MARCELO HENRIQUE
PEREIRA
cellosc@floripa.com.br
Florianópolis,
Santa Catarina
(Brasil)
Determinismo ou
livre-arbítrio?
A comunidade
catarinense
amanheceu
chocada com mais
um caso de morte
durante
procedimento
cirúrgico de
caráter
estético. Uma
senhora de 55
anos se
preparava para
uma
lipoaspiração e
teve
complicações
cardíacas em
reação à
anestesia.
Segundo fontes
clínicas
oficiais, a
paciente estava
tomando um
medicamento e
omitiu tal
informação ao
corpo médico,
ocasionando uma
fibrilação
(espécie de
parada cardíaca,
em que o
coração, ao
invés de bater,
vibra e não tem
força para
bombear o sangue
para o restante
do corpo).
O evento,
drástico, é um
excelente mote
para nossas
digressões
espíritas,
sobretudo pela
questão de estar
ou não
“prevista”
espiritualmente
a sua
ocorrência. Ou
se a
conseqüência
(desencarnação)
decorreu de ato
voluntário,
dentro do
contexto do
livre-arbítrio
que pertence a
todos os
Espíritos.
Há,
conhecidamente,
no meio
espírita, o uso
da expressão
“planejamento
encarnatório”
que consagra um
conjunto de
probabilidades,
decorrentes de
escolhas e
compromissos que
o indivíduo,
ainda
desencarnado, no
Plano
Espiritual,
possa ter
efetuado. A
teoria espírita,
assim, apresenta
a perspectiva
de, em
considerando a
experiência
encarnatória, no
estágio em que
nos encontramos,
uma oportunidade
para “provas”,
“expiações” e
“missões”, haver
certos
condicionamentos
para
determinadas
situações ou
circunstâncias
da vida física
(que se estará
iniciando, com o
retorno à
carne). Assim,
por exemplo,
pode ficar
prevista a
vinculação do
ser com
determinadas
pessoas, por
afinidade, e que
farão parte dos
ambientes em que
o mesmo esteja
vinculado, para
auxiliar,
colaborar ou
participar
diretamente da
“sua” vida, bem
como será
possível
conviver com
determinadas
individualidades
que estejam em
desajuste com
tal Espírito,
proporcionando
chances de
reajuste,
reconciliação e
perdão
recíprocos. De
outra sorte, a
(prévia) escolha
de determinadas
contingências
(educação,
trabalho,
habilidades e
capacidades)
poderá ocorrer
em função dos
aprendizados
pretéritos do
ser, favorecendo
(em tese) a sua
busca pela
sobrevivência e
a sua
felicidade. Tudo
isto, no
entanto, de modo
“provável”.
Há pessoas que,
mesmo em
ambientes
espíritas e com
base em “teorias
espíritas”,
advogam que Deus
esteja por
detrás de tudo o
que acontece
conosco, em
nossas vidas. É
comum o adágio
“não cai um fio
de cabelo da sua
cabeça se não
for por vontade
de Deus”,
legitimando a
crença de que
Deus esteja
“administrando”
diretamente a
vida de cada uma
de suas
criaturas. Ou,
então, que
esteja
preocupado,
vigilante,
acompanhando
cada passo de
todos os
Espíritos. Esta,
verdadeiramente,
é uma teoria
equivocada. A
criação divina
pressupõe o
estabelecimento
de um conjunto
de Leis Divinas
que são
auto-executáveis
e que não
dependem da
“presença”
divina em sua
direção e
condução. Do
contrário, o
Universo
perfeito, regido
por normas
igualmente
perfeitas, dá a
cada um “segundo
suas obras”,
mensagem que
significa, nada
mais, nada
menos, que a
própria
aplicação da lei
de causa e
efeito e a
submissão de
todos nós aos
seus desígnios
operacionais.
No episódio que
ilustra este
ensaio, a
personagem
principal não
estava “fadada”
a morrer daquele
jeito, nem,
tampouco, sua
morte
significaria, a
princípio,
qualquer
“necessidade” de
ocorrer daquela
forma, por algum
tipo de
“resgate”, ou
para aprendizado
obrigatório,
pessoal e de
seus entes
queridos, como
condicionante de
um tempo
pretérito.
Evidentemente
que a situação,
em si, trará
para todos os
envolvidos um
aprendizado, mas
seria incorreto
vincular o
evento a certas
ocorrências
passadas. Ela,
sem qualquer
dúvida, “assumiu
o risco”, o
próprio risco de
viver, já que
não sabemos, de
antemão, nas
diversificadas
trajetórias no
curso diário, o
que nos espera
na esquina
seguinte. Ao
optar pela
cirurgia – que,
como qualquer
procedimento
médico deste
jaez exige e
envolve cuidados
e riscos – a
companheira
colocou-se na
encruzilhada
“vida-morte”, ou
seja, poderia
ter sobrevivido,
assim como
faleceu. Dá a
entender o
relato
jornalístico de
que sua omissão
(em não informar
o uso de
determinada
substância
química) tenha
estabelecido o
nexo causal para
o evento morte.
Não é possível,
assim, “culpar”
a vida, ou o
“planejamento
encarnatório”
daquilo que nos
acontece
diariamente. Se
há uma diretriz
que é o conjunto
das vivências
passadas, que
estabelecem
certas conexões
e perspectivas,
na condução do
rumo da vida,
considerando-se
as premissas de
evolução e
reestruturação
do ser, ela não
significa
nenhuma algema,
amarra ou
obrigação que
vincula
necessariamente
os
acontecimentos
presentes. Há
que ter muita
cautela na
definição das
questões que
envolvem tanto a
existência
física quanto a
espiritual, para
não corrermos o
risco de
“enxertar”, na
Doutrina
Espírita, nossas
opiniões e
comentários, as
mais das vezes
precários,
desconexos e
desconformes à
teoria
espiritista.
Por obra do
livre-arbítrio,
este apanágio
inerente à
condição de
individualidade
espiritual,
somos os
“senhores” de
nossas vidas, os
personagens
principais do
cenário de
nossas vidas
atuais. E como
podemos escolher
sempre que nossa
inteligência e
nosso sentimento
possam estar
sempre aclarados
e equilibrados,
para que as
conseqüências de
nossas decisões
sejam as
melhores
possíveis, na
conjuntura
espiritual.