Maria, a Nossa
Senhora
Obras literárias
maiores trazem
poemas e relatos
sobre Maria,
considerada como
Mãe das mães,
Mãe Santíssima,
enaltecendo sua
peregrina
passagem pelo
chão do planeta
desde os tempos
da fuga para o
Egito, na
África.
Não vemos,
contudo, com a
frequência que
deveria,
qualquer tipo de
manifestação de
sentimento
voltado para a
Senhora dos
Anjos, como
também é
lembrada a
virtuosa Maria,
a que foi, na
Terra, a
responsável por
receber Jesus
quando aqui
encarnou, há
dois mil anos. E
esse
comportamento
está presente em
outros credos,
igualmente
cristãos, onde
seus seguidores
dizem que nunca
nada ouviram a
respeito de
Maria, chegando
alguns a afirmar
que nem a
conhecem.
Recordemos o
Evangelho. Já
fazia seis meses
que Isabel
estava grávida(1)
quando sua prima
Maria
surpreendeu-se
com a visita do
anjo Gabriel,
da parte de Deus,
falando-lhe
sobre o
nascimento de um
menino, a ser
gerado em seu
ventre, o qual
deveria
chamar-se Jesus.
‒ "Salve
agraciada, o
Senhor é
contigo! Bendita
és tu entre as
mulheres."
A aparição desse
mensageiro
divino foi em
razão do anúncio
feito à Maria de
que conceberia
por aqueles
dias.
Francisco
Cândido Xavier
(1910-2002) foi
um ativo médium
que exerceu seu
sacerdócio com
extremado
empenho ao longo
de seus 92 anos
de vida e
manifestava-se
com reverência,
quando falava de
Maria.
Ajoelhava-se e,
de mãos postas,
fazia suas
homenagens
através de
orações.
Mas esse
sentimento de
amor e respeito
deveria estar
mais disseminado
em todo o nosso
meio. Afinal,
foi de sua
pureza e
grandeza de
espírito que
Maria de Nazaré
abrigou em seu
seio Aquele que
ofereceu à
humanidade
lisura em padrão
de conduta, cuja
ascensão
vertical o
coloca na
condição de Guia
e Exemplo moral
maior, em cujo
manto eterno e
protetor todos
os cristãos
anseiam
encontrar
abrigo.
No final do ano
de 1940,
Humberto de
Campos
(1886-1934) nos
trouxe, através
da pena de Chico
Xavier, a
descrição dos
últimos momentos
de Nossa Senhora(2)
neste Vale de
Lágrimas a que
chamamos
Terra.
"Então, num
crepúsculo
estrelado, Maria
entregou-se às
orações, como de
costume, pedindo
a Deus por todos
aqueles que se
encontrassem em
angústias do
coração, por
amor de seu
filho.
Aragens suaves
sopravam do
oceano,
espalhando os
aromas da noite
que se povoava
de astros amigos
e afetuosos e,
em poucos
minutos, a lua
plena
participava,
igualmente,
desse concerto
de harmonia e de
luz.
Enlevada nas
suas meditações,
Maria viu
aproximar-se o
vulto de um
pedinte.
‒ Minha mãe! ‒
exclamou o
recém-chegado,
como tantos
outros que
recorriam ao seu
carinho. ‒ Venho
fazer-te
companhia e
receber a tua
bênção.
Maternalmente,
ela o convidou a
entrar,
impressionada
com aquela voz
que lhe
inspirava
profunda
simpatia. O
peregrino lhe
falou do céu,
confortando-a
delicadamente.
Comentou as
bem-aventuranças
divinas que
aguardam a todos
os devotados e
sinceros filhos
de Deus, dando a
entender que lhe
compreendia as
mais ternas
saudades do
coração. Maria
sentiu-se
empolgada por
tocante
surpresa. Que
mendigo seria
aquele que lhe
acalmava as
dores secretas
da alma saudosa,
com bálsamos tão
dulçorosos?
Nenhum lhe
surgira até
então para dar;
era sempre para
pedir alguma
coisa. No
entanto, aquele
caminhante
desconhecido lhe
derramava no
íntimo as mais
santas
consolações.
Onde ouvira
noutros tempos
aquela voz meiga
e carinhosa?!
Que emoções eram
aquelas que lhe
faziam pulsar o
coração de tanta
carícia? Seus
olhos se
umedeceram de
ventura, sem que
conseguisse
explicar a razão
de sua terna
emotividade.
Foi quando o
hóspede anônimo
lhe estendeu as
mãos generosas e
lhe falou com
profundo acento
de amor:
‒ “Minha mãe,
vem aos meus
braços!”
Nesse instante,
fitou as mãos
nobres que se
lhe ofereciam,
num gesto da
mais bela
ternura. Tomada
de comoção
profunda, viu
nelas duas
chagas, como as
que seu filho
revelava na cruz
e,
instintivamente,
dirigindo o
olhar ansioso
para os pés do
peregrino amigo,
divisou também
aí as úlceras
causadas pelos
cravos do
suplício. Não
pôde mais.
Compreendendo a
visita amorosa
que Deus lhe
enviava ao
coração, bradou
com infinita
alegria:
‒ “Meu filho!
meu filho! As
úlceras que te
fizeram!...”
E
precipitando-se
para ele, como
mãe carinhosa e
desvelada, quis
certificar-se,
tocando a ferida
que lhe fora
produzida pelo
último lançaço,
perto do
coração.
Suas mãos ternas
e solícitas o
abraçaram na
sombra visitada
pelo luar,
procurando
sofregamente a
úlcera que
tantas lágrimas
lhe provocara ao
carinho
maternal. A
chaga lateral
também lá
estava, sob a
carícia de suas
mãos. Não
conseguiu
dominar o seu
intenso júbilo.
Num ímpeto de
amor, fez um
movimento para
se ajoelhar.
Queria
abraçar-se aos
pés do seu Jesus
e osculá-los com
ternura. Ele,
porém,
levantando-a,
cercado de um
halo de luz
celestial, se
lhe ajoelhou aos
pés e,
beijando-lhe as
mãos, disse em
carinhoso
transporte:
‒ “Sim, minha
mãe, sou eu!...
Venho buscar-te,
pois meu Pai
quer que sejas
no meu reino a
Rainha dos
Anjos”.
Maria cambaleou,
tomada de
inexprimível
ventura. Queria
dizer da sua
felicidade,
manifestar seu
agradecimento a
Deus; mas o
corpo como que
se lhe
paralisara,
enquanto aos
seus ouvidos
chegavam os ecos
suaves da
saudação do
Anjo, qual se a
entoassem mil
vozes
cariciosas, por
entre as
harmonias do
céu.
No outro dia,
dois portadores
humildes desciam
a Éfeso, de onde
regressaram com
João, para
assistir aos
últimos
instantes
daquela que lhes
era a devotada
Mãe Santíssima.
Maria já não
falava. Numa
inolvidável
expressão de
serenidade, por
longas horas
ainda esperou a
ruptura dos
derradeiros
laços que a
prendiam à vida
material”.
Que este
sequente
sentimento, como
ato de extrema
grandeza,
permaneça
redivivo em
nossos corações,
uma vez que
Jesus, embora
Ungido pelo
Criador e
dirigente Maior
da Terra, mas na
condição de
filho Daquela
que o trouxe ao
mundo, se lhe
ajoelhou aos pés
e beijou-lhe as
mãos em gesto de
profundo
respeito.
Muita paz a
todos nós.
(1)
Dessa gravidez
nasceria João
Batista –
(Lucas, 1, 13,
60 e 63). A
exemplo de
Jesus, também
João Batista
teve seu nome
anunciado
previamente pelo
mesmo
mensageiro, anjo
Gabriel. Como
seu pai
Zacarias,
sacerdote na
Judeia,
questionou o
mensageiro
acerca de sua
idade avançada e
de Isabel, foi
punido com a
mudez, até o
nascimento,
sendo-lhe então
suas condições
físicas
restauradas. Foi
nessa
oportunidade que
o anjo Gabriel
anunciou que
João Batista
viria, em
espírito e poder
de Elias –
(Lucas, 1:
13-20).
(2)
Boa Nova,
de Humberto de
Campos, por
Chico Xavier -
Ed. FEB.