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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 451 - 7 de Fevereiro de 2016

IVOMAR SCHÜLER DA COSTA
ivomarcosta@gmail.com
Curitiba, PR (Brasil)

 


A caridade é inata ou adquirida?


A pergunta colocada como título nos induz a pensar que a caridade só pode ser inata ou adquirida; uma coisa ou outra. Será que esta disjunção é real? Duas teses muito importantes são confrontadas, a do inatismo ou nativismo e a do aquisitivismo ou empirismo. Porém, antes de respondermos a questão colocada se faz necessário esclarecer o significado de “inato” e “adquirido”.

Inato é considerado todo o conteúdo que nasce com a pessoa e é independente do que ela experimentou, percebeu ou adquiriu após o seu nascimento. Se uma pessoa é portadora de uma pré-disposição ou de uma capacidade qualquer desde a mais tenra idade, comumente se diz que aquilo é inato. O que é inato também é chamado de congênito ou de congenial. Platão, por exemplo, afirmava que todos os seres humanos nascem com a faculdade da razão e portando as “ideias verdadeiras”, senão não poderíamos distinguir o verdadeiro do falso. Descartes concordava com Platão.

Já “adquirida” significa que a pessoa, em algum momento da sua vida, ou no decorrer dela, conquistou uma determinada faculdade ou capacidade que não possuía antes, ao nascer, por meio das suas experiências pessoais. John Locke e David Hume eram defensores do empirismo.

Para o tema da caridade que exploramos agora é muito importante que se resolva esta questão, em vista de que, conforme a solução apontada, caminhos diferentes podem ser adotados com consequências também diferentes. Se entendermos que a caridade é inata então estaremos admitindo que o ser humano não necessita esforçar-se para desenvolver esta virtude, porquanto os caridosos teriam se beneficiado do acaso, ou de uma suposta predileção divina que escolheu alguns e não escolheu o restante para receber o benefício de ser portador desta virtude. Por outro lado, se admitirmos a tese de que a caridade é uma virtude adquirida estaremos aceitando que ele deve se esforçar para conquistá-la. Muitas outras questões secundárias, embora não menos importantes, se colocam, por exemplo: de onde, quando, de quem e por quais meios o ser humano adquire a caridade? Se ela pode ser adquirida, então pode ser ensinada e aprendida?

Para que resolvamos esta questão, necessário se torna olhar o tema sob uma perspectiva espírita, o que quer dizer, não contemplando a vida apenas enquanto encarnados. Podemos afirmar com base na Doutrina Espírita, primeiramente, que um Espírito pode trazer consigo, quando encarna, virtudes desenvolvidas no seu mais alto grau, desde que já tenha realizado progressos em encarnações anteriores. Porém, neste caso, o termo “inato” refere-se apenas àquela encarnação que está sendo considerada. Para sermos exatos, nenhum Espírito tem a “caridade completa” inata desde a sua criação. O que ele tem desde a sua criação é determinadas potencialidades que possibilitarão o desenvolvimento de virtudes, entre elas a caridade. Portanto, são estas potencialidades que se realizam através de inúmeras encarnações e, dessa forma, em cada uma delas pode ser considerado que traz inata a caridade.

Para explicar esta segunda tese nos valemos da profunda interpretação de Ney Lobo. Em uma das suas obras[1] ele esclarece os pontos onde a Doutrina fixa o inatismo como potencialidade do Espírito, recorrendo ao O Evangelho segundo o Espiritismo: “Os instintos são a germinação e os embriões do sentimento; trazem o progresso como a glande encerra em si o carvalho e os seres menos adiantados são os que, emergindo pouco a pouco das suas crisálidas, se conservam escravizados aos instintos” [2]. Em filosofia, a virtude desenvolvida no mais alto grau é denominada perfeição. Perfeito é aquilo que está pronto, acabado; mas também pode ser entendido como algo que atingiu o mais alto grau dentro do seu gênero. Ney Lobo explica que todas as perfeições estão dentro de nós, porém em estado potencial, latente, quer dizer, ainda não plenamente realizado. Assim, essas perfeições em estado potencial são representadas nas mensagens d’O Evangelho segundo o Espiritismo, nas imagens de embriões, de germens, crisálidas, bem como o processo de realização (atualização) nas expressões “germinação dos sentimentos”, “progresso” e “emergindo pouco a pouco”. Aduzindo mais uma prova doutrinária das perfeições existentes no Espírito, a estas apresentadas pelo eminente filósofo espírita, apresentamos a seguinte afirmativa: “O amor é de essência divina e todos vós, do primeiro ao último, tendes, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado”.[3] Observemos que a centelha não é ainda a chama, mas a simples possibilidade de tornar-se uma chama. Por analogia, o amor é apenas uma centelha, uma faísca, uma possibilidade que precisa ser alimentada para tornar-se algo maior, completa. Entendemos, então, que as perfeições são inatas ao Espírito, porém em estado latente, à espera dos esforços deles para que as tornem plenas em suas vidas.

Provado doutrinariamente que a caridade é inata em estado potencial, mas contendo em si a capacidade de realizar-se, resta-nos provar pelos mesmos meios a tese aquisitiva da caridade. Ora, não precisamos buscar muito longe tais provas, eis que elas se encontram nestas mesmas afirmações evangélicas. Sabemos agora que há um processo de passagem de um estado a outro. Entretanto, levanta-se uma dúvida: esse processo de desenvolvimento se dá por uma força intrínseca, sem a necessidade de que fatores externos a provoquem? Ou tais fatores extrínsecos são imprescindíveis?

Vimos que as expressões “germinação dos sentimentos”, “progresso” e “emergindo pouco a pouco” indicam um processo de desenvolvimento. Então, efetivamente, a “caridade em potencial” se torna “caridade em ato”, ou seja, muda de estado, por meio de um movimento. Mas se há movimento tem de haver algo que o impulsione, que o provoque, que desperte essa “caridade em potencial” e a conduza à sua plenitude. Recorrendo mais uma vez às lições dos Espíritos, vemos que eles nos dizem que “O Espírito precisa ser cultivado, como um campo” [4].

Assim, o Espírito assemelha-se a um campo. Todo campo, para se tornar produtivo precisa ser cultivado. O cultivo é um processo que abrange, desde a limpeza do campo, a aragem da terra, a adubação, a escolha e o plantio das sementes, a influência dos fatores climáticos, até a colheita dos frutos. Interessante notar que pelos conhecimentos agronômicos de que se dispõe atualmente, sabe-se que mesmo terrenos desérticos são capazes de algum tipo de produção. Embora não percebamos, mesmo os desertos são ricos em vida; existem neles complexos sistemas ecológicos que florescem abundantemente quando recebem tratamento adequado. Portanto, o Espírito necessita sofrer a ação de fatores extrínsecos para frutificar, entre eles um fator eficiente, aquele que executa a ação. Todavia, não podemos esquecer que o Espírito não é um ser inconsciente, que reage mecanicamente às ações das quais é paciente. Como ser dotado de consciência, o Espírito tanto pode ser o agente sobre si mesmo quanto pode sofrer as ações de outros agentes ou fatores.

A ação do Espírito sobre ele mesmo está evidenciada nesta afirmação “[...] os seres menos adiantados são os que, emergindo pouco a pouco das suas crisálidas, se conservam escravizados aos instintos [5]. Estes seres são os Espíritos que não desenvolvem as suas perfeições em estado potencial. A expressão “emergir gradualmente das suas crisálidas” indica a semelhança com um processo biológico intrínseco bem conhecido. Contudo, a expressão “conservar-se escravizado aos instintos” indica uma ação que depende da vontade do Espírito, portanto uma ação reflexiva. Se ele se conserva escravizado é por que assim o deseja. Caso os Espíritos quisessem dizer que o Espírito está nessa situação devido a fatores externos a ele, teriam usado, por exemplo, a expressão “são mantidos, ou são conservados escravizados aos instintos”. Conclui-se que a caridade pode ser adquirida, e a força que produz o desenvolvimento da “caridade em potencial” para tornar-se “caridade em ato” tanto pode ser intrínseca como extrínseca.

Para finalizar, podemos colocar as duas teses sob quatro modos lógicos diferentes: conjuntivamente, ao dizer que a caridade é inata e adquirida; disjuntivamente, ao afirmar uma e negar a outra, quer dizer, somente uma delas sendo verdadeira; condicionalmente, ao afirmar que uma se daria somente se a outra estivesse presente, na forma “Se x, então y”; bi-condicionalmente, isto é, “x causa y e y causa x” reciprocamente.

Em decorrência de tudo que foi exposto, notemos que o Espiritismo realiza uma síntese entre as teses do inatismo e do aquisitivismo, pois afirma que todas as perfeições em potencial são inatas no Espírito, mas cabe a ele desenvolvê-las por aquisição, isto é, aprendendo, até torná-las plenas, realizadas. Portanto, podemos dizer que a resposta é que a caridade é inata e adquirida, mas também que ela somente pode ser “adquirida”, entenda-se, aprendida, despertada tanto por fatores internos quanto externos, porque está em potencial no âmago do Espírito, o que confirma o modo condicional: a caridade pode atingir o estado de completude por meio de aquisição, ou aprendizado, se ela existe no estado potencial no Espírito. Ora, a síntese realizada pela Doutrina Espírita somente é possível porque para ela o espírito atua em conjunto com o corpo para a evolução do Espírito. Este traz as potencialidades que serão desenvolvidas com a contribuição das experiências sensíveis e perceptíveis do corpo durante a encarnação. Mas só pode ser desenvolvido o que já existe.


 

[1] LOBO, Ney. Espiritismo e Educação. 1ª Ed. Fundação Espírito-Santense de Pesquisa Espírita. 1995. Vitória, ES.

[2] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XI. Item 8, parágrafo terceiro.

[3] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XI. Item 9, parágrafo primeiro.

[4] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XI. Item 8, parágrafo terceiro.

[5] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XI. Item 8, parágrafo terceiro.

 

 


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