Uma leitora pergunta-nos o
que é fluidoterapia e qual a
diferença entre a ação
magnética realizada nos
trabalhos ditos de
fluidoterapia e os passes
magnéticos ministrados
regularmente nas Casas
Espíritas.
Fluidoterapia é nome que se
dá ao tratamento feito com
fluidos. Compreende a ação
magnética expressa pelos
chamados passes, pelas
irradiações ou vibrações e
pela magnetização ou
fluidificação da água.
Allan Kardec, que conheceu e
praticou o magnetismo por 35
anos, como ele mesmo
informou em texto publicado
na Revista Espírita, não
usou em sua obra o termo
fluidoterapia, mas sim a
expressão “ação magnética”,
que ele examinou em todas as
suas minúcias no cap. XIV,
item 33, do livro A
Gênese, adiante
reproduzido:
33. - A ação magnética pode
produzir-se de muitas
maneiras:
1º pelo próprio fluido do
magnetizador; é o magnetismo
propriamente dito, ou
magnetismo humano, cuja ação
se acha adstrita à força e,
sobretudo, à qualidade do
fluido;
2º pelo fluido dos
Espíritos, atuando
diretamente e sem
intermediário sobre um
encarnado, seja para o curar
ou acalmar um sofrimento,
seja para provocar o sono
sonambúlico espontâneo, seja
para exercer sobre o
indivíduo uma influência
física ou moral qualquer. É
o magnetismo espiritual,
cuja qualidade está na razão
direta das qualidades do
Espírito;
3º pelos fluidos que os
Espíritos derramam sobre o
magnetizador, que serve de
veículo para esse
derramamento. É o magnetismo
misto, semiespiritual, ou,
se o preferirem,
humano-espiritual. Combinado
com o fluido humano, o
fluido espiritual lhe
imprime qualidades de que
ele carece. Em tais
circunstâncias, o concurso
dos Espíritos é amiúde
espontâneo, porém, as mais
das vezes, provocado por um
apelo do magnetizador.
A respeito do concurso dos
Espíritos, mencionado no
texto acima, lemos no cap.
XIV de O Livro dos
Médiuns, de autoria de
Allan Kardec:
176. Eis aqui as respostas
que nos deram os Espíritos
às perguntas que lhes
dirigimos sobre este
assunto:
2ª. Entretanto, o médium é
um intermediário entre os
Espíritos e o homem; ora, o
magnetizador, haurindo em si
mesmo a força de que se
utiliza, não parece que seja
intermediário de nenhuma
potência estranha.
"É um erro; a força
magnética reside, sem
dúvida, no homem, mas é
aumentada pela ação dos
Espíritos que ele chama em
seu auxílio. Se magnetizas
com o propósito de curar,
por exemplo, e invocas um
bom Espírito que se
interessa por ti e pelo teu
doente, ele aumenta a tua
força e a tua vontade,
dirige o teu fluido e lhe dá
as qualidades necessárias."
O socorro espiritual que o
magnetizador espírita recebe
para que possa auxiliar uma
pessoa enferma foi objeto
também de uma mensagem
transmitida por Mesmer
(Espírito), em 18/12/1863,
na Sociedade Espírita de
Paris:
"Esse socorro que (Deus)
envia são os bons Espíritos
que vêm penetrar o médium de
seu fluido benéfico, que é
transmitido ao doente."
(...) "Também é por isto que
o magnetismo empregado pelos
médiuns curadores é tão
potente e produz essas curas
qualificadas de miraculosas,
e que são devidas
simplesmente à natureza do
fluido derramado sobre o
médium; ao passo que o
magnetizador ordinário se
esgota, por vezes em vão, a
fazer passes, o médium
curador infiltra um fluido
regenerador pela simples
imposição das mãos, graças
ao concurso dos bons
Espíritos". (Revista
Espírita de janeiro de 1864,
Edicel, pág. 7.)
Para utilizar tais recursos
é preciso ser magnetizador?
Allan Kardec elucidou essa
questão no texto abaixo
reproduzido:
"Se a mediunidade curadora
pura é privilégio das almas
de escol, a possibilidade de
suavizar certos sofrimentos,
mesmo de curar, ainda que
não instantaneamente, umas
tantas moléstias, a todos é
dada, sem que haja
necessidade de ser
magnetizador. O conhecimento
dos processos magnéticos é
útil em casos complicados,
mas não indispensável. Como
a todos é dado apelar aos
bons Espíritos, orar e
querer o bem, muitas vezes
basta impor as mãos sobre a
dor para a acalmar; é o que
pode fazer qualquer um, se
trouxer a fé, o fervor, a
vontade e a confiança em
Deus. É de notar que a maior
parte dos médiuns curadores
inconscientes, os que não se
dão conta de sua faculdade,
e que por vezes são
encontrados nas mais
humildes posições e em gente
privada de qualquer
instrução, recomendam a
prece e se entreajudam
orando. Apenas sua
ignorância lhes faz crer na
influência desta ou daquela
fórmula." (Revista
Espírita de setembro de
1865, Edicel, pág. 254.)
Emmanuel, em sua conhecida
obra O Consolador,
publicada em 1941 pela FEB,
respondeu a duas perguntas
objetivas a propósito do
passe e de sua aplicação nos
processos de cura, que é um
dos objetivos dos trabalhos
ditos de fluidoterapia:
98 – Nos processos de
cura, como deveremos
compreender o passe?
“Assim como a transfusão de
sangue representa uma
renovação das forças
físicas, o passe é uma
transfusão de energias
psíquicas, com a diferença
de que os recursos orgânicos
são retirados de um
reservatório limitado, e os
elementos psíquicos o são do
reservatório ilimitado das
forças espirituais.”
99 – Como deve ser
recebido e dado o passe?
“O passe poderá obedecer à
fórmula que forneça maior
porcentagem de confiança,
não só a quem o dá, como a
quem o recebe. Devemos
esclarecer, todavia, que o
passe é a transmissão de uma
força psíquica e espiritual,
dispensando qualquer
contacto físico na sua
aplicação.”
Foi assim, com base nas
orientações citadas, que
José Herculano Pires, o
autor espírita de maior
renome no meio espírita
brasileiro, escreveu:
"O passe espírita é
simplesmente a imposição das
mãos, usada e ensinada por
Jesus, como se vê nos
Evangelhos. Origina-se das
práticas de cura do
Cristianismo Primitivo. Sua
fonte humana e divina são as
mãos de Jesus. O passe
espírita não comporta as
encenações e gesticulações
em que hoje o envolveram
alguns teóricos
improvisados, geralmente
ligados a antigas correntes
espiritualistas de origem
mágica ou feiticista. Todo o
poder e toda a eficácia do
passe espírita dependem do
espírito e não da matéria,
da assistência espiritual do
médium passista e não dele
mesmo. Os passes
padronizados e classificados
derivam de teorias e
práticas mesméricas,
magnéticas e hipnóticas de
um passado há muito
superado. Os Espíritos
realmente elevados não
aprovam nem ensinam essas
coisas, mas apenas a prece e
a imposição das mãos. Toda a
beleza espiritual do passe
espírita, que provém da fé
racional no poder
espiritual, desaparece ante
as ginásticas pretensiosas e
ridículas gesticulações.”
(Obsessão, o passe, a
doutrinação, editora Paideia,
págs. 35 a 37.)
Respondendo, então, à
pergunta da leitora,
entendemos que a ação
magnética utilizada nas
Casas Espíritas é do tipo
misto, em que, conforme
vimos, há participação de
Espíritos, que aumentam a
vontade e a força magnética,
dão qualidade aos fluidos do
médium passista, e os
dirigem, de modo que atinjam
no paciente a área
necessitada de tratamento.
A diferença entre o passe
dado nas câmaras e o passe
ministrado nas chamadas
reuniões de fluidoterapia
está na intensidade, na
duração, mas o mecanismo é o
mesmo.
Nas reuniões ditas de
fluidoterapia, o grupo
espírita sabe com quem está
lidando. Afinal, as pessoas
informam, na entrevista
inicial, qual o motivo que
as levou até o grupo
espírita. Desse modo, é
razoável admitir que os
médiuns direcionem as mãos
sobre os chacras do enfermo,
atendendo a uma possível
inspiração, sem necessidade,
porém, do contato físico.
Sobre contato físico entre
médium e paciente, e sua
inconveniência, há inúmeras
referências em livros
escritos por Emmanuel, André
Luiz, Manoel Philomeno de
Miranda, José Herculano
Pires, Edgard Armond, Roque
Jacintho, bem como na
Orientação ao Centro
Espírita editada pelo
Conselho Federativo Nacional
e, também, na orientação
sobre passes constante do
COEM – Centro de Orientação
e Educação Mediúnica,
programa de estudo da
mediunidade muito conhecido
e no qual o "Nosso Lar"
fundamenta suas atividades
mediúnicas desde o final da
década de 1970.
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