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O Espiritismo responde
Ano 9 - N° 458 - 27 de Março de 2016
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 
BLOG
ESPIRITISMO SÉCULO XXI
 


 
Uma leitora pergunta-nos o que é fluidoterapia e qual a diferença entre a ação magnética realizada nos trabalhos ditos de fluidoterapia e os passes magnéticos ministrados regularmente nas Casas Espíritas.

Fluidoterapia é nome que se dá ao tratamento feito com fluidos. Compreende a ação magnética expressa pelos chamados passes, pelas irradiações ou vibrações e pela magnetização ou fluidificação da água.

Allan Kardec, que conheceu e praticou o magnetismo por 35 anos, como ele mesmo informou em texto publicado na Revista Espírita, não usou em sua obra o termo fluidoterapia, mas sim a expressão “ação magnética”, que ele examinou em todas as suas minúcias no cap. XIV, item 33, do livro A Gênese, adiante reproduzido: 

33. - A ação magnética pode produzir-se de muitas maneiras:

 

1º pelo próprio fluido do magnetizador; é o magnetismo propriamente dito, ou magnetismo humano, cuja ação se acha adstrita à força e, sobretudo, à qualidade do fluido;

 

2º pelo fluido dos Espíritos, atuando diretamente e sem intermediário sobre um encarnado, seja para o curar ou acalmar um sofrimento, seja para provocar o sono sonambúlico espontâneo, seja para exercer sobre o indivíduo uma influência física ou moral qualquer. É o magnetismo espiritual, cuja qualidade está na razão direta das qualidades do Espírito;

 

3º pelos fluidos que os Espíritos derramam sobre o magnetizador, que serve de veículo para esse derramamento. É o magnetismo misto, semiespiritual, ou, se o preferirem, humano-espiritual. Combinado com o fluido humano, o fluido espiritual lhe imprime qualidades de que ele carece. Em tais circunstâncias, o concurso dos Espíritos é amiúde espontâneo, porém, as mais das vezes, provocado por um apelo do magnetizador. 

A respeito do concurso dos Espíritos, mencionado no texto acima, lemos no cap. XIV de O Livro dos Médiuns, de autoria de Allan Kardec: 

176. Eis aqui as respostas que nos deram os Espíritos às perguntas que lhes dirigimos sobre este assunto:

 

2ª. Entretanto, o médium é um intermediário entre os Espíritos e o homem; ora, o magnetizador, haurindo em si mesmo a força de que se utiliza, não parece que seja intermediário de nenhuma potência estranha.

"É um erro; a força magnética reside, sem dúvida, no homem, mas é aumentada pela ação dos Espíritos que ele chama em seu auxílio. Se magnetizas com o propósito de curar, por exemplo, e invocas um bom Espírito que se interessa por ti e pelo teu doente, ele aumenta a tua força e a tua vontade, dirige o teu fluido e lhe dá as qualidades necessárias." 

O socorro espiritual que o magnetizador espírita recebe para que possa auxiliar uma pessoa enferma foi objeto também de uma mensagem transmitida por Mesmer (Espírito), em 18/12/1863, na Sociedade Espírita de Paris: 

"Esse socorro que (Deus) envia são os bons Espíritos que vêm penetrar o médium de seu fluido benéfico, que é transmitido ao doente." (...) "Também é por isto que o magnetismo empregado pelos médiuns curadores é tão potente e produz essas curas qualificadas de miraculosas, e que são devidas simplesmente à natureza do fluido derramado sobre o médium; ao passo que o magnetizador ordinário se esgota, por vezes em vão, a fazer passes, o médium curador infiltra um fluido regenerador pela simples imposição das mãos, graças ao concurso dos bons Espíritos". (Revista Espírita de janeiro de 1864, Edicel, pág. 7.) 

Para utilizar tais recursos é preciso ser magnetizador? Allan Kardec elucidou essa questão no texto abaixo reproduzido: 

"Se a mediunidade curadora pura é privilégio das almas de escol, a possibilidade de suavizar certos sofrimentos, mesmo de curar, ainda que não instantaneamente, umas tantas moléstias, a todos é dada, sem que haja necessidade de ser magnetizador. O conhecimento dos processos magnéticos é útil em casos complicados, mas não indispensável. Como a todos é dado apelar aos bons Espíritos, orar e querer o bem, muitas vezes basta impor as mãos sobre a dor para a acalmar; é o que pode fazer qualquer um, se trouxer a fé, o fervor, a vontade e a confiança em Deus. É de notar que a maior parte dos médiuns curadores inconscientes, os que não se dão conta de sua faculdade, e que por vezes são encontrados nas mais humildes posições e em gente privada de qualquer instrução, recomendam a prece e se entreajudam orando. Apenas sua ignorância lhes faz crer na influência desta ou daquela fórmula." (Revista Espírita de setembro de 1865, Edicel, pág. 254.) 

Emmanuel, em sua conhecida obra O Consolador, publicada em 1941 pela FEB, respondeu a duas perguntas objetivas a propósito do passe e de sua aplicação nos processos de cura, que é um dos objetivos dos trabalhos ditos de fluidoterapia: 

98 – Nos processos de cura, como deveremos compreender o passe?

“Assim como a transfusão de sangue representa uma renovação das forças físicas, o passe é uma transfusão de energias psíquicas, com a diferença de que os recursos orgânicos são retirados de um reservatório limitado, e os elementos psíquicos o são do reservatório ilimitado das forças espirituais.”

 

99 – Como deve ser recebido e dado o passe?

“O passe poderá obedecer à fórmula que forneça maior porcentagem de confiança, não só a quem o dá, como a quem o recebe. Devemos esclarecer, todavia, que o passe é a transmissão de uma força psíquica e espiritual, dispensando qualquer contacto físico na sua aplicação.” 

Foi assim, com base nas orientações citadas, que José Herculano Pires, o autor espírita de maior renome no meio espírita brasileiro, escreveu: 

"O passe espírita é simplesmente a imposição das mãos, usada e ensinada por Jesus, como se vê nos Evangelhos. Origina-se das práticas de cura do Cristianismo Primitivo. Sua fonte humana e divina são as mãos de Jesus. O passe espírita não comporta as encenações e gesticulações em que hoje o envolveram alguns teóricos improvisados, geralmente ligados a antigas correntes espiritualistas de origem mágica ou feiticista. Todo o poder e toda a eficácia do passe espírita dependem do espírito e não da matéria, da assistência espiritual do médium passista e não dele mesmo. Os passes padronizados e classificados derivam de teorias e práticas mesméricas, magnéticas e hipnóticas de um passado há muito superado. Os Espíritos realmente elevados não aprovam nem ensinam essas coisas, mas apenas a prece e a imposição das mãos. Toda a beleza espiritual do passe espírita, que provém da fé racional no poder espiritual, desaparece ante as ginásticas pretensiosas e ridículas gesticulações.” (Obsessão, o passe, a doutrinação, editora Paideia, págs. 35 a 37.)

Respondendo, então, à pergunta da leitora, entendemos que a ação magnética utilizada nas Casas Espíritas é do tipo misto, em que, conforme vimos, há participação de Espíritos, que aumentam a vontade e a força magnética, dão qualidade aos fluidos do médium passista, e os dirigem, de modo que atinjam no paciente a área necessitada de tratamento.

A diferença entre o passe dado nas câmaras e o passe ministrado nas chamadas reuniões de fluidoterapia está na intensidade, na duração, mas o mecanismo é o mesmo.

Nas reuniões ditas de fluidoterapia, o grupo espírita sabe com quem está lidando. Afinal, as pessoas informam, na entrevista inicial, qual o motivo que as levou até o grupo espírita. Desse modo, é razoável admitir que os médiuns direcionem as mãos sobre os chacras do enfermo, atendendo a uma possível inspiração, sem necessidade, porém, do contato físico.

Sobre contato físico entre médium e paciente, e sua inconveniência, há inúmeras referências em livros escritos por Emmanuel, André Luiz, Manoel Philomeno de Miranda, José Herculano Pires, Edgard Armond, Roque Jacintho, bem como na Orientação ao Centro Espírita editada pelo Conselho Federativo Nacional e, também, na orientação sobre passes constante do COEM – Centro de Orientação e Educação Mediúnica, programa de estudo da mediunidade muito conhecido e no qual o "Nosso Lar" fundamenta suas atividades mediúnicas desde o final da década de 1970.


 


 
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