GEBALDO JOSÉ DE
SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás
(Brasil)
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Coragem da fé
“Porque qualquer
que de mim e das
minhas palavras
se envergonhar,
dele se
envergonhará o
Filho do homem,
(...).” – Jesus
(Lc, 9:26).
O
cristão
confessa a
própria
fé
com júbilo;
e o faz
não
só com o verbo, mas com a própria vida, com os ideais que acalenta e as
ações que
desenvolve para
alcançá-los.
Há, nos
Evangelhos,
inúmeras
demonstrações de
fé, das quais
destacamos:
“Senhor, não sou
digno de que
entres em minha
casa; mas apenas
manda com uma
palavra, e o meu
rapaz será
curado.
(...) Ouvindo
isto, admirou-se
Jesus, e disse
aos que o
seguiam: Em
verdade
vos afirmo que
nem mesmo em
Israel achei fé
como esta”. Mt,
8:8 e 10.
“E eis que uma
mulher, que
durante doze
anos vinha
padecendo de uma
hemorragia, veio
por trás dele e
lhe tocou na
orla da veste;
porque dizia
consigo mesma:
Se eu apenas lhe
tocar a veste,
ficarei curada.
E Jesus,
voltando-se, e
vendo-a, disse:
Tem bom ânimo,
filha, a tua fé
te salvou. E
desde aquele
instante a
mulher ficou
sã.” Mt,
9:20/22.
“Vendo-lhes a
fé, Jesus disse
ao paralítico:
Filho, os teus
pecados estão
perdoados.” Mc,
2:5.
*
Ocultamos nossa
fé, por respeito
humano, por
orgulho
ou vaidade, ao
sentirmos
vergonha
de a
revelar
diante dos outros
homens. Orgulho
que também nos
leva a ignorar
um
parente
pobre, ou a omitir certas doenças; ou,
movidos por
egoísmo ou
comodismo, não
divulgamos nossa fé, evitando que
outros também
estudem a
verdade
e se libertem.
“(...) Perderão
o benefício de
sua fé, porque
se trata de uma
fé
egoísta
que
eles
guardam
para
si,
ocultando-a
para
que
não lhes traga prejuízo
neste
mundo,
ao
passo
que aqueles
que proclamam a verdade abertamente,
colocando-a
acima de
seus interesses materiais,
trabalham
pelo
seu
próprio futuro
e pelo futuro
dos
outros.”
1
No
passado, cristãos
eram perseguidos
(presos,
crucificados e
lançados aos
leões).
Com o tempo, modificaram-se as formas de perseguição aos que creem: com a polícia, impedindo-lhes as reuniões, levantando
acusações
falsas.
Espíritas foram
e são
hostilizados por
outras
Doutrinas
cristãs,
com
interesses
materiais
estabelecidos na
sociedade,
quando afirmam
que ela é obra
do demônio.
Emmanuel 2
ensina-nos sobre
a
coragem
da fé:
“(...) é
indispensável
não
esquecer-lhe (do Cristo) os princípios
sublimes, diante das tarefas de cada
dia.
A vida de um
homem é a sua
própria
confissão
pública.
A conduta de
cada crente é a
sua verdadeira
profissão de fé.
(...)
Torna-se
indispensável
não se
envergonhar o
aprendiz de
Jesus, (...)
perante as
situações,
aparentemente
insignificantes
ou eminentemente
expressivas, em
que se pede ao
crente o exemplo
de amor,
renúncia e
sacrifício
pessoal que o
Senhor
demonstrou em
sua trajetória
sublime”.
Noutra parte3,
o nobre mentor
reafirma:
“Um tipo diferente de coragem, porém, se
espera
dos
seguidores
do
Cristo:
a
coragem
da
fé.
Aquela de se
calar
alguém
para que outrem fale mais
alto; de sofrer
injúrias e
humilhações,
sem deteriorar
a imagem dos
próprios adversários e agressores;
de
acreditar
no
bem, mesmo quando a
ignorância e a
maldade
parecem em triunfo; de aceitar a rotina dos encargos de cada
dia, nela encontrando a alegria do trabalho, sem aplauso público, e a coragem de
esquecer-se
para
que
outros recolham as
vantagens
do
serviço
que
lhe haverá custado
imenso
esforço.
(...) a
coragem
da
fé
será
sempre
mais
difícil, porque
exige
humildade
e renúncia, tolerância e dedicação
ao
bem do
próximo (...)”.
Aqueles que
buscam o bem
comum são
estimulados de
formas
surpreendentes,
em momentos
cruciais de suas
lutas.
Exemplo
belíssimo
ocorreu com
Martin Luther
King Jr.4
(1919-04.04.1968),
Prêmio
Nobel da
Paz
de 1964.
Nas
décadas de 50 e 60 lutou pela igualdade social
para os negros
nos E.U.A.
Contava ele que
“Uma das pessoas
que participaram
com mais
dedicação do
protesto contra
os ônibus
em
Montgomery foi
uma velha negra
a
quem
chamávamos
carinhosamente
Mamãe Pollard.
Embora
pobre
e sem instrução,
possuía
profunda
compreensão
do
sentido
do movimento.
(...).
Após marchar
durante
várias
semanas,
perguntaram-lhe
se estava
cansada. Ela
respondeu: –
Meus pés tão
cansado,
mas
a
alma
está
descansada.
Certa
noite, depois
de uma
semana
repleta
de
tensão,
falei num comício. Tentei transmitir
uma
impressão
ostensiva
de
força
e de
coragem,
mas intimamente estava deprimido e temeroso. Mamãe
Pollard chegou
depois
à frente da igreja
e disse-me: –
Venha
cá, meu filho.
Fui
para junto dela e a abracei
afetuosamente.
– Há alguma
coisa com você –
disse ela. – Não
falou com força
hoje. Sei que há
alguma coisa.
Não estamos
fazendo o que
você quer? Ou
são os brancos
que estão
aborrecendo
você?
Antes que eu
pudesse
responder,
olhou-me
diretamente nos
olhos e
exclamou: – Eu
lhe disse que
estamos com você
em tudo e por
tudo.
Depois, o rosto
dela se iluminou
e ela disse em
palavras de
tranquila
certeza: – E
depois, mesmo
que a gente não
esteja com você,
Deus tomará
conta de você.
Quando ela
proferiu essas
consoladoras
palavras, tudo
em mim
estremeceu e se
acelerou com o
palpitante
tremor de pura
energia.
Desde aquela
sombria noite de
1956, Mamãe
Pollard subiu ao
céu e poucos
dias calmos
tenho conhecido.
Mas com a
passagem dos
anos as palavras
eloquentemente
simples de Mamãe
Pollard me têm
ocorrido
repetidamente
para dar-me luz,
paz e orientação
à alma
perturbada:
Deus tomará
conta de você!”
“Essa fé
transforma o
torvelinho do
desespero numa
quente e
animadora brisa
de esperança. As
palavras de um
quadro que (...)
era comumente
encontrado nas
paredes das
casas das
pessoas
religiosas devem
ser gravadas em
nossos corações:
O Medo bateu
à porta.
A Fé foi ver
quem era.
Não havia
ninguém.”
As
palavras boas, de confiança, ditas por aquela Senhora, o encorajaram.
Analfabeta,
mas
possuía
fé,
e a demonstrava,
contagiando os
demais.
Todos podemos
desenvolver
nossa
fé, exercitando-a, dia a dia. A Fé não se
transfere: é
conquista
pessoal, mas se
desenvolve com o
exercício e com
os exemplos de
muitas outras
pessoas, como
vimos no fato
narrado por
Martin Luther
King Jr.
Podemos motivar
outros a
desenvolvê-la,
com palavras,
ações, um
abraço, um
olhar, um
pensamento, uma
prece.
Para nossas
reflexões, eis
preciosas frases
que nos remetem
à fé:
“A fé é a
certeza de
cousas que se
esperam, a
convicção de
fatos que se não
veem”. - Paulo,
Hb 11-1.
“A
fé
é
um
pássaro
que canta,
saudando a
aurora,
quando
é
noite
ainda.”
– Anônimo.
“Todo aquele que me confessar diante dos homens,
também eu
o confessarei
diante
do meu Pai que está nos Céus.” - Mt, 10:32.
Referências:
1.
KARDEC, Allan.
O Evangelho
segundo o
Espiritismo.
Trad. Evandro
Noleto Bezerra.
Brasília: FEB,
2010. cap. 24,
it. 15.
2.
XAVIER, F.
Cândido.
Vinha de Luz.
Pelo Espírito
Emmanuel. 6. ed.
Rio de Janeiro:
FEB, 1981. cap.
51: Não se
envergonhar.
3. XAVIER, F.
Cândido.
Monte Acima.
Pelo Espírito
Emmanuel. São
Bernardo do
Campo: GEEM,
1985. p. 26 a
29: Coragem e
fé.
4.
Revista Opinião
Espírita,
Editada pela
Sociedade
Espírita de
Divulgação e
Assistência,
Franca, SP. Ano
II, Nº
04, abr/82.