ANSELMO FERREIRA
VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
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Gestos
elogiáveis
Os Espíritos nos
esclarecem com
muita clareza
que consoante a
natureza das
nossas faltas
escolhemos as
provas a serem
enfrentadas.
Desse modo,
lemos na
resposta à
questão 264 de
O Livro dos
Espíritos
que
“[...] Uns,
portanto, impõem
a si mesmos uma
vida de misérias
e privações,
objetivando
suportá-las com
coragem; outros
preferem
experimentar as
tentações da
riqueza e do
poder, muito
mais perigosas,
pelos abusos e
má aplicação a
que podem dar
lugar, pelas
paixões
inferiores que
uma e outros
desenvolvem;
muitos,
finalmente, se
decidem a
experimentar
suas forças nas
lutas que terão
de sustentar em
contato com o
vício”.
Indagados ainda
sobre a razão de
Deus conceder
riquezas e o
poder a alguns,
enquanto a
outros, apenas a
miséria (questão
814 da referida
obra), Kardec é
informado que é
“Para
experimentá-los
de modos
diferentes. Além
disso, como
sabeis, essas
provas foram
escolhidas pelos
próprios
Espíritos, que
nelas,
entretanto,
sucumbem com
frequência”.
Ademais, o
codificador
apurou que ambas
as modalidades
de provas são
terríveis para a
criatura humana
(questão 815) já
que uma “provoca
as queixas
contra a
Providência, a
riqueza [por sua
vez] incita a
todos os
excessos”.
Explorando ainda
mais o assunto
(questão 816),
Kardec descobre
que, embora
dispondo de
meios
apropriados, o
indivíduo rico
nem sempre faz o
bem, pois
“[...]. Torna-se
egoísta,
orgulhoso e
insaciável. Com
a riqueza, suas
necessidades
aumentam e ele
nunca julga
possuir o
bastante para si
unicamente”.
Baseado nas
explicações
dadas pelos
Espíritos,
Kardec concluiu
que a posição de
relevância neste
mundo, assim
como a
autoridade sobre
os semelhantes
“[...] são
provas tão
grandes e tão
escorregadias
como a desgraça,
porque, quanto
mais rico e
poderoso é ele,
tanto mais
obrigações tem
que cumprir e
tanto mais
abundantes são
os meios de que
dispõe para
fazer o bem e o
mal. Deus
experimenta o
pobre pela
resignação e o
rico pelo
emprego que dá
aos seus bens e
ao seu poder”.
E arremata ao
sintetizar que:
“A riqueza e o
poder fazem
nascer todas as
paixões que nos
prendem à
matéria e nos
afastam da
perfeição
espiritual. ‘Em
verdade vos digo
que mais fácil é
passar um camelo
por um fundo de
agulha do que
entrar um rico
no reino dos
céus”.
Desse modo,
portanto, quando
Deus nos
proporciona
condições de
riqueza e poder,
ele está nos
emprestando
(comentários
referentes à
questão 918),
por assim dizer.
A qualquer
momento tal
facilidade pode
ser retirada.
Nesse contexto,
“... a riqueza
é, de ordinário,
prova mais
perigosa do que
a miséria”
(questão 925).
De modo geral, o
presente século
tem sido
generoso com
aqueles
Espíritos
encarnados
dotados de
acentuada
inteligência,
inesgotável
capacidade de
inventividade e
perfil
empreendedor,
particularmente
os ligados ao
campo da
tecnologia onde
interessantes
novidades são
observadas
praticamente
todos os dias.
Nesse sentido, é
notável a
proliferação de
serviços,
produtos e
aplicativos que
facilitam a
existência
humana e tornam
as atividades
mais dinâmicas e
ágeis.
O uso de
celulares, por
exemplo, se
tornou uma mania
mundial ao ir
muito além de
estabelecer a
prosaica
comunicação
entre as
pessoas. Esses
aparelhos
permitem o uso
de uma gama
extraordinária
de aplicativos –
os chamado apps
– que provêm
cada vez mais
benefícios, a
saber:
interação,
divertimento,
informação,
entre outras
coisas.
Tais mudanças de
hábitos oriundas
das constantes
inovações
tecnológicas têm
gerado, por
outro lado,
considerável
riqueza aos seus
idealizadores:
normalmente
jovens
indivíduos
altamente
talentosos com
uma “ideia” na
qual conseguem
arrebanhar
milhares de
seguidores e,
assim, atraem
vultosos
investimentos e
capital. Chega a
ser admirável
observar a
implementação -
da noite para o
dia - de
mudanças
radicais e
disruptivas. Ou
seja, novos
hábitos
comportamentais
são rapidamente
moldados, embora
se deva
reconhecer que
nem todos são
exatamente
saudáveis ou
intelectualmente
construtivos.
O caso do
Facebook - uma
das redes
sociais mais
acessadas pelas
pessoas no
momento - é
ilustrativo à
medida que
ganhou em poucos
anos de
existência uma
notoriedade
excepcional, bem
como uma legião
de adeptos em
todos os
quadrantes do
planeta. Afinal
de contas, é
raro alguém não
ter uma conta no
referido site de
relacionamentos.
Por isso,
pode-se afirmar
que o Facebook é
um exemplo
extraordinário
de sucesso
empresarial no
qual uma ideia/conceito
cai no gosto das
pessoas.
A propósito,
chamou-nos a
atenção o
recente anúncio
proferido por
Mark Zuckerberg
(dono dessa
portentosa
empresa)
juntamente com a
sua esposa, a
médica Priscilla
Chan. Para
surpresa geral,
o casal
comprometeu-se a
destinar ao
longo de suas
vidas 99% das
ações do
Facebook –
lembro que valem
na atualidade
algo em torno de
US$ 45 bilhões –
para propósitos
de caridade. O
compromisso foi
assumido
publicamente
através de carta
aberta logo após
o nascimento da
primeira filha
do casal.
É verdade que
muitos outros
abastados têm
contribuído com
parte das suas
riquezas para a
manutenção de
obras
beneméritas
entre outras
tantas
iniciativas.
Temos que
reconhecer que
são louváveis
iniciativas. Mas
o que Zuckerberg
e a sua esposa
estão fazendo
atinge outro
patamar bem mais
elevado, e que
poderá – assim
se conjectura –
inspirar outros
argentários a
também adotar
semelhante
procedimento num
futuro próximo.
O casal deixou
claramente
explicitado em
sua longa carta
que as suas
esperanças são
direcionadas ao
avanço do
potencial humano
e a promoção da
igualdade. Seja
como for, gestos
como esse são
eminentemente
elogiáveis e
demonstram um
entendimento
adequado do que
significa
possuir riqueza
material nesse
mundo.