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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

As consequências dos nossos atos: algumas reflexões  


Muito se discute na atualidade a respeito de ética. Aliás, os teóricos dessa área do saber humano enquadram-na em pelo menos quatro vertentes principais, a saber: consequencialismo, deontológica, virtudes e, mais recentemente, cuidado/atenção. Desse modo, portanto, o enfoque deontológico ocupa-se essencialmente de deveres e regras que devemos respeitar. As virtudes abrangem as qualidades intrínsecas que nos tornam admirados, excelentes e virtuosos. Cuidados ou atenção implicam, sob o prisma ético, na importância de como respondemos às necessidades de um indivíduo. Por fim, a ótica consequencialista foca em lidar com os efeitos dos nossos atos e decisões, ou seja, respondermos pelo que fazemos ou deixamos de fazer.    

Pressupõe-se, assim, que uma pessoa possa desenvolver - ou ampliar se já as possuir - ao longo da sua vida as noções daí derivadas para que a sua encarnação seja bem-sucedida. Em outras palavras, ela precisa necessariamente assimilar tais conceitos para que expresse sempre uma conduta equilibrada, respeitosa e positiva à sociedade. Assim sendo, a construção moral de um indivíduo torna-se perceptível pelo que ele contribui para o bem-estar geral. Por exemplo, um juiz que cumpra o seu papel de maneira zelosa e com total alinhamento às leis constituídas certamente não deverá temer as consequências das suas decisões. Já outro no exercício da mesma função, que não esteja totalmente alinhado aos preceitos constitucionais vigentes em suas deliberações, provavelmente será autor de injustiças, além de estar sujeito a enfrentar grandes dissabores devido à sua incúria ou má-fé.  

Na prática, vemos a questão ética sendo massacrada por todos os lados na atualidade, muito embora nunca tenha se falado tanto sobre o assunto. Embora saibamos perfeitamente do que se trata, em maior ou menor grau continuamos desrespeitando regras básicas de convivência social, bem como cumprindo muito mal o nosso papel nessa tão importante e decisiva variável existencial. No entanto, quando a moldura ética é bem compreendida, ela nos ajuda a aperfeiçoar o nosso caráter facultando-nos, assim, o nosso progresso espiritual. Mas como ainda estamos apegados a uma visão estreita do significado da vida, não raro optamos por caminhos desastrosos, que nos trazem sofrimentos e angústias desnecessárias.

Quando libertos, enfim, do invólucro material, retornamos às paragens espirituais e lá somos geralmente defrontados pelo nosso passivo, já que muito poucos chegam como autênticos vencedores na experiência corpórea. A propósito, vale ressaltar que Allan Kardec dedicou considerável tempo para dissecar a realidade dos Espíritos malsucedidos. Em suas palavras exaradas n’O Livro dos Espíritos lemos o seguinte comentário: “Interrogamos, aos milhares, Espíritos que na Terra pertenceram a todas as classes da sociedade, ocuparam todas as posições sociais; estudamo-los em todos os períodos da vida espírita, a partir do momento em que abandonaram o corpo; acompanhamo-los passo a passo na vida de Além-túmulo, para observar as mudanças que se operavam neles, nas suas ideias, nos seus sentimentos e, sob esse aspecto, não foram os que aqui se contaram entre os homens mais vulgares os que nos proporcionaram menos preciosos elementos de estudo. Ora, notamos sempre que os sofrimentos guardavam relação com o proceder que eles tiveram e cujas consequências experimentavam; que a outra vida é fonte de inefável ventura para os que seguiram o bom caminho. Deduz- -se daí que, aos que sofrem, isso acontece porque o quiseram; que, portanto, só de si mesmos se devem queixar, quer no outro mundo, quer neste” (ênfase minha).

De maneira similar, o Espírito André Luiz observa, no livro Evolução em Dois Mundos (psicografada pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira), que “sofre a alma culpada minucioso processo de purgação, tanto mais produtivo quanto mais se lhe exteriorize a dor do sofrimento e, apenas depois disso, consegue elevar-se a esferas de reconforto e reeducação” (ênfase minha). Mas diferentemente do plano imperfeito em que ora estagiamos rumo à conquista da libertação das nossas almas, no mundo maior a nossa “bagagem espiritual” fala por nós, definindo exatamente o que somos na essência. Aliás, muitas vezes nos empenhamos obsessivamente em ocultar dos outros as sombras que dominam a nossa personalidade. Todavia, de Deus nada escondemos...

Dentro desse cenário, não é difícil prever o que aguarda o criminoso contumaz, o político corrupto, o executivo sem ética, o trabalhador negligente e assim por diante. Mas o raciocínio é igualmente válido para os que fracassam na esfera da lealdade, no respeito aos semelhantes, na prática do bem e da caridade, na busca da elevação dos sentimentos, no exercício da maternidade/paternidade, no emprego da inteligência e habilidades para finalidades dignas, na utilização sadia e esclarecedora do poder da palavra e dos escritos, no cultivo de valores edificantes etc. Com efeito, se abundam as oportunidades de sermos melhores, tenhamos em vista que o mesmo ocorre com relação aos erros. Ascensão ou queda moral são escolhas do Espírito através do seu livre-arbítrio e que lhe determinarão, aliás, um futuro risonho ou um sofrimento reparador.

Desse modo, busquemos trabalhar por trilhar uma vida espiritualmente rica em realizações e conquistas interiores. Jamais façamos aos outros o que não desejamos para nós mesmos, como ensinou Jesus. Sejamos prudentes em nossa conduta para não sentirmos depois o amargor do arrependimento e da derrocada. Dominemos nossas reações e pensamentos para que não reflitam desajustes. Por fim, lembremos que estamos sendo atentamente observados pela espiritualidade. Almas amigas nos acompanham e inspiram sempre para o lado do bem, mas façamos a nossa parte nos corrigindo e autoiluminando. Como sabiamente pondera o Espírito Emmanuel, na obra que leva o seu nome no título e psicografada por Francisco Cândido Xavier, “Oxalá possam os homens compreender a excelsitude do ensinamento dos Espíritos e aproveitar o fruto bendito das suas experiências; com o entendimento esclarecido, interpretarão com fidelidade o ‘Amai-vos uns aos outros’, em sua profunda significação”.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita