Vivendo
mentalmente
no
paleolítico
O Paleolítico é
um período de
nossa
pré-história que
antecede as
construções de
cidades, o
cultivo de
plantas para a
alimentação e a
domesticação dos
animais.
Vivíamos em
bandos nômades
constituídos de
algumas dezenas
de pessoas, como
caçadores-coletores.
O nosso grupo
representava a
nossa defesa
contra animais
predadores e
outras tribos
que se
digladiavam por
espaço, água,
alimento e
proteção. Era
natural que
vivêssemos
armados uns
contra os outros
– tribos contra
tribos.
Tratava-se de
uma questão de
sobrevivência.
Muitos de nós
cristalizamos em
nossa maneira de
ser e de pensar
uma reação
psicológica
construída nesse
distante
período, e
vivemos
mentalmente
armados contra o
diferente, a
outra tribo, uma
espécie de
tribalismo no
qual as pessoas
são
neuroticamente
leais a sua
turma, a seu
país, a sua
etnia, a sua
orientação
sexual ou
qualquer outro
grupo social.
Sob certo
aspecto, o
tribalismo
alimenta a
intolerância
ante o diferente
e todas as
lamentáveis
ocorrências
derivadas dela:
o racismo, o
sexismo, a
homofobia, a
discriminação
social, o
preconceito
relacionado à
aparência física
ou o jeito de
vestir-se etc.
Não nos
apercebemos de
que as
diferenças
existentes entre
nós são a
riqueza da
humanidade, pois
permitem a
filosofia do
diálogo. Se
todos fôssemos
iguais, onde o
caldo de cultura
que permite o
desenvolvimento
de nossas
potencialidades?
A intolerância é
grave problema
social e
precisamos
examiná-la
seriamente.
Conversando,
recentemente,
com uma
companheira do
movimento
espírita,
contou-me ela o
seguinte
episódio: Foi
convocada por um
diretor de uma
grande empresa
de Juiz de Fora,
onde ela
desenvolve
atividades
profissionais
nos recursos
humanos, a
selecionar,
através de
entrevista, um
profissional
para a função de
jornalista.
Dezenas de
candidatos se
apresentaram.
Momento antes de
iniciar a
seleção, foi
convocada à sala
do presidente da
empresa e ouviu
dele a seguinte
recomendação:
“rapazes
cabeludos ou com
tatuagem e moças
de piercing ou
chinelinho de
dedos elimine
de cara”.
A expressão
elimine de cara
é
cruel,
pois
significa o
mesmo que não
ouça, não deixe
que ele se
mostre, não
permita que ele
demonstre seu
talento, julgue
unicamente pela
aparência,
revelando uma
lamentável
atitude
excludente.
Estudos têm
demonstrado que
mulheres de boa
aparência se dão
muito melhor na
carreira
profissional que
as outras e
homens altos
conseguem
progressão nas
empresas muito
mais rapidamente
que os de baixa
estatura.
Até que ponto
nós temos nos
preocupado com o
que o outro é na
sua expressão
profunda, sua
competência, sua
humanidade, suas
virtudes? Até
quando vamos
permitir que
pessoas sejam
excluídas pela
cor, pela idade,
pela religião ou
pela aparência?
Atendia certa
feita, no
consultório,
quando entrou
uma jovem
portadora de
grave obesidade
mórbida. Ao
entrar em minha
sala, notei em
seus olhos
semblante de
alívio, que ela
justificou:
“graças a Deus
vou poder sentar
em sua sala. Eu
não caibo em
cadeiras com
proteção
lateral. Por
isso deixei de
ir aos cinemas e
tenho que
permanecer de pé
em muitos locais
aonde vou”.
Minha esposa,
que teve
recusada sua
pretensão a uma
vaga como
educadora em uma
escola
tradicional de
nossa cidade,
ouviu da
responsável pela
instituição a
seguinte
justificativa:
“seu problema é
que você não é
simplesmente
espírita, você é
uma
evangelizadora
espírita. E,
além disso, seu
esposo é
expositor
espírita. Você
entende como são
essas coisas”.
Mantêm-se graves
em nosso país
problemas como a
homofobia e a
discriminação
social e étnica.
Um homossexual é
morto por dia no
Brasil em
virtude da
intolerância e
70% dos
homoafetivos
confessam que
foram vítimas de
situações
constrangedoras,
agressões
físicas ou
psíquicas.
Rapazes e moças
ainda são
excluídos pela
própria família
por questões
sexuais.
Matéria recente
publicada no
noticiário da
UOL revela:
homicídios de
negras aumentam
quase 20% e de
brancas caem
12%. Segundo o
artigo, entre
2003 e 2013, a
taxa de
homicídios de
mulheres negras
no Brasil
aumentou 19,5%,
enquanto a taxa
de homicídios
contra mulheres
brancas caiu
11,9%. Os dados
são do estudo
Mapa da
Violência 2015,
produzido pela
Flacso
(Faculdade
Latino-Americana
de Ciências
Sociais).
Para o
coordenador do
estudo, Julio
Jacobo
Waiselfisz, a
discrepância
entre as mortes
de mulheres
negras e brancas
é resultado de
pelo menos três
fatores:
terceirização da
Segurança
Pública,
politização da
temática da
segurança e o
racismo. “Na
prática, a
população branca
tem mais
recursos para
pagar por uma
segurança extra.
Isso acontece
nas lojas, nos
shoppings para
onde esse
público vai. Na
realidade, a
população branca
acaba tendo
acesso a duas
formas de
segurança: a do
Estado e a
privada",
explica Jacobo.
O pesquisador
diz ainda que a
segurança
pública virou um
tema muito caro
aos políticos e
que isso
influencia a
tomada de
decisões dos
gestores.
"Quando uma
empresária
branca morre em
um bairro nobre,
a consequência
imediata é que
mais policiais
são deslocados
para aquela área
como uma forma
de atender ao
clamor da
opinião pública.
O mesmo não
acontece quando
uma mulher negra
é morta em uma
favela. Essa
politização da
segurança gera
distorções",
afirmou.
Para Jacobo, o
racismo é o
terceiro
elemento que
ajuda a explicar
a diferença
entre os índices
de homicídios
contra mulheres
negras e
brancas. “No
Brasil, nem há
tanta
cordialidade e
nem há a tal
democracia
racial que se
prega. Há um
coquetel onde o
negro e a negra
são mais visados
no quesito
violência. Isso
se observa não
apenas com
relação às
mulheres. Em
geral, a
população negra
é mais afetada
pela violência e
isso, claro, vai
atingir as
mulheres.”
O Espiritismo
tem muito a
contribuir na
dissolução de
posturas tão
lamentáveis. Uma
doutrina
universalista
por natureza nos
convoca a um
grande movimento
pela tolerância.
Busquemos, em
nossas relações,
demonstrar o
espírito de
fraternidade que
nos deve unir,
consonante com o
pensamento dos
Espíritos
superiores
apresentado por
Kardec no item
799 de O
Livro dos
Espíritos:
“Destruindo o
materialismo,
que é uma das
chagas da
sociedade, ele
[o Espiritismo]
faz os homens
compreenderem
onde está o seu
verdadeiro
interesse. A
vida futura, não
estando mais
velada pela
dúvida, o homem
compreenderá
melhor que pode
assegurar o seu
futuro através
do presente.
Destruindo os
preconceitos de
seita, de casta
e de cor ele
ensina aos
homens a grande
solidariedade
que os deve unir
como irmãos”.