O álibi do
merecimento
Usualmente não
compartilho pelo
Facebook, ou em
outras redes
sociais, imagens
ou textos
aleatórios sobre
violência, na
disseminação
proposital de
energias
perniciosas, sob
o pretexto, por
vezes
desnecessário,
de se alardear
para auxiliar a
corrigir. Com o
advento do
telefone
celular,
autêntico
computador
miniaturizado
com recursos de
vídeo e
fotografia, como
no caso do
popular
smartphone, e de
tantos outros
meios oferecidos
pela própria
internet,
existem outras
alternativas de
ajuda. E nossas
páginas se
tornariam em
autêntica
sucursal do
inferno se, a
todo momento,
nos puséssemos a
publicar e
alardear
gratuitamente
brutalidade e
mídias que
retratam cenas
de crueldade
mórbida.
Abri uma exceção
hoje. O caso
revoltante de
uma menina
negra,
notadamente
moradora de
alguma região
carente do
Brasil, dado o
que o vídeo nos
permite
entrever.
Portadora de
Síndrome de
Down, segundo
informação na
própria
postagem, e
estupidamente
espancada diante
de cerca de uma
dezena de
pessoas
inacreditáveis
que, para além
de se divertir e
filmar, nada
fizeram para
conter a mostra
de selvageria.
Neste caso,
portanto,
compartilhei, e
solicitei
divulgação na
tentativa de que
se alcance a
imprensa e as
autoridades! Por
duas razões
justas.
Por qual motivo
assistimos
apenas, na
maioria das
vezes, nas
imagens da
imprensa
televisiva ou
escrita, somente
campanhas –
diga-se,
louváveis! –
sobre os Down,
exibindo
crianças
brancas, ou,
quando não, de
boa condição
social, com pais
esclarecidos o
suficiente para
valorizarem
esses filhos
como se deve,
encaminhando-os
aos canais
adequados de
desenvolvimento
na sua
interatividade
social?
A menina sendo
martirizada nas
imagens exibidas
no vídeo curto
do Facebook, bem
provavelmente
vem sofrendo
maus tratos
durante um tempo
já extenso. Deve
contar, quando
muito, dezoito
ou dezenove
anos. E por qual
razão ninguém
ligado aos
serviços sociais
de comunidades
pobres a
auxiliou, e à
família, de
maneira a
prevenir que
tais abusos
inadmissíveis
não
acontecessem?
A segunda razão,
a considero mais
grave – e falo
de dentro do
âmbito daqueles
que seguem ou
simpatizam com o
aprendizado
Espírita!
Já é passada a
hora, meus
amigos, de se
compreender
melhor os
postulados do
Pentateuco, e
mesmo os
desdobramentos
doutrinários
contidos em
vertentes
semelhantes do
Espiritualismo
amplamente
disseminado nos
dias de hoje,
para o nosso
progresso íntimo
– e dar um basta
na utilização
insidiosa da
temática do
merecimento,
a que
reiteradamente
se recorre como
álibi para não
se auxiliar
ninguém em nada!
Vendo a cena
estupidificante
assistida há
pouco, muitos
torceriam a boca
de lado e
protestariam: “–
Ah, mas se está
passando por
isso, é
merecimento,
alguma fez”!...
Dias atrás, vi
na internet uma
entrevista
emocionante com
o confrade
Alamar Regis
Carvalho, na sua
luta contra o
câncer. E foi
bem nela que ele
abordou
brilhantemente
esta temática,
referindo-se,
inclusive, à
própria lei
natural da
desencarnação e
reencarnação.
Falava sobre os
comentários
tecidos a
respeito do seu
merecimento ou
desmerecimento
na cura, e a
permanecer
reencarnado, e,
bem-humorado,
aludiu, mais ou
menos nestes
termos, mas o
sentido era bem
esse:
– Mas quem falou
que se recuperar
e permanecer
reencarnado tem
a ver exatamente
com merecimento?
Precisava que a
desencarnação
fosse sempre uma
grande
desventura, para
se considerar
desse jeito! Às
vezes, continuar
reencarnado é
justamente a
desventura!...
A questão do
merecimento,
portanto, e fora
de dúvidas, é
grandemente mal
interpretada no
meio espírita, e
em inúmeros
outros
contextos. Pior!
Usada
desastradamente
como pretexto
para a
comodidade de
nada se fazer em
favor do
próximo!
Se essa diretriz
de pensamento
prevalecer, meus
amigos, todo
espírita estará
perdido! E não
importará se
dirigente de
tribuna,
frequentador de
Centro,
candidato às
benesses das
colônias
espirituais de
luz a que se
julga já ter
merecimento –
não importa!
Alegar esta
falácia para não
tentar, pelo
menos, minimizar
o infortúnio do
próximo a cada
oportunidade que
se nos
apresenta,
sinaliza, antes,
falência crassa
de ordem
espiritual e
evolutiva, e,
para se
compreender
isso, basta
simples
exercício de
raciocínio,
imaginando-se
nalguma situação
semelhante à do
sofrimento
alheio diante de
alguém – e,
sobretudo,
diante de um
“espírita”! –
que alega não
ajudá-lo porque,
provavelmente,
está passando
isso por causa
do seu “carma”!
– Você, na
certa, merece,
porque deve ter
feito isso e
isso e aquilo na
vida passada!
Portanto,
vire-se, e não
venha aqui me
chatear!
Pensar desse
jeito é imaginar
que, em relação
aos filhos, por
exemplo, a cada
má conduta que
se exigiria uma
advertência, os
metêssemos num
castigo eterno,
a ser purgado
até o fim,
independendo das
novas escolhas
do
livre-arbítrio
ou não. De eles
demonstrarem que
compreenderam o
engano, e
exemplificarem,
nas atitudes,
que corrigiram o
seu modo de ser!
Um castigo que
os situasse
muito abaixo da
infinita
capacidade do
Amor de oferecer
ao ente querido,
ao nosso
semelhante,
sempre uma
chance a mais!
E, num caso como
o da mocinha em
questão,
portadora de
necessidades
especiais, o que
se dizer da
ausência da
interferência
propriamente
humana – que já
implica no dever
de humanidade
para com um
indivíduo
maltratado com
crueldade
revoltante que
lhe explora
justamente a
incapacidade
para se
defender?!
Alegar-se carma?!
Dívidas de vidas
passadas?! Mas,
caros leitores,
a partir do
instante em que
nos é oferecida
a chance de
deparar tal
atrocidade, aí
está, antes de
tudo, a nossa
dívida de valor
pessoal! Não vem
ao caso se se
trata, o
episódio, de
dívida de vida
passada ou não,
e, menos ainda,
de julgamento de
valor acerca do
merecimento da
vítima da
crueldade! Pois
não nos compete
este julgamento!
Compete, sim,
por outra,
demonstrarmos,
neste exato
instante, se
somos, nós,
os merecedores
de deparar com
esses irmãos em
dificuldades,
para agir de
modo a que se
justifique o
sermos
detentores do
conhecimento
Espírita! Porque
o conhecimento
por si só, sem
obras que o
demonstrem,
fica, na sua
nascente,
falido!
(...) “A quem
muito foi dado,
muito será
pedido”.
– Jesus (Lucas,
XII: 47,48).
“Ai
do mundo, por
causa dos escândalos;
porque é mister
que venham escândalos,
mas ai
daquele homem
por quem o escândalo vier!”
– Jesus (Mateus,
18).
Para refletir.