Há bom tempo existe uma percepção generalizada sobre a
existência de anjos nos auxiliando, alguns
particularmente ao nosso lado. Esta crença é antiga e de
algum modo verdadeira, contudo raros conhecem por qual
razão esses chamados anjos nos acompanham e como,
efetivamente, podemos interagir com eles.
A doutrina espírita, por meio de seus lúcidos
esclarecimentos, proporcionou um avanço significativo no
entendimento dessa lei de Deus, uma vez que não se sabia
corretamente como se relacionar com essas entidades, e
mais, agora entendemos que elas nada mais são do que
Espíritos como nós, embora possuam um grau evolutivo
superior ao nosso, pois um cego não pode guiar um
estropiado, pois cairão os dois no precipício. Ora, se
não fossem bem evoluídos não guardariam ninguém.
Outro importantíssimo esclarecimento doutrinário é que
esse anjo da guarda não é um anjo como o entendemos, uma
criatura especial merecedora de alguma atenção
particular da Divindade. Não! São entidades que se
esmeraram no bem ao longo de muitas existências e que
agora enxergam a vida de modo mais correto, recebendo a
permissão de Deus para acompanhar aqueles que ainda não
sabem guiar-se por si mesmos.
Cada ser encarnado tem o seu particular anjo da guarda –
único – embora possa ser substituído por outro do mesmo
nível de evolução. É um Espírito preparado para nos
apoiar ao longo das nossas existências, até que saibamos
nos conduzir sozinhos e com segurança pelos retos
caminhos da moral e da ética.
A palavra anjo, propriamente dita, segundo o
Espiritismo, só se aplica no sentido estrito aos
Espíritos que atingiram a culminância da evolução, como
Jesus e muitos outros, e que agora vivem ao lado do Pai,
agindo conforme Sua vontade. Esses não são os nossos
anjos da guarda, pois Espíritos perfeitos não acompanham
outros ainda muito imperfeitos, como todos nós.
A lembrança deste protetor, de modo geral, só nos ocorre
quando estamos passando por dificuldades de monta,
conduta semelhante em relação a Deus. Tanto o Criador
quanto o anjo da guarda só surgem em nossas mentes
quando a situação está crítica e, pelo nosso
entendimento, sem saída.
Mas, como podemos conversar com essa nobre entidade que
se encontra à nossa disposição, embora a maioria
esmagadora desconheça essa real possibilidade?
Há algumas propostas que, se exercitadas com paciência e
perseverança, possibilitam uma interação direta com o
anjo da guarda, quando necessário e oportuno, pois esta
entidade tem por missão nos auxiliar e não retirar as
dificuldades de nossas vidas.
A mensagem “ao acaso”
Há uma prática das mais simples, outro sábio mecanismo
divino, permitindo entrar em contato mais direto com o
nosso protetor: basta fazer uma oração, no silêncio de
nossa intimidade. Não há necessidade de pronunciar
palavras em alto e bom som, pois estes abnegados
trabalhadores abraçaram a tarefa de nos ajudar e pelo
pensamento sintonizam de imediato, isto se já não
estiverem ao nosso lado, atentos e solícitos, escutando
pacientemente os diversos e aparentemente infindáveis
reclamos.
Feita a oração, sincera, nascida de nossos corações,
tomemos um livro de mensagens espíritas, destes com
diversas abordagens de autoria de Emmanuel, André Luiz,
Joanna de Ângelis, dentre tantos outros, fixemos a nossa
atenção, pensemos detidamente no que está incomodando e,
“ao acaso”, com fé, abramos o livro.
É surpreendente a quantidade de textos surgindo “ao
acaso”, tratando diretamente sobre a questão a nos
afligir. Muitas possuem, já no título, o tema em exame
por nossas consciências, propondo ações, providências de
fazer ou deixar de fazer.
Nessa hora, precisamos ter o cuidado de ler com bastante
atenção, cuidadosamente, pois o conteúdo é sempre muito
útil, mesmo quando não percebemos de pronto a aplicação
da mensagem em nosso particular momento.
Entretanto, como se dá esta “coincidência” entre o que
pensamos e o que surge como orientação e esclarecimento?
O anjo da guarda toma sutilmente de nossa mão, nos faz
escolher um particular livro, se houver vários à
disposição, nos fazendo abrir na página necessária ou,
pelo pensamento, faz repercutir em nossa mente o momento
de parar de folhear o livro e abrir nesta e não naquela
outra mensagem. O protetor tem vários recursos para nos
fazer tomar o livro certo e abri-lo na parte mais
apropriada. Concluímos, desta forma, não existir o “ao
acaso”.
Ocorre, às vezes, a mensagem não “dizer” exatamente
aquilo por nós desejado; por exemplo, se estamos doentes
e sofrendo muito, gostaríamos de receber um texto
passando a mão em nossas cabeças, tratando-nos como
injustiçados pela ordem divina, sugerindo sermos o
último dos últimos, fazendo-nos crer não merecedores do
que estamos passando. Nestes casos, a mensagem pode
surgir desafiadora, mostrando-nos ser a doença agora
enfrentada resultado das condutas distantes das leis de
Deus vivenciadas durante largo tempo, nesta ou em outras
existências. Uma decepção segundo o nosso acanhado e
obtuso entendimento da mecânica da vida. Será preciso,
nesta hora, reconhecer os erros cometidos, levantar os
joelhos desconjuntados e retomar a marcha sempre avante
em busca da perfeição.
Há também as mensagens vistas como enigmáticas, aquelas
em que, aparentemente, não há conteúdo sobre a nossa
dúvida. Não são raras estas orientações, que nos
instigam a procurar o significado aparentemente oculto,
mas alcançando a nossa questão, só que de um modo
diverso daquele que imaginávamos. Nestes casos, é
interessante voltar ao mesmo texto, meditando ao longo
dos dias; diz a prática que muito em breve
reconheceremos a propriedade daquelas palavras,
descobrindo então como o guia espiritual acertou ao nos
sugerir a ação a ser tomada, todavia, às vezes, muito
diversa da nossa expectativa.
É nosso costume, quando em oração, formular o pedido
mentalmente, contudo, já pensando na resposta mais
agradável. Isso ocorre devido à nossa óptica imediatista
e limitada, pois não nos lembramos do passado e das
promessas feitas na erraticidade (1); nada obstante, o
protetor tem todas estas informações, por isso faz um
ajuizamento mais apropriado daquele que costumamos
fazer, mostrando a realidade da vida, aquilo que
verdadeiramente devemos considerar.
À hora de dormir (2)
Este é o título de uma das preces sugeridas por Allan
Kardec no capítulo Coletânea de preces espíritas, que
consta da terceira obra fundamental da Doutrina. O
objetivo dessa oração é o preparo para o sono, o
necessário período de descanso do corpo físico.
Passamos aproximadamente um terço de cada existência
dormindo, assim é mais do que oportuno saber que podemos
e devemos usar este precioso tempo para trabalhar,
estudar, visitar amigos e doentes, neste e em outros
mundos e, principalmente, interagir com o anjo da
guarda. É uma oportunidade ímpar para encontrar o nosso
protetor e com ele conversar sobre o andamento da vida,
pois ele estará lá, do outro lado, sempre e, se com
fervor e sinceridade nos dispusermos a ouvi-lo
diretamente, será uma ótima ocasião para tanto.
Ao acordar, se esse encontro se der, mantemos boas
impressões, fragmentos dos conselhos, orientações ou
sugestões, um bem estar indefinível pode surgir que
muito poderá nos ajudar a tomar essa ou aquela decisão.
Dissemos se o encontro acontecer, pois é comum nos
distrairmos antes de dormir, assistindo programas
televisivos de baixo nível moral, usando alcoólicos,
ingerindo alimentação pesada e farta, se esse for o
nosso preparo para o sono, não deveremos esperar muito
dessas noites. Estes hábitos impedem ou dificultam uma
boa relação com o nosso anjo da guarda, isso quando não
procuramos deliberadamente, após dormir, companhias e
lugares onde se possa dar vazão a quem sabe, práticas de
desejos proibidos que mantemos durante a vigília.
Assim, quando a noite se aproximar, lembremos da
possibilidade de entrar em contato direto com o anjo da
guarda e nos preparemos adequadamente, de início por uma
oração solicitando esse contato e ao despertar, que
conservemos a boa impressão desse encontro.
O desenvolvimento do sentido íntimo (3)
O Apóstolo do Espiritismo – Léon Denis –, em sua
magistral obra O Problema do ser e do destino,
registou uma importantíssima orientação visando nos
ensinar como estabelecer comunicação com os amigos do
espaço e, por ser um texto muito preciso, optamos por
manter na íntegra a sugestão de Denis para estabelecer
esse contato mais íntimo com o anjo da guarda:
[...] façam um movimento introspectivo, no isolamento e
no silêncio. Elevem seus pensamentos a Deus; chamem seu
espírito protetor, este guia tutelar que a Providência
atrela a nossos passos, na viagem da vida.
Interroguem-no sobre as questões que nos preocupam,
desde que elas sejam dignas dele, desvinculadas de
qualquer interesse menor; depois, esperem! Escutem,
atentamente, em vocês mesmos, e, ao cabo de um instante,
nas profundezas de sua consciência, vocês escutarão como
que o eco enfraquecido de uma voz longínqua ou, antes,
vocês perceberão as vibrações de um pensamento
misterioso, que banirá suas dúvidas, dissipará suas
angústias, acalentando-os e consolando-os.
É fato que esse procedimento deve ser realizado
constantemente, sempre aprimorando mais as percepções,
aguçando os sentidos pouco a pouco, fazendo uma espécie
de meditação. Em princípio, não será na primeira vez que
nos recolhermos intimamente que obteremos sucesso, até
porque, não sabemos como fazer silêncio interno para
perceber as intuições e inspirações, é preciso algum
treino e alguma paciência.
O andamento do mundo conspira contra esta prática, pois
temos nos acostumado a tentar absorver muitas ideias e
propostas ao mesmo tempo, a velocidade e quantidade de
informações que recebemos – em função de nossa permissão
-, é impressionante e prejudica a nossa concentração,
ainda mais com a chegada do celular, muito útil, mas uma
ferramenta que nos escraviza às informações periféricas,
sem constância, passageiras, muitas vezes pueris e este
uso descontrolado dessa conquista tecnológica traz uma
certa agitação às nossas mentes, ainda despreparadas
para captar e selecionar o que vem do espaço.
Assim, para implementar essa salutar conduta será
preciso esquecer os tumultos, agitações, atividades
muito ruidosas, pois são inimigos da conquista do
silêncio íntimo.
Devemos igualmente deixar de lado as companhias
negativas, os assistentes perturbados do espaço, os
participantes de nossos delitos, sob pena de também não
obter sucesso na construção de um ambiente propício à
aproximação mental com o nosso querido anjo guardião.
Somos responsáveis por quem nos assiste espiritualmente,
afinal a população desencarnada é de muito superior ao
número de habitantes da Terra e as entidades
desorientadas existem aos bilhões, mas é nosso o esforço
por não sintonizar com eles, preferindo sempre
afinizar-se com as boas almas que nos acompanham, em
particular, o nosso protetor.
Conclusão
Esses mecanismos de auxílio foram revelados, finalmente,
pelo Espiritismo e nada mais representam do que
explicações de como funcionam as leis divinas,
desconhecidas da maioria ao longo destes tempos, e mesmo
na atualidade.
Contudo, talvez o mais importante, não seja apenas o
conhecimento e uso dessas possibilidades, mas a
compreensão de que para que o auxílio se materialize
entre aquele que necessita amparo e aquele que pode
ajudar relativamente, é preciso que o desamparado
busque, por meio de condutas, pensamentos e palavras,
viver segundo os princípios do bem. Caso consigamos nos
manter relativamente íntegros, a busca por um contato
mais íntimo com o nosso anjo da guarda ainda poderá
acontecer, mas agora apenas para agradecer o empenho
desse incansável Espírito, enviado de Deus, por nos
cercar de salutares intuições sempre buscando nos
conduzir ao bom caminho, aquele que não cria novas
aflições futuras além daquelas que já teremos que
experimentar em função dos caminhos trilhados no passado
por estradas distanciadas do bem.
Não podemos esquecer que somos o ponto de apoio para que
a colaboração se efetue e que o melhor seria que nós
mesmos encontrássemos respostas para as muitas questões
que ainda formulamos, pois a função do anjo da guarda é
apenas a de orientar, quando necessário, pois se não for
assim, não aprenderemos jamais a nos conduzir sozinhos
pelo caminho da retidão.
Sejamos bons!
Referências:
1 Erraticidade: estado dos espíritos
errantes, isto é, não encarnados, durante os intervalos
de suas diversas existências corpóreas (Allan Kardec no
livro Instruções Práticas sobre as manifestações
espíritas. Vocabulário espírita).
2 KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o
Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. ed.
2. imp.1. Brasília/DF: FEB, 2013. Coletânea de preces
espíritas. cap. XXVIII. it. 38.
3 DENIS, Léon. O Problema do ser e do
destino. Tradução de Homero Dias de Carvalho. Rio de
Janeiro/RJ: CELD, 2011. A consciência. O sentido íntimo.
cap. XXI.
Nota do Autor:
É possível que o leitor estranhe o título
da obra de Léon Denis citado no texto e na referência da
obra do Centro Espírita Léon Denis - O Problema do
ser e do destino. Ocorre que o título amplamente
conhecido – O Problema do ser, do destino e da dor -
não corresponde ao original Le problème de l’être et
de la destinèe, fato que pode ser verificado
facilmente na obra original em francês e mesmo na
contracapa dos livros que incluem a expressão e da dor.
Até o momento, não encontramos justificativa para esta
alteração no título original.