Mediunidade sempre
existiu. Espiritismo só
a partir
de Kardec
O fenômeno mediúnico
sempre existiu, pois é
uma habilidade inata que
todos os homens possuem,
em maior ou menor grau.
Sua utilização,
entretanto, nem sempre
foi bem orientada.
Nos primórdios da
humanidade, era
praticada apenas pelos
chamados “iniciados”, ou
seja, homens ou mulheres
especialmente treinados
e que, muitas vezes, a
exerciam com fim egoísta
e material. Essa é a
razão pela qual Moisés
chegou a proibir o
intercâmbio mediúnico
(Deuteronômio, Cap. 18,
vs. 9-12), embora Moisés
também fosse médium, o
que bem demonstra que a
sua intenção não era
condenar a mediunidade,
mas coibir os abusos
então existentes.
Mais tarde, a passagem
de Jesus entre nós
marcou a “liberação” do
uso da mediunidade, já
que Ele, em muitas
passagens, afirma,
ensina e exemplifica a
prática mediúnica. É
interessante observar
que, no Novo Testamento,
não há uma única
passagem em que a
proibição de Moisés seja
mencionada. O próprio
Mestre estimulou as
faculdades mediúnicas
nos discípulos
(“conferiu-lhes o
poder”), ordenando que
trabalhassem com elas
(“curai os doentes,
ressuscitai os mortos,
purificai os leprosos,
expulsai os demônios”)
(Mt. 10, vs. 1 e 8.)
Alguns séculos depois,
ignorando a postura de
Jesus, as religiões
dominantes tentaram
novamente proibir a
mediunidade. Não lhes
interessavam as
revelações dos Espíritos
tais como a lei de que a
semeadura é livre, mas a
colheita é obrigatória,
nesta ou numa próxima
reencarnação, ou ainda
que Jesus não se
sacrificou para “pagar”
pelos pecados de toda a
humanidade, mas sim para
nos mostrar o verdadeiro
caminho da salvação. E
assim por diante, ou
seja, nada das lendas
que interessavam ao
poder religioso a fim de
manter o domínio das
mentes.
Como sói acontecer em
tais situações, passaram
então a inventar
mentiras, do tipo “a
mediunidade é obra do
demônio”. E perseguiram
de forma implacável os
que a praticavam, sob a
acusação de serem
feiticeiros.
Entretanto, não se pode
proibir aquilo que faz
parte das leis naturais,
da mesma forma que não
se pode insistir que o
Sol gira ao redor da
Terra, quando a ciência
prova o contrário...
Como toda semente só
germina em terra fértil
e na época certa, os
desígnios superiores
aguardaram o passar dos
séculos, até que as
luzes intelectuais e
científicas permitissem
uma discussão menos
fanática sobre o tema.
E foi aí que surgiu o
Espiritismo, com a
publicação de O Livro
dos Espíritos,
organizado por Allan
Kardec, em 18 de abril
de 1857, marco da nova
fase da evolução humana.
Primeira pergunta de
Kardec aos Espíritos,
contida nessa obra: que
é Deus? (Atenção ao
detalhe, que e
não quem). E a
resposta: “Deus é a
inteligência suprema,
causa primeira de todas
as coisas”.
E segue com perguntas e
respostas cada vez mais
oportunas e inteligentes
sobre a justiça e o
perfeito equilíbrio das
leis divinas.
Pedro Fagundes Azevedo,
ex-presidente da Legião
Espírita de Porto
Alegre, é jornalista.