Título estranho? Também
concordo, mas espero
demonstrar que o culpado
está realmente no
espelho.
Em Efésios, 5:20, Paulo
nos orienta que devemos
sempre dar graças a Deus
por tudo. Tudo é
tudo, mesmo com a
desculpa pela
redundância. Tudo
inclui as coisas boas e
as ruins da mesma forma.
Esse mesmo Paulo, já
preso em Roma para ser
decapitado em um
cemitério da via Apia,
dizia ser feliz com o
que tinha. E o que tinha
ele na verdade? Nada sob
o ponto de vista
material. Estava
reduzido a uma
indigência total.
Perdera o conceito
elevado entre o próprio
povo judeu. A condição
de cidadão romano também
havia sido praticamente
esquecida. A família o
rejeitava. Perdera sua
noiva e era o
responsável pelo
primeiro mártir do
cristianismo. Era
perseguido, açoitado,
apedrejado, enxotado,
feito prisioneiro, mas
dizia-se feliz!
Voltando a afirmação
dele em Efésios,
perguntamos: você dá
graças a Deus por tudo,
mas tudo mesmo?
Por exemplo, é muito
fácil agradecer quando
entra aquele dinheiro a
mais. Quando a saúde
está boa. Quando os
filhos não estão nos
dando grandes problemas.
Quando os trâmites
conjugais caminham
dentro da normalidade.
Nessas condições estamos
prontos para agradecer
(isso quando não nos
esquecemos) por tudo,
tudo mesmo!
Ah! Mas quando as coisas
saem um pouquinho dos
trilhos é um Deus nos
acuda! Ou será que com
você é diferente?!
Por exemplo, seguindo o
conselho de Paulo em
Efésios, você agradece a
doença que visita o seu
corpo ou de um familiar
querido como uma espécie
de “cerca” de Deus para
não nos envolvermos em
comprometimentos morais
maiores de posse da
saúde física?
Você agradece quando o
dinheiro escasseia ou
quando o emprego está
ameaçado para
aprendermos a
administrar melhor o que
temos?
E quando os filhos nos
dão aquela dor de cabeça
que nos leva a exclamar:
“Vou entregá-los para
Deus porque não aguento
mais!”. Deus agradece,
mas tome lá que o filho
é seu! Você agradece por
estar tentando orientar
esse filho que nada mais
é do que um Espírito
necessitado de novos
conselhos?
E quando o
relacionamento conjugal
não vai muito bem e você
pensa assim: “Por que
fui casar com esse homem
ou com essa mulher?
Tinha tantos outros
candidatos ou candidatas
e fui escolher logo esse
ou essa?”. Sempre aquele
com quem não convivemos
é melhor do que aquele
ou aquela que conosco
veio viver debaixo do
mesmo teto por nossa
livre e espontânea
escolha. O marido ideal
ou a esposa perfeita
está naquele ou naquela
com quem não nos
casamos! Você agradece
por ter um cônjuge que
lecione as lições de que
necessita?
Mas, e então? Você
agradece a tudo, como
aconselha Paulo em
Efésios? E por que não?
O culpado está no
espelho. Não no objeto
material coitado que
nada mais faz do que
cumprir o seu papel
refletindo nossa imagem
incansavelmente toda
santa manhã e ouvindo,
pacientemente, nossos
resmungos!
Acostumados a olhar no
espelho desde pequenos,
acabamos por confundir
aquilo que vemos com
aquilo que realmente
somos! E o que vemos? O
ser físico portador de
um nome, uma cédula de
identidade, um título de
eleitor, um CPF, um
endereço, uma profissão
etc. E tudo o que
incomoda essa figura que
acostumamos ver todo
santo dia no espelho nos
tira a fé, a paciência,
a resignação, a
aceitação, a confiança
em Deus. É exatamente
por isso que não
conseguimos agradecer ao
Criador por tudo como
aconselha Paulo. E é
pela mesma razão também
que dissemos que o
culpado está no espelho,
no homem físico que
aprendemos a confundir
com o Espírito imortal
que somos.
Ameaçou aquele ser do
espelho? Protestamos,
reclamamos, blasfemamos,
resmungamos, nos
rebelamos contra a
Providência Divina que
só pode estar enganada e
desembolsamos todo o
rosário de queixas que
nos acostumamos a sacar
de nossa rebeldia contra
os acontecimentos da
existência que ameaçam
“o homem do espelho”!
É por isso também que
não conseguimos dizer
que estamos felizes com
o que temos, como
afirmou Paulo. Se o ser
físico não está como
achamos que deveria
estar, tendo todos os
seus desejos atendidos,
coitado do Criador! Que
feche os ouvidos para
não ouvir tantas
injustiças que saem da
boca do ser mortal que
teve um começo e terá
fatalmente um fim.
Mas ainda existe uma
esperança: desencarnado
não tem imagem no
espelho, de tal modo
que, do lado de lá, não
reclamaremos.
Entretanto, que ninguém
nos leia, você acredita
nisso?
Nem eu...