Criadores de escândalos
As dores e sofrimentos
derivados da
desorientação
moral/espiritual têm
fustigado a nossa gente.
É fácil encontrar hoje,
pulverizadas, a
desobediência a normas e
regras, a burla de
convenções sociais, o
desprezo a padrões
éticos. A TV, as redes
sociais, jornais e
Internet mostram a todo
instante flagrantes de
desrespeito a tudo e a
todos. Não são apenas as
falcatruas dos políticos
que chocam a opinião
pública. Os delitos e
infrações generalizados
provocam a revolta da
sociedade que, para
demonstrar sua
contrariedade, por sua
vez, agride, odeia,
desqualifica, faz
justiça com as próprias
mãos. E muitas vezes se
percebe, curiosamente,
que o que se reclama nos
outros como defeito
imperdoável é o mesmo
que se pode encontrar em
muitos de nós; o que se
aponta nos outros como
falta grave já foi feito
por nós ou será feito,
havendo oportunidade.
O fato é que temos que
aprender, nestes tempos,
a conviver com a
rebeldia generalizada,
que torna muitos de nós
indisciplinados nas
menores coisas, certos
de que a cultura da
impunidade, introjetada
em nossos hábitos, está
em vigor.
Mas essa rebeldia, essa
revolta, essa
indisciplina dos
brasileiros vão passar.
São sentimentos
negativos que nós mesmos
transformaremos na
medida em que formos
reformando o nosso mundo
íntimo. A vida nos
propõe na Terra lições
nem sempre fáceis de
aprender, mas que, com
um pouquinho de esforço,
iremos compreendendo.
Dá para ver que a crise
moral, cheia de grandes
e pequenos escândalos
diários, depende do
nosso empenho para ser
erradicada. Assim como
os fatos escandalosos
têm provocado a
irritação e a indignação
de todos, fatos novos,
mais amenos e
assertivos, criados por
nossa vontade de
mudança, deverão
trazer-nos o equilíbrio
do sentimento e da
razão. Pode demorar um
pouco, mas o importante
é começar agora.
Enquanto isso não
acontece, mesmo não
podendo fechar os olhos
à indignação, podemos
nos indignar sem revolta
e intolerância. Para
eliminar do nosso
coração os sentimentos
velhos e caducos por
outros novos e nobres é
preciso tenacidade.
Todos podem.
Nesse período caótico de
transformações em que
vivemos, nossas feridas
se abrem, as mazelas que
temos no coração
impulsionam nossos atos,
nossa fala, nossos
pensamentos para as
energias ruins. E de um
clima social nervoso não
se pode esperar grande
coisa. Por isso, é
preciso cuidado.
Conforme a bílis do
nosso corpo social for
drenando as toxinas das
nossas imperfeições, os
humores do convívio
humano se tornarão mais
leves, e os que erraram
serão punidos, os que
promoveram escândalos
responderão por eles.
Não há convulsão que
resista às mudanças
sérias. Escolhamos para
a nossa vida tudo o que
possa aprimorar a
educação do espírito,
como a família, a
escola, o trabalho, a
religiosidade, o
exercício solidário etc.
O escritor maranhense
Humberto de Campos,
pouco tempo depois de
desencarnar, em 1934, às
vésperas da segunda
guerra mundial,
encontrando no mundo
espiritual um ancião
cujo aspecto denotava
experiência e sabedoria,
confessou-lhe sua
preocupação com o
espetáculo desolador do
mundo e perguntou-lhe: –
“O que podemos fazer
para melhorar a situação
do orbe terreno? A
família parece que se
dissolve... O lar está
balançando como os
frutos podres na
iminência de caírem...
Muitos submergem no gozo
aparente e fictício;
multidões passam fome.
E, sobretudo, Mestre, a
perspectiva horrorosa da
guerra... Não há
tranquilidade e a Terra
parece mais um fogareiro
imenso, cheio de
matérias em
combustão...”
Brando e humilde, o
bondoso Espírito-ancião
respondeu ao escritor
confuso e preocupado:
- “Meu filho... Esquece
o mundo e deixa o homem
guerrear em paz!...”
¹
A estranha resposta do
Espírito a Humberto de
Campos, talvez caiba ao
momento presente. Se
pensarmos bem, não há
muito que possamos fazer
além dos nossos limites.
Mas o que pudermos,
façamos. Preocupemo-nos
rigorosamente com o
cumprimento dos nossos
deveres e obrigações, de
forma honesta, digna e
bem-intencionada.
Façamos a nossa parte,
bem feita. O interesse é
nosso. Nós não mudamos
as pessoas, elas
próprias precisarão
fazer isso. Já a nossa
mudança ninguém fará por
nós.
Quanto aos criadores de
escândalos, nunca será
demais repetir o ensino
evangélico: “Ai
daquele por quem vem o
escândalo”.
¹
Cândido Xavier,
Francisco. Humberto de
Campos. Crônicas de
Além-túmulo, FEB.