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por Cláudio Bueno da Silva

 

Igreja e Estado perderam a força moral


Para um grande número de pessoas o comportamento religioso é puramente protocolar, não toca o coração, não tem raízes na alma. É um procedimento passivo com hora marcada para a sua prática, ou seja, o período que dura a reunião dos adeptos nos seus núcleos, uma ou mais vezes por semana. E assim passam os anos, décadas até, sem alterações significativas na base de pensamento dessa gente toda.

Só saem dessa rotina escravizante aqueles que se predispõem a ler, refletir e discutir as questões reais de interesse humano. Somente saem dessa rotina alienante aqueles que não levam às últimas consequências a dicotomia do sagrado/profano. Saem, aqueles que resolvem questionar os dogmas contraditórios inventados para prender as almas nos calabouços da culpa, do medo, do mistério e da obediência cega.

No livro Rumo às estrelas *, escrito em 1920, o filósofo inglês H. Dennis Bradley (1846-1934) se mostra corajoso e verdadeiro quando denuncia:

“Os fundamentos das lições de Cristo foram postos de lado. Seus princípios foram deformados a ponto de se tornarem irreconhecíveis; sua filosofia foi infamemente adaptada às conveniências da Igreja e do Estado. Sua religião do amor foi retorcida, desnaturada, prostituída pela hipocrisia que corrói a inteligência. De tal ordem se transformou em máquina que já nem serve de alavanca para a Igreja ou o Estado”.

“Como se atrevem as Igrejas a proclamar que obram em nome do Cristo?”

“As Igrejas perderam a sua razão de existir. Puseram à mostra o seu materialismo.”

De 1920 para cá as coisas só pioraram.

A força do materialismo é destruidora porque se alimenta do egoísmo e da ambição do homem que não é educado para amar e sim para competir, para se sobrepor ao outro e eliminá-lo se necessário. Igreja e Estado, que no plano geral poderiam mudar isso, não têm mais força moral para fazê-lo, se é que algum dia tiveram. Fazem questão de manter modelos convenientes aos seus interesses, que não são os interesses da humanidade.

As estruturas de poder do Estado e das Religiões se mantém praticamente intactas, e honrosos progressos do pensamento se devem mais a iniciativas isoladas que sempre aparecem para lançar luz sobre as mentalidades. Mas os senhores do mundo, que apontam a direção que a humanidade “deve” seguir, não se deixam jamais contagiar por essa luz de renovação, mesmo porque se o fizer, perderão o controle.

Muitas das seitas que hoje se denominam cristãs (mas não só elas) se locupletam com as vantagens dos poderes temporais, e grande parte dos governantes da Terra se deixam inebriar pelas ilusões do poder e do mando.

Na verdade, essas constatações não são novidade. Resta saber como o homem resolverá esse entrave da sua evolução, qual seja, a manutenção indefinida dessas estruturas viciosas e ultrapassadas que têm adoecido a humanidade. O que menos querem os religiosos dogmáticos é penetrar nas causas do sofrimento humano, pois isso implicaria na revisão dos seus conceitos estruturais. O que mais pretendem os governantes vis é maquiar os efeitos causados pela ignorância, pois isso os mantém no poder.

Resta aos núcleos sociais instruídos e conscientes, mundo afora, continuarem lutando pela transformação que só a educação com amor, e o amor pela educação, podem fomentar. Essa transformação fará surgir homens mais maduros e espiritualizados, que farão das religiões que restarem e dos governos que se sustentarem alavancas de progresso e felicidade.

Não faltam doutrinas morais, faltam juízo e boa vontade.


*Edição LAKE, 1999.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita