As ações devem ser discutidas, pensadas e implementadas
de maneira gradual. As mudanças,
geralmente,
causam desconforto nos envolvidos e precisam de
acompanhamento para terem resultados efetivos, por isso,
a recomendação de serem feitas aos poucos.
Os resultados não são imediatos, alguns podem demorar
meses ou anos para serem percebidos. É preciso manter o
foco, ter perseverança e realizar ajustes quando se
mostrarem necessários.
O que funciona bem em um lugar pode não dar tão certo em
outro, por isso, antes de implementar qualquer
alteração, como se fosse uma receita de bolo, é
importante que os envolvidos conversem e decidam juntos.
Ações para
reuniões de mocidade
Mocidade com a Casa Espírita:
A mocidade e os demais departamentos possuem um bom
diálogo? Existem representantes da mocidade participando
das reuniões administrativas do Centro?
Mocidade e a pré-mocidade:
A mocidade, de forma periódica realiza atividades em
conjunto com a infância e pré-mocidade? As crianças
conhecem as pessoas que participam na mocidade e se
sentem seguras para, no futuro, fazerem uma transição
tranquila?
Mocidade e a família:
Os pais e responsáveis conhecem as atividades que o
grupo realiza? Eles também são incluídos nas reuniões
para tomadas de decisões?
Nota:
Envolver a família é uma ótima experiência, em
diferentes aspectos, pois os responsáveis, conhecendo a
proposta educativa e seriedade do grupo, passam a ser
incentivadores da participação do jovem.
Mocidade e os frequentadores da Casa Espírita:
As reuniões de mocidade são divulgadas pelos demais
departamentos? O frequentador da Casa Espírita conhece
as atividades que a mocidade realizada? Existem
atividades ou eventos promovidos pela mocidade que
permitem a participação desse público?
Mocidade e a comunidade:
O grupo de mocidade está inserido e é atuante na
comunidade em que faz parte? Participa de trabalhos
assistenciais?
Mocidade e outras mocidades:
O grupo de mocidade realiza visitas periódicas em outras
Casas Espíritas? Existem trabalhos coletivos realizados
por diferentes grupos de mocidade?
Nota:
O grupo de que eu participava era pequeno, tinha, quando
iam todos, uns 5 participantes, porém era bastante
ativo. O segredo foi construir um bom relacionamento com
outros 10 grupos de mocidade em bairros próximos. Quando
tínhamos alguma ideia, projeto ou atividade, fazíamos
juntos.
Mocidade também fora da Casa Espírita:
De forma periódica são marcados passeios? Estudos em
parques? Idas ao cinema? Visitas para leitura do
Evangelho na Casa de alguém? As atividades externas
contribuem para fortalecimento do grupo.
Construção de laços de amizade:
O principal fator para construir e manter grupos de
mocidade espíritas longos e saudáveis está na construção
de laços sinceros de amizade entre os envolvidos. É
trabalho de todos incentivar e viabilizar essa
construção.
O jovem como protagonista:
Todos os jovens são incluídos nas tomadas de decisões?
Na construção de cronograma? Na escolha dos temas? Na
forma de apresentação? Eles são respeitados e ouvidos?
O jovem como responsável:
Quando chega um novo participante ele é avisado que
naquele grupo todos contribuem? Ele é incentivado a se
desenvolver? Participa de forma voluntária da divisão de
tarefas? Se ele pensa diferente, é respeitado?
O local das reuniões:
Deve ser limpo, confortável e aconchegante. Para as
Casas Espiritas que dispõem de sala própria para
reuniões da infância e mocidade, é recomendado
personalizarem o lugar, com pinturas nas paredes e
enfeites pendurados no teto. Quanto mais artístico for o
ambiente, mais à vontade as pessoas se sentem.
Adultos nas reuniões de mocidade:
Pode existir, porém a participação deve ser condicionada
a incentivar o desenvolvimento e participação do jovem,
principalmente lançando perguntas. Jamais deve querer
monopolizar o espaço.
Dirigente de mocidade:
Quem dirige o grupo de mocidade são todos os
participantes, que devem adotar uma postura comprometida
e responsável. Nos casos em que não for permitida a
participação de todos, é criado o papel de
representante, que apenas fala em nome do grupo.
Observações:
Quem adota uma postura de controle pode questionar se
empoderar o jovem dentro das reuniões, e dar mais
liberdade, não é caminho para baderna, perda da
qualidade do estudo ou conflitos.
Respondemos que as ações descritas já foram implantadas
em diversos grupos, com ótimos resultados e contribuem
para amadurecimento, educação e desenvolvimento dos
jovens.
Foi observado que nos grupos de mocidade que utilizam
papéis hierárquicos ou de destaque, a incidência de
conflitos é maior. Ainda, naqueles que alguém mais velho
assume os trabalhos e monopoliza o espaço, os jovens
participantes reagem se tornando “zumbis”.
Jovem zumbi:
Tem vergonha de fazer a prece, pois acha que vai ser
julgado. Não comenta os temas, pois acha que não vai
falar bem ou ter boas ideias, tem medo de assumir
responsabilidades, não opina nas tomadas de decisões. É
alguém que teve seu desenvolvimento prejudicado por
conta da forma de relacionamento que se instaurou no
grupo. Um dia o jovem zumbi se cansa e deixa de
participar.
Técnica 1 para estimular a participação dos jovens:
Após a prece de abertura, crie o hábito de todos
começarem a reunião comentando como foi a semana. É um
jeito de estimular que falem e para que todos se
conheçam melhor.
Técnica 2 para estimular a participação dos jovens:
No lugar de despejar conteúdo, procure fazer perguntas,
peça para os jovens explicarem o que entenderam e como
eles enxergam aquele assunto.
Técnica para “ressuscitar” o jovem zumbi:
Pergunte do que o jovem zumbi gosta, se for
Naruto (é um anime japonês) por exemplo, diga que na
próxima semana o tema de estudo será Naruto na visão
espírita e peça para ele ajudar na exposição.
Ações para Casas Espíritas
Eventos periódicos:
A Casa realiza eventos de estudos e festas? São
importantes para “abrir a Casa para comunidade”,
aproximar trabalhadores de diferentes departamentos e
ter uma percepção sobre o clima cultural. Se a Casa faz
eventos e as pessoas não participam, pode indicar
problema que precisa ser acompanhado.
Cuidado com os livros na livraria ou biblioteca:
É preciso ter, no catálogo, livros sérios e coerentes.
Existem diversas obras que propositalmente ou não,
denigrem o Espiritismo. [14]
Atividades demais e pessoas de menos:
É preferível que a Casa realize poucas atividades, porém
bem organizadas, que deixar muitas atividades
praticamente sem público e com trabalhadores cansados e
sobrecarregados.
Incentivar o constante aperfeiçoamento dos
trabalhadores:
Não basta apenas acumular conhecimento espírita. O
trabalhador precisa buscar também se aperfeiçoar e
atualizar em outras frentes, por exemplo, um palestrante
precisa conhecer o conteúdo da palestra, saber oratória,
montar slides, técnicas para prender a atenção do
público e formas de transmitir conteúdo de maneira
interessante.
Exemplo:
Recentemente participei de um curso não espírita,
ministrado por um doutor em comunicação. Ele ensinava
que, no lugar de abordar um assunto do começo ao fim, na
palestra, o mais indicado era evoluir o tema, falando um
pouco de cada parte, como se a palestra evoluísse em
forma de espiral. Assisti depois a uma exposição de 4
horas nesse método e não perdi a atenção e nem ficou
cansativa. Nas Casas Espíritas nunca assisti nada
construído desse jeito.
Kit Boas-vindas:
As ações elaboradas para as Casas Espíritas são um pouco
óbvias, por isso, o objetivo não é estendê-las muito. A
principal e mais revolucionária é o Kit Boas-vindas.
Esse Kit é uma sacolinha que deve ser entregue a cada
pessoa nova que entrar na Casa Espírita.
Dentro existem alguns papéis com textos resumidos. O
primeiro fala o que é o Espiritismo e indica começar
estudando as obras básicas codificadas por Allan Kardec.
O segundo explica o que é uma Casa Espírita e apresenta
a lista de atividades com dias e horários das atividades
daquele núcleo. No terceiro papel consta uma mensagem
edificante e explica o que é o atendimento fraterno.
Cada local pode melhorar esse kit, incluindo novos
itens, por exemplo: Colocar mais papéis falando sobre a
importância do Evangelho no Lar, sobre a prece,
divulgação de site e redes sociais, ou ainda, colocando
uma lembrancinha de presente, que pode ser um doce ou
outra coisa simples.
Para quem não é espírita ou conhece pouco o grupo, o Kit
Boas-vindas é um excelente material de acolhimento,
informação e divulgação, além de ser uma solução barata.
Exemplo de decisão desastrosa realizada pela direção de
uma Casa Espírita:
Certa vez, participando de um evento voltado para
dirigentes de mocidades espíritas, na capital de São
Paulo, ouvi a história contada abaixo por um
ex-trabalhador da mocidade envolvida:
O grupo de mocidade funcionava bem, fazia anos, e tinha
em média 20 participantes em todas as reuniões. A Casa
Espírita queria aumentar as atividades e estava com
falta de trabalhadores e, de forma arbitrária, decidiram
que todas as pessoas com mais de 20 anos deveriam sair
da mocidade e participar de outros trabalhos.
A notícia caiu como uma bomba. O grupo era bastante
unido e não queria se separar. Os jovens mais velhos
tiveram dificuldades em se adaptar aos novos trabalhos e
abandonaram a Casa Espírita. Os mais novos não estavam
preparados para organizar ou conduzir o grupo sozinhos.
As reuniões ficaram chatas e eles também abandonaram a
Casa Espírita.
A partir dali aquela Casa Espírita ficou sem jovens.
Ações para Grupos de Unificação
Neste item, em vez de descrever ações, quero contar a
história de transformação de cultura promovida pelo do
DM USE distrital Tatuapé, que em uma década se tornou
referência aos outros grupos de unificação, superando
uma de suas maiores crises.
O departamento é composto pelos jovens que representam
os grupos de mocidade dos quais fazem parte e que estão
localizados em bairros próximos à região do Tatuapé, em
São Paulo. [15]
Eles se reúnem de maneira periódica, escolhendo Casas
Espíritas diferentes como sede para as reuniões, e ali
planejam atividades em conjunto, criam cursos, eventos e
treinamentos.
Além disso, são feitos acompanhamentos das Casas
Espíritas sem reuniões de mocidade, ou que possuem
reunião, mas que estão com algum tipo de dificuldade
(geralmente falta de pessoas). São realizados visitas e
eventos nesses locais para mobilizar a comunidade,
frequentadores e outros jovens para incentivar e
fortalecer este tipo de trabalho.
Ainda, em todos os anos é feito um levantamento sobre
quais núcleos assistenciais da região mais carecem de
recursos e são feitas campanhas de arrecadação de
mantimentos para doação. Mas o grupo não se limita a
somente fazer a entrega. Se o local é um lar de idosos,
por exemplo, os jovens vão ouvir os residentes, tocar
músicas no violão para animá-los (inclusive aprendendo
canções do tempo em que eles eram jovens) e contagiar
todos os envolvidos com bastante entusiasmo e alegria,
pois é isso o que o jovem mais tem para doar.
Essas atividades não são exclusivas do DM USE distrital
Tatuapé. Existem pelo Brasil diversos outros
departamentos, nas fileiras de unificação, que realizam
atividades semelhantes, porém o que o tornou objeto de
estudo e superação foi a falta de jovens que ocorreu nos
últimos anos.
Esse trabalho existe há décadas. Apesar de ser composto
por jovens e sempre ocorrer uma renovação natural entre
os envolvidos, nos últimos anos houve uma redução
significativa de pessoas que começou de maneira gradual.
Analisando as saídas, foi observado que alguns se
casaram; mudaram de endereço; pela idade, já não se
identificavam mais com o público jovem; mudaram de
religião; assumiram novos compromissos que tomavam quase
todo o tempo.
Ao analisar centenas de casos, foi observado o primeiro
grande problema: A maior parte dos jovens que são
líderes, trabalhadores e engajados com o movimento
espírita, quando deixam os trabalhos da mocidade,
geralmente abandonam a Casa Espírita ou deixam de serem
trabalhadores ativos no movimento. Existem, mas são
raros os casos de continuidade.
No Movimento Espírita, carece um trabalho realizado
pelos grupos, de acompanhamento, retenção e
direcionamento gradual dos jovens trabalhadores e
líderes para novas atividades, que sejam do seu
interesse.
No DM distrital Tatuapé, além das saídas, mesmo com um
trabalho forte de divulgação, não chegavam novos
participantes. Com o tempo, as atividades mantidas pelo
grupo foram sendo impactadas.
Os trabalhadores estavam sobrecarregados. Como essa
realidade é também vivenciada pelos grupos de mocidade,
os eventos de estudo coletivo entre os grupos estavam
cada vez mais vazios.
Grupos de mocidade que haviam sido abertos há poucos
anos e, cujas equipes estavam amadurecendo, começaram a
fechar. O número de Casas Espíritas sem reuniões de
mocidade foram aumentando gradualmente.
O problema era crítico, necessitava de forte mobilização
e atenção que iam além daquelas que os jovens
trabalhadores do DM distrital Tatuapé conseguiam
implementar sozinhos.
Os mais velhos foram envolvidos e a USE Distrital
Tatuapé assumiu o compromisso, mobilizando além dos
demais departamentos do órgão de unificação, os
presidentes e dirigentes de todas as Casas Espíritas da
região.
Foram conduzidas pesquisas nos núcleos, realizadas
diversas reuniões para tratar da falta de jovens nas
Casas e Movimento Espírita, com ênfase em soluções.
Trazer e reter o jovem foi o objetivo incluído como
prioridade no plano de trabalho de todos os
departamentos.
Além disso, a USE distrital Tatuapé assumiu uma nova
postura, criando mais espaços de diálogo, incluindo nas
discussões a questão do acolhimento e educação, não
esperando o representante da Casa Espírita ir até o
órgão de Unificação, mas eles estando mais presentes nas
Casas Espíritas.
Se um grupo tem poucas pessoas e quer fazer uma
atividade, é encorajado a realizar em conjunto com outra
Casa Espírita. Não existe figura de destaque,
estrelismo, ou competição de qual Casa é melhor ou é
mais frequentada. Todos se veem como participantes da
mesma fileira e a ajuda é mútua.
Os eventos e trabalhos com os jovens foram adaptados
para serem mais interessantes e receptivos, por evento,
incluindo temáticas próprias para o interesse desse
público. Como exemplo, recentemente fui em cursos,
treinamentos e palestras, organizadas pelo DM USE
distrital Tatuapé, cujo tema foi construído com base em
Harry Potter, Senhor dos Anéis, Stars Wars, não perdendo
em nada a qualidade doutrinária e sendo muito
interessantes.
Se os jovens forem construir algum evento e faltarem
outros jovens participantes, não tem problema, os mais
velhos são convidados e contribuem com prazer. Há poucos
meses fiquei muito feliz ao participar do sarau
organizado pelo DM USE distrital Tatuapé, e ver pessoas
de todas as faixas etárias se apresentando, assistindo e
construindo um ambiente colaborativo e agradável. Anos
atrás um sarau que não tivesse somente jovens seria
inconcebível.
Através de estudos, treinamentos, inclusão de novas
pautas nas discussões, o clima do grupo foi
transformado, e ajudar ali ficou mais agradável e
acolhedor. Não precisou que as pessoas da equipe antiga
saíssem, apenas que fossem realizados pequenos ajustes.
Na USE distrital Tatuapé e Casas Espíritas que fazem
parte, ainda existe a falta de jovens, porém não fazem
disso um problema para lamentação, mas oportunidade de
união. Todos sabem que são responsáveis e assumem o
compromisso com entusiasmo, com fé e certeza de que as
ações já estão sendo desenvolvidas e que este cenário
logo vai melhorar.
A falta de jovens nas Casas Espíritas e Movimento
Espírita: Uma ótima oportunidade
Conforme descrito no começo do artigo, o problema não
está somente na falta de jovens nas Casas Espíritas e
Movimento Espírita, mas diretamente na forma de atuação
dos trabalhos espíritas, com impacto em todas as idades,
porém sendo mais sentido entre os jovens.
Sobre os principais problemas é possível destacar:
1.
Dificuldade em trabalhar
juntos públicos de diferentes faixas de idade;
2.
Dificuldade na
comunicação;
3.
Necessidade de atualização
na organização dos trabalhos e forma de conduzir os
estudos;
4.
Os grupos serem mais
abertos e receptivos às mudanças;
5.
As atividades e trabalhos de unificação serem mais
valorizados.
Não significa que a forma de trabalho das Casas
Espíritas e Movimento Espírita esteja errada ou precise
passar por uma profunda reformulação.
Muitas ações de reversão são propostas simples para uma
melhor organização.
O atual cenário não deve ser observado como um problema
catastrófico, mas uma oportunidade, pois são nas
dificuldades que os grupos e pessoas se tornam mais
analíticos sobre as suas contribuições e mais abertos a
mudanças e melhorias. Passar por este momento no
presente é a oportunidade de garantir um trabalho melhor
para o futuro.
Referências:
[1] – Estatuto da Juventude:
LINK-1
[2] – Resultado da Pesquisa Nacional para
Espírita de 2023:
LINK-2
[3] – Google Trends:
LINK-3
[4] – A falência do ensino brasileiro:
LINK-4
[5] – Má formação dos professores:
LINK-5
[6] – Carta aos educadores:
LINK-6
[7] – Qualidade em sala de aula:
LINK-7
[8] – O desvio do Enem: De avaliação para
vestibular:
LINK-8
[9] – O mais importante pilar da
educação:
LINK-9
[10] – O jovem e a internet:
LINK-10
[11] – Distribuição da população por sexo
segundo os grupos de idade – Brasil – 2010:
LINK-11
[12] – Categoria Escola e Educação:
LINK-12
[13] – Planejamento estratégico do Centro
Espírita:
LINK-13
[14] – Livros que, propositalmente ou
não, denigrem o Espiritismo:
LINK-14
[15] – Site da USE Tatuapé:
LINK-15
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