“O verdadeiro crítico deve afastar-se das ideias
preconcebidas, despojar-se de qualquer
preconceito pois do contrário julgará de seu
ponto de vista, que talvez, nem seja justo.” (ALLAN
KARDEC)
A seguir, a parte final do artigo publicado na
edição da semana passada.
5º) A prece de Allan Kardec
Entre os documentos do acervo Forestier
publicados pelo Projeto Allan Kardec ,
há um manuscrito que contém uma prece feita por
Allan Kardec, datada de 2 de dezembro de 1866;
destacamos o trecho inicial:
Senhor Deus Todo-Poderoso,
Quanto mais medito sobre o objetivo final do
espiritista, que é sua constituição em religião,
mais eu sinto minhas ideias se aclararem e o
plano se delinear, sem dúvida graças à
assistência de vossos mensageiros; porém, mais
também eu sinto quanto esse trabalho exige
calma e meditações sérias.
Se me julgais digno, Senhor, de uma tal tarefa,
fazei, peço-vos, que eu possa ter a
tranquilidade necessária.
Se as circunstâncias me obrigarem a me
expatriar, peço que os bons Espíritos preparem
os caminhos para que eu possa, em meu retiro,
dedicar-me sem problemas a esses trabalhos.
Dai-me sobretudo saúde, assim como a Amélie. (grifo
nosso)
Nessa prece, temos o Codificador preocupado com
a tarefa da constituição do Espiritismo em
religião.
6º) Discurso na Sessão Anual Comemorativa dos
Mortos
No
fascículo do mês de dezembro de 1868 da Revista
Espírita, Allan Kardec registrou o seu
discurso de abertura, intitulando-o de “O
Espiritismo é uma religião?” O astrônomo
Camille Flammarion (1842-1925) disse que o
Codificador pressentiu seu fim próximo ,
também foi essa a impressão que nos ficou diante
desse título, razão pela qual viu a necessidade
de deixar bem clara a questão proposta. A certa
altura de sua alocução diz:
Se assim é, dir-se-á, o Espiritismo é, pois, uma
religião? Pois bem, sim! sem dúvida, Senhores;
no sentido filosófico, o Espiritismo é uma
religião, e disto nos glorificamos,
porque é a doutrina que fundamenta os laços da
fraternidade e da comunhão de pensamentos, não
sobre uma simples convenção, mas sobre as bases
mais sólidas: as próprias leis da Natureza.
Por que, pois, declaramos que o Espiritismo não
é uma religião? Pela
razão de que não há senão uma palavra para
expressar duas ideias diferentes, e que, na
opinião geral, a palavra religião é inseparável
da de culto; que ela desperta exclusivamente uma
ideia de forma, e que o Espiritismo não a tem.
O Espiritismo, não tendo nenhum dos caracteres
de uma religião, na acepção usual da palavra,
não se poderia, nem deveria se ornar de um
título sobre o valor do qual, inevitavelmente,
seria desprezado;
eis porque ele se diz simplesmente: doutrina
filosófica e moral. (grifo
nosso)
Em nossa maneira de entender, a posição do
Codificador era clara quanto ao Espiritismo ser
religião, porém não no sentido comum que se dá
ao termo, pois, fatalmente, o remeteria aos
caracteres das religiões tradicionais, com seus
dogmas, rituais, hierarquia etc.
Por outro lado, se logo no início da Codificação
Espírita Allan Kardec o definisse como religião
ele, o Espiritismo, seria desprezado, seria
apenas mais uma “no mercado”, e em razão disso
morreria no nascedouro.
Corroborando nosso pensamento, trazemos a
opinião do jornalista José Herculano Pires
(1914-1979), a respeito desse discurso do
Codificador. A obra O Tesouro dos
Espíritos foi traduzida por Herculano
Pires, a 2ª parte intitulada “Marcha para o
futuro” é de sua autoria, por inspiração de
Miguel Vives, que, quando vivo, foi autor da 1ª
parte dessa obra:
O Espiritismo é a Religião em
espírito e verdade, de que Jesus falou à mulher
samaritana. Mas há espíritas que não compreendem
isso e negam a religião espírita. “É possível
tirarmos do Espiritismo a fé em Deus e a lei da
caridade?” Todo o problema, que tanta celeuma
tem levantado entre alguns irmãos intelectuais,
se resume na falta de compreensão do que seja
religião. Os confrades antirreligiosos
gastam tinta e papel em quantidade por quererem
provar um absurdo. Alegam que Kardec se recusou
a chamar o Espiritismo de religião. Mas o
próprio Kardec explicou por que o evitou – não
se recusou, mas apenas evitou – chamar o
Espiritismo de religião: não queria confundir
uma doutrina de luz e liberdade com as
organizações dogmáticas e fanáticas do mundo
religioso. (grifo
nosso)
Bem clara é a posição de Herculano Pires, com a
qual nos alinhamos sem o menor constrangimento,
já que isso causa espécie a alguns confrades.
Nós estamos plenamente convencidos de que o
Espiritismo é uma religião, porém somos
concordes com Allan Kardec, que disse: “O que é
evidente, para nós, pode não ser para vós
outros; cada qual julga as coisas debaixo de
certo ponto de vista, e do fato mais positivo
nem todos tiram as mesmas consequências.”
Referências bibliográficas:
KARDEC, A. O Que é o
Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 2001.
KARDEC, A. Obras Póstumas.
Rio de Janeiro: FEB, 2006.
KARDEC, A. Revista Espírita
1868. Araras (SP): IDE, 1993.
KARDEC, A. Revista Espírita
1869. Araras (SP): IDE, 2001.
VIVES, M. V. O Tesouro dos
Espíritas. São Paulo: Edicel, 2016.
GRUPO MARCOS, A Imagem da Luz – A
presença do Cristo nas Três Revelações,
disponível em LINK-1
LUZ ESPÍRITA, Enciclopédia
Espírita Online: Projeto Allan Kardec: acervo
Forestier, disponível em: LINK-3 Acesso
em: 01 nov. 2023.
PROJETO ALAN KARDEC: Prece de
Allan Kardec – 02/12/1866, disponível em: LINK-4.
Acesso em: 09 jun. 2021.
[1] LUZ
ESPÍRITA, Enciclopédia Espírita
Online: Projeto Allan Kardec: acervo
Forestier, disponível em: LINK-3
Acesso em: 01 nov. 2023.
[2] PROJETO
ALAN KARDEC: Prece de Allan Kardec –
02/12/1866, disponível em: LINK-4.
Acesso em: 09 jun. 2021.