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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 453 - 21 de Fevereiro de 2016

GEBALDO JOSÉ DE SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás (Brasil)

 


Coragem da fé

“Porque qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do homem, (...).” – Jesus (Lc, 9:26).


O cristão confessa a própria com júbilo; e o faz não só com o verbo, mas com a própria vida, com os ideais que acalenta e as ações que desenvolve para alcançá-los.

Há, nos Evangelhos, inúmeras demonstrações de fé, das quais destacamos:

“Senhor, não sou digno de que entres em minha casa; mas apenas manda com uma palavra, e o meu rapaz será curado.

(...) Ouvindo isto, admirou-se Jesus, e disse aos que o seguiam: Em        verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como esta”. Mt, 8:8 e 10.

“E eis que uma mulher, que durante doze anos vinha padecendo de uma hemorragia, veio por trás dele e lhe tocou na orla da veste; porque dizia consigo mesma: Se eu apenas lhe tocar a veste, ficarei curada. E Jesus, voltando-se, e vendo-a, disse: Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou. E desde aquele instante a mulher ficou sã.” Mt, 9:20/22.

“Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Filho, os teus pecados estão perdoados.” Mc, 2:5.

*

Ocultamos nossa fé, por respeito humano, por orgulho ou vaidade, ao sentirmos vergonha de a revelar diante dos outros homens. Orgulho que também nos leva a ignorar um parente pobre, ou a omitir certas doenças; ou, movidos por egoísmo ou comodismo, não divulgamos nossa , evitando que outros também estudem a verdade e se libertem. 

“(...) Perderão o benefício de sua fé, porque se trata de uma egoísta que eles guardam para si, ocultando-a para que não lhes traga prejuízo neste mundo, ao passo que aqueles que proclamam a verdade abertamente, colocando-a acima de seus interesses materiais, trabalham pelo seu próprio futuro e pelo futuro dos outros.” 1 

No passado, cristãos eram perseguidos (presos, crucificados e lançados aos leões). Com o tempo, modificaram-se as formas de perseguição aos que creem: com a polícia, impedindo-lhes as reuniões, levantando acusações falsas.

Espíritas foram e são hostilizados por outras Doutrinas cristãs, com interesses materiais estabelecidos na sociedade, quando afirmam que ela é obra do demônio

Emmanuel 2 ensina-nos sobre a coragem da : 

“(...) é indispensável não esquecer-lhe (do Cristo) os princípios sublimes, diante das tarefas de cada dia.

A vida de um homem é a sua própria confissão pública.

A conduta de cada crente é a sua verdadeira profissão de fé.

(...)

Torna-se indispensável não se envergonhar o aprendiz de Jesus, (...) perante as situações, aparentemente insignificantes ou eminentemente expressivas, em que se pede ao crente o exemplo de amor, renúncia e sacrifício pessoal que o Senhor demonstrou em sua trajetória sublime”.        

Noutra parte3, o nobre mentor reafirma: 

Um tipo diferente de coragem, porém, se espera dos seguidores do Cristo: a coragem da .

Aquela de se calar alguém para que outrem fale mais alto; de sofrer injúrias e humilhações, sem deteriorar a imagem dos próprios adversários e agressores; de acreditar no bem, mesmo quando a ignorância e a maldade parecem em triunfo; de aceitar a rotina dos encargos de cada dia, nela encontrando a alegria do trabalho, sem aplauso público, e a coragem de esquecer-se para que outros recolham as vantagens do serviço que lhe haverá custado imenso esforço.

(...) a coragem da será sempre mais difícil, porque exige humildade e renúncia, tolerância e dedicação ao bem do próximo (...)”.

Aqueles que buscam o bem comum são estimulados de formas surpreendentes, em momentos cruciais de suas lutas.

Exemplo belíssimo ocorreu com Martin Luther King Jr.4 (1919-04.04.1968), Prêmio Nobel da Paz de 1964.

Nas décadas de 50 e 60 lutou pela igualdade social para os negros nos E.U.A.

Contava ele que “Uma das pessoas que participaram com mais dedicação do protesto contra os ônibus em Montgomery foi uma velha negra a quem chamávamos carinhosamente Mamãe Pollard. Embora pobre e sem instrução, possuía profunda compreensão do sentido do movimento. (...).

Após marchar durante várias semanas, perguntaram-lhe se estava cansada. Ela respondeu: – Meus pés tão cansado, mas a alma está descansada.

Certa noite, depois de uma semana repleta de tensão, falei num comício. Tentei transmitir uma impressão ostensiva de força e de coragem, mas intimamente estava deprimido e temeroso. Mamãe Pollard chegou depois à frente da igreja e disse-me: – Venha , meu filho.

Fui para junto dela e a abracei afetuosamente.

– Há alguma coisa com você – disse ela. – Não falou com força hoje. Sei que há alguma coisa. Não estamos fazendo o que você quer? Ou são os brancos que estão aborrecendo você?

Antes que eu pudesse responder, olhou-me diretamente nos olhos e exclamou: – Eu lhe disse que estamos com você em tudo e por tudo.

Depois, o rosto dela se iluminou e ela disse em palavras de tranquila certeza: – E depois, mesmo que a gente não esteja com você, Deus tomará conta de você.

Quando ela proferiu essas consoladoras palavras, tudo em mim estremeceu e se acelerou com o palpitante tremor de pura energia.

Desde aquela sombria noite de 1956, Mamãe Pollard subiu ao céu e poucos dias calmos tenho conhecido. Mas com a passagem dos anos as palavras eloquentemente simples de Mamãe Pollard me têm ocorrido repetidamente para dar-me luz, paz e orientação à alma perturbada: Deus tomará conta de você!”

“Essa fé transforma o torvelinho do desespero numa quente e animadora brisa de esperança. As palavras de um quadro que (...) era comumente encontrado nas paredes das casas das pessoas religiosas devem ser gravadas em nossos corações:

                   O Medo bateu à porta.

                    A Fé foi ver quem era.

                    Não havia ninguém.

As palavras boas, de confiança, ditas por aquela Senhora, o encorajaram.

Analfabeta, mas possuía , e a demonstrava, contagiando os demais.

Todos podemos desenvolver nossa , exercitando-a, dia a dia. A Fé não se transfere: é conquista pessoal, mas se desenvolve com o exercício e com os exemplos de muitas outras pessoas, como vimos no fato narrado por Martin Luther King Jr.

Podemos motivar outros a desenvolvê-la, com palavras, ações, um abraço, um olhar, um pensamento, uma prece.

Para nossas reflexões, eis preciosas frases que nos remetem à fé:

“A fé é a certeza de cousas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem”. - Paulo, Hb 11-1.

“A é um pássaro que canta, saudando a aurora, quando é noite ainda.” – Anônimo.

Todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante do meu Pai que está nos Céus.” - Mt, 10:32.

 

Referências:

 

1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB, 2010. cap. 24, it. 15.


2.
XAVIER, F. Cândido. Vinha de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1981. cap. 51: Não se envergonhar.


3. XAVIER, F. Cândido. Monte Acima. Pelo Espírito Emmanuel. São Bernardo do Campo: GEEM, 1985. p. 26 a 29: Coragem e fé.


4.
Revista Opinião Espírita, Editada pela Sociedade Espírita de Divulgação e Assistência, Franca, SP. Ano II, Nº 04, abr/82.

 

 


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