O mérito do
trabalhador
Ensina o
dicionário
Aurélio que
missionário “é
aquele que
missiona;
pregador de
missões”. Porém,
o vocábulo que
nos fornece uma
significação
mais elucidativa
é missão, que
vem a ser
“função ou poder
que se confere a
alguém para
fazer algo;
encargo,
incumbência”.
Temos ainda: “o
conjunto das
pessoas que
recebem um
encargo
religioso,
científico
etc.”. Embora
nos apareçam de
forma explícita,
encontram-se
implícitos
outros
vocábulos, quais
sejam:
consciência,
responsabilidade,
autenticidade e
coerência. Há,
também, quem
prefira
considerar:
pureza,
sinceridade,
honestidade,
bondade etc..
“Arme-se de
decisão e
coragem a vossa
falange! Mãos à
obra! O arado
está pronto, a
terra preparada:
arai!”, exorta
Erasto (Paris,
1863), em
mensagem que
Allan Kardec
inseriu no
capítulo XX
(Trabalhadores
da última hora)
- de O
Evangelho
segundo o
Espiritismo.
Aparentemente
esta lição da
Espiritualidade
dá ênfase à
divulgação da
Doutrina
Espírita, como
se esta devesse
ser uma cruzada.
“Marcha, pois,
para a frente –
diz Erasto –,
grandiosa
falange da fé! E
os pesados
batalhões dos
incrédulos se
desvanecerão
diante de ti,
como as névoas
da manhã aos
primeiros raios
do Sol”. De
fato, a
impressão que se
tem dos
parágrafos
iniciais da
mensagem é esta,
mas a
ideia-chave pode
ser localizada
na fé. “A
fé é a virtude
que transporta
montanhas, disse
Jesus” - destaca
Erasto.
Na verdade, se
se pode admitir
um combate, este
não é contra
seguidores de
outras crenças,
ou adversários
do Espiritismo;
resuma-se, sim,
a proposta de um
combate íntimo,
interno, contra
as próprias
imperfeições
morais. Ou
porque, nos diz
Erasto: “É
necessário regar
com o vosso suor
o terreno em que
deveis semear,
porque ele não
frutificará, não
produzirá, senão
sob os esforços
incessantes da
enxada e da
charrua
evangélicas. Ide
e pregai!”.
Senão, para
lembrar que cada
um se constitui
no terreno a ser
semeado. A fé é
uma outorga, uma
conquista
pessoal. Por
isso, Erasto
clama: “Ide,
homens que sois
grandes perante
Deus, e que,
mais felizes do
que Tomé, credes
sem querer ver e
aceitais os
fatos da
mediunidade,
mesmo quando
nada
conseguistes
obter por vós
mesmos. Ide: O
Espírito de Deus
vos guia!”.
Como,
entretanto, ir e
pregar e ser
aceito, e ser
acreditado? Como
cumprir a
missão?
Realmente, será
difícil se não
houver
consciência,
responsabilidade,
autenticidade e
coerência; ou se
falta pureza,
sinceridade,
honestidade e
bondade. Erasto
alerta: “Mas,
cuidado, que
entre os
chamados para o
Espiritismo,
muitos se
desviaram da
senda! Atentai,
pois, no vosso
caminho, e
buscai a
verdade”. Isso
sugere aquela
anedota tantas
vezes recontada
sobre aquele
suposto
missionário, que
diz: “Faça o que
eu digo, mas não
faça o que eu
faço...”.
É exatamente por
isso que Erasto
faz sua prédica
de uma forma
bastante
realista. Ele
enfatiza:
“Perguntareis,
então: se entre
os chamados para
o Espiritismo,
muitos se
transviaram,
como reconhecer
os que se acham
no bom caminho?
Responderemos:
podeis
reconhecê-los
pelo ensino e a
prática dos
verdadeiros
princípios da
caridade; pela
consolação que
distribuírem aos
aflitos; pelo
amor que
dedicarem ao
próximo; pela
sua abnegação e
o seu altruísmo.
Podeis
reconhecê-los,
finalmente, pela
vitória de seus
princípios,
porque Deus quer
que a Sua lei
triunfe, e os
que a seguem são
os escolhidos,
que vencerão. Os
que, porém,
falseiam o
espírito dessa
lei, para
satisfazerem sua
vontade e sua
ambição, esses
serão
destruídos”.
É triste admitir
que uma pessoa
que se diga
espírita seja
dissimulada,
isto é, seja
como “lobo em
pele de
cordeiro”. É a
esta, todavia,
que Erasto se
refere, quando
diz: “Deus faz,
neste momento, a
enumeração dos
seus servidores
fiéis. E já
marcou pelo seu
dedo os que só
têm a aparência
do devotamento,
para que não
usurpem o
salário dos
servidores
corajosos.
Porque é a
esses, que não
recuaram diante
de sua tarefa,
que vai confiar
os postos mais
difíceis, na
grande obra da
regeneração pelo
Espiritismo”.
Este foco pode
ser ampliado
pela lente de
quem escreveu
que “simular é
fingir o que não
é; dissimular é
encobrir o que
é”.
Instituição nos
usos e costumes
de nossa Terra,
não há
“jeitinho” no
Mundo
Espiritual, onde
o mérito é que
conta; daí por
que cada
espírita precisa
estar consciente
de sua missão,
desempenhando-a
com
responsabilidade,
autenticidade e
coerência.
Perante Deus,
não é possível
dissimular.