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por Rogério Coelho

 

Tapetes vermelhos


A humildade exemplificada pelo Divino Amigo é o grande antídoto contra o orgulho.


“A manjedoura singela deverá ser sempre o paradigma a permear o caminho do verdadeiro servidor do Cristo.” - 
François C. Liran


Não é fácil desvencilharmo-nos dos ancestrais atavismos gerados por nossos velhos equívocos dos tempos da ignorância total, quando valorizávamos os desvalores e deixávamos a direção de nosso destino entregue ao orgulho e à vaidade, qual barco à deriva no proceloso oceano da autofascinação...

É lamentável observarmos, ainda hoje, as consequências desses resíduos comportamentais de muitos companheiros da Seara Espírita.

Certa feita, um desses irmãos envolvidos nas traiçoeiras malhas da autofascinação, iniciou sua conferência com o seguinte pedido à complacente plateia: “quando eu terminar a minha fala, por favor, não me aplaudam.” (!?)

Naturalmente ele tinha convicção de que ia “arrasar”!...

Em outra ocasião, após a conferência, o diretor da Instituição, vindo parabenizar o orador pelo excelente trabalho realizado, disse-lhe: “você precisa voltar aqui mais vezes. Nós gostamos muito do seu estudo”. Ao que o autofascinado ripostou: “sinto muito meu irmão, mas não posso atender à sua demanda porque afinal de contas eu tenho que zelar pela minha imagem e não posso ficar me “queimando” falando muitas vezes numa mesma Casa Espírita”. (!?)

Certo ardoroso e incondicional fã de um orador espírita estava organizando uma agenda deste para a sua região e, solicitado para que incluísse um determinado Centro Espírita no roteiro do “famoso conferencista” negou o pedido alegando que as instalações daquele centro não eram dignas para recepcionar o seu ídolo, e ademais as pessoas que ali frequentavam não tinham nível intelectual para alcançar o conteúdo das palestras que ele proferiria.

Mas a culpa de tudo isso não é só desses pseudo-oradores.   Eles começaram a exigir o “tapete vermelho” do cerimonial da vaidade, depois de muita bajulação de admiradores tão cegos quanto eles próprios que, ao incensarem-lhes a personalidade, atearam o incêndio destruidor do senso do ridículo.

Entendemos, assim, com Odilon Fernandes[1], que o problema da fascinação sobre os médiuns, e demais pessoas, estudado por Allan Kardec[2]“(...) não deve ser imputado apenas aos desencarnados, posto que muitos encarnados se transformam em vítimas das próprias alucinações nas ideias mirabolantes que formam a respeito de si mesmos.  Aliás, essa fascinação é a mais grave de todas, porque a criatura não se coloca na condição de quem admite estar necessitando ajuda para reencontrar o discernimento.

Um sábio da Antiguidade escreveu: “é esforçar-se em vão pretender trazer entendimento a quem imagina possuir entendimento”.

Que fazer pelo doente incapaz de aceitar que esteja enfermo?!   Que providências tomar em benefício de quem, estando imerso nas sombras, se considera na luz?

Dos Espíritos com os quais temos lidado no Além, os fascinados por si mesmos são os mais difíceis de auxiliar; somente a dor, na linguagem silenciosa do tempo, conhece a argumentação irrefutável que terminará por vencê-los, obrigando-os à introspecção de que fogem, receosos certamente de seu encontro com a Verdade.

Quantos Espíritos, encarnados e desencarnados, não temem o autoconhecimento, que os compeliria à humildade, no reconhecimento das limitações que preferem ignorar?!  Quantos outros se decidem pelo comodismo moral por incapacidade de renunciar ao “homem velho”, desanimados pela antevisão do longo caminho a percorrer, na renovação íntima?!

Dos problemas da fascinação, portanto, o dos médiuns vítimas de comunicados que não resistem ao crivo da razão ao qual devem ser submetidos, é o mais insignificante.

Fácil desmascarar a mentira; difícil não mentir...

Fácil apontar erros alheios; difícil aceitar que se esteja errado...

Busquemos a conscientização indispensável, e o caminho que trilhamos se nos apresentará menos obstruído.

Saibamos onde se encontram, dentro de nós, as pedras-de-tropeço que carecemos remover ou evitar. Reflitamos na extensão e na dificuldade da jornada evolutiva que nos compete empreender e, sem desânimo, prossigamos, passo a passo, sedimentando em nós as virtudes que, um dia, haverão de redimir-nos.

Serenamente, acrescentemos à nossa edificação íntima os tijolos do amor e da sabedoria com que os anjos, na argamassa do suor e das lágrimas que derramaram, já construíram o castelo da felicidade inalterável em que residem, entre as estrelas”.

Para que também nós lá cheguemos, elejamos a manjedoura singela como símbolo de nosso “modus-vivendi” vez que a humildade exemplificada desde o berço pelo Divino Amigo é o grande antítodo contra o orgulho e a vaidade que obnubilam nosso discernimento e bom senso impedindo nossa ascensão evolutiva rumo aos Páramos Celestiais.

Assiste, pois, toda razão a Claire Baumard por afirmar: “quem cultiva o Espírito adquire o maravilhoso equilíbrio dos sábios que as vaidades do mundo não perturbam”.

HUMILDADE sempre, não esqueçamos!... Tal a senda da absoluta segurança para nossos passos no carreiro evolutivo!

 


[1] - BACCELLI, Carlos Antônio. Mediunidade e obsessão.  Votuporanga: DIDIER, 1996, cap. 6.

[2] - KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 2ª parte, cap. XXIII, item 239.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita