EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Tristeza:
sentimento e
recurso
Um dos passos
essenciais em
direção à
alegria é
claramente não
negar a própria
realidade de
imperfeições,
pois a paciência
em relação a si
mesmo é sinal da
confiança na
determinante
evolutiva.
Aceitar o
compromisso de
educar-se para
uma vida com
qualidade
(distinta de uma
vida com
quantidade),
embora
intrínseca seja
a presença da
falibilidade,
sugere o
entendimento de
que se a dor
aparecer,
certamente cada
um de nós
disporá de
instrumentos
internos para
atravessá-la com
a maior
dignidade
possível, ao
menos, pois
erros e
fracassos
participam da
trama do
crescimento
interior.
Cada um tem uma
maneira singular
de encarnar a
inteligência e
expressar seus
dons e
potencialidades.
Logo, é uma
falta de senso
imitar ou
comparar-se.
Sempre ouvi
dizer que aquele
que insiste na
comparação se
inclina ao
enfraquecimento,
pois embota sua
forma particular
de ser e, com
isso, dá munição
para uma vida
que não consegue
oferecer-se e,
esclerosada,
tende a orientar
lamúrias e
amarguras...
Marcus Quintaes
explica que o
“sujeito triste
é aquele que tem
sua potência de
ação
enfraquecida e
diminuída”.
Desse modo, a
tristeza é
resultante de
uma insatisfação
pessoal ligada a
uma área
emocional
específica e
que, desse modo,
pode sinalizar
um espaço de
reflexão e, em
conseqüência,
conduzir a uma
transformação
positiva,
segundo uma
ética da
alegria, que
pressupõe o
fortalecimento
do ser em todas
as suas
manifestações e
trocas.
O triste é
exigente de um
retiro. E o
retiro é um ato
de força. É no
retiro que se
consegue
preparar uma
base sólida para
um novo tempo de
sentimentos e
ações profícuas.
Esse momento de
solidão
reflexiva
permite um novo
ponto de
partida, pois
aquele que pára,
imbuído do
propósito de
meditar sobre a
tristeza que
impregna
determinado
locus da sua
existência,
poderá entender
que algo precisa
ser feito para
corrigir uma
atitude
equivocada ou
modificar um
relacionamento
desajustado, o
que sugere uma
visita a
sentimentos
exigentes de um
entendimento
mais condizente
com o ser
interno, e não
externo.
Ora, somente o
próprio
indivíduo pode
decidir
transformar o
estado de
melancolia em
exaltação, à
medida que
aceita o
sentimento
lúgubre,
investiga-o e
procura, a
partir de um
auto-exame
sincero,
experimentar
mudanças ou o
uso de chaves
novas para
fortalecer e
aprimorar sua
auto-expressão a
serviço de si
mesmo e do
social.
Sentir a dor da
existência é
demasiado
humano. No
entanto, o
problema pode se
tornar crônico,
quando, por
exemplo, a
pessoa se
infiltra na dor
e, fixada,
decida não fazer
a travessia,
pois mesmo o
luto conhece um
fim e a atitude
de cuidar da
própria casa é
responsabilidade
de cada um.
Embotar-se
indefinidamente
e recusar
despertar de um
esgotamento
cinzento pode
levar o
indivíduo a
enxergar sua
trilha apenas
nos estreitos
limites do
abatimento.
Emparedada na
melancolia, a
pessoa conviverá
intimamente com
paisagens
nebulosas e, com
isso, alimentará
o sentimento
opaco, atestante
da assertiva de
Emmanuel: “Se
preferes a
tristeza,
anotarás o
desalento, em
cada trecho do
caminho”.
Noutra direção,
positiva, a
tristeza pode
instruir a busca
de novas
respostas, desde
que o sujeito
procure um
intervalo
meditativo para
enfrentar o
desafio da
auto-análise. E
se perdas e
sofrimentos não
são evitáveis,
pois participam
da vida
dinâmica,
encará-los
reclama de nós
não uma estada
neles, mas sim a
descoberta de
meios de
atravessá-los
para dar
seguimento às
nossas jornadas
evolutivas, que
pedem, às vezes,
somente um passo
a mais...
Todos os atos da
vida podem
fornecer pistas
preciosas se
tratados de
maneira
respeitosa.
Melancolias
ligadas à
privacidade ou a
compromissos
sociais podem
ter efeitos
limitadores na
manifestação
individual. Se
este é o caso, é
preciso meditar
sobre as áreas
emocionais cuja
alegria está
minguada para
conseguir seguir
em frente munido
de novas
energias, pois a
presença em nós
de um sentimento
negativo, se não
localizado e
investigado,
pode bloquear
nossa relação
com a própria
vida e com os
nossos
semelhantes.
A tristeza
reclama o
desafio do
discernimento. O
triste pode
fazer uso, a seu
favor, do
examinar para
transformar,
muitas vezes, um
agir local
mecanicista e
alienado. Quando
compreendemos a
falta de sentido
de nossas ações
(ou inações),
somos capazes de
nos reorientar
de forma
saudável. Além
disso, à medida
que nos
predispomos a
extrair do
desalento algo
sobre nós mesmos
e entendemos o
que nos faz
embotados, nos
damos a chance
de sair do
inferno mental,
que significa
tão-somente
estar
encapsulado,
fechado às
belezas e
bênçãos do
caminho.
Desse modo, caso
sinta a tristeza
eclodir,
experimente
parar, analisar,
questionar,
descobrir
respostas... Não
duvide: caso seu
processo
melancólico seja
superado,
dar-lhe-á, como
pista, uma nova
compreensão
sobre si mesmo e
sobre o seu
entorno. Dessa
maneira,
valorize o
princípio
criativo que
trazemos em nós,
pois, como o
Pai, somos seres
criadores
−
o que quer que
se passe dentro
de nosso ser se
espalha pelo
mundo,
refletindo
esmorecimento ou
alegria frente a
todas as outras
manifestações de
vida.