JORGE
HESSEN
jorgehessen@gmail.com
Brasília, Distrito
Federal (Brasil)
Quando se destrói o
próprio instinto de
conservação
Renascer no paraíso fora
da Terra. Com esse ideal
em mente os 39 membros
da seita Heaven’s
Gate (Portão do
Paraíso) cometeram o
maior suicídio coletivo
da história dos Estados
Unidos. Em 1978, na
Guiana, o pastor
americano Jim Jones
induziu membros da sua
igreja a tomarem juntos
o fatídico suco de
abacaxi repleto de
cianureto e mais de
novecentas pessoas
desencarnaram
tragicamente. Em março
de l996, Venâncio Aires,
cidade gaúcha de 55 mil
habitantes, ganhou
notoriedade por um
número assustador. A
cidade foi a recordista
mundial de suicídios.
Em janeiro, na Estância
Cerrito, a 65 km de
Itaqui, no Rio Grande do
Sul, Manoel Antônio
Sarmanho Vargas, o
último filho vivo do
ex-presidente Getúlio
Vargas, também resolveu
pôr termo à vida
exatamente como fez o
pai, desferindo um tiro
no próprio peito. No ano
de l996, Margaux
Hemingway, famosa atriz
de Hollywood, neta do
escritor americano
Ernest Hemingway,
suicidou-se em sua
mansão nos mesmos moldes
que o avô.
Pesquisas realizadas em
Nova Iorque, por
especialistas do jornal
Washington Post,
revelaram que morrem no
mundo 85 milhões de
pessoas por ano, isto é:
7 milhões por mês, 240
mil por dia, 10 mil por
hora ou, ainda, 165 por
minuto e o índice de
morte por suicídio e
loucura, nesse contexto,
é tão assustador e tão
elevado quanto o do
câncer e da
arteriosclerose
−
um verdadeiro flagelo
mundial. E são
exatamente nos países
ricos, em que a ambição
e o materialismo se
acentuam, onde
sobressaem os
preconceitos, que o
número de óbitos por
suicídios é maior.
A França enfrentou uma
onda assustadora de
autocídios que superou
as mortes provocadas por
acidentes de trânsito e
pela aids, e por isso
organizaram ali o
chamado Dia Nacional de
Prevenção do Suicídio.
Nesse país, o consumo de
hipnóticos e
tranqüilizantes aumentou
em mais de 200% de uma
década para cá.
Atualmente se ingere por
ano, na pátria de Victor
Hugo, mais de 75
comprimidos de
benzoadiazepina
(sonorífero) por pessoa.
Sob o ponto de vista
médico, e considerada a
doença do século XX,
responsável por muitos
suicídios, a depressão
tem preocupado os
especialistas. Os
psiquiatras estimam que,
de cada grupo de 100
pessoas, 15 tem a
probabilidade de
desenvolver a depressão.
Isso corresponde à
aproximadamente 700
milhões de deprimidos na
Terra. Patologia essa
causada por um distúrbio
psicológico com a
alteração na produção de
substâncias chamadas
neurotransmissoras
cerebrais como a
serotonina, dopamina,
noradrenalina etc.
Sob a ótica sociológica,
o escritor francês
Albert Camus, no seu
livro intitulado O
Mito de Sísifo,
defende a tese que só
existe um problema
filosófico realmente
grave: o suicídio
−
julgar se a vida vale ou
não a pena ser vivida é
responder a questão de
filosofia. Que o
confirmem os famigerados
escritores Arthur
Schopenhauer, na sua
pessimista obra As
Dores do Mundo, que
induz o leitor incauto
ao suicídio, e
Friederich Nietzsche,
que afirma em seu livro
Assim Falava
Zaratustra que orar
é vergonhoso.
Emile Durkheim,
considerado o Pai da
Moderna Sociologia, um
dos maiores
pesquisadores das teses
suicidógenas, afirma que
a culpa maior para uma
pessoa cometer um ato
tão extremo, de vencer
ao próprio instinto de
conservação, é da
sociedade, que é a
grande pressionadora
para o homem se matar
−
é o ser psicológico
sendo abatido pelo ser
social. A questão 949 de
O Livro dos Espíritos
esclarece a questão
quando afirma ser o
suicídio resultado da
ociosidade, da falta de
fé, e geralmente da
saciedade. Quando forem
abolidos os preconceitos
na sociedade não haverá
mais suicídios.
A idéia simples que
insiste muito até chegar
à fascinação
estonteante, contínua,
até a subjugação, tem
levado muitos ao
suicídio. Emmanuel
ensina que o suicídio é
como alguém que pula no
escuro sobre um
precipício de brasas.
Após o ato, sobrevêm ao
infeliz a sede, a fome,
o frio, o cansaço, a
insônia, os
irresistíveis desejos
carnais, a promiscuidade
e as tempestades com
constantes inundações de
lamas fétidas.
É pura cegueira acharmos
que a nossa dor seja
maior que a do próximo,
há pessoas que sofrem
situações muito mais
cruéis que a nossa; além
do que o avanço
tecnológico impõe hoje
dar-se valor às coisas
sem valor, onde o
indivíduo cede ao
impacto do contágio
social. Adiar dívida
significa reencontrá-la
mais tarde com juros
somados com cobrança sem
moratória. Na questão
920 de O Livro dos
Espíritos ainda
aprendemos que a vida na
Terra foi dada como
prova e expiação e
depende do próprio homem
lutar com unhas e dentes
para ser feliz quanto
puder amenizando as suas
dores com amor.