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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 446 - 3 de Janeiro de 2016

RICARDO ORESTES FORNI
iost@terra.com.br
Tupã, SP (Brasil)

 


A Paris de todos nós


O ser humano demonstra nas grandes tragédias, ou em catástrofes capazes de abalar a opinião mundial, que realmente ainda pertence a um planeta de provas e expiações. Os atentados terroristas contra Paris demonstram isso de uma maneira bastante clara. Enquanto a tragédia não atinge grandes proporções não enxergamos aquelas outras que existem no dia a dia a infelicitar seres humanos de diversas partes do mundo. Onde está nossa sensibilidade quando milhões e milhões de pessoas morrem de fome no mundo todo enquanto saboreamos nosso prato de alimento bem composto na mesa farta de nossa casa? Em dezembro, por ocasião do Natal, instalamos o tal de Natal sem fome. E antes, no decorrer dos demais dias do ano, não existem famintos? Lembramo-nos de angariar alguns presentes para as crianças desamparadas. E antes, não existiam crianças desejosas por um brinquedo nos demais dias do ano? Arrumamos roupas para distribuir por ser Natal. E nos outros dias do ano, não existiam aqueles que andavam seminus?

Onde começa a Paris de todos nós, somente quando atinge repercussão no noticiário do mundo?

Vamos pedir uma ajuda a Joanna de Ângelis? Eis o seguinte ensinamento dela contido no livro Amor, Imbatível Amor: A violência de qualquer matiz é sempre responsável pelas tragédias do cotidiano. Não apenas a que agride pela brutalidade, por intermédio de gritos e golpes covardes, mas, também, a que se deriva do orgulho, da indiferença, da perseguição sistemática e silenciosa, das expressões verbais pejorativas, desestimulando e condenando, enfim, de todo e qualquer recurso que desdenha as demais criaturas, levando-as a patologias inumeráveis.

Você já imaginou uma Paris na filha que é violentada sexualmente dentro do lar pelo próprio pai? Essa barbaridade não seria a nossa Paris do dia a dia? Pare um minuto para refletir o que essa criança de cinco ou seis anos de idade carregará pelo resto de sua existência emocionalmente falando. A bomba do terrorista aniquila o corpo num segundo. A violência sexual dentro do lar explode o Espírito pelo resto da sua existência física e, talvez, até mesmo em outras reencarnações!

Lembremos a figura do marido embriagado que surra a esposa todos os dias quando chega à casa envolvido no desatino do álcool e na presença dos filhos que a tudo assistem aterrorizados. É a nossa Paris do dia a dia. O projétil da arma de fogo ceifa a vida física em fulminantes segundos, mas o trauma dessas crianças que veem a mãe apanhar sem motivos do pai alcoolizado, agride o Espírito delas por toda uma existência.

Você já parou para pensar sobre a nossa Paris representada pelas crianças que esmolam nos sinaleiros dos grandes centros para sustentar o vício de pais envolvidos com drogas lícitas e ilícitas? Que será que esses seres que mal começam uma nova existência pensam desse mundo onde pessoas passam rápida e indiferentemente aos seus sofrimentos? Ou será que é prazeroso para essas infelizes crianças esmolar pelas esquinas enquanto outras possuem o calor de um lar e o amor de pais dedicados?

Quando dentro do nosso próprio lar cedemos aos convites à discussão pelo orgulho que fala mais alto do que a razão, não estaríamos construindo a nossa Paris dentro de nossa casa?

Meu amigo, em nossa faixa evolutiva trazemos, com raríssimas exceções, a Paris de cada um porque, segundo Joanna, a violência encontra-se embutida nos instintos básicos do ser, ainda não superados, e, além das suas manifestações patológicas, a falta de educação, ou o exemplo dos vícios com os quais convive, com a ausência absoluta do sentido ético, da dignidade moral, ficam insculpidas nos seus tecidos emocionais as condutas agressivas e violentas de que se nutrem.

Mesmo que se esvaziasse toda a população da cidade luz, em cada canto do mundo onde exista um Espírito de um homem velho, existirá uma Paris a aguardar que o homem novo surja após vencer as suas imperfeições, e que se instale uma cidade luz em toda consciência comprometida com os valores que excluirão a violência e bendirão a paz e o amor que Jesus nos ensinou que alcançássemos por meio de nossa reforma íntima.

Enquanto isso não acontecer, existirá uma Paris, visível ou oculta, a manchar com o sofrimento o caminho daquele a quem ainda não aprendemos a enxergar como nosso próximo e muito menos a amar como dizemos ingenuamente que amamos a Deus, pois se não amamos aquele com quem convivemos, como amar Aquele a quem não vemos?

 

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita