GEBALDO JOSÉ DE
SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás
(Brasil)
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O que faria
Jesus sorrir?
No
livro
Os mais belos
contos de Natal1,
há
um
deles,
belíssimo, escrito por
Joannes
Joergensen,
com
o título de “O Quarto Rei Mago”, no qual atribui a uma lenda
o
fato
de
que
Jesus
não
sorriu, ao
receber
as
ofertas
dos
reis
Magos
(Gaspar,
Melchior e
Baltazar),
que
se constituíam
de
ouro,
incenso
e
mirra.
O autor, porém,
refere-se à existência de um
quarto rei, originário da Pérsia, que
chegou
atrasado... e de
mãos
vazias. Ao narrar por que chegara de mãos
vazias, fez o
pequeno
Jesus se voltar para
ele,
estender-lhe
suas
mãozinhas e
sorrir-lhe.
Em
seu relato afirma
que,
ao
partir
de
seu
amado país,
trazia-lhe
precioso
tesouro:
três pérolas
brancas,
semelhantes
a um ovo de pomba, retiradas
do
mar
da Pérsia.
“Eu não as tenho
mais. Venho
separado dos
três outros
reis. Eles
viajaram na
minha frente em
seus
dromedários; eu
fiquei para
trás, numa
hospedaria na
beira da
estrada. Eu
errei. O vinho
me tentou, um
rouxinol cantava
e me lembrava de
Shiraz. Eu
resolvi ali
passar a noite.”
Na sala dos
viajantes, viu um velho que tremia de febre,
estendido num
banco,
próximo
à
lareira.
Era
magro e pobre,
e
muito
parecido
com
seu próprio pai... Certamente
seria enxotado
no
dia seguinte, se não
morresse
até
lá.
Comovido,
ofertou a
primeira
delas ao hospedeiro da estalagem,
para que
cuidasse dele e,
se fosse o
caso,
desse-lhe
sepultura
digna.
No
dia
seguinte, em
viagem, ouviu
gritos
vindos de
um
bosque.
Verificou
que
se tratava de soldados que
iam
violentar
jovem
mulher.
Com
a
segunda
pérola
comprou
sua
liberdade.
Ela beijou as
mãos
do
rei
e fugiu
célere
para as montanhas.
Restava-lhe uma
pérola
e, ao
menos
esta – pensava consigo – seria entregue
ao
pequeno
Rei,
nascido no
Ocidente.
Seguindo em
frente,
aproximou-se de
uma cidade em
chamas. Eram os
soldados de
Herodes, a lhe
executarem as
ordens
de
matar
as
crianças
de
dois
anos para baixo.
Um
deles mantinha,
dependurado
por
uma perna, pequeno menino que se
debatia e
gritava.
Ameaçava jogá-lo
ao
fogo.
Sua mãe
gritava
desesperadamente.
Com
a
terceira
pérola
resgatou a
criança e a
devolveu à
mãe, que a enlaçou em
seus braços,
fugindo,
sem
ao
menos
agradecer-lhe,
tamanha era sua angústia.
Por
isso, chegara de
mãos
vazias... e
lhe
pedia perdão.
*
Aquele
rei trazia, sim,
as
mãos
vazias,
mas
o
coração,
esse,
estava
pleno
de
amor.
Suas ações,
motivadas pela compaixão, nas três
circunstâncias, foram o melhor presente que, afinal,
ofereceu ao
meigo
Jesus, ainda infante.
Na
sua
conduta,
demonstrou
que
não
apenas seguia a
estrela
de Belém,
mas
os
ensinos
do
próprio
Mestre.
Nele, a
vivência
era
visível e se tornara uma segunda natureza.
Já possuía o
salutar
hábito da bondade,
em todas as ações.
"A
manjedoura assinalava... que
a
humildade
representa a chave de todas as virtudes."
"(...) o
século
que
passa deve assinalar
uma
transformação
visceral nos
departamentos da
vida.
A
dor
completará as
obras
generosas da
verdade
cristã,
porque
os
homens
repeliram o amor em suas cogitações de progresso."
2
(Grifamos.)
É ainda Emmanuel3
quem nos diz
"(...) que o
Mestre veio até
nós para que nos
amemos uns aos
outros".
O Espiritismo –
Consolador
prometido por
Jesus – tem como
objetivo
primordial
restabelecer, na
Terra, o
Cristianismo
primitivo – sem
os atavios e
distorções que
lhe
acrescentaram –
que não
assimilamos e
que não
compreendemos.
Em Jesus temos
"o conquistador
diferente", no
dizer do Irmão X3:
"Jamais
humilhou e
feriu. (...)
recebeu sem
revolta, ironias
e bofetadas,
(...)".
Assim ainda O
temos tratado.
Pois nós, o que
temos ofertado
ao Divino Amigo?
Que temos feito
de nossas vidas?
Será que o
fazemos sorrir?
Ou, chorar?
Nossas mãos
estão vazias
porque nos
despojamos do
egoísmo e somos
mais fraternos,
mais dados à
compaixão, mais
caridosos
material e
moralmente, ou
porque nada nos
comove?
Temos hoje nova
visão do Natal,
ou permanecemos
nas velhas
ilusões do
desperdício, da
matança dos
animais, das
bebedeiras, da
alegria
exterior?
Compartilhamos
com o próximo,
de qualquer
condição social,
o júbilo íntimo,
os bens e os
talentos?
No nosso Natal,
o Cristianismo
está presente,
ou nos iludimos,
tal como as
crianças, com o
Papai Noel?
*
Jesus veio ao
Mundo, no dizer
de Isaías 61-1,
"(...) para
anunciar a Boa
Nova aos pobres.
(...) para
proclamar a
libertação dos
cativos e a
restauração da
vista aos cegos,
para pôr em
liberdade os
oprimidos
(...)".
4
Somos cativos,
sim, da
ignorância e de
seus efeitos.
Dos vícios e do
comodismo.
Por ignorarmos a
Lei que Jesus
resumiu no Amor
a Deus e ao
Próximo, é que
nos mantemos
escravos dos
compromissos
cármicos.
Sofremos as
reações más de
ações também
más. Para
sairmos desse
círculo vicioso
de reencarnações
dolorosas,
indispensável
aviar a receita
que o Mestre nos
trouxe no
Evangelho do
Reino.
Nossa
evangelização é
um processo. Não
se acaba. Não se
esgota na
prática de uma
ou outra ação
generosa. Não
deve
restringir-se à
caridade
material de fins
de semana; ou à
frequência
desatenta aos
cultos
periódicos de
quaisquer
seitas.
Para se tornar
efetiva e
transformadora,
conscientizemo-nos
de que é de
todos os
momentos e
lugares, não se
limitando a
ocasiões
determinadas.
É claro que o
Natal é motivo
para nos
rejubilarmos.
Jesus veio para
nos libertar.
Mas essa
libertação
depende de nossa
adesão aos
ensinos contidos
na Boa Nova. O
mensageiro
celeste, ao se
dirigir aos
pastores, na
noite de Seu
nascimento,
deixou bem
claro:
"Não temais; eis
que aqui vos
trago boa nova
de grande
alegria, que o
será para todo o
povo: é que hoje
vos nasceu, na
cidade de Davi,
o Salvador, que
é Cristo, o
Senhor". (Lc,
2:l0-11)
Natal e fim de
ano são
propícios à
reflexão, ao
balanço do uso
do tempo que
passou, à
idealização de
projetos novos
para o ano que
recomeça.
O que temos
feito de nossos
talentos e de
nossas vidas?
Como será, quem
sabe, a nossa
prestação de
contas?
"(...) o dia
do Senhor vem
como ladrão de
noite." (1 Ts
5-2.) 4
Temos buscado
nos tornar
dignos de tantas
bênçãos?
Se nossas ações
levarem alegria
ao Divino Amigo,
também nós
seremos felizes.
Como vimos, o
exercício da
caridade é o que
alegra Jesus,
porque percebe
que não foram
vãos seus
sacrifícios e
renúncias em
favor de nossa
evolução!
Que tal, pois,
incluirmos nos
projetos para o
Natal e Ano Novo
– para todos os
Natais e Anos
Novos que virão
– espaços para
vivenciar as
lições que Ele
nos trouxe há
dois mil anos?
Projetar e
realizar, pois
que "(...) a
fé sem as obras
é inoperante"
(Tg 2-20).
Referências:
1. Os Mais
Belos Contos de
Natal,
Vozes, p. 47,
1993.
2. A Caminho
da Luz,
Emmanuel/Francisco
C. Xavier, ed.
de 1975, FEB.
3. Antologia
Mediúnica do
Natal,
autores
diversos, Cap.
17, FEB, 2. ed.,
1982.
3. Idem, Cap. 3,
idem, idem; e
4. Bíblia
Sagrada,
Trad. João
Ferreira de
Almeida, Soc.
Bíblica do
Brasil, 1969.