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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 449 - 24 de Janeiro de 2016

CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 


As feiticeiras e seu martelo


Nunca li o famoso tratado da Inquisição – O Martelo das Feiticeiras
, e, somente instintiva e recentemente, me inteirei, por pesquisa de maiores detalhes, do que concerne ao hediondo manual de caça às bruxas dos tempos da perseguição religiosa. A perseguição maléfica dos elementos luminosos presentes no espírito feminino, que em algum, ou em todos os tempos, em menor ou maior grau, faz sentir-se ameaçado o pensamento patriarcal, porque quis, este pensamento, como vez por outra ainda tenta, impor o domínio sombrio e unilateral das consciências, em lugar de dar chance à evolução do espírito larga e equânime, como deve ser, sobre a face de nosso planeta.

Por conta do trabalho desenvolvido com a mediunidade, na psicografia de textos e livros, mais de uma vez alguns amigos e confrades mais sensíveis comentaram que, se naqueles tempos eu já me dedicara a tamanha liberalidade de espírito, certamente que me vi às voltas com a atrocidade das fogueiras e da tirania da opressão. Em todas as vezes em que ouvi tais impressões, reagi com um sonoro sim! Para minha própria surpresa, admito, permeada de certa dose inexplicável de orgulho e de sentimento de dignidade retificada.

Hoje, no entanto, por força da convivência estreita com mentores desencarnados e benfeitores da invisibilidade, nesta altura da presente jornada num corpo físico, entendo exatamente as origens dessas sensações aparentemente destituídas de sentido. É que, de fato, estou entre as bruxas daqueles tempos que, em peso, retornam agora à face material do orbe. E à imaterial. De fato, há um trabalho conjunto, imenso, irmanado em ambas as esferas da vida, visando a que, nesta época precisa de separação de joio do trigo, as causas primeiras de tudo sejam enfim retificadas.

Não é por acaso que, simultaneamente, tantas obras atuais na lavra espírita tratem, a exemplo, do tema cátaro, e da cruzada albigense, perpetrados pela Igreja Católica na região sul da França, e responsável por milhares de inocentes trucidados naquelas mesmas fogueiras tenebrosas, entre os séculos XII a XV – disso, contudo, só me dei conta recentemente, ao término de nosso próximo livro, esclarecedor deste tema emocionante.

Os mentores esclarecem que uma quantidade enorme de Espíritos desencarnados, viventes em ambas as dimensões, retornam atualmente para afinal lançar luz à verdade maior das coisas, no momento adequado, quando as sombras densas, maciças, sobre os dias terrestres, tendem a ser rechaçadas pela Luz saneadora dos propósitos maiores da Vida, e de todos os males que assolam, e já assolaram, essa humanidade sofrida.

Trata-se de um processo heroico, longo, exaustivo, mas proativo. E que traz de volta, como a fênix rediviva, o quantitativo imenso de mulheres outrora flageladas por terem despontados, com naturalidade, os dons de uma sensibilidade espiritual apurada que, em todas as fases da história humana, as dotaram da capacidade de curar e profetizar, de racionalizar em favor do rumo mais equilibrado dos caminhos deste mundo, num contexto de liberdade pessoal, racional e sentimental intolerável aos propósitos de monopolização do poder temporal idealizados pelo pensamento político e religioso daqueles tempos.

Voltam, portanto, ironicamente, reencarnadas, as feiticeiras, com os seus “martelos” do esclarecimento do Espírito, destinados a outorgar, a alardear o sentido mais justo dos fatos. E esses martelos são dons inatos, livremente realizados numa época e lugar que não permitem mais fogueiras nem atrocidades: o dom da intelectualidade plenamente cultivada a serviço da sociedade, em páreo democrático com os homens. O dom da sensibilidade espiritual, desenvolvida ao preço ardente das lágrimas vertidas ao longo dos séculos de opressão, sofrida sob o guante atroz da ignorância humana manifestada, num sem-número de vezes, sob os requintes mais inimagináveis da tortura, da crueldade e do despotismo.

Daí, portanto, ressurge, via lei da reencarnação, essa geração espiritual de mulheres – ainda, e estranhamente, fortes; ainda diferentes, aos olhos de uma sociedade que só devagar se liberta do seu condicionamento de restringir, ao seu bel-prazer, o quinhão da contribuição feminina às tarefas culinárias e domésticas.

São mulheres, às centenas, que, sim, desenvolvem e realizam com amor e sensibilidade seus deveres sagrados de mães, gestoras e colaboradoras nos labores domésticos; todavia, somados às pesadas responsabilidades financeiras e sociais, que as arrastam à vida profissional intensa, com criatividade, inteligência, engenhosidade e destemor.

Mulheres que, ainda e por acréscimo, em incontáveis casos, surgem diante de uma coletividade mundial ainda pouco amadurecida, oferecendo sua contribuição única nos cenários artísticos e literários. E, para arremate inconfundível do seu distintivo espiritual particular, despontam em todos os cantos do planeta como curadoras eficientes, na medicina e nas terapias alternativas. Como medianeiras intuitivas para todas as variantes dos problemas da mente, das emoções e do espírito. E como médiuns exponencialmente potentes das legiões de benfeitores desencarnados, que, nestes tempos como em nenhum outro, se mobilizam no amparo a uma humanidade ainda vacilante em se aceitar como criadora responsável de seu próprio destino, e, por conseguinte, dos rumos melhores ou piores dos cenários mundiais.

Esta é a nobre missão para a qual o cadinho árduo dos flagelos vividos em séculos findos as depurou.

E a consciência clara do poder absoluto do livre-arbítrio para a criação de nosso próprio céu ou inferno, desta forma, é o verdadeiro apanágio evolutivo do gênio feminino de todos os períodos mais ou menos sombrios da história da humanidade. A noção prática da responsabilidade e da liberdade total do espírito esclarecido, que estabelece, por livre escolha, seu elo voluntário com todo o potencial luminoso das dimensões da Luz, residente em nós como em toda a Criação divina; ou com a ausência temporária desta Luz, em favor de objetivos mundanos transitórios como fogos fátuos, que não nos presenteiam com a felicidade mais verdadeira de ordem espiritual.

Foi esta, portanto, a lição heroica deixada pelas mulheres sensíveis viventes nos tempos da Inquisição, como também nos atuais panoramas da humanidade.

É, este, queridos, o autêntico e precioso “Martelo das Feiticeiras”.


 

 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita