Ciência espírita:
alguns
enfoques
Nunca se disse que a
Ciência Espírita é de
fácil estudo, pesquisa e
compreensão. Ora,
lidamos com o Invisível,
com Seres que se movem o
tempo todo, que
estacionam e evoluem em
seu Mundo próprio como
também nas trabalhosas
lidas de sua imensurável
jornada palingenésica.
Assim, fazendo mais
alguma análise de obras
mediúnicas atuais,
sabe-se que o Espírito
que se identifica pelo
nome de Dr. Inácio,
psicografia do
respeitoso médium Carlos
Baccelli, defende com
unhas e dentes que Chico
Xavier é a reencarnação
(reec>)(*)
de Allan Kardec e que
este é a reencarnação (reec>)
de Platão. Sendo que,
por tal proposta
teríamos:
Chico (reec>) Kardec (reec>)
Platão.
O capítulo 37 do livro
“Fundação Emmanuel” (Leep)
informa que o Espírito
de Chico Xavier, em uma
palestra no Mundo
Espiritual, em dado
momento disse:
“Tenho vindo assim,
conforme sabem alguns,
desde os tempos da
Hélade, quando,
igualmente, na humilde
condição de discípulo,
registrei
imperfeitamente para a
humanidade as
inesquecíveis lições do
mais sábio de todos os
filósofos...”.
(Opus Cit.)
Ora, Hélade é um antigo
nome da região hoje
conhecida como Grécia. E
o mais sábio dos
filósofos gregos, como
se sabe, trata-se de
Sócrates. E, se o
Espírito de Chico
Xavier, nas palavras
relatadas pelo Dr.
Inácio, diz que fora o
discípulo do mais sábio
de todos os filósofos,
referido discípulo,
portanto, fora Platão e,
portanto, o nosso Chico,
nos relatos do referido
Inácio, teria sido o
discípulo de Sócrates,
teria sido, também, o
Espírito que animara
Platão.
Entretanto, a obra
codificada de Allan
Kardec contém instruções
do Espírito de Platão!
Mas Chico não seria a
reencarnação de Kardec?
e, pelas instruções
encimadas, nos tempos da
Hélade, não teria sido
Platão? Questiona-se,
então, quem seria o
Espírito que, em sua
obra principal, ou seja:
“O Livro dos Espíritos”
se dizia ser Platão? Ou
seria um falso Platão?
Ou malabarismos de
Kardec e de Platão?
Não ouso acreditar que
uma obra seriíssima,
como a de Allan Kardec,
amparada pelo Espírito
de Verdade, enviado do
Cristo, possa albergar
tal ordem de fraude, de
mistificação. Ou não
seria mistificação, pois
o Espiritismo, conquanto
simples em sua exposição
de princípios, é obra
extremamente complexa,
pois referida questão da
identidade do Espírito
fora também tratada por
Allan Kardec, sobretudo
em sua obra de
“Espiritismo
Experimental”, o
denominado “O Livro dos
Médiuns”. Todavia, o
Espiritismo,
constituindo síntese,
óbvio que, por tal
mesmo, está a expressar
do referido tratado, um
resumo suscetível de
ilações outras, que
também veremos.
E mais: em outro
trabalho de sua lavra
mediúnica (“Eu Também
Voltei” - Leepp), aquele
mesmo Espírito, Dr.
Inácio, alega, com todas
as letras, no capítulo
43, que Chico Xavier foi
o apóstolo João, ou
seja, ele mesmo: João
Evangelista! Noutros
termos, andando de hoje
para ontem,
cronologicamente, Chico
teria sido a
reencarnação de Allan
Kardec, do apóstolo João
Evangelista e de Platão:
Chico (reec-->) Kardec
(reec-->) João (reec-->)
Platão.
Mas creio que o sapiente
leitor já notara outro
detalhe importantíssimo
de tal informação, pois
João Evangelista também
consta dos Espíritos
Superiores que
participaram da
codificação da doutrina
espírita, com o
missionário Allan
Kardec, no Século 19.
Noutros termos: se a
obra de Kardec, como
visto acima, contém
instruções do Espírito
de Platão e do Espírito
de João Evangelista,
como poderia Kardec ter
animado tais homens no
passado, se sua obra
contém instruções
transmitidas por ambos,
ou seja, pelos Espíritos
de Platão e do
Evangelista João? Ou
Platão e João, de sua
obra, seriam
mistificações, pois
Kardec, no passado, é
que teria sido Platão e,
logo após, João - o São
João Evangelista?
Ou, ainda, invertendo os
polos:
- Não seria a obra de
Kardec, em seu conjunto,
uma expressão da verdade
e, portanto, merecedora
dos nossos aplausos, do
nosso respeito, pois que
representa a promessa do
Cristo de nos enviar o
Consolador que nos faria
lembrar tudo o que o
mesmo realizara e que
ficaria eternamente
conosco?
Mas quando a obra do Dr.
Inácio levanta dúvidas
acerca da importante
obra de Kardec,
sugerindo-lhe fraudes,
não seria justamente o
contrário? Ou seja:
- Não seria tal obra do
Dr. Inácio uma heresia
doutrinária, pois
persegue Kardec e
confunde seus adeptos
espiritistas com
informações duvidosas,
colocando em xeque a
Terceira Revelação da
Lei de Deus, que, como
já devidamente
explicitado, estivera
amparada pelo Espírito
de Verdade, confiável
ministro de Cristo
Jesus?
Senão, vejamos! Da
cronologia palingenésica
já citada pelo Dr.
Inácio, temos que:
Chico (reec-->) Kardec
(reec-->) João (reec-->)
Platão.
E penso ser óbvio que,
se uma só figura de tal
ordem cronológica for
falsa, ou seja, estiver
equivocada, penso que,
por dedução filosófica,
e também matemática,
toda ela se desmorona,
falseada que está em
seus princípios e
deduções.
Vejamos que a Revista
Espírita do mês de
janeiro de 1861, em seu
Boletim da Sociedade
Parisiense de Estudos
Espíritas, registra em
dado momento que:
“3º. – Fato pessoal
ocorrido com o Sr. Allan
Kardec, e que pode ser
considerado uma prova de
identidade do Espírito
de antigo personagem. A
Srta. J... recebeu
várias comunicações de João
Evangelista, sempre
com uma caligrafia muito
característica e
completamente diversa de
sua escrita habitual.
Tendo o Sr. Allan
Kardec, a seu pedido,
evocado aquele Espírito
(João Evangelista), por
intermédio da Sra.
Costel, verificou-se que
a caligrafia tinha
absolutamente o mesmo
caráter da Srta. J...,
embora a nova médium
dela não tivesse
conhecimento; ademais, o
movimento da mão tinha
uma delicadeza
inabitual, o que
constituía, ainda, uma
similitude; enfim, as
respostas concordavam em
todos os pontos com as
que tinham sido dadas
através da Srta. J... e
na linguagem nada havia
que não estivesse à
altura do Espírito
evocado” (Revista Cit.).
Ou, noutros termos, e,
pelos dados da pesquisa
científica de Allan
Kardec, notamos que ele
não poderia ter sido
João Evangelista no
passado, pois ele
próprio confirmara a
presença do referido
Espírito em seu
laboratório de pesquisas
espiríticas, o que, por
sua vez, derruba a tese
do Dr. Inácio de que
Kardec fora João no
passado, o que, por sua
vez, derruba todo o
contexto de sua
pretensão contida na
cadeia palingenésica já
citada:
Chico (reec-->) Kardec
(reec-->) João (reec-->)
Platão,
que nos parece, pois,
falseada em um de seus
elementos constituintes,
derrubando por terra
todos os elos da
questão.
Logo, pelo embaraço
disseminado em nosso
meio pelas obras do
senhor Carlos Baccelli/Dr.
Inácio, óbvio está que
eu, este modesto autor
de tais escritos,
priorizo estar com os
renomados e científicos
trabalhos de Allan
Kardec, até que se
prove, por métodos
incontestáveis e
definitivos, que seu
trabalho de intensa
pesquisa se equivocara e
que tais livros
mediúnicos da atualidade
são justos, verdadeiros
e doutrinariamente
corretos.
Noutros termos, antes de
condenar, concedo aos
autores Carlos Baccelli
e Dr. Inácio Ferreira o
benefício da dúvida:
provem-nos suas
assertivas,
justifiquem-nas, que com
elas estaremos acordes e
de braços abertos à sua
aceitação e ampla
divulgação. Assim, pois,
se a obra de Kardec pode
conter algum equívoco, é
preciso prová-lo com
fatos, mas não apenas
com palavras soltas,
algo desconexas e sem as
devidas provas do que se
propaga em nosso meio já
tão complexo e tão
difícil de trabalhar.
Mais ainda: alegarão
alguns que Espíritos
muito evolvidos, pela
identidade de princípios
que os unem, pela
conformidade de seus
pensamentos e ações,
poderiam se substituir
em suas comunicações com
os homens, adotando uns
o nome de outros, sem
embargo de seu nome e de
suas instruções.
Entretanto, Kardec não
estivera, plenamente, de
acordo com tal situação,
prescrevendo:
“Objetar-se-á, sem
dúvida, que o Espírito
que toma um nome
suposto, mesmo para não
falar senão do bem, não
cometeria com isso menos
fraude, e daí não pode
ser um bom Espírito”.
(Vide: “OLM” – AK – 1863
– Ide.)
Logo, admitir-se que o
Espírito de João
Evangelista, citado pela
pesquisa de Kardec, não
seja o referido, é
admitir-se fraude, é
acatar uma falsidade ou
coisa que o valha, e não
pensamos que o
Codificador, sobretudo
nessa questão, possa ter
sido enganado, pois que
era assistido, em suas
prolongadas pesquisas,
como já dito e
reiterado, pelo Espírito
de Verdade, tal como
prometido pelo Cristo
Jesus.
(*)
Este recurso gráfico: (reec--
>) é
utilizado pelo autor
como símbolo indicativo
de reencarnação.