Disciplina e prazer
adiado
A disciplina (em todos
os sentidos: dieta,
caminhadas,
responsabilidades,
compromissos, vigilância
sobre o próprio
comportamento etc.)
normalmente é encarada
como algo difícil e
desagradável. Afinal é
difícil resistir a um
sorvete ou a uma torta,
à tentação de permanecer
mais na cama, a faltar
num compromisso numa
noite de chuva e mesmo
atender à necessidade
dos cuidados com a
saúde. Isso sem falar
nos que não resistem às
oportunidades da
desonestidade, da
esperteza que prejudica
outras pessoas, ao
“jeitinho” brasileiro,
aos deslizes morais de
toda espécie.
Resistir, todavia, é
grande virtude. Não é
fácil disciplinar-se. A
primeira providência é
não mentirmos para nós
mesmos. De que adianta
dizer que esse ou aquele
compromisso é bom,
agradável, quando não
sentimos prazer. Então,
o oposto é dizer a
verdade: não é bom, mas
é necessário. Ou, em
outras palavras: preciso
fazer isso. Preciso
estudar, preciso
caminhar, preciso
resistir, preciso
disciplinar-me, mesmo
adiando o prazer. Sim,
porque segurar-se em
várias questões provoca
adiamento do prazer que
buscamos.
Adiar o prazer
momentâneo, ao invés de
trazer sofrimento, o
potencializa.
O prazer momentâneo da
indisciplina alimentar
criará problemas para a
saúde. Adiar esse prazer
significa mais qualidade
de vida, mais saúde. Da
mesma forma um estudante
que adia o prazer de
passear, namorar etc.
potencializa o prazer
futuro de se ver
aprovado no vestibular.
O prazer efêmero da
aventura sexual muitas
vezes trará muitas
“dores de cabeça” no
futuro.
A disciplina, por outro
lado, na perseverança,
no estudo, na vigilância
pessoal, no esforço de
melhora moral, na
conduta, nos
compromissos – embora,
aparentemente, retire
prazeres imediatos em
todas as áreas que se
possa pensar – alcançará
no devido tempo os
prazeres intransferíveis
da consciência tranquila,
do dever cumprido e da
felicidade que a traça
não rói e o ladrão não
rouba, para recordar
Jesus.
Por isso, pensando na
disciplina que
precisamos aplicar a nós
mesmos, busco a
inspiração do poeta
Cornélio Pires no poema
Assuntos de
Disciplina, que
transcrevemos
parcialmente:
Tema difícil — meu caro
—
Pois disciplina é dever,
Mas isso, enquanto entre
os homens,
Não é fácil de saber.
Se vivermos descuidados,
Deixando as horas em
vão,
Surgem testes retardados
E lutas de revisão.
A prova que se recusa
É caminho a desamparo,
Ensinamento esquecido,
Mais à frente custa
caro.
Todo aquele que se
esquece
Do que lhe cabe fazer,
Descamba no prejuízo,
Tem sempre muito a
perder.
Lembre, nos quadros da
Terra
Que recordamos a dois:
Onde surge a
indisciplina,
Tribulação vem depois…
Discipline, caro amigo,
Seu tempo, corpo e
função…
Quanto mais ordem na
vida,
Mais vida de elevação.