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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Mas, afinal, o que é fazer o certo?


Uma amiga chamou-me a atenção recentemente para o fato de que “... o certo ou errado são concepções variáveis”. Ela também lembrou, aliás, pertinentemente, que “O que é errado para uns pode ser certo para outros, e vice-versa”. Analisando mais a fundo esse tópico que tão intensamente permeia as relações humanas, torna-se patente que, em situações mais extremas, não fica muito difícil enxergar essa polaridade. Desse modo, é provável que para um ditador impiedoso, “o certo” deva ser manter-se no poder a qualquer custo, haja vista o que acontece em algumas nações no planeta. No mesmo diapasão, embora em escala bem menor, para um delinquente contumaz a noção do que é certo poderá estar circunscrita a um roubo bem efetuado, ao passo que para um empresário inescrupuloso talvez seja lucrar mais através da exploração dos seus clientes.

Em outras situações, no entanto, a distinção entre esses extremos pode ser bem mais complexa. Por exemplo, na acentuada divisão entre direita e esquerda do espectro político que ora prevalece nas grandes democracias da Terra, teremos defensores do “certo” dos dois lados, e ambos apresentando argumentos supostamente bem sólidos. Às vezes, nações praticamente inteiras abraçam determinadas causas ou ideias tidas como certas, mas que encerram, em sua essência, profunda maldade, cinismo e desprezo. Foi o caso, a propósito, do genocídio contra os judeus praticado pelo nazismo.   

Seguindo essa linha de raciocínio, há situações bizarras hodiernamente envolvendo decisões críticas de Estado nas quais o certo, em dado momento, revela-se ruinoso logo em seguida. Vejam o que ocorre no rumoroso terreno da liberação das drogas. Muitas nações, embaladas por um ideário supostamente progressista, concordaram com tal procedimento imaginando que tal medida fosse estrangular o comércio ilegal e mesmo diminuir o consumo das drogas. Contudo, não é o que se viu posteriormente com resultados extremamente danosos à saúde pública.

Circula na internet, vale destacar, um vídeo de como era a vida em cidades avançadas como Toronto e Vancouver, no Canadá, e no que se transformaram presentemente. Em pouquíssimo tempo, suas paisagens antes vistas como oásis civilizatórios mudaram dramaticamente para autênticos infernos. Aqui mesmo no Brasil há atualmente um embate entre o Legislativo e a Suprema Corte de Justiça Federal (STF) sobre a liberalização do consumo da maconha (40gr) de causar arrepios. Ou seja, enquanto o legislativo defende a simples prisão para qualquer quantidade encontrada com um portador, o STF entende que uma “pequena” quantidade, como a acima citada, deve ser permitido, contrariando, inclusive, pareceres de especialistas renomados no assunto.

Mas como devemos encarar as dicotomias existenciais mais, digamos, comezinhas? Não haveria um caminho mais claro e seguro para seguirmos em nossas vidas nos momentos mais decisivos? É preciso, pois, refletir muito bem para sabermos exatamente o que fazer ou incorporar, apesar da aparente subjetividade do assunto. Acredito piamente que há solução para tal equação, e começo por recordar que todas as nossas decisões e ações devem sempre se pautar pela moral e ética como eficazes salvaguardas contra posteriores sofrimentos desnecessários.

Nesse sentido, o Espírito Joanna de Ângelis ensina, no livro Estudos Espíritas (psicografia de Divaldo Pereira Franco), que moral constituí um “conjunto de regras” que compõem “os bons costumes” e delineiam “os princípios salutares de comportamento de que resultam o respeito ao próximo e a si mesmo”. Como tal, “estabelece as diretrizes seguras em que se fundam os alicerces da Civilização, produzindo matrizes de caráter que vitalizam as relações humanas...”. Por mais óbvio que pareça, é vital recordar que a moral funciona como uma bússola que deve sempre inspirar as nossas decisões em todas as dimensões da vida. Tendo esse arcabouço constantemente presente em nossas mentes, certamente evitaremos deslizes comprometedores. Além disso, tal solução nos deixa menos à mercê de personalismos e atitudes egocêntricas que, de modo geral, nos incitam ao erro.

O Apóstolo Paulo, por sua vez, foi muito claro ao nos aconselhar: “Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos [...]” (Gálatas, 6:10). Explicitando essa ideia, o Espírito Emmanuel, em Palavras da Vida Eterna (psicografia de Francisco Cândido Xavier), acrescenta que “mesmo nas circunstâncias difíceis, urge endereçar aos outros o melhor ao nosso alcance, porque segundo as leis da vida, aquilo que o homem semeia, isso mesmo colherá”. 

Carregando no imo de nossas almas tais diretrizes, as eventuais dúvidas sobre o que é certo ou errado serão rapidamente dissipadas. Emmanuel alerta-nos igualmente, em Caminho, Verdade e Vida (psicografia de Francisco Cândido Xavier), que “Somente o bem pode conferir o galardão da liberdade suprema, representando a chave única suscetível de abrir as portas sagradas do Infinito à alma ansiosa”. E, por fim, acrescenta a recomendação: “Haja, pois, suficiente cuidado em nós, cada dia, porquanto o bem ou o mal, tendo sido semeados, crescerão junto de nós, de conformidade com as leis que regem a vida”. Assim sendo, sejamos inteligentes em nossas escolhas, a fim de evitarmos a ilusão.

Portanto, se a dúvida nos assaltar sobre o que é certo ou errado no percurso da existência, consideremos, com base em tão sábias diretrizes aqui rapidamente exploradas, o que Deus gostaria que fizéssemos diante dos desafios propostos. Lembremos ainda que ele já nos abasteceu de farta orientação para não errarmos mais.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita