Damos continuidade nesta edição ao estudo do livro Obras Póstumas, publicado depois da desencarnação de Allan Kardec, mas composto com textos de sua autoria. O presente estudo baseia-se na tradução feita pelo Dr. Guillon Ribeiro, publicada pela editora da Federação Espírita Brasileira.
Questões para debate
31. De que fator depende o aperfeiçoamento do Espírito?
32. A pluralidade das existências se insere nesse propósito?
33. O número de encarnações é limitado ou ilimitado?
34. Que é um Espírito errante?
35. Os Espíritos reencarnam sempre no mesmo planeta?
36. Os Espíritos sempre se manifestaram?
37. O mundo invisível exerce alguma ação sobre o mundo visível?
38. Por que o Espiritismo diz que não há fatos miraculosos ou sobrenaturais?
39. A religião perde ou ganha quando segue o progresso científico?
40. A Doutrina Espírita possui também os seus dogmas?
Respostas às questões propostas
31. De que fator depende o aperfeiçoamento do Espírito?
O aperfeiçoamento do Espírito é o fruto de seu próprio trabalho; ele avança em razão de sua maior ou menor atividade e de sua boa vontade em adquirir as qualidades que lhe faltam. (Obras Póstumas, Profissão de fé espírita raciocinada.)
32. A pluralidade das existências se insere nesse propósito?
Sim. Não podendo o Espírito adquirir, numa só existência corporal, todas as qualidades morais e intelectuais que devem conduzi-lo ao objetivo, ele o alcança por uma sucessão de existências, em cada uma das quais dá alguns passos à frente na senda do progresso e se purifica de algumas de suas imperfeições. A cada nova existência, o Espírito traz o que adquiriu em inteligência e em moralidade em suas existências precedentes, bem como os germes das imperfeições das quais ainda não se despojou. Quando uma existência foi mal empregada pelo Espírito, quer dizer, se ele não fez nenhum progresso no caminho do bem, deverá recomeçá-la em condições mais ou menos penosas, em razão de sua negligência e de sua má vontade. (Obras Póstumas, Profissão de fé espírita raciocinada.)
33. O número de encarnações é limitado ou ilimitado?
O número das existências corpóreas é indeterminado, pois depende da vontade do Espírito abreviá-lo trabalhando ativamente por seu aperfeiçoamento moral. Chegando à condição de Espírito puro, isto é, completamente depurado de suas imperfeições, a encarnação não mais lhe será necessária. (Obras Póstumas, Profissão de fé espírita raciocinada.)
34. Que é um Espírito errante?
É o estado em que se encontra o Espírito desencarnado que ainda necessita reencarnar. No intervalo das existências corpóreas, diz-se então que o Espírito está errante e vive a vida espiritual. A erraticidade não é, porém, de duração determinada. (Obras Póstumas, Profissão de fé espírita raciocinada.)
35. Os Espíritos reencarnam sempre no mesmo planeta?
Não. Quando adquirem, em um planeta, a soma do progresso que o estado desse planeta comporta, eles o deixam, para reencarnarem num outro mais avançado, onde vão adquirir novos conhecimentos, e assim por diante, até que a encarnação em um corpo material não lhes seja necessária. Eles viverão, então, exclusivamente a vida espiritual, onde progridem ainda num outro sentido e por outros meios. Chegados ao ponto culminante do progresso, gozam da suprema felicidade. Admitidos nos conselhos do Onipotente, tornam-se seus mensageiros, seus ministros diretos para o governo dos mundos, tendo sob suas ordens Espíritos de diferentes graus de adiantamento. (Obras Póstumas, Profissão de fé espírita raciocinada.)
36. Os Espíritos sempre se manifestaram?
Sim. As almas ou Espíritos daqueles que viveram constituem o mundo invisível que povoa o espaço e no meio do qual nós vivemos; disso resulta que, desde que há homens, há Espíritos, e que, se estes últimos têm o poder de se manifestar, devem tê-lo feito em todas as épocas. É o que constatam a história e as religiões de todos os povos. (Obras Póstumas, Manifestações dos Espíritos.)
37. O mundo invisível exerce alguma ação sobre o mundo visível?
Evidentemente. Vivendo o mundo visível no meio do mundo invisível, com o qual está em contato perpétuo, disso resulta que reagem incessantemente um sobre o outro. Essa reação é a fonte de uma multidão de fenômenos considerados sobrenaturais por se lhes desconhecer a causa. A ação do mundo invisível sobre o mundo visível, e reciprocamente, é uma das leis, uma das forças da Natureza, necessária à harmonia universal, como a lei da atração; se ela viesse a cessar, a harmonia seria perturbada, como num mecanismo do qual uma engrenagem viesse a ser suprimida. (Obras Póstumas, Manifestações dos Espíritos.)
38. Por que o Espiritismo diz que não há fatos miraculosos ou sobrenaturais?
A razão disso é simples. O caráter do fato miraculoso é ser insólito e excepcional; é uma derrogação das leis da Natureza. Ora, desde que um fenômeno se reproduz em condições idênticas, é que ele está submetido a uma lei e, portanto, não pode ser tachado de miraculoso. Essa lei pode ser desconhecida, mas nem por isso ela existe menos, e o tempo se encarregará de fazê-la conhecer. A paralisação do movimento do Sol, ou melhor, da Terra, atribuída na Bíblia a Josué, seria um verdadeiro milagre, porque constituiria uma derrogação manifesta da lei que rege o movimento dos astros; mas, se o fato pudesse se reproduzir nas condições dadas, é que estaria submetido a uma lei e deixaria, por conseguinte, de ser miraculoso. A Igreja se assusta em ver restringir-se o círculo dos fatos miraculosos, mas tal preocupação não se justifica porque Deus prova melhor sua grandeza e seu poder pelo admirável conjunto de suas leis do que por algumas infrações a essas mesmas leis. (Obras Póstumas, Manifestações dos Espíritos.)
39. A religião perde ou ganha quando segue o progresso científico?
A religião só tem a ganhar, porquanto os fatos constatados pela ciência, de maneira peremptória, não podem ser negados por nenhuma crença religiosa. A religião não pode senão ganhar em autoridade seguindo o progresso dos conhecimentos científicos, ao passo que perderá muito se permanecer atrasada ou se protestar contra esses mesmos conhecimentos em nome dos dogmas, porque nenhum dogma pode prevalecer contra as leis da Natureza. (Obras Póstumas, Manifestações dos Espíritos.)
40. A Doutrina Espírita possui também os seus dogmas?
Não. O Espiritismo, fundado sobre o conhecimento de leis até então incompreendidas, não vem destruir os fatos religiosos, mas sancioná-los, dando-lhes uma explicação racional. Ele não vem destruir senão as falsas consequências que deles foram deduzidas, em consequência da ignorância dessas leis ou de sua interpretação errônea. Por tal motivo, não existem dogmas no Espiritismo. (Obras Póstumas, Manifestações dos Espíritos.)