriminar o enganado, mas não sendo conivente com o engano. E há engano toda vez que fazemos algo que não esteja conforme com a Lei Divina, que se volte para os interesses de preponderância pessoal no campo da matéria. O que precisa aparecer é o trabalho e não as pessoas, meros instrumentos para que a obra do Cristo se concretize, primeiro em seus corações, e depois nos dos demais, quando estiverem maduros para isso.    

Qual o papel dos escritores, dirigentes e líderes espíritas na melhoria e preservação da qualidade dos conteúdos literários espíritas? 

Simples esse papel: ser humildes e agir com a autoridade moral construída no trabalho coerente com os propósitos da Lei Divina. Renunciar sempre que a personalidade estiver sendo projetada, para não sermos pedra de tropeço para a obra que transcende cada um de nós como individualidade. Não escrever, publicar, recomendar ou vender obras que não coadunem com a finalidade do Espiritismo, que é oferecer elementos para que as pessoas se tornem melhores. ”Colocar o Evangelho como roteiro; mantermos a consciência tranquila como consolo; esquecermos o mal como estratégia; e utilizarmos a prece como fortaleza”, conforme palavras do Presidente da FEB Jorge Godinho Barreto Nery.   

O que, na sua percepção, precisa e pode melhorar na publicação de conteúdos espíritas? 

É preciso que as pessoas que publicam para leitores espíritas tomem por base os livros de Allan Kardec e as obras já reconhecidas pelo movimento espírita como coerentes com a Codificação Espírita. Mas o grande controle está mesmo com o leitor esclarecido que não comprará qualquer coisa somente para passar o tempo numa leitura “agradável”, mas que não agrega nada para seu crescimento espiritual e pode até mesmo confundir seus propósitos, ou comprar livros simplesmente para participar “dos mais vendidos” e estar “bem informado” sobre as novidades do momento. Lembramos aqui a irmã Laura em Nosso Lar quando informa a André Luiz que ele poderia escolher qualquer dos livros de sua biblioteca, pois naquela comunidade não entravam certos livros que são publicados na Terra. 

O que pode ser feito para incentivar a formação de novos escritores espíritas? 

Praticar o Espiritismo em casa e na sociedade com os nossos filhos. Oferecer a eles bons exemplos e boa literatura. Desligar a televisão e ler na frente deles e com eles para que aprendam pelo exemplo que damos. Meu pai é semianalfabeto. No entanto, uma das primeiras lembranças que tenho de minha vida é ele sentado na beira da cama todos os dias lendo O Evangelho segundo o Espiritismo. Nossos filhos fazem o que fazemos. Não adianta argumentar ou impor o que não vivemos. Novos escritores espíritas surgirão dos bons exemplos, do conhecimento e da vivência da proposta renovadora que o Espiritismo oferece.       

Quais os seus planos em relação ao futuro? Pretende continuar a escrever? 

Seguir trabalhando para o Cristo, evitando que minha personalidade atrapalhe o compromisso assumido. Pretendemos seguir escrevendo. Vera e eu temos vários projetos.        

Sua mensagem final aos nossos leitores. 

Ame, ame e ame… Seja fraterno. Supere sua tendência ao personalismo e ao egoísmo. Seja solidário. Compreenda e aceite o seu próximo como ele é. Ninguém muda ninguém. Você só pode mudar uma pessoa neste mundo: você mesmo. Se fizer isso estará seguindo o que disse Gandhi: Quando uma alma se ilumina, muitas almas se iluminam com ela. Acenda sua luz. Você a possui, como todos a possuem. Somos filhos de Deus destinados ao bem. Por que não iniciar a sua prática agora, se ainda não o fizemos?


 
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita