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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 441 - 22 de Novembro de 2015

FERNANDO ROSEMBERG PATROCÍNIO
f.rosemberg.p@gmail.com
Uberaba, MG (Brasil)

 


Ciência espírita:
alguns enfoques


Nunca se disse que a Ciência Espírita é de fácil estudo, pesquisa e compreensão. Ora, lidamos com o Invisível, com Seres que se movem o tempo todo, que estacionam e evoluem em seu Mundo próprio como também nas trabalhosas lidas de sua imensurável jornada palingenésica. Assim, fazendo mais alguma análise de obras mediúnicas atuais, sabe-se que o Espírito que se identifica pelo nome de Dr. Inácio, psicografia do respeitoso médium Carlos Baccelli, defende com unhas e dentes que Chico Xavier é a reencarnação (reec>)(*) de Allan Kardec e que este é a reencarnação (reec>) de Platão. Sendo que, por tal proposta teríamos: 

Chico (reec>) Kardec (reec>) Platão. 

O capítulo 37 do livro “Fundação Emmanuel” (Leep) informa que o Espírito de Chico Xavier, em uma palestra no Mundo Espiritual, em dado momento disse: 

“Tenho vindo assim, conforme sabem alguns, desde os tempos da Hélade, quando, igualmente, na humilde condição de discípulo, registrei imperfeitamente para a humanidade as inesquecíveis lições do mais sábio de todos os filósofos...”. (Opus Cit.) 

Ora, Hélade é um antigo nome da região hoje conhecida como Grécia. E o mais sábio dos filósofos gregos, como se sabe, trata-se de Sócrates. E, se o Espírito de Chico Xavier, nas palavras relatadas pelo Dr. Inácio, diz que fora o discípulo do mais sábio de todos os filósofos, referido discípulo, portanto, fora Platão e, portanto, o nosso Chico, nos relatos do referido Inácio, teria sido o discípulo de Sócrates, teria sido, também, o Espírito que animara Platão. 

Entretanto, a obra codificada de Allan Kardec contém instruções do Espírito de Platão! Mas Chico não seria a reencarnação de Kardec? e, pelas instruções encimadas, nos tempos da Hélade, não teria sido Platão? Questiona-se, então, quem seria o Espírito que, em sua obra principal, ou seja: “O Livro dos Espíritos” se dizia ser Platão? Ou seria um falso Platão? Ou malabarismos de Kardec e de Platão? 

Não ouso acreditar que uma obra seriíssima, como a de Allan Kardec, amparada pelo Espírito de Verdade, enviado do Cristo, possa albergar tal ordem de fraude, de mistificação. Ou não seria mistificação, pois o Espiritismo, conquanto simples em sua exposição de princípios, é obra extremamente complexa, pois referida questão da identidade do Espírito fora também tratada por Allan Kardec, sobretudo em sua obra de “Espiritismo Experimental”, o denominado “O Livro dos Médiuns”. Todavia, o Espiritismo, constituindo síntese, óbvio que, por tal mesmo, está a expressar do referido tratado, um resumo suscetível de ilações outras, que também veremos. 

E mais: em outro trabalho de sua lavra mediúnica (“Eu Também Voltei” - Leepp), aquele mesmo Espírito, Dr. Inácio, alega, com todas as letras, no capítulo 43, que Chico Xavier foi o apóstolo João, ou seja, ele mesmo: João Evangelista! Noutros termos, andando de hoje para ontem, cronologicamente, Chico teria sido a reencarnação de Allan Kardec, do apóstolo João Evangelista e de Platão:

Chico (reec-->) Kardec (reec-->) João (reec-->) Platão. 

Mas creio que o sapiente leitor já notara outro detalhe importantíssimo de tal informação, pois João Evangelista também consta dos Espíritos Superiores que participaram da codificação da doutrina espírita, com o missionário Allan Kardec, no Século 19. 

Noutros termos: se a obra de Kardec, como visto acima, contém instruções do Espírito de Platão e do Espírito de João Evangelista, como poderia Kardec ter animado tais homens no passado, se sua obra contém instruções transmitidas por ambos, ou seja, pelos Espíritos de Platão e do Evangelista João? Ou Platão e João, de sua obra, seriam mistificações, pois Kardec, no passado, é que teria sido Platão e, logo após, João - o São João Evangelista? 

Ou, ainda, invertendo os polos: 

- Não seria a obra de Kardec, em seu conjunto, uma expressão da verdade e, portanto, merecedora dos nossos aplausos, do nosso respeito, pois que representa a promessa do Cristo de nos enviar o Consolador que nos faria lembrar tudo o que o mesmo realizara e que ficaria eternamente conosco? 

Mas quando a obra do Dr. Inácio levanta dúvidas acerca da importante obra de Kardec, sugerindo-lhe fraudes, não seria justamente o contrário? Ou seja: 

- Não seria tal obra do Dr. Inácio uma heresia doutrinária, pois persegue Kardec e confunde seus adeptos espiritistas com informações duvidosas, colocando em xeque a Terceira Revelação da Lei de Deus, que, como já devidamente explicitado, estivera amparada pelo Espírito de Verdade, confiável ministro de Cristo Jesus? 

Senão, vejamos! Da cronologia palingenésica já citada pelo Dr. Inácio, temos que: 

Chico (reec-->) Kardec (reec-->) João (reec-->) Platão. 

E penso ser óbvio que, se uma só figura de tal ordem cronológica for falsa, ou seja, estiver equivocada, penso que, por dedução filosófica, e também matemática, toda ela se desmorona, falseada que está em seus princípios e deduções. 

Vejamos que a Revista Espírita do mês de janeiro de 1861, em seu Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, registra em dado momento que: 

“3º. – Fato pessoal ocorrido com o Sr. Allan Kardec, e que pode ser considerado uma prova de identidade do Espírito de antigo personagem. A Srta. J... recebeu várias comunicações de João Evangelista, sempre com uma caligrafia muito característica e completamente diversa de sua escrita habitual. Tendo o Sr. Allan Kardec, a seu pedido, evocado aquele Espírito (João Evangelista), por intermédio da Sra. Costel, verificou-se que a caligrafia tinha absolutamente o mesmo caráter da Srta. J..., embora a nova médium dela não tivesse conhecimento; ademais, o movimento da mão tinha uma delicadeza inabitual, o que constituía, ainda, uma similitude; enfim, as respostas concordavam em todos os pontos com as que tinham sido dadas através da Srta. J... e na linguagem nada havia que não estivesse à altura do Espírito evocado” (Revista Cit.). 

Ou, noutros termos, e, pelos dados da pesquisa científica de Allan Kardec, notamos que ele não poderia ter sido João Evangelista no passado, pois ele próprio confirmara a presença do referido Espírito em seu laboratório de pesquisas espiríticas, o que, por sua vez, derruba a tese do Dr. Inácio de que Kardec fora João no passado, o que, por sua vez, derruba todo o contexto de sua pretensão contida na cadeia palingenésica já citada:

Chico (reec-->) Kardec (reec-->) João (reec-->) Platão,

que nos parece, pois, falseada em um de seus elementos constituintes, derrubando por terra todos os elos da questão.

Logo, pelo embaraço disseminado em nosso meio pelas obras do senhor Carlos Baccelli/Dr. Inácio, óbvio está que eu, este modesto autor de tais escritos, priorizo estar com os renomados e científicos trabalhos de Allan Kardec, até que se prove, por métodos incontestáveis e definitivos, que seu trabalho de intensa pesquisa se equivocara e que tais livros mediúnicos da atualidade são justos, verdadeiros e doutrinariamente corretos. 

Noutros termos, antes de condenar, concedo aos autores Carlos Baccelli e Dr. Inácio Ferreira o benefício da dúvida: provem-nos suas assertivas, justifiquem-nas, que com elas estaremos acordes e de braços abertos à sua aceitação e ampla divulgação. Assim, pois, se a obra de Kardec pode conter algum equívoco, é preciso prová-lo com fatos, mas não apenas com palavras soltas, algo desconexas e sem as devidas provas do que se propaga em nosso meio já tão complexo e tão difícil de trabalhar. 

Mais ainda: alegarão alguns que Espíritos muito evolvidos, pela identidade de princípios que os unem, pela conformidade de seus pensamentos e ações, poderiam se substituir em suas comunicações com os homens, adotando uns o nome de outros, sem embargo de seu nome e de suas instruções. Entretanto, Kardec não estivera, plenamente, de acordo com tal situação, prescrevendo: 

“Objetar-se-á, sem dúvida, que o Espírito que toma um nome suposto, mesmo para não falar senão do bem, não cometeria com isso menos fraude, e daí não pode ser um bom Espírito”. (Vide: “OLM” – AK – 1863 – Ide.) 

Logo, admitir-se que o Espírito de João Evangelista, citado pela pesquisa de Kardec, não seja o referido, é admitir-se fraude, é acatar uma falsidade ou coisa que o valha, e não pensamos que o Codificador, sobretudo nessa questão, possa ter sido enganado, pois que era assistido, em suas prolongadas pesquisas, como já dito e reiterado, pelo Espírito de Verdade, tal como prometido pelo Cristo Jesus.
 

(*) Este recurso gráfico(reec-- >) é utilizado pelo autor como símbolo indicativo de reencarnação. 


 
 

 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita