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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 448 - 17 de Janeiro de 2016

ALTAMIRANDO CARNEIRO
alta_carneiro@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)

 


O mérito do trabalhador


Ensina o dicionário Aurélio que missionário “é aquele que missiona; pregador de missões”. Porém, o vocábulo que nos fornece uma significação mais elucidativa é missão, que vem a ser “função ou poder que se confere a alguém para fazer algo; encargo, incumbência”. Temos ainda: “o conjunto das pessoas que recebem um encargo religioso, científico etc.”. Embora nos apareçam de forma explícita, encontram-se implícitos outros vocábulos, quais sejam: consciência, responsabilidade, autenticidade e coerência. Há, também, quem prefira considerar: pureza, sinceridade, honestidade, bondade etc..

“Arme-se de decisão e coragem a vossa falange! Mãos à obra! O arado está pronto, a terra preparada: arai!”, exorta Erasto (Paris, 1863), em mensagem que Allan Kardec inseriu no capítulo XX (Trabalhadores da última hora) - de O Evangelho segundo o Espiritismo. Aparentemente esta lição da Espiritualidade dá ênfase à divulgação da Doutrina Espírita, como se esta devesse ser uma cruzada. “Marcha, pois, para a frente – diz Erasto –, grandiosa falange da fé! E os pesados batalhões dos incrédulos se desvanecerão diante de ti, como as névoas da manhã aos primeiros raios do Sol”. De fato, a impressão que se tem dos parágrafos iniciais da mensagem é esta, mas a ideia-chave pode ser localizada na fé. “A fé é a virtude que transporta montanhas, disse Jesus” - destaca Erasto.

Na verdade, se se pode admitir um combate, este não é contra seguidores de outras crenças, ou adversários do Espiritismo; resuma-se, sim, a proposta de um combate íntimo, interno, contra as próprias imperfeições morais. Ou porque, nos diz Erasto: “É necessário regar com o vosso suor o terreno em que deveis semear, porque ele não frutificará, não produzirá, senão sob os esforços incessantes da enxada e da charrua evangélicas. Ide e pregai!”. Senão, para lembrar que cada um se constitui no terreno a ser semeado. A fé é uma outorga, uma conquista pessoal. Por isso, Erasto clama: “Ide, homens que sois grandes perante Deus, e que, mais felizes do que Tomé, credes sem querer ver e aceitais os fatos da mediunidade, mesmo quando nada conseguistes obter por vós mesmos. Ide: O Espírito de Deus vos guia!”.

Como, entretanto, ir e pregar e ser aceito, e ser acreditado? Como cumprir a missão? Realmente, será difícil se não houver consciência, responsabilidade, autenticidade e coerência; ou se falta pureza, sinceridade, honestidade e bondade. Erasto alerta: “Mas, cuidado, que entre os chamados para o Espiritismo, muitos se desviaram da senda! Atentai, pois, no vosso caminho, e buscai a verdade”. Isso sugere aquela anedota tantas vezes recontada sobre aquele suposto missionário, que diz: “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço...”.

É exatamente por isso que Erasto faz sua prédica de uma forma bastante realista. Ele enfatiza: “Perguntareis, então: se entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviaram, como reconhecer os que se acham no bom caminho?

Responderemos: podeis reconhecê-los pelo ensino e a prática dos verdadeiros princípios da caridade; pela consolação que distribuírem aos aflitos; pelo amor que dedicarem ao próximo; pela sua abnegação e o seu altruísmo. Podeis reconhecê-los, finalmente, pela vitória de seus princípios, porque Deus quer que a Sua lei triunfe, e os que a seguem são os escolhidos, que vencerão. Os que, porém, falseiam o espírito dessa lei, para satisfazerem sua vontade e sua ambição, esses serão destruídos”.

É triste admitir que uma pessoa que se diga espírita seja dissimulada, isto é, seja como “lobo em pele de cordeiro”. É a esta, todavia, que Erasto se refere, quando diz: “Deus faz, neste momento, a enumeração dos seus servidores fiéis. E já marcou pelo seu dedo os que só têm a aparência do devotamento, para que não usurpem o salário dos servidores corajosos. Porque é a esses, que não recuaram diante de sua tarefa, que vai confiar os postos mais difíceis, na grande obra da regeneração pelo Espiritismo”. Este foco pode ser ampliado pela lente de quem escreveu que “simular é fingir o que não é; dissimular é encobrir o que é”.

Instituição nos usos e costumes de nossa Terra, não há “jeitinho” no Mundo Espiritual, onde o mérito é que conta; daí por que cada espírita precisa estar consciente de sua missão, desempenhando-a com responsabilidade, autenticidade e coerência. Perante Deus, não é possível dissimular.        


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita