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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 446 - 3 de Janeiro de 2016

CLÁUDIO BUENO DA SILVA
Klardec1857@yahoo.com.br
Osasco, SP (Brasil)

 

 


Sublimação do prazer

O prazer não costuma cobrar do homem um
imposto alto e doloroso
?” ¹

Acostumamos na Terra a condicionar a felicidade ao prazer. Por isso, tudo o que fazemos de modo forçado, sem o mínimo de satisfação, nos causa tédio, nos faz infelizes. Nas relações ainda muito materializadas do nosso mundo, o prazer é tão heterogêneo quanto os gostos, as tendências e o caráter de cada um dos seus habitantes.

Deus dotou a natureza humana de um moderador que estabelece os critérios do prazer: é a razão. Quanto mais desenvolvida esta, melhor direção dará àquele. Se a razão baliza o prazer, o sentimento o refina. 

O Espírito adiantado que já fez progressos no campo intelectual e moral lida mais adequadamente com as sensações, já que estas, nele, são produzidas por ações menos materiais, mais controladas, capazes de gerar satisfações espiritualizadas. Em contraposição, o Espírito refém das paixões alimenta prazeres compatíveis com as suas escolhas.

Não obstante o prazer ser natural, a sua sublimação é necessária. O homem não poderá viver indefinidamente dissociado da razão, brutalizando o sentimento. Vive-se hoje um novo tempo, e apesar do aparente caos que se observa no planeta, a lei natural do progresso arrasta a tudo e a todos para um estágio sempre crescente de evolução.

A proposta desse novo tempo, corroborada pelo Espiritismo, convoca o homem a libertar-se da escravidão do prazer momentâneo, desorientado, sedutor, que nada mais é do que vício. A sociedade míope moderna tem imposto padrões e as pessoas praticamente se autoimpõem a necessidade de ter prazer a qualquer custo. Mas os prazeres que a sociedade permissiva oferece são altamente nocivos, confundindo a grande maioria, que adota comportamentos sem pensar em nada, exatamente por não ter valores críticos sobre o sentido da vida.

Apesar disso, o homem atual já tem informações suficientes que o habilitam a pensar com juízo, a selecionar suas emoções, assumir a própria identidade e ser ele mesmo, exercitando controle sobre as influências externas. Falta-lhe a vontade. Assim, não é bom para ele permanecer vítima voluntária do prazer pobre e egoísta que o faz sofrer tanto.

Uma postura diferenciada o fará desenvolver outra forma de prazer, o espiritual, mesmo estando preso à matéria. Em outras palavras: o prazer da matéria, como está colocado na sociedade atual, o desgasta e o consome sem utilidade. Falta conhecer as regras morais que enfrentam o imediatismo materialista, o utilitarismo egoísta, o ego competitivo.

A ideia de prazer para esse novo tempo não pode estar associada tão somente à sensualidade, à licenciosidade, à materialidade, como muitos querem fazer crer.

A felicidade verdadeira estará mais próxima quanto mais avançarmos no caminho das realizações superiores. E o ideal de prazer estará associado ao sacrifício, à renúncia, à abnegação pelo outro, o que dará uma imensa satisfação interior. E quanto mais se evolui, mais instantânea, compensadora e natural será essa sensação.

No mundo mais espiritualizado, a humanidade moralizada sentirá o prazer derivado do amor, do conhecimento, da arte, da beleza, da responsabilidade, da consciência edificada; o prazer de viver e fazer parte deste universo imensurável que Deus criou para o ser.

  

¹ Xavier, Francisco Cândido. Humberto de Campos, Boa Nova, FEB editora. 

 


 


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