IVAN FRANZOLIM
franzolim@gmail.com
São Paulo, SP
(Brasil)
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O
conhecimento espírita
pode mudar?
Uma doutrina
organizada há mais 150
anos, cujo conhecimento
se interconecta com
todas as ciências e
filosofias, certamente
tem pontos a serem
atualizados.
O Espiritismo é, ou
deveria ser, uma
doutrina com um conjunto
de conhecimentos em
constante crescimento,
complementação e
modificação, uma vez que
é muito abrangente,
penetrando todos os
campos do saber humano,
não nasceu completa e é
baseada na Lei de
Evolução. Veja alguns
exemplos da abordagem de
Kardec sobre esse
assunto (grifos meus):
Caminhando de par com o
progresso, o Espiritismo
jamais será
ultrapassado, porque, se
novas descobertas lhe
demonstrassem estar em
erro acerca de um ponto
qualquer,
ele se modificaria nesse
ponto.
Se uma verdade nova se
revelar, ele a
aceitará.
A Gênese,
Capítulo I, item 55.
Os Espíritos propõem,
mas os homens concorrem
com o seu raciocínio e
seu critério,
tudo submetem ao cadinho
da lógica e do bom senso.
Isto é, o homem se
beneficia dos
conhecimentos especiais
que os Espíritos dispõem
pela posição em que se
acham, sem abdicar do
uso da própria razão.
A Gênese,
Capítulo 1, item 57.
(...) porque
a doutrina não foi
ditada completa,
nem imposta à crença
cega; porque é deduzida
pelo trabalho do homem,
da observação aos fatos
que os Espíritos lhe
põem sob os olhos e das
instruções que lhe dão,
instruções que ele
estuda, comenta,
compara, a fim de tirar
ele próprio as ilações e
aplicações.
A Gênese,
Capítulo 1, item 138.
A verdade absoluta é
eterna e, por isso
mesmo, invariável. Mas,
quem poderá lisonjear-se
de possuí-la toda? No
estado de imperfeição em
que se acham os nossos
conhecimentos,
o que hoje nos parece
falso pode amanhã ser
reconhecido como
verdadeiro,
em consequência da
descoberta de novas
leis, e isso tanto na
ordem moral, quanto na
ordem física. Contra
essa eventualidade, a
Doutrina nunca deverá
estar desprevenida. O
princípio progressivo,
que ela inscreve no seu
código, será a
salvaguarda da sua
perenidade e a sua
unidade se manterá,
exatamente porque ela
não assenta no princípio
da imobilidade.
Obras Póstumas,
Capítulo 90.
A grande dificuldade que
o movimento espírita
ainda não conseguiu
transpor foi encontrar
os critérios justos e
eficazes que possam
garantir o verdadeiro
crescimento
epistemológico da
doutrina sem incorrer no
seu desvirtuamento.
Kardec apontou para o
critério do controle
universal dando ênfase
na obtenção da
concordância da maioria
dos Espíritos fidedignos
por meio da igualmente
maioria de médiuns
confiáveis. Contudo, o
enriquecimento
doutrinário pode e deve
ocorrer também por meios
dos espíritas que
estudam seus
conhecimentos e das
ciências que diariamente
descobrem coisas novas.
Introduzir mudanças a
partir de descobertas
científicas, sempre
comprováveis, parece ser
o meio mais seguro de
avançar. Produzir
alterações em razão da
opinião de alguns
espíritas ou médiuns é
um grande risco, a não
ser que fossem
oferecidas teses para
debate público,
semelhantes às
científicas, cuja
aceitação é baseada na
lógica e na precisão dos
argumentos, o que até
hoje não ocorreu. Os
novidadeiros apresentam
suas mudanças, não como
propostas, mas como
verdades que devem ser
aceitas e não
discutidas.
Alterações nos alicerces
da filosofia espírita,
nas suas definições,
conceitos, premissas,
proposições, conclusões,
são muito delicadas,
pois a mudança de um
item ou aspecto pode
afetar outros e o
resultado final correrá
o risco de comprometer a
doutrina.
Torna-se mais fácil e
corre-se menor risco se
as possíveis
atualizações ocorram no
campo das informações
sem vinculação
significativa, dos
exemplos, das mensagens
dos Espíritos e das
ideias acessórias.
Aproveito esse artigo
para apresentar uma
proposta de atualizar um
pequeno ponto da
Doutrina Espírita.
Atualmente a ciência
comprova que a dieta
vegetariana equilibrada
é até mais saudável que
uma dieta carregada em
carnes, além de ser
ecológica e
economicamente mais
adequada visando à
sustentabilidade do
planeta. Eu, por
exemplo, sou vegetariano
há 33 anos e nunca tive
problemas de saúde
decorrentes dessa dieta,
assim como milhões de
pessoas no mundo.
Entretanto, há um século
e meio, o entendimento
da ciência era outro e
O Livro dos Espíritos
(Kardec: 1857) registra
a pergunta e a resposta
sobre o assunto (grifos
meus):
723. A alimentação
animal, para o homem, é
contrária à lei natural?
– Na vossa constituição
física, a carne nutre a
carne, pois
do contrário o homem
perece.
A lei de conservação
impõe ao homem o dever
de
conservar as suas
energias e a sua saúde,
para poder cumprir a lei
do trabalho. Ele deve
alimentar-se, portanto,
segundo o exige a sua
organização.
Hoje em dia, baseados na
ciência, temos condição
de afirmar que o
homem não perece
com a dieta vegetariana
e que
ela conserva suas
energias e saúde.
Mais ainda, que essa
dieta atende melhor as
necessidades da
população, que é seis
vezes maior que na época
de Kardec. Portanto, o
homem pode excluir todas
as carnes do seu
cardápio e se conservar
tão ou mais saudável do
que aqueles que mantêm
dietas onívoras.
Vale lembrar que as
descobertas da ciência
nos permitem hoje
conservar melhor as
frutas, verduras,
legumes e cereais,
distribuindo-as por
longas distâncias,
atendendo lugares que no
passado não teriam
acesso a esses
alimentos.
Isso sem abordar temas
como a Lei de Evolução
que pressupõe um
progresso também no tipo
de alimentos que
escolhemos para nos
alimentar, e da Lei de
Amor que deveria ser
igualmente estendida aos
animais.
Assim, essa proposta
compreende acrescentar
uma simples nota
explicativa junto à
pergunta 723 de O
Livro dos Espíritos,
informando que
atualmente é comprovado
que o ser humano pode
ter uma dieta
vegetariana saudável e
que isso é uma resolução
pessoal de cada um.
Outros pontos aguardam a
introdução de notas nos
livros da codificação.
Afinal, muita coisa
mudou na física,
astronomia, biologia,
química, psicologia,
medicina e em todas as
ciências. O leitor de
Kardec se deparando com
uma afirmação inverídica
pode ser levado a
desmerecer o conjunto.
Por outro lado, esse
mesmo leitor também pode
com um mínimo de boa
vontade e discernimento
entender a época em que
o texto foi publicado.
Uma atualização dessa
ordem então se resumiria
a uma simples nota de
rodapé. Seria tão
simples assim? Parece
que não. Um texto pode
ser elaborado de várias
formas podendo induzir
os leitores a
interpretações diversas.
A escolha das notas e a
elaboração dos textos
deve ser atribuição de
quem? Provavelmente de
um conjunto de pessoas e
instituições espíritas
representativas, mesmo
assim, as notas
selecionadas e seus
textos certamente
apresentarão os traços
das crenças e ideologias
predominantes desse
grupo. Deixar então que
cada editora faça suas
próprias notas? Melhor
guardar minha proposta
no arquivo para rever no
futuro.