Análise do livro
"Valiosos Ensinamentos
com
Chico Xavier"
Em um trecho deste livro, nos é apresentado um diálogo entre nosso
amigo José Martins
Peralva e nosso saudoso
Francisco Cândido
Xavier.
Neste diálogo, conforme a narrativa, o amigo Peralva questiona
Chico a respeito de um
livro escrito por
religiosos do Oriente,
e, conforme o autor,
este livro foi indicado
a Peralva pelo próprio
Chico; vou transcrever
esse dialogo na integra,
pois é curto e nos
propicia maior campo de
análise e observação.
Peralva: – Chico li o
livro do autor oriental
que você me recomendou.
Um fato me intrigou
bastante, pois um
personagem da história
morre e um outro
Espírito é ligado ao seu
corpo e passa a viver
aqui na Terra, enquanto
que o Espírito do que
morreu se desliga e vai
para a Espiritualidade.
Isto é uma troca de
Espíritos que contradiz
a Doutrina Espírita. Em
O Livro dos Espíritos
não encontramos tal
afirmação. E aí, Chico,
como ficamos?
Chico: – Não, Peralva. O fato não contradiz os ensinamentos da
nossa Doutrina, não há
contradição naquele
relato contido no livro
do autor do Oriente.
Peralva: – Acho impossível que uma pessoa venha a desencarnar e
outro Espírito seja
ligado ao corpo morto, e
a este reanime, e passe
a viver entre nós. Como
pode ser isso?
Chico: – Olha gente, vou dizer a vocês: existem revelações da
espiritualidade superior
que surgiram no Oriente
e que, por enquanto, não
podem ser transmitidas
para o Ocidente, nem
mesmo por Kardec. Não se
assustem, mas é isto
mesmo. As coisas, às
vezes, parecem ser
impossíveis. Por
exemplo: eu chego aqui
nesta fazenda, que é bem
rústica e antiga, para
ver se se pode instalar
energia elétrica. Com
meus poucos
conhecimentos, eu
observo e falo que é
impossível pôr
eletricidade. Porém, vem
um engenheiro, faz um
estudo e diz: É
possível, sim. Nesta
casa pode pôr
eletricidade. E põe!!!!
Ao final, alguém comentou: – Chico, se isso é possível, para que
haja troca de Espíritos
e não haja rejeição, é
necessário que sejam
almas irmãs e se afinem
em sintonia quase
perfeita, não é?
O Chico, num aceno com a cabeça, pareceu concordar e encerrou o
assunto.
Este livro lido pelo Peralva é um livro de ficção, por sinal uma
ficção impossível, pois
algumas ficções se
realizam no futuro como
as de Júlio Verne, mas
esta transgride todas as
leis naturais possíveis,
foge a toda
possibilidade lógica
imaginária, e o pior é
que atribuem ao Chico
esta crença que, para
nós, estudiosos do
Espiritismo, é infantil.
Alguém me dirá: – mas então você duvida do poder divino do Criador;
acha que possa haver
algo impossível para
Deus?
Não. Não acredito que exista algo impossível para Deus, mas
acredito que Este se
manifesta na vida,
através de um princípio
de lei, de ordem e
equilíbrio inalteráveis,
pois a Lei Divina é
imutável, e a evolução é
contínua ininterrupta,
não se modifica para
atender particularidades
da vida; é equitativa,
todos os seres vivem a
aplicação desta Lei de
maneira idêntica, lógico
que, cada um, colhendo
aquilo que semeou.
Quais seriam os motivos para que este milagre de derrogação da Lei
Divina acontecesse para
alguns orientais, para
evitar-lhes fadiga, para
acelerar sua evolução, e
por que nenhum ocidental
jamais viveu esta
experiência, sendo que a
lei que rege o destino
dos orientais é a mesma
que rege o destino dos
ocidentais, pois a Lei é
única na regência do
universo.
Esses fenômenos seriam uma casualidade, pois fugiria ao mecanismo
da evolução, a morte é
uma causa natural,
ninguém lhe foge à
intervenção; a
reencarnação é uma lei
natural; para evoluir os
Espíritos necessitam
vivê-la; é uma
necessidade natural à
alimentação etc., e
esses princípios e leis
se manifestam
generalizados; são
processos de evolução em
que estamos todos
incluídos. Mas este de
um Espírito
esporadicamente ocupar a
casa pronta (corpo) do
outro não tem lógica,
não tem sustentação.
Alguns espiritualistas acreditam que isso seja possível pelo relato
apresentado pelos
discípulos de Jesus,
quanto à ressurreição de
Lázaro, entretanto este
relato não condiz com a
realidade, pois Lázaro
não havia morrido.
Kardec no-lo explica, e
sabemos hoje, através da
medicina, que Lázaro
estava vivendo um ataque
cataléptico. Por quais
motivos estaria Jesus
adulterando a Lei
Divina? Nós que não
temos a evolução do
Mestre, sabemos que a
morte é um fenômeno
natural; será que Ele o
ignorava?
Durante a sua permanência na Terra, Chico jamais demonstrou
infantilidade, ou
leviandade; seu
comportamento, quando
questionado como o foi
no programa
“Pinga-Fogo”, e outros,
foi sempre inteligente,
respondeu de maneira
racional, em nada
comprometia a doutrina
espírita, entretanto,
depois que partiu, estão
lhe atribuindo
premonições,
adivinhações, achismos,
os mais variados e
diversos; para tudo o
que querem fazer
validar, usam o nome do
Chico.
Mas não nos importa o livro escrito pelos orientais, estamos
analisando o livro
“Valiosos ensinamentos
com Chico Xavier”,
escrito por nosso amigo
César Carneiro de Souza,
pois ele valida as
informações inseridas no
livro dos orientais,
afirmando mesmo que
Chico confirmou essas
informações.
Acreditar na possibilidade de um Espírito se utilizar de um
cadáver, substituindo o
espírito que deste se
desprendeu, ou seja, eu
morro e outro Espírito
vem e ocupa meu corpo, é
acreditar em um fenômeno
que derroga as leis
naturais; pois é o
espírito, revestido do
perispírito, que elabora
o corpo físico, desde o
útero materno, conforme
vemos em André Luiz, na
reencarnação de
Segismundo.
Espírito, perispírito e matéria se demoram em simbiose profunda, a
ponto de o Espírito,
revestido do perispírito,
que é o elemento
plasmático que permite
às células que se
agrupem, formando o
corpo material, animar
este corpo, inserindo
mesmo as desarmonias em
que se demora, devido à
transgressão vivida para
com a Lei Divina,
desarmonias estas que
caracterizam as
deficiências com que nos
apresentamos no corpo de
carne. Em outras
palavras, espírito,
perispírito e matéria se
complementam, se
completam, o espírito é
o “eu” diretor do corpo
físico; o corpo físico é
uma morada que necessita
ser construída pelo
Espírito que a vai
utilizar, pois entram em
evidência, méritos e
deméritos, condição
evolutiva, e
necessidades do Espírito
reencarnante. Uma casa
construída por um
Espírito é inabitável
para os demais.
Com as afirmativas de “Chico” a respeito da possibilidade de um
Espírito sair e o outro
ocupar-lhe o corpo,
alguém, tentando
logicamente justificar
as palavras do mesmo,
diz: se isso é possível,
para que haja troca de
Espíritos e não haja
rejeição, é necessário
que sejam almas irmãs e
se afinem em sintonia
quase perfeita, não é?
Não temos como equiparar a doação de órgãos à doação de um corpo
morto a outro Espírito,
pois, na doação de
órgãos, trata-se da
substituição de um
componente do corpo
físico, e embora exista
a rejeição em muitos
casos, o Espírito agente
deste corpo trabalha no
sentido de envolver o
novo organismo com seus
fluidos, e muitas vezes
o consegue, mas, no meu
entender, um corpo morto
é matéria inerte. Se o
Espírito pode ocupar um
corpo sem vitalidade,
pode também ocupar o
tronco de uma árvore, ou
outro corpo inanimado
qualquer.
E quanto à afinidade do Espírito desencarnado, com o corpo que vai
ocupar, não existe, pois
a afinidade ocorre entre
Espíritos, e não entre
corpos, ou do Espírito
ocupante para com o
corpo que vai ocupar.
Quanto à possessão, é um momento em que um Espírito desencarnado
envolve o corpo de uma
pessoa com a faculdade
de incorporação
inconsciente aflorada;
nesse período de tempo,
o Espírito do possuído
vai estar em estado de
liberdade, usufruindo a
mesma se for um homem de
bem, mas poderá
demorar-se em regiões
inferiores, se for um
homem vicioso, preso
ainda às maldades.
Embora o Espírito ocupe
momentaneamente este
corpo, é uma outra
situação completamente
diferente, pois o
possuído não morreu,
continua alimentando o
corpo, mesmo afastado do
mesmo; não se desligou o
laço fluídico que liga o
espírito ao corpo. (Ver
O Livro dos Médiuns, a
Revista Espírita, e mais
especificamente a Gênese
– cap. XIV – item 48.)
E acreditar haja Chico afirmado que existem fenômenos, vividos da
parte dos orientais, que
não pudessem nem mesmo
ser transmitidos por
Kardec, é no mínimo
estranho, pois Emmanuel
nos afirma que o
Espiritismo é a religião
universal do amor e da
sabedoria. Esta religião
não está sequer
preparada para receber
informações fenomênicas
do Oriente, quanto mais
do Universo.
A doutrina espírita é uma doutrina lógica e racional, que guarda em
seu postulado, como
potenciação, um eterno
vir a ser, pois estuda
todos os fenômenos,
destituindo-os do véu
obscuro do misticismo e
da magia,
apresentando-os como
fenômenos naturais.
Nosso amigo César, infelizmente, foi infeliz, apresentando esta
entrevista como um
diálogo do Chico com
Peralva, exceto se Chico
tivesse comportamentos
diferentes de ser, pois,
em público, suas
palavras eram lógicas,
coerentes e racionais,
em nada comprometiam a
doutrina, e, na
intimidade com os
amigos, relaxasse essa
conduta e se demorasse
fazendo afirmativas
levianas, como essas.