Viver da carne ou do espírito?
“Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação
do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da
carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei
de Deus, nem, em verdade, o pode ser.” Romanos 8:6 e 7.
Jesus por vezes se referiu a Ele próprio como “O Filho
do Homem” e o “O Filho de Deus”, diferenciando o que é
da carne do que é de Deus. Nós, como apenas conseguíamos
ver um, a carne, tivemos dificuldade em entender o que
nos queria transmitir.
Paulo, em Romanos 8:7, afirma que o que é da carne não
poderá agradar a Deus, demonstrando que o ser humano
terá que se abandonar para compreender Deus.
Ao que será que se refere quando fala em ser da carne?
Vamos, em conjunto, dissecar de forma superficial o ser
terreno para podermos verificar o seu interior.
Quando Paulo se refere à carne, tal como Jesus,
refere-se ao ser terreno sem que seja uma menção direta
ao corpo, pois este é um “fantoche” idêntico em todos
nós. Poderemos ter os olhos em bico, ter a pele mais
escura, sermos extremamente claros, mas isso são
pequenos pormenores que apareceram com a evolução
biológica da humanidade nos determinados pontos do
globo. Fácil de percebermos, se nos lembrarmos de que a
ciência informa-nos que a origem da humanidade é de um
único continente.
A forma física do ser humano e seu funcionamento é comum
a todos os seres humanos, demonstrando desta forma que
não é aqui que surge a diferença da carne e do espírito
que Paulo menciona, um cérebro é um cérebro, um corpo é
um corpo, se não levarmos em consideração o seu
preenchimento psicológico.
Quando constatamos a evolução nos seres “iluminados”,
que é que nos diferencia uns dos outros?
O que nos diferencia é a estrutura Psíquica, a parte
inteligente do ser, o seu conteúdo, fazendo de nós
únicos e, como referido em cima, não é o corpo biológico
que nos diferencia como seres.
Mas como somos constituídos? Por que Paulo chama à parte
Psicológica o ser da carne?
O psicológico humano é constituído pelos seus
aprendizados, que adquiridos com apego, formam o caráter
ou a personalidade do homem, apegando-se cada um ao que
dá mais valor.
Vamos entrar em um exemplo prático, para que possamos
compreender um pouco melhor.
Um católico frequentador aprende na Igreja o que para
ele é correto. A partir desse momento, quando age, fá-lo
com origem neste conhecimento que se tornou seu caráter.
Se formos a qualquer outra religião, funciona da mesma
forma, ou seja, somos condicionados aos ensinamentos a
que nos apegamos, tornando-os crenças ou estruturas
pessoais.
Quanto à sociedade onde está inserido, funciona da mesma
forma, é influenciado por esta que condicionará parte do
seu caráter, por isso, quem nasce em um país muçulmano
será logicamente muçulmano, possivelmente nem terá
ouvido falar em Cristo.
Os exemplos atrás basearam-se na religião, mas volto a
frisar que é igual em tudo. O que eu penso, o que eu
acho, o que me parece certo, vem tudo de uma estrutura
psicológica, criada com apego pessoal e que desenvolve a
“personalidade” existente na Terra que imponho,
defendendo os meus pontos de vista, querendo criar “um
mundo” da minha forma. Esta é a maior forma de apego
existente no planeta, daí o caos criado pela humanidade.
O ser não se limita ao plano terreno; nós trazemos uma
bagagem de milhares de anos, através da reencarnação.
Essa bagagem é constituída pelos tesouros do Céu que
estarão em prova na Terra; estes tesouros que irão
aumentar e fortalecer com as conquistas espirituais são
ainda de expressão suave, facilmente abafados pela voz
do desejo e da razão, fruto do caráter terreno
individual, filhos da carne.
Jesus aconselha-nos em primeiro lugar procurar o Reino
de Deus que está em nosso interior; para o fazermos ou
para O seguirmos, que é o mesmo, temos que nos
abandonar. Nós achamos que é abandonar alguns hábitos,
mas os hábitos nascem da personalidade e aí fica mais
difícil porque temos mesmo que nos abandonar, como Ele
frisou.
Quando reencarnamos, deixamos obrigatoriamente para trás
o Filho do Homem de outras reencarnações, sendo este o
ser mortal que desaparece com o passar do tempo e, na
nova reencarnação, construímos outro, mostrando o quanto
são temporários. Mesmo com esta informação, não
abdicamos desta ideia tão entranhada em nós, que levamos
estas identidades fabricadas “além-túmulo”, sofrendo
todas as consequências do apego ao ser.
O desapego não é a inexistência total, como alguns
imaginam medrosamente, nem sequer a perda do ser, pelo
contrário, como diz Joanna de Ângelis, é a aproximação
do ser eterno que só pode acontecer quando abdicamos do
ser terreno e sua formação.
“Porque os que são segundo a carne, inclinam-se para as
coisas da carne; mas, os que são segundo o espírito,
para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne
é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz.”
(Romanos 8:5 e 6.)
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