Edson Ramos de
Siqueira:
“Abolir a carne
da alimentação é
um ato de não
violência”
O autor do livro
Alimentação e
Evolução
Espiritual
aborda
em
entrevista a
questão do
consumo de carne
animal
por parte
dos seres
humanos
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Engenheiro
agrônomo e
professor da
Faculdade de
Medicina
Veterinária e
Zootecnia da
UNESP-Botucatu
(SP), desde
1980, Edson
Ramos de
Siqueira
(foto)
nasceu em
Espírito Santo
do Pinhal e
reside em
Botucatu, ambos
municípios
paulistas.
Espírita desde
1993, vincula-se
ao Centro
Espírita Irmão
Thomaz, na mesma
cidade e ao C.
E. Fé e
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Caridade, em São
Manuel, nos
quais não exerce
cargo
administrativo,
mas atua como
palestrante e
ministra cursos
de Espiritismo.
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Tendo lançado
recentemente o
livro
Alimentação e
Evolução
Espiritual,
com abordagem
sobre os
animais,
inclusive sobre
a alimentação
humana, suas
lúcidas
respostas abrem
enorme
perspectiva de
estudo.
De onde surgiu
seu interesse
pelo tema dos
animais e
consequente
estudo do
consumo de carne
e seus
desdobramentos?
Em minha área
profissional, me
especializei em
produção de
carne de ovinos,
tendo inclusive
realizado curso
de pós-doutorado
sobre o assunto
na Espanha.
Trabalhei por
cerca de 20 anos
em pesquisa e
ensino na área
de produção de
carnes. Em 1994
iniciei os
estudos
espíritas, já
que naquele ano
fui convidado
para proferir
minhas primeiras
palestras. Na
Universidade,
dois anos
depois, assumi a
disciplina
Comportamento
Animal, que
ministrei por
cerca de 20
anos. A minha
vivência com
animais desde a
infância, já que
nasci e cresci
no meio rural,
associada aos
estudos
espíritas e do
comportamento,
bem como a
triste realidade
da frequente
visita a
abatedouros, que
minha profissão
exigia,
despertou-me
para uma
realidade
outrora
inimaginável: os
animais não
convivem conosco
para serem
mortos e suas
carcaças nos
servirem de
alimento. Então,
iniciei um
processo
reflexivo mais
profundo e, há
aproximadamente
quatro anos,
comecei a
elaborar o livro
Alimentação e
Evolução
Espiritual,
publicado em
abril de 2015
pela Editora
Solidum.
De sua formação
acadêmica e
profissional,
que experiência
principal ficou
para
desenvolvimento
do tema no livro
lançado e nas
palestras?
Em minha atuação
profissional, a
principal
experiência foi
aguçar a
percepção para
entender que os
outros animais
são sencientes,
sim, como o ser
humano.
Senciência é a
capacidade de
sentir prazer,
dor, alegria,
tristeza etc., e
a ciência
moderna
comprovou que
todos os animais
a têm. O mais
intrigante, como
achado
científico bem
recente: os
outros animais
também têm
consciência.
Concomitantemente,
aprendi na
literatura
espírita que o
espírito
origina-se
simples e
ignorante,
encarnando-se no
mais simples
instrumento
físico, que
caracteriza os
animais situados
nos primeiros
degraus da
escala
zoológica; e o
destino de todos
é a angelitude.
Portanto, eles
são nossos
irmãos menores.
Ingerir seus
restos mortais é
um dos hábitos
mais primitivos
que o homem
terreno ainda
carrega. É uma
questão cultural
enraizada em
nosso
subconsciente,
mas que deverá
ser mudada, pois
em Planetas de
Regeneração é
algo
impensável.
Como encarar o
atual estágio da
mentalidade
humana com
relação aos
animais,
inclusive quanto
ao consumo de
carne na
alimentação?
Mesmo aqueles
que já
despertaram para
o vegetarianismo
não devem
criticar os que
ainda consomem
carne. A
sociedade humana
é bombardeada
com informações
a respeito da
necessidade da
carne à perfeita
saúde física
(paradigma que
pode ser mudado,
pois a Ciência
Médica e da
Nutrição
comprovaram que
isso não é
verdade).
Propagandas
midiáticas
tocantes dão a
entender que
esse alimento
provém de
canteiros de
flores. E a
Humanidade
ingênua continua
a ser enganada.
Existem aqueles
que afirmam que
os animais
existem para
isso e que a
própria Bíblia
autoriza a
matança deles
para a nossa
alimentação, o
que também não é
verdade. Então o
Poder Econômico,
juntamente com a
fé cega, cria a
normose (a
patologia da
normalidade),
que se enraíza
ainda mais, algo
que já está
arraigado há
milênios. As
mudanças para a
Regeneração
estão
acontecendo,
mesmo que de
forma muito
lenta e quase
que
imperceptível.
Apenas a
Educação é capaz
de empreender a
evolução; não as
críticas, nem o
radicalismo de
qualquer
natureza. O
Espiritismo tem
um papel
fundamental
nesse processo
educacional, já
que nos ensina,
claramente, a
dinâmica da
evolução
espiritual,
desde a origem
até a Divindade.
O assunto
precisa ser mais
abordado nas
Casas Espíritas
e estudado pelos
irmãos de
Doutrina, já que
ela é clara em
relação à
realidade
espiritual dos
animais. Abolir
a carne da
alimentação é um
ato de não
violência;
consequentemente,
um aprimoramento
moral.
De seus estudos
e pesquisas no
Espiritismo
sobre a
temática, o que
mais lhe chamou
a atenção?
Muitos irmãos
afirmam que o
Espiritismo nada
contém de
objetivo sobre o
uso da carne na
alimentação. O
que mais me
chamou a
atenção, ao
efetuar a
pesquisa de
literatura para
embasar o livro,
foi ter
encontrado
informações
concretas sobre
os animais,
oriundas dos
principais
autores
espirituais,
desde a obra de
Kardec (O
Livro dos
Espíritos e
A Gênese,
principalmente).
Cabe salientar,
no entanto, no
caso do
Codificador, que
muitas
informações
estão escritas
de forma velada;
e não poderia
ser diferente,
já que na época
em que foi
publicado O
Livro dos
Espíritos a
dúvida era se as
mulheres teriam
alma. Como
quereríamos que
Kardec
explicitasse a
questão da alma
dos outros
animais? Se
determinadas
verdades, que
hoje já temos
condição de
entender, fossem
escritas naquela
ocasião,
certamente o
Espiritismo
teria nascido
morto. Ao
consultar a
Revista Espírita
de janeiro de
1866 (nove anos
após o
lançamento da
primeira edição
de O Livro
dos Espíritos),
encontramos
artigo escrito
por Allan
Kardec, cujo
título é: "As
mulheres têm
alma?" Portanto,
tudo tem seu
momento. Mas não
tenhamos dúvida:
pelo menos o
processo
reflexivo sobre
o significado da
carne na
alimentação tem
que ser iniciado
urgentemente.
Como tem sido a
receptividade
das abordagens
nas palestras?
Em abril de 2015
iniciamos as
palestras de
lançamento do
livro nas Casas
Espíritas. Até o
último dia de
outubro, 38
Centros
receberam a
apresentação do
tema. Se antes
da primeira
palestra,
pairavam
incertezas sobre
a repercussão
junto aos nossos
irmãos, hoje nos
sentimos
positivamente
surpresos e
contentes, pois
a receptividade
superou, em
muito, nossas
expectativas
iniciais. Em cem
por cento dos
casos, o
interesse pelo
tema foi
bastante
elevado. Creio
que essa
constatação seja
um indicador de
que estamos no
momento certo
para
trabalharmos com
mais intensidade
essa questão no
meio espírita.
Sendo um tema
pouco abordado,
quais as
principais
fontes de
pesquisas, até
para indicação
ao leitor?
O livro
Alimentação e
Evolução
Espiritual
foi baseado em
158 referências
bibliográficas,
como o leitor
pode verificar
na própria
obra.
Desse processo
todo de evolução
espiritual, o
que lhe
sobressai nos
raciocínios
sobre a
temática?
De todo o
processo de
evolução
espiritual, o
que sobressai,
em minha
opinião, é o
profundo
desconhecimento,
por parte da
maioria absoluta
da Humanidade,
sobre o
mecanismo de
origem e
evolução do
Espírito e sua
relação com a
origem e
evolução da vida
biológica na
Terra. A ciência
ainda não
conseguiu
integrar os
fatores que
explicam a
natureza da
verdadeira vida,
que é a do
espírito,
tampouco de sua
trajetória, que
inclui múltiplos
processos
reencarnatórios.
Não entende que
o corpo físico é
mero instrumento
pedagógico para
que aprendamos
em estágio na
crosta
planetária. Não
imagina que
bastaria
integrar os
ensinamentos da
obra de Allan
Kardec aos
achados
científicos de
Charles Darwin,
espíritos
preparados pela
Espiritualidade
Maior para
cumprirem
missões
complementares,
ou seja,
propiciar-nos os
conhecimentos da
vida sob a visão
holística, e não
apenas limitados
à matéria
palpável, densa.
Sendo assim,
infere-se que
tão cedo não
será possível
ensinar as
verdades da vida
de forma massal.
Uma minoria tem
condição de
compreender o
que é a vida; e
dessa minoria
fazem parte os
espíritas. Já
não é mais
possível
dizermos que não
sabíamos que a
trajetória
evolutiva do
Espírito começa
no animal mais
simples,
atravessa toda a
escala
zoológica, até
chegar ao ser
humano que,
gradativamente,
aprimora-se
moral e
intelectualmente,
até atingir a
Divindade.
Algo marcante de
suas
experiências que
gostaria de
relatar?
Já me referi às
coordenadas que
me posicionaram
para trabalhar o
tema do
vegetarianismo
no processo de
evolução
espiritual: o
estudo da
Doutrina
Espírita,
concomitantemente
ao
aprofundamento
nas questões
inerentes ao
comportamento
animal, isso na
esfera
profissional.
Mas um outro
aspecto
profissional
determinante foi
o fato de ter
frequentado
abatedouros,
onde pude sentir
de perto a
desumanidade do
processo de
abate, o
sofrimento dos
nossos irmãos
menores, bem
como a energia
extremamente
pesada que
circula nesses
ambientes
lúgubres, fruto
da ação de
espíritos de
baixo padrão
vibratório, em
mecanismo de
vampirização do
fluido vital
liberado pela
matança em
série, naquilo
que André Luiz
(Chico Xavier)
denominou de
indústria da
morte. Portanto,
quando escrevo
ou falo sobre o
assunto, traduzo
uma triste
realidade que
pude
pessoalmente
sentir.
Suas palavras
finais.
Sabemos que a
Terra
encontra-se em
fase de
transição para a
Regeneração.
Essa transição
implica a
necessidade de
profundas
modificações
espirituais, que
envolvem
acentuadas
mudanças
comportamentais,
em todos os
sentidos
imagináveis.
Precisamos
emergir das
profundezas do
oceano das
ilusões, e abrir
corações e
mentes para a
realidade da
vida do Espírito
no Universo. Não
cabe mais a
inércia
espiritual para
aqueles que já
têm acesso às
informações
objetivas e
concretas
disponibilizadas
pela literatura
espírita e pelos
conhecimentos
científicos
gerados neste
planeta. Dentre
os
comportamentos
que devem ser
modificados
urgentemente, a
eliminação das
carnes de nossos
cardápios
destaca-se. Amar
o próximo como a
si mesmo não
pressupõe a
eliminação de
vidas para
atender nossos
arcaicos desejos
gastronômicos.
Não devemos
carregar
sentimento de
culpa, pois a
inclusão da
carne em nossa
dieta é cultural
e milenar. Mas é
chegado o
momento de uma
reflexão
profunda, para
que as mudanças
sejam naturais
e,
consequentemente,
verdadeiras.