Continuamos nesta edição o estudo do livro Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, obra publicada por Allan Kardec no ano de 1858. As páginas citadas no texto sugerido para leitura referem-se à edição publicada pela Casa Editora O Clarim, com base na tradução feita por Cairbar Schutel.
Questões para debate
A. Que recomendações faz Kardec acerca do horário e do local das reuniões mediúnicas?
B. Kardec diz que podemos evocar todos os Espíritos. Perguntamos: a) existe uma fórmula especial para isso? b) a evocação é garantia do comparecimento deles?
C. Convém dirigir perguntas aos Espíritos?
Texto para leitura
128. O primeiro indício de uma disposição para escrever é uma espécie de estremecimento no braço e na mão: pouco a pouco a mão é arrastada por um impulso que não pode dominar. (Em "O Livro dos Médiuns", cap. XVII, item 214, vemos que esse indício é típico dos psicógrafos mecânicos, não dos intuitivos.) (Cap. V, pág. 134.)
129. Se muitos experimentarem, não se achará quase família que não tenha um médium escrevente entre os seus, mesmo que seja uma criança. (Cap. V, pág. 135.)
130. Todo aquele que recebeu a faculdade de escrever, sob a influência dos Espíritos, possui um recurso precioso, pois se torna o intérprete entre o mundo visível e o invisível. É essa uma missão que recebeu para o bem, mas da qual não deve tirar vantagem, uma vez que a faculdade lhe pode ser retirada, se faz mau uso dela. (Cap. V, págs. 135 e 136.)
131. Por que os médiuns não escrevem em todas as línguas? O Espírito estranho compreende, sem dúvida, todas as línguas, pois que as línguas são a expressão do pensamento. Mas, para transmitir esse pensamento, é preciso um instrumento adequado, que é o médium. A alma do médium não pode transmitir senão pelos órgãos de seu corpo; ora, esses órgãos não podem ter, para uma língua desconhecida, a flexibilidade que têm para a que lhes é familiar. Isso constitui uma dificuldade e cria uma resistência mecânica à fluidez da comunicação. Um bom operário não gosta de servir-se de maus utensílios. (Cap. VI, págs. 140 e 141.)
132. Resulta então que, com algumas exceções, o médium transmite o pensamento dos Espíritos pelos meios mecânicos que estão à sua disposição, e que a expressão desse pensamento pode ressentir-se da imperfeição desses meios. Assim, o homem inculto, o camponês, poderá dizer as coisas mais belas, exprimir os pensamentos mais elevados, falando como um camponês. Para os Espíritos o pensamento é tudo, a forma nada é. Isto responde à objeção de certas críticas a respeito das incorreções de estilo e de ortografia que se lhes podem censurar e que dependem tanto do médium quanto do Espírito. (Cap. VI, pág. 142.)
133. A faculdade mediúnica não basta para garantir boas comunicações. É preciso, antes de tudo e como uma condição expressa, um médium simpático aos bons Espíritos. Certas pessoas são, no entanto, mal aquinhoadas no que se refere às comunicações. Isso constitui indício certo da natureza dos Espíritos que se agrupam em torno delas, pois não são Espíritos superiores que transmitem comunicações triviais ou grosseiras. (Cap. VI, pág. 143.)
134. Não serão demais todos os esforços que fizerem esses médiuns para se desembaraçarem de acólitos tão pouco recomendáveis, a não ser que se comprazam nessas espécies de conversações. (Cap. VI, pág. 143.)
135. Não é preciso ser médium para atrair os seres do mundo invisível. O espaço está povoado deles: temo-los sem cessar em redor de nós e a nosso lado. Eles nos veem, nos observam, se misturam às nossas reuniões, seguem-nos ou fogem de nós, conforme os atraímos ou repelimos. A faculdade mediúnica nenhum papel desempenha nisso: ela é apenas um meio de comunicação. (Cap. VII, pág. 145.)
136. Consideremos o estado moral do nosso globo e compreenderemos qual é o gênero de Espíritos que deve dominar entre os Espíritos errantes. Os Espíritos outra coisa não são senão nossas almas desprendidas de nossos corpos e que levam consigo o reflexo das nossas qualidades e das nossas imperfeições. O mundo espírita não é, pois, em realidade, senão um extrato quintessenciado do mundo corporal e que dele veicula os bons e os maus odores. (Cap. VII, págs. 145 e 146.)
137. Nem sempre basta que uma reunião seja séria para obtermos comunicações de ordem elevada. Há pessoas que nunca riem e cujo coração nem por isso é mais puro. Ora, é o coração, sobretudo, que atrai os bons Espíritos. Nenhuma condição moral pode ser negligenciada nas comunicações espíritas. (Cap. VII, págs. 146 e 147.)
138. As reuniões frívolas têm um grave inconveniente, a saber: certas pessoas podem tomar a sério o que, as mais das vezes, não passa de um gracejo da parte dos Espíritos levianos, que se divertem à custa dos que lhes dão ouvidos. (Cap. VIII, pág. 151.)
139. O silêncio e o recolhimento são condições de primeira importância nas reuniões espíritas. Entretanto, o que também releva em importância é a regularidade com que devem ser realizadas. (Cap. VIII, pág. 151.)
140. Da possibilidade de evocar os Espíritos desencarnados resulta a de evocar o Espírito de uma pessoa viva. Ele responde então como Espírito e não como homem e, muitas vezes, suas ideias não são as mesmas. Tais evocações exigem prudência, porque há circunstâncias em que poderiam ter inconvenientes. (Cap. VIII, pág. 160.)
Respostas às questões propostas
A. Que recomendações faz Kardec acerca do horário e do local das reuniões mediúnicas?
As reuniões devem realizar-se em dias e horários fixos. Os horários distanciados das ocupações cotidianas e por isso favorecidos pela tranquilidade e a despreocupação são os preferíveis.
Quanto ao local, é conveniente mantê-lo e não fazer mudanças sem necessidade. O fluido vital de cada Espírito errante ou encarnado é, de certo modo, um foco que irradia em seu redor pelo pensamento. Concebe-se, pois, que em um local permanente deve haver um eflúvio desse fluido que forma, por assim dizer, uma atmosfera moral com a qual os Espíritos se identificam.
O local preferível é aquele que, além de exclusivamente consagrado a essa prática, nunca fosse profanado por preocupações vulgares, pois que nele teríamos uma espécie de santuário de onde estariam excluídos os maus Espíritos. Aí os elementos da atmosfera moral não estariam, por outro lado, tão misturados como em um local qualquer. (Obra citada, cap. VIII, págs. 152 a 154.)
B. Kardec diz que podemos evocar todos os Espíritos. Perguntamos: a) existe uma fórmula especial para isso? b) a evocação é garantia do comparecimento deles?
Não há fórmula sacramental ou mística a ser utilizada nas evocações. Basta fazê-la em nome de Deus, nos termos seguintes ou em outros equivalentes: Eu rogo a Deus todo-poderoso que permita ao Espírito de... comunicar-se conosco. Ou então: Em nome de Deus todo-poderoso peço ao Espírito de... que venha se comunicar conosco.
A faculdade de evocar qualquer Espírito não implica, para ele, a necessidade de estar às nossas ordens. Ele pode vir em um momento e não em outro, com tal médium ou tal evocador que lhe agrade e não com tal outro. Além disso, causas dependentes ou não de sua vontade podem impedir que ele compareça. (Cap. VIII, págs. 156 a 161.)
C. Convém dirigir perguntas aos Espíritos?
Sim. As lições transmitidas pelos Espíritos seriam, frequentemente, muito limitadas, se não fossem estimuladas por nossas indagações. Há casos até em que eles mesmos provocam as perguntas, dizendo: “Que queres? Interroga e eu te responderei”. Em outras situações eles próprios nos interrogam, não para se instruírem, mas para nos porem à prova ou nos levarem a expressar mais claramente o nosso pensamento. Reduzir-nos, em sua presença, a um papel puramente passivo seria, pois, um excesso de submissão que eles não exigem.
Devemos ter como regra geral: Quando um Espírito fala, não se deve interrompê-lo; e quando ele manifesta, por um sinal qualquer, a intenção de falar, devemos esperar e não interrompê-lo senão quando estivermos certos de que nada mais tem a dizer.
Se, em princípio, as perguntas não desagradam aos Espíritos, há questões que lhes são soberanamente antipáticas e das quais devemos nos abster completamente, sob pena de não obtermos resposta ou de as obtermos deficientes. Quando dizemos que certas perguntas são antipáticas, queremos nos referir aos Espíritos elevados.
Quanto a responder-nos ou não, devemos entender que os Espíritos podem abster-se de responder por vários motivos: 1º) a pergunta pode desagradar-lhes; 2º) eles nem sempre têm os conhecimentos necessários; 3º) há coisas que lhes é proibido revelar. Se, pois, não satisfazem a uma pergunta é porque não querem, não podem ou não devem. Seja qual for o motivo, é regra invariável que todas as vezes que um Espírito se recusa categoricamente a responder, nunca se deve insistir. (Cap. VIII, págs. 166 e 167.)