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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 451 - 7 de Fevereiro de 2016

JOSÉ SOLA GOMES
josesolagomes@gmail.com
São Paulo, SP (Brasil)

 


Análise do livro "Valiosos Ensinamentos com
Chico Xavier"
 

Em um trecho deste livro, nos é apresentado um diálogo entre nosso amigo José Martins Peralva e nosso saudoso Francisco Cândido Xavier.

Neste diálogo, conforme a narrativa, o amigo Peralva questiona Chico a respeito de um livro escrito por religiosos do Oriente, e, conforme o autor, este livro foi indicado a Peralva pelo próprio Chico; vou transcrever esse dialogo na integra, pois é curto e nos propicia maior campo de análise e observação.

Peralva: – Chico li o livro do autor oriental que você me recomendou. Um fato me intrigou bastante, pois um personagem da história morre e um outro Espírito é ligado ao seu corpo e passa a viver aqui na Terra, enquanto que o Espírito do que morreu se desliga e vai para a Espiritualidade. Isto é uma troca de Espíritos que contradiz a Doutrina Espírita. Em O Livro dos Espíritos não encontramos tal afirmação. E aí, Chico, como ficamos?

Chico: – Não, Peralva. O fato não contradiz os ensinamentos da nossa Doutrina, não há contradição naquele relato contido no livro do autor do Oriente.

Peralva: – Acho impossível que uma pessoa venha a desencarnar e outro Espírito seja ligado ao corpo morto, e a este reanime, e passe a viver entre nós. Como pode ser isso?

Chico: – Olha gente, vou dizer a vocês: existem revelações da espiritualidade superior que surgiram no Oriente e que, por enquanto, não podem ser transmitidas para o Ocidente, nem mesmo por Kardec. Não se assustem, mas é isto mesmo. As coisas, às vezes, parecem ser impossíveis. Por exemplo: eu chego aqui nesta fazenda, que é bem rústica e antiga, para ver se se pode instalar energia elétrica. Com meus poucos conhecimentos, eu observo e falo que é impossível pôr eletricidade. Porém, vem um engenheiro, faz um estudo e diz: É possível, sim. Nesta casa pode pôr eletricidade. E põe!!!!

Ao final, alguém comentou: – Chico, se isso é possível, para que haja troca de Espíritos e não haja rejeição, é necessário que sejam almas irmãs e se afinem em sintonia quase perfeita, não é?

O Chico, num aceno com a cabeça, pareceu concordar e encerrou o assunto.

Este livro lido pelo Peralva é um livro de ficção, por sinal uma ficção impossível, pois algumas ficções se realizam no futuro como as de Júlio Verne, mas esta transgride todas as leis naturais possíveis, foge a toda possibilidade lógica imaginária, e o pior é que atribuem ao Chico esta crença que, para nós, estudiosos do Espiritismo, é infantil.

Alguém me dirá: – mas então você duvida do poder divino do Criador; acha que possa haver algo impossível para Deus?

Não. Não acredito que exista algo impossível para Deus, mas acredito que Este se manifesta na vida, através de um princípio de lei, de ordem e equilíbrio inalteráveis, pois a Lei Divina é imutável, e a evolução é contínua ininterrupta, não se modifica para atender particularidades da vida; é equitativa, todos os seres vivem a aplicação desta Lei de maneira idêntica, lógico que, cada um, colhendo aquilo que semeou.

Quais seriam os motivos para que este milagre de derrogação da Lei Divina acontecesse para alguns orientais, para evitar-lhes fadiga, para acelerar sua evolução, e por que nenhum ocidental jamais viveu esta experiência, sendo que a lei que rege o destino dos orientais é a mesma que rege o destino dos ocidentais, pois a Lei é única na regência do universo.

Esses fenômenos seriam uma casualidade, pois fugiria ao mecanismo da evolução, a morte é uma causa natural, ninguém lhe foge à intervenção; a reencarnação é uma lei natural; para evoluir os Espíritos necessitam vivê-la; é uma necessidade natural à alimentação etc., e esses princípios e leis se manifestam generalizados; são processos de evolução em que estamos todos incluídos. Mas este de um Espírito esporadicamente ocupar a casa pronta (corpo) do outro não tem lógica, não tem sustentação.

Alguns espiritualistas acreditam que isso seja possível pelo relato apresentado pelos discípulos de Jesus, quanto à ressurreição de Lázaro, entretanto este relato não condiz com a realidade, pois Lázaro não havia morrido. Kardec no-lo explica, e sabemos hoje, através da medicina, que Lázaro estava vivendo um ataque cataléptico. Por quais motivos estaria Jesus adulterando a Lei Divina? Nós que não temos a evolução do Mestre, sabemos que a morte é um fenômeno natural; será que Ele o ignorava?

Durante a sua permanência na Terra, Chico jamais demonstrou infantilidade, ou leviandade; seu comportamento, quando questionado como o foi no programa “Pinga-Fogo”, e outros, foi sempre inteligente, respondeu de maneira racional, em nada comprometia a doutrina espírita, entretanto, depois que partiu, estão lhe atribuindo premonições, adivinhações, achismos, os mais variados e diversos; para tudo o que querem fazer validar, usam o nome do Chico.

Mas não nos importa o livro escrito pelos orientais, estamos analisando o livro “Valiosos ensinamentos com Chico Xavier”, escrito por nosso amigo César Carneiro de Souza, pois ele valida as informações inseridas no livro dos orientais, afirmando mesmo que Chico confirmou essas informações.

Acreditar na possibilidade de um Espírito se utilizar de um cadáver, substituindo o espírito que deste se desprendeu, ou seja, eu morro e outro Espírito vem e ocupa meu corpo, é acreditar em um fenômeno que derroga as leis naturais; pois é o espírito, revestido do perispírito, que elabora o corpo físico, desde o útero materno, conforme vemos em André Luiz, na reencarnação de Segismundo.

Espírito, perispírito e matéria se demoram em simbiose profunda, a ponto de o Espírito, revestido do perispírito, que é o elemento plasmático que permite às células que se agrupem, formando o corpo material, animar este corpo, inserindo mesmo as desarmonias em que se demora, devido à transgressão vivida para com a Lei Divina, desarmonias estas que caracterizam as deficiências com que nos apresentamos no corpo de carne. Em outras palavras, espírito, perispírito e matéria se complementam, se completam, o espírito é o “eu” diretor do corpo físico; o corpo físico é uma morada que necessita ser construída pelo Espírito que a vai utilizar, pois entram em evidência, méritos e deméritos, condição evolutiva, e necessidades do Espírito reencarnante. Uma casa construída por um Espírito é inabitável para os demais.

Com as afirmativas de “Chico” a respeito da possibilidade de um Espírito sair e o outro ocupar-lhe o corpo, alguém, tentando logicamente justificar as palavras do mesmo, diz: se isso é possível, para que haja troca de Espíritos e não haja rejeição, é necessário que sejam almas irmãs e se afinem em sintonia quase perfeita, não é?

Não temos como equiparar a doação de órgãos à doação de um corpo morto a outro Espírito, pois, na doação de órgãos, trata-se da substituição de um componente do corpo físico, e embora exista a rejeição em muitos casos, o Espírito agente deste corpo trabalha no sentido de envolver o novo organismo com seus fluidos, e muitas vezes o consegue, mas, no meu entender, um corpo morto é matéria inerte. Se o Espírito pode ocupar um corpo sem vitalidade, pode também ocupar o tronco de uma árvore, ou outro corpo inanimado qualquer.

E quanto à afinidade do Espírito desencarnado, com o corpo que vai ocupar, não existe, pois a afinidade ocorre entre Espíritos, e não entre corpos, ou do Espírito ocupante para com o corpo que vai ocupar.

Quanto à possessão, é um momento em que um Espírito desencarnado envolve o corpo de uma pessoa com a faculdade de incorporação inconsciente aflorada; nesse período de tempo, o Espírito do possuído vai estar em estado de liberdade, usufruindo a mesma se for um homem de bem, mas poderá demorar-se em regiões inferiores, se for um homem vicioso, preso ainda às maldades. Embora o Espírito ocupe momentaneamente este corpo, é uma outra situação completamente diferente, pois o possuído não morreu, continua alimentando o corpo, mesmo afastado do mesmo; não se desligou o laço fluídico que liga o espírito ao corpo.  (Ver O Livro dos Médiuns, a Revista Espírita, e mais especificamente a Gênese – cap. XIV – item 48.)

E acreditar haja Chico afirmado que existem fenômenos, vividos da parte dos orientais, que não pudessem nem mesmo ser transmitidos por Kardec, é no mínimo estranho, pois Emmanuel nos afirma que o Espiritismo é a religião universal do amor e da sabedoria. Esta religião não está sequer preparada para receber informações fenomênicas do Oriente, quanto mais do Universo.

A doutrina espírita é uma doutrina lógica e racional, que guarda em seu postulado, como potenciação, um eterno vir a ser, pois estuda todos os fenômenos, destituindo-os do véu obscuro do misticismo e da magia, apresentando-os como fenômenos naturais.

Nosso amigo César, infelizmente, foi infeliz, apresentando esta entrevista como um diálogo do Chico com Peralva, exceto se Chico tivesse comportamentos diferentes de ser, pois, em público, suas palavras eram lógicas, coerentes e racionais, em nada comprometiam a doutrina, e, na intimidade com os amigos, relaxasse essa conduta e se demorasse fazendo afirmativas levianas, como essas.

 

 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita