Aborto: acolher ou condenar?
O assunto
descriminalização do aborto no Brasil ou em qualquer
outro lugar no mundo é sempre manchete nos meios de
comunicação, suscitando diversas manifestações pró e
contra o ato.
No dia 05/03/2023 foi
publicada no site da BBC News Brasil uma reportagem cujo
título chama a atenção de quem lê, pois infere-se um
julgamento das mulheres que cometem tal ação: “Esse
feto poderia ter sido seu filho”: os obstáculos que
argentinas enfrentam para fazer o aborto legal. Na
Argentina, em dezembro de 2020, o aborto foi legalizado.
Com isso as mulheres passaram a ter o direito de acabar
voluntariamente com sua gestação até a 14ª semana.
Para melhor entendimento
é importante definir o que vem a ser a prática do
aborto. De acordo com o Dicionário Online de Português,
é a “interrupção voluntária ou provocada de uma
gravidez; o próprio feto expelido ou retirado antes do
tempo normal.” Pode-se classificar o aborto em natural
ou espontâneo, que é a forma instintiva do organismo de
interromper a gravidez e em provocado ou induzido,
quando a gestação é finalizada de modo intencional.
Adentrando as bases espirituais sobre o assunto, o que é
enriquecedor para o debate, verifique-se o que o
Espiritismo esclarece nas obras básicas:
No Livro dos Espíritos na questão 357, Allan
Kardec pergunta aos Espíritos: “que consequência teria
para o Espírito o aborto?” Eles respondem, “é uma
existência nulificada e que ele (o espírito) terá de
recomeçar.”
Depreende-se da resposta que o Espírito tem uma
programação divina predefinida e, ao ser abortado, tudo
o que fora planejado não será mais possível por aquele
espírito reencarnante, assim como para as pessoas de sua
relação, especialmente seus familiares. Portanto, será
necessária, uma outra oportunidade, para que seja
retomada a vida e ocorram os devidos acertos.
Mas a quem culpar pelo aborto induzido? A quem
responsabilizar por essa situação? Quem deve pagar por
esse ato impensado de desesperança ou egoísmo de uma mãe
e/ou dos genitores?
Novamente o Codificador aborda o assunto no L.E., a
questão é a 358: “é crime a provocação do aborto?” Na
qual os Espíritos nos esclarecem, “há crime sempre que
transgredis a lei de Deus”. A prática do aborto é uma
violação da lei natural e aquele que o faz atenta contra
a Lei Divina.
Diante dessa situação, qual seria a atitude de um
cristão? Como proceder perante os autores que afrontam a
Lei de Deus? Condenar? Prisão perpétua? Pena de morte?
Faz-se necessário trazer aqui uma visão mais ampliada
desse mérito, pois o ato em si é criminoso, contudo,
como agir com justiça e condenar a mulher criminosa que
realiza o aborto sem avaliar alguns itens, tais como: em
que momento da vida ela toma essa decisão? Qual motivo
ela teve para agir de forma tão intensa e cruel? Ela
pensou em tudo sozinha? Teve uma rede de apoio? Foi
influenciada ou obrigada a tomar tal atitude?
São vários pontos a serem analisados, contudo, como
seguidores do Cristo, o que se deve fazer é auxiliar a
mulher que vive essa angústia. Ampará-la nas suas
necessidades materiais e orientá-la a procurar ajuda
médica, psicológica e espiritual para que ela possa, por
meio do acolhimento e direcionamento saudável, repensar
suas atitudes. É preciso para ela e/ou eles que, antes
de agir com desespero e impulsividade, sejam
apresentados e, quem sabe, tocados pelo ensino de Jesus.
João, no Capítulo 8, versículo 7, registra o nobre
ensinamento do Mestre quando diz: “aquele que tiver sem
pecado que atire a primeira pedra”. Jesus, conhecedor
dos corações e intenções dos presentes, sabia que
ninguém executaria a sentença pela lapidação. Após se
retirarem os acusadores, Jesus acolhe a mulher
perguntando: "onde estão aqueles teus acusadores?" E
completa após a resposta dela: "Nem eu também de
condeno. ...vai-te, e não peques mais”.
Em momento algum o Cristo foi conivente com a atitude da
“pecadora” e nem dos “acusadores”, porém aproveitou
aquele instante para ensinar uma linda e importante
lição: todas as pessoas estão sujeitas a cometer
equívocos que contrariam as leis de Deus, mas a melhor
forma de ação é fazer autoanálise dos próprios atos e
ter empatia pela dor do próximo, sem condenações e
julgamentos.
Nos ensinamentos da Doutrina Espírita, o que se encontra
também é o consolo para nossas dores com esperança de
poder vislumbrar um futuro promissor, pois ela afirma
no Evangelho Segundo o Espiritismo cap. 27, item
19 que: “a não eternidade das penas não implica a
negação de uma penalidade temporária”, ou seja, o ato
tem de ser repreendido, mas a penitência deve ser
proporcional ao crime e não ser aplicado um castigo
eterno, pois o erro que se comete poderá ser liquidado
em novas oportunidades com as devidas sanções e
reparações.
Ainda no L.E., questão 1000, Kardec questiona aos
Espíritos: “já desde esta vida poderemos ir resgatando
as nossas faltas? Sim, reparando-as. Só por meio do bem
se repara o mal”.
Temos, portanto, a nobre lição de que o trabalho é nas
bases amorosas do bem. Ter ações positivas, tais como,
ajudar a quem precisa, acolher as dores de outras
pessoas, recomeçar com o aprendizado adquirido perante
os erros cometidos.
Lembrem-se das palavras de Emmanuel dirigidas a Chico
Xavier: “embora ninguém possa voltar atrás e fazer um
novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um
novo fim”. Basta dar o primeiro passo.
Bibliografia:
ABORTO. In: DICIO: Dicionário Online de
Português. 7GRAUS, ©
2009-2023.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução:
Guillon Ribeiro, Editora FEB, Rio de Janeiro: Federação
Espírita Brasileira, 2006.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Tradução: Guillon Ribeiro, Editora FEB, Rio de Janeiro:
Federação Espírita Brasileira, 2010.
LATOURRETTE, Agustina. “Esse feto poderia ter sido seu
filho”: os obstáculos que argentinas enfrentam para
fazer o aborto legal. BBC News Brasil, 05/03/2023. Disponível
em: BBC
News
N.R.:
Artigo apresentado e selecionado no Concurso A Doutrina
Explica 2023, promovido pelo Jornal Brasília Espírita – www.atualpa.org.br,
em parceria com a Revista Eletrônica O Consolador e a
Rádio Estação da Luz - Estação
da Luz
|