Chico Xavier passava o dia trabalhando na Fazenda
Modelo. À noite, ia para o Centro. Não podia perder
tempo. Depois do almoço, costumava passar vinte minutos
à toa, à espera da charrete que o levaria de volta à
Fazenda Modelo. O charreteiro sempre se atrasava.
Numa tarde, ouviu a voz do poeta Casimiro Cunha, morto em 1914.
Ele estava disposto a ditar poemas para compor um novo livro,
aproveitando esses intervalos. Chico, então, engolia a comida,
corria para o quarto, debruçava-se sobre as páginas em branco.
Sua irmã fazia discursos sobre os malefícios de ler e escrever
após comer e ele colocava no papel seu décimo oitavo livro.
Cabeça vazia, oficina do diabo. Ele apostava no ditado. E,
muitas vezes, receitava o trabalho como cura para a ansiedade,
anestesia para a solidão, antídoto contra os obsessores e até
como forma de adiar a morte. O trabalho engrossa o fio da vida,
dizia o médium. O trabalho em favor dos outros era um remédio
quase milagroso. Quem alivia é aliviado.
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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