Em torno da guerra
A guerra será um desequilíbrio determinado por Deus?
Em hipótese alguma. Deus poderia ser considerado autor
de desequilíbrios, quando constitui para nós outros a
harmonia suprema?
O flagelo da destruição representa o mais alto
desequilíbrio dos homens, constitui seus instintos
ferozes desencadeados, sua criminosa indiferença para
com os poderes eternos, a resultante da tirania de suas
leis.
Busquemos figurar a solução para entendimento mais
vasto.
O planeta é uma grande escola, onde o Espírito humano
efetua um curso de aperfeiçoamento. O Senhor do Universo
permite que os alunos organizem os regulamentos do
enorme educandário à sombra de suas leis inelutáveis.
Eis que os discípulos se revoltam, disputam hegemonias
injustificáveis, encarceram-se em concepções absurdas no
capítulo da política, da filosofia, da religião. Surgem
os atritos imensos. Depois do império da ambição, é o
império da morte.
Quem poderia atribuir a Deus a desarmonia destruidora?
Contra os que ousassem afirmá-lo, teremos a visão
permanente das leis eternas, junto às quais Deus não
permite a intervenção dos filhos inquietos. Por mais que
as nações se empenhem nos embates sangrentos, o sol
continuará prestando benefícios a todos,
indistintamente, o frio e a chuva chegarão a seu tempo,
flores e frutos surgirão ao lado das batalhas. Ainda que
todos os milhões de alunos da grande escola marchassem
uns contra os outros, ela continuaria equilibrada para
todos, oferecendo a sagrada oportunidade que os
discípulos ainda não chegaram a compreender. Vede, pois,
a grande leviandade dos que ousam atribuir a Deus o
movimento de incompreensão e ignorância das criaturas.
Poderíamos saber qual a nação que sairá vencedora do
atual conflito europeu?
Nenhum amigo ponderado dos homens, dos círculos de nossa
Esfera espiritual, poderia opinar numa interrogação como
essa.
Entretanto, como todo ensejo deve ser aproveitado para o
bem, perguntamos de nossa parte: Onde encontraríamos o
vencedor entre tantas desolações e ruínas?
Terminado o movimento, deveria haver na Terra um grande
silêncio. O único triunfador seria Jesus Cristo, sem
cujo fundamento de vida e verdade todos os protestos dos
homens são inúteis.
O espetáculo é por demais doloroso para que se reflita
em cânticos de vitória. Há corações maternos
despedaçados, famílias dispersas, crianças que choram de
fome, lares que se destroem sob tempestades de fogo. Nas
cidades bombardeadas, a dor se sobrepõe às esperanças. O
sangue é uma ironia para o despotismo, a morte vagueia
sobre a miséria das ruínas fumegantes e pergunta onde se
encontra o espaço vital.
Os homens podem invocar o caráter sagrado dos
princípios. Mas todos os princípios generosos do mundo
vieram do Cristo. A criatura não poderá se gloriar de si
própria. Por descuidarem da defesa desses patrimônios
que Jesus lhes outorgou, eis que os homens movimentam a
carreira das batalhas sangrentas, mobilizam canhões
homicidas e semeiam carnificina e destruição.
Quando cair o último soldado, Jesus contemplará o campo
ensopado de lágrimas e sangue, e chamando os contendores
perguntará, com justiça: “Onde se encontra o vencedor?”
Do livro Cartas do Alto, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
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