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Internacional
Ano 9 - N° 458 - 27 de Março de 2016
JÚLIO ZACARCHENCO
juliokachenco@gmail.com
Sumaré, SP (Brasil)
 


Um sucesso a 6ª Conferência Espírita da Flórida

 O Darden Auditorium, de Orlando, onde o evento foi realizado, ficou inteiramente lotado


Realizou-se nos dias 12 e 13 de março em Orlando, Flórida (EUA), a 6ª Conferência Espírita da Flórida, que teve como tema “Desvendando a Morte, o Céu e o Inferno”. Os palestrantes convidados foram Divaldo P. Franco, Haroldo Dutra Dias e Daniel Assisi.

O evento ocorreu no Darden Auditorium, com capacidade para 420 pessoas, que pertence ao campus da University of Central Florida - Rosen College of Hospitality Management. O auditório ficou inteiramente lotado com pessoas provenientes de diversas partes dos Estados Unidos e de outros países.

Abrindo os trabalhos pela manhã, Haroldo Dutra Dias discorreu sobre o tema “Justiça Divina: O Código Penal da Vida Futura”, analisando o conteúdo da terceira parte do capítulo VII, da obra “O Céu e o Inferno”, de Allan Kardec.

Fundamentado na proposição kardequiana que assevera que cada indivíduo receberá da vida os efeitos das próprias obras, seja na Terra como no mundo dos Espíritos, Haroldo discorreu sobre a imortalidade da alma, a lei de causa e efeito, a lei divina, as imperfeições morais como causa direta de nossos sofrimentos, a transformação moral dos indivíduos, o processo de reparação de nossos equívocos e de erradicação de nossas más inclinações.

Na sequência, Daniel Assisi falou sobre o tema “A Passagem”, embasado no capítulo I da segunda parte da já citada obra “O Céu e o Inferno”, analisando, dentre outros tópicos, o processo de desencarnação, a percepção e as sensações de cada indivíduo na transição da vida física para a vida espiritual, as causas dos possíveis sofrimentos no passamento, a relação entre a conexão mais ou menos intensa do períspirito com o corpo físico e o processo de desencarnação e a influência do desenvolvimento moral do Espírito sobre o mesmo processo. 

Umbral e inferno são termos equivalentes? 

No período da tarde, Daniel Assisi proferiu a palestra: “O umbral é uma versão moderna do inferno?” O início de sua apresentação trouxe um estudo comparativo da compreensão do inferno pelas principais doutrinas filosóficas e religiosas ancestrais, demonstrando quanto, de alguma forma, muitos de nós ainda estamos impregnados dessas ideias mitológicas. Em sua análise, esclareceu que, quase invariavelmente, as doutrinas que pregam a existência do inferno relacionam a presença de almas nesse ambiente com transgressões a leis divinas praticadas por aqueles indivíduos.

Avançando em sua exposição, Daniel apresentou o conceito espírita de inferno, contido na obra “O Céu e o Inferno”, de Kardec, e de umbral, presente na obra “Nosso Lar”, do Espírito André Luiz, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier. O umbral, segundo explicado, seria uma região destinada ao esgotamento de resíduos mentais deletérios, onde os Espíritos ainda perturbados permaneceriam até atingirem condições mínimas para habitarem esferas superiores. Seria, então, uma região meramente de transição, “habitat” temporário daqueles Espíritos, uma vez que a lei divina é de progresso para todos os seres.

O ponto fundamental apresentado na conferência foi que o Espírito é dotado de inteligência e possui em si a lei divina a indicar-lhe o caminho da plenitude, sendo livre para realizar as próprias escolhas, com a obrigação de assumir a responsabilidade perante os seus atos, e com a possibilidade inesgotável de sempre refazer caminhos, adotar novas atitudes, no seu processo constante de aprendizagem e aperfeiçoamento intelecto-moral e espiritual.

A conferência de encerramento do sábado ficou a cargo do médium Divaldo Franco, que discorreu sobre o tema “O Céu Aqui, Agora e Amanhã”.

Sua apresentação partiu da análise que o codificador do Espiritismo, Allan Kardec, fez a respeito da criatura humana: sua origem, natureza e destinação após a morte física. 

Considerando que a vida espiritual é um fato da Natureza, esclareceu que foi Kardec quem aprofundou as investigações científicas em torno da imortalidade do ser, apresentando o até então desconhecido mundo dos Espíritos, por meio das experiências mediúnicas, sem as fantasias, superstições e falsas ideias que existiam sobre o tema, isto é, desmistificando os conceitos de maravilhoso e sobrenatural, para revelar esse reino espiritual como uma das dimensões da realidade existencial pertencentes aos fenômenos naturais.  

Objetivos das jornadas reencarnatórias 

Seguindo com sua explicação, destacou que a vida do Espírito é una, tendo sido criado simples e sem conhecimento, para que adquirisse experiência, conhecimento e valores morais positivos por meio de esforços pessoais nas múltiplas reencarnações, ou existências físicas sucessivas, utilizando-se, para isso, de diferentes corpos físicos, até que atinja a perfeição relativa a que todos estamos destinados.

Tais experiências físicas seriam, então, fundamentais para fomentar o progresso do ser humano, como indivíduo e também coletivamente, não apenas através do aprendizado adquirido no enfrentamento das vicissitudes da vida, mas, ainda, pelo fato de poder concorrer para a obra geral do bem e, com isso, adiantar-se moral e espiritualmente.

Divaldo recordou-nos que as jornadas reencarnatórias para Espíritos que ainda não atingiram a perfeição são, normalmente, marcadas por dificuldades de variada ordem, alguns ou muitos deslizes morais, que acabam por gerar desequilíbrios psicológicos e energéticos no ser espiritual e comprometendo, em razão da lei de causa e efeito, o seu futuro.

Nesse ponto da conferência, foram abordadas as diferentes propostas filosóficas e religiosas sobre céu, inferno e purgatório, conforme constante da quarta obra da codificação espírita, “O Céu e o Inferno”, demonstrando-se que esses termos representam, em verdade, estados de consciência do ser humano, de equilíbrio ou desequilíbrio, de paz ou de tormento interior, de alegria ou de sofrimento, e não espaços geográficos.

Tomando como base de reflexão a proposta espírita sobre céu e inferno, o médium asseverou que nos cumpre buscar a melhor forma de evitarmos os estados de consciência perturbadores e adquirirmos uma consciência pacificada e feliz, e que isso somente seria possível mediante a vivência do Amor, consoante a mensagem contida no Evangelho de Jesus.

Referindo-se à obra “Jesus Psicoterapeuta”, da conhecida psicóloga alemã Hanna Wolff, afirmou que ninguém nunca falou sobre o Amor como Jesus o ensinou e exemplificou, porque Ele estabeleceu a lei de Amor não como mera mensagem de cunho religioso, senão como verdadeira proposta psicoterapêutica de profundidade, capaz de sanar nossos desequilíbrios morais, psicológicos e espirituais mais graves.  

O autoperdão e sua importância na vida 

Divaldo prosseguiu em suas considerações a respeito da inferioridade espiritual dos indivíduos que habitam a Terra, elucidando sobre a sombra que quase todos trazemos interiormente, dentro da concepção junguiana, e sobre o ego a sobrepor-se ao Self (ser profundo), sendo necessário iluminar o mundo íntimo com o conhecimento e a vivência das leis divinas, especialmente no que tange à experiência do autoperdão, que é uma das formas de manifestação do Amor.

Para ilustrar sua dissertação, o orador narrou a história de Ilse, uma senhora polonesa, sobrevivente do Holocausto, que foi paciente do psicanalista estadunidense Dr. James Hollis, e cujo caso foi descrito no livro “Os Pantanais da Alma”, de autoria do referido terapeuta. Essa senhora procurou o Dr. Hollis para uma única consulta, na qual apresentaria o seu drama, segundo ela mesma, não para que ele a orientasse ou tratasse, mas tão somente para que fosse ouvida. Tendo-lhe enviado uma foto previamente à sessão, Ilse esclareceu-o quanto àquela imagem. Ela foi presa em sua cidade natal, na Polônia, e, embora cristã, foi levada para o campo nazista de Majdanek. Durante a separação dos presos, quando alguns seriam enviados para o grupo de trabalhos forçados e outros para a câmara de gás letal, avistou à sua frente uma mãe com duas crianças pequenas. Essa mãe fora selecionada para o primeiro grupo e as crianças, para a morte. Na sequência, Ilse foi também selecionada para o grupo de trabalhos forçados, mas o soldado impôs-lhe uma condição: conduzir as crianças até a câmara, o que fez. No exato momento em que assim procedia, alguém tirou uma foto, que somente muitos anos mais tarde, já vivendo nos EUA, ela teria oportunidade de ver, o que lhe traria de volta todo o conflito de culpa que havia conseguido abafar ao longo do tempo. Cerca de cinquenta anos depois do Holocausto, o seu “inferno” continuava a ser a memória daquilo que considerava ter sido uma covardia moral de sua parte; era a chamada síndrome do sobrevivente. Após mudar-se para os Estados Unidos, tentou ser judia, mas não se adaptou à doutrina. Mesmo assim, manteve a lembrança de que, naquela cultura, dizia-se que alguém poderia libertar-se da culpa por misericórdia dos “céus”, caso 24 pessoas justas lhe ouvissem a história. Por isso, buscou o Dr. Hollis.  

É a dor uma bênção que Deus nos envia? 

Divaldo também narrou uma vivência pessoal para mostrar o poder do perdão, do autoperdão e do Amor, descrevendo um processo de obsessão espiritual que sofreu por mais de 40 anos, resultado de um evento ocorrido em uma reencarnação remota, na qual seu comportamento teria magoado profundamente o Espírito que o perseguia nesta existência. Em determinada oportunidade, sentindo-se desdobrado do corpo físico, teve uma visão ideoplástica de Jesus, que o indagou se O amava realmente e pedindo-lhe o testemunho desse Amor por meio do perdão para aqueles que o tinham ofendido, para os que o estavam perseguindo, para aqueles que possivelmente o feririam e, por fim, para consigo mesmo. E, assim procedendo, pôde ele estabelecer novo estado de relação com o seu antigo adversário e consigo mesmo, alijando a culpa de si e experienciando, a partir de então, a paz interior.

Na conclusão de suas reflexões, Divaldo recordou-nos a mensagem intitulada “A Paciência”, contida na obra O Evangelho segundo o Espiritismo, na qual se dize que “a dor é uma bênção que Deus envia aos seus eleitos”, pois que as nossas dores têm causas justas, atuais ou anteriores a esta existência, geradas por nós mesmos, sendo a presente reencarnação a manifestação da misericórdia divina que nos facultou a possibilidade do recomeço para o devido trabalho de reequilíbrio de nosso mundo interior, a fim de que, pelo amor a Deus, ao próximo e a si mesmos, possamos alcançar nossa própria iluminação e vivermos em plenitude.

Após um intervalo para autógrafos, os palestrantes da tarde, Divaldo Franco e Daniel Assisi, retornaram para responder às perguntas sobre os temas das conferências, destacando-se os esclarecimentos sobre abortamento, os casos atuais de microcefalia e evangelização espírita infantojuvenil. 

Jesus é a verdadeira mensagem 

O segundo dia da Conferência da Flórida, no dia 13 de março, teve como subtema “Uma Jornada Pessoal para se Vivenciar o Céu”.

Discorrendo sobre “Pérolas do Evangelho: Tesouros do Coração”, Haroldo Dutra Dias apresentou uma abordagem menos histórica e mais transcendente da figura de Jesus, considerando que, se de um lado os dados históricos sobre o Nazareno não sobejam, de outro, a força da sua mensagem segue avultando-se ao longo dos séculos. Utilizando-se das lentes do Espiritismo para falar sobre Jesus - as quais possibilitam aos indivíduos uma compreensão mais profunda e ampla de sua existência, ensinamentos e exemplos-, o conferencista concluiu que o Mestre é a verdadeira mensagem, o verbo de Deus para a Humanidade, a revelar para todos nós os aspectos inabordáveis, até então, do Amor. Haroldo encerrou sua palestra, destacando uma interessante observação a respeito da existência de Jesus: Ele utilizava-se de todos os Seus poderes para consolar as dores alheias, para socorrer, amparar, ensinar, servir ao próximo, mas nos momentos mais graves de sua experiência carnal, notadamente nos episódios de sua prisão, condenação e crucificação, Ele não usou de nenhum outro poder transcendente senão o do Seu mais puro Amor, chegando mesmo, do alto da cruz, a rogar a Deus perdão paras todos os seus algozes.

No bloco de perguntas e respostas, Divaldo Franco e Haroldo Dutra Dias responderam a várias dúvidas do público, dentre as quais, a prática do abortamento, a identificação do ser com Jesus, a misericórdia divina, Jesus e a valorização da mulher.

No período da tarde, Divaldo Franco realizou o minisseminário, em dois módulos, sobre o tema “O Cavaleiro da Armadura Enferrujada”, baseado na obra homônima de autoria de Robert Fisher. Conforme esclarecido pelo orador, a proposta desse seminário seria fazer uma abordagem do conteúdo do livro à luz do Espiritismo, oferecendo ao público recursos terapêuticos que facilitassem a solução de nossos conflitos íntimos, a fim de vivermos em plenitude. Ao longo da narrativa da estória, o público teria, então, a oportunidade de realizar uma verdadeira jornada interior, em busca do si profundo, tomando-se conhecimento dos conteúdos do ego, das sombras, num intento de libertação dos conflitos para a vivência da paz.  

O Cavaleiro da Armadura Enferrujada 

Como preparação para a viagem do autodescobrimento e da autoiluminação, foram apresentados,  didaticamente, alguns conceitos da Psicologia Analítica, a saber, o consciente, o inconsciente  coletivo e o individual, os arquétipos, o ego, o Self, a sombra, “anima” e “animus”, os processos de associações etc.

Na sequência, o público pôde acompanhar a narrativa da estória sobre um cavaleiro que, ao longo de muitos anos, habituou-se a manter-se vestido com sua armadura de ferro, que acabou enferrujando. Ele era casado e tinha um filho, mas seu relacionamento com a família era muito distante e difícil. Havia nele uma necessidade de intrometer-se nas vidas alheias, sob a alegação de que tinha o dever de salvar os indivíduos, esquecendo-se, contudo, da necessidade primordial de “salvar-se a si mesmo”. Após uma discussão com a esposa, que o acusava da ausência doméstica e da indiferença pela própria família, aborrecido, decidiu o cavaleiro afastar-se do domicílio e realizar uma viagem. Nessa viagem, ele passou a ter contato com outros personagens, com os quais se relacionou e que o ajudaram a refletir sobre a própria existência. Por fim, o  cavaleiro  considerou  que  já era tempo de retirar a armadura, pois que ela, de fato, gerava-lhe muitos problemas. Mas isso não foi possível de imediato, uma vez que ela já se encontrava muito enferrujada e de difícil remoção. Um dos personagens que encontrou em sua viagem disse-lhe  que, para que lograsse a retirada da armadura, seria necessário atravessar uma determinada  trilha onde encontraria  três  castelos:  o  do  silêncio,  o  do  conhecimento  e  o  da  vontade  e  ousadia. Ser-lhe-ia indispensável permanecer certo tempo em cada um deles, para lhes aprender as lições, de modo a estar apto a seguir para o seguinte e, ali, ter novas experiências e aprendizados. E assim procedeu o cavaleiro, em verdadeira jornada de autoconhecimento. Passando por cada castelo, ele pôde introjetar os diferentes ensinamentos que cada experiência lhe ofertava, refletir sobre a própria  vida, conhecer mais de si mesmo, ao tempo em que também mudou a estrutura de seus pensamentos, substituiu comportamentos perturbadores por outros mais saudáveis, eliminou conflitos e culpas, lidou com o ego etc. A cada etapa desse processo,  parte de sua armadura (ego) desprendia-se de seu corpo, até que, por fim, ele viu-se totalmente livre e pleno. Ao final, segundo a narrativa, o cavaleiro era um com o Universo, ele era Amor! 

Porque perdemos o contato com o Self 

Divaldo esclareceu que a viagem do cavaleiro pela trilha, visitando cada um daqueles castelos, é bem a viagem de autodescobrimento e de autoiluminação de todos nós, que a armadura é o nosso ego, as nossas máscaras,  as  personas  a  que  se referia Carl Gustav Jung.  Segundo ele, ao longo de nossa jornada evolutiva, criamos em nós condicionamentos negativos que se tornam  uma segunda  natureza  em  nós;  passamos  a  usar  máscaras  que  compõem  a  nossa  personalidade e que  servem para agradar  as  convenções  sociais. O resultado inevitável disso é perdermos o contato com o Self, isto é, com o nosso ser profundo, a nossa realidade espiritual.

Realizando a ponte entre o conhecimento espírita e o pensamento científico, notadamente dos eminentes psiquiatras Milton H. Erickson, Carl Gustav Jung, Viktor Frankl, e dos físicos quânticos Dr. David Bohm e Dr. Stewart Wolf, o orador asseverou que é necessário que façamos a viagem interior, em busca do conhecimento da Verdade, dessas leis divinas que estão escritas em nós, para que tomemos consciência de que somos Espíritos imortais e de que a nossa meta  psicológica  profunda  deve  ser  a imortalidade, amando sempre a Deus, ao próximo e a nós mesmos,  vencendo  os  nossos  medos  e  dúvidas,  eliminando  as nossas imperfeições morais e estabelecendo, assim, a conexão entre o ego e o Self, de maneira a atingirmos a comunhão plena com Jesus e com Deus.

O seminário foi concluído com a declamação do belíssimo “Poema da Gratidão”, de autoria do Espírito Amélia Rodrigues.

A 6ª Conferência Espírita da Flórida foi encerrada com a mensagem de que maior do que qualquer liberdade democrática que uma nação possa alcançar está “a verdadeira liberdade que somente se dá através da libertação das consciências”.



 


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