A imorredoura lição do samaritano
A piedade é a virtude que mais nos aproxima da angelitude
“(...) A compaixão é sempre dinâmica, não se detendo em apenas sentir o problema de outrem, porém atuando de forma salutar, para que a dificuldade seja solucionada mediante a sua contribuição lúcida e misericordiosa.” - Joanna de Ângelis
A caridade, fora da qual não há salvação, tem uma irmã chamada piedade, também conhecida pelo codinome: compaixão.
Essa irmã da caridade sempre chega aos proscênios de dores em primeiro lugar, identificando o campo de atuação no bem com Jesus. Uma vez localizado o problema, ela clama por sua irmã, que vem – solícita – atender, aliviar, socorrer...
Sem a compaixão trabalhando – vigilante – na vanguarda, soando o alarme, a Caridade não logra desdobrar seus serviços. A Parábola do Bom Samaritano é o exemplo grandiloquente disso: O sacerdote e o levita esqueceram a piedade em Jerusalém, mas o bom samaritano viajava com ela. Portanto, assim que viu o homem caído à beira do caminho, ferido e despojado de seus bens pelos “impiedosos” assaltantes, ela (a piedade) acionou o alarme. A Caridade, então, tomou conta da cena e o homem recebeu toda a assistência de que necessitava.
O Espírito Miguel - com razão - diz: “A piedade é o melancólico, mas celeste precursor da Caridade, primeira das virtudes que a tem por irmã e cujos benefícios ela prepara e enobrece”.
Segundo esse Espírito2, “(...) a piedade é a virtude que mais nos aproxima da angelitude, uma vez que, bem sentida, é amor; amor é devotamento; devotamento é o olvido de si mesmo e esse olvido, essa abnegação em favor dos desgraçados, é a virtude por excelência, a que em toda a Sua Vida praticou o Divino Messias e ensinou na Sua Doutrina santa e sublime”.
Joanna de Ângelis ensina1: “(...) A compaixão é sentimento de nobreza que deve permanecer na criatura humana, em face da imensa necessidade existente em relação à compreensão dos problemas e dificuldades das demais pessoas, atormentadas e infelizes, transitando entre revoltas e desaires.
Irmã da benevolência, predispõe o espírito à ternura e à piedade fraternal, induzindo-o à ação nobilitante da caridade.
Sem compaixão, o ser humano estiola-se, por falta de vigor emocional para solidarizar-se com o seu próximo. (...) A compaixão é a virtude ou qualidade moral que melhor expressa o sentimento de benevolência e que prepara o ser para as propostas de elevação moral com renúncia e abnegação. Trata-se de uma oportuna conscientização da responsabilidade solidária, do sentido de humanidade que une as criaturas, umas às outras, formando um todo harmônico e edificante.
Pode-se identificar a espiritualidade de uma pessoa pela grandeza do seu sentimento de compaixão em favor da vida”.
AUTOCOMPAIXÃO & AUTOCURA1
“(...) No processo de regularização da saúde, de sua recuperação ou de sua manutenção, o sentimento de compaixão desempenha um papel preponderante, em face dos estímulos que se expressam, quando é dirigida a benefício próprio, sem revolta nem recriminação.
Quando alguém autocompadece-se de maneira edificante, sem o pieguismo narcisista, como atividade positiva de renovação interior, produz neuropeptídeos que são canalizados para o equilíbrio e o bem-estar... Esse sentimento de autoamor é pródromo do amor ao próximo, como parte integrante do conjunto humano e, por consequência, do amor a Deus, na generalização cósmica.
A emoção, em decorrência da conduta adotada, espraia-se, e a mente disciplinada, generosa e compreensiva dirige-a no rumo dos objetivos a alcançar.
Eis por que a conexão mente-corpo é fundamental para uma existência feliz, quando se faz mediante as contínuas emissões de ondas de harmonia, de amor e de compaixão para o próprio ser, e, por extensão, para os demais.
Ninguém pode viver em plenitude a sós, ignorando as dores e as aflições das demais pessoas, isolando-se para preservar a paz. Essa seria a paz do pântano, em que se percebe tranquilidade na superfície, mas decomposição e morte na intimidade que permanece oculta.
A compaixão é sempre dinâmica, não se detendo em apenas sentir o problema de outrem, porém atuando de forma salutar para que a dificuldade seja solucionada mediante a sua contribuição lúcida e misericordiosa.
A mecânica do desenvolvimento espiritual e moral do Espírito é a do amor, que se esclarece iluminando-se pelo conhecimento e pelas experiências durante a esteira das reencarnações.
Quando a inteligência conduz o amor, há lógica e razão, mas quando o amor dirige a inteligência, a compaixão se expressa e a caridade toma conta dos comportamentos humanos.
Tomado de compaixão pela sociedade injusta, infantil e perversa dos Seus dias, muitas vezes, Jesus deixou-Se conduzir pela compaixão, graças à qual amou sem reservas, entregando-Se em regime de doação plena, a fim de que a vida moral predominasse em todos os comportamentos sociais e humanos.
Toma-O como exemplo e tem compaixão, quando não possas aplicar outro sentimento, porque compaixão é vida.”
Em razão disso tudo e de outras coisas mais, ao perguntar aos Espíritos Superiores: “qual - no entendimento de Jesus - é o verdadeiro sentido da palavra caridade”, Kardec obteve uma das mais luminosas respostas: “benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições dos outros, e perdão das ofensas”.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2002, q. 886.