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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 454 - 28 de Fevereiro de 2016

ANSELMO FERREIRA VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)

 

 


Gestos elogiáveis


Os Espíritos nos esclarecem com muita clareza que consoante a natureza das nossas faltas escolhemos as provas a serem enfrentadas. Desse modo, lemos na resposta à questão 264 de O Livro dos Espíritos que “[...] Uns, portanto, impõem a si mesmos uma vida de misérias e privações, objetivando suportá-las com coragem; outros preferem experimentar as tentações da riqueza e do poder, muito mais perigosas, pelos abusos e má aplicação a que podem dar lugar, pelas paixões inferiores que uma e outros desenvolvem; muitos, finalmente, se decidem a experimentar suas forças nas lutas que terão de sustentar em contato com o vício”.

Indagados ainda sobre a razão de Deus conceder riquezas e o poder a alguns, enquanto a outros, apenas a miséria (questão 814 da referida obra), Kardec é informado que é “Para experimentá-los de modos diferentes. Além disso, como sabeis, essas provas foram escolhidas pelos próprios Espíritos, que nelas, entretanto, sucumbem com frequência”. Ademais, o codificador apurou que ambas as modalidades de provas são terríveis para a criatura humana (questão 815) já que uma “provoca as queixas contra a Providência, a riqueza [por sua vez] incita a todos os excessos”.

Explorando ainda mais o assunto (questão 816), Kardec descobre que, embora dispondo de meios apropriados, o indivíduo rico nem sempre faz o bem, pois “[...]. Torna-se egoísta, orgulhoso e insaciável. Com a riqueza, suas necessidades aumentam e ele nunca julga possuir o bastante para si unicamente”.

Baseado nas explicações dadas pelos Espíritos, Kardec concluiu que a posição de relevância neste mundo, assim como a autoridade sobre os semelhantes “[...] são provas tão grandes e tão escorregadias como a desgraça, porque, quanto mais rico e poderoso é ele, tanto mais obrigações tem que cumprir e tanto mais abundantes são os meios de que dispõe para fazer o bem e o mal. Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo emprego que dá aos seus bens e ao seu poder”.

E arremata ao sintetizar que: “A riqueza e o poder fazem nascer todas as paixões que nos prendem à matéria e nos afastam da perfeição espiritual. ‘Em verdade vos digo que mais fácil é passar um camelo por um fundo de agulha do que entrar um rico no reino dos céus”.

Desse modo, portanto, quando Deus nos proporciona condições de riqueza e poder, ele está nos emprestando (comentários referentes à questão 918), por assim dizer. A qualquer momento tal facilidade pode ser retirada. Nesse contexto, “... a riqueza é, de ordinário, prova mais perigosa do que a miséria” (questão 925).

De modo geral, o presente século tem sido generoso com aqueles Espíritos encarnados dotados de acentuada inteligência, inesgotável capacidade de inventividade e perfil empreendedor, particularmente os ligados ao campo da tecnologia onde interessantes novidades são observadas praticamente todos os dias. Nesse sentido, é notável a proliferação de serviços, produtos e aplicativos que facilitam a existência humana e tornam as atividades mais dinâmicas e ágeis.

O uso de celulares, por exemplo, se tornou uma mania mundial ao ir muito além de estabelecer a prosaica comunicação entre as pessoas. Esses aparelhos permitem o uso de uma gama extraordinária de aplicativos – os chamado apps – que provêm cada vez mais benefícios, a saber: interação, divertimento, informação, entre outras coisas.

Tais mudanças de hábitos oriundas das constantes inovações tecnológicas têm gerado, por outro lado, considerável riqueza aos seus idealizadores: normalmente jovens indivíduos altamente talentosos com uma “ideia” na qual conseguem arrebanhar milhares de seguidores e, assim, atraem vultosos investimentos e capital. Chega a ser admirável observar a implementação - da noite para o dia - de mudanças radicais e disruptivas. Ou seja, novos hábitos comportamentais são rapidamente moldados, embora se deva reconhecer que nem todos são exatamente saudáveis ou intelectualmente construtivos.  

O caso do Facebook - uma das redes sociais mais acessadas pelas pessoas no momento - é ilustrativo à medida que ganhou em poucos anos de existência uma notoriedade excepcional, bem como uma legião de adeptos em todos os quadrantes do planeta. Afinal de contas, é raro alguém não ter uma conta no referido site de relacionamentos. Por isso, pode-se afirmar que o Facebook é um exemplo extraordinário de sucesso empresarial no qual uma ideia/conceito cai no gosto das pessoas.

A propósito, chamou-nos a atenção o recente anúncio proferido por Mark Zuckerberg (dono dessa portentosa empresa) juntamente com a sua esposa, a médica Priscilla Chan. Para surpresa geral, o casal comprometeu-se a destinar ao longo de suas vidas 99% das ações do Facebook – lembro que valem na atualidade algo em torno de US$ 45 bilhões – para propósitos de caridade. O compromisso foi assumido publicamente através de carta aberta logo após o nascimento da primeira filha do casal.

É verdade que muitos outros abastados têm contribuído com parte das suas riquezas para a manutenção de obras beneméritas entre outras tantas iniciativas. Temos que reconhecer que são louváveis iniciativas. Mas o que Zuckerberg e a sua esposa estão fazendo atinge outro patamar bem mais elevado, e que poderá – assim se conjectura – inspirar outros argentários a também adotar semelhante procedimento num futuro próximo. O casal deixou claramente explicitado em sua longa carta que as suas esperanças são direcionadas ao avanço do potencial humano e a promoção da igualdade. Seja como for, gestos como esse são eminentemente elogiáveis e demonstram um entendimento adequado do que significa possuir riqueza material nesse mundo.

 


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita