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por Wellington Balbo

 

O inconsciente da alma


Quando Freud buscou desvendar os bastidores dos desejos, impulsos, memórias e sentimentos nas comunicações humanas, notou que nem tudo estava no campo da consciência. Havia algo mais e que merecia ser investigado e trabalhado com cuidado. Há, escondida, bem na intimidade de cada sujeito, uma porção de questões ainda pouco trabalhadas e que, de certa forma, são lançadas neste “repositório” com o objetivo de proteger e deixar o psiquismo dentro de um padrão saudável de organização. Esses desejos, impulsos e sentimentos ficam imersos nesse lugar denominado de inconsciente, mas que, não raro, emerge à superfície da existência quando recebe alguns estímulos. Claro que Freud, materialista, resumia sua visão a uma única existência do sujeito.

Eis que nessa teoria materialista que não é errada, contudo incompleta, adentra o ser imortal, o Espírito, que por longos tempos trafega entre traumas, desejos, repressões, vivências, impulsos e experiências e aloca de alguma forma todos esses pontos nos bastidores da alma, numa espécie, se assim podemos chamar, de um inconsciente da alma.

Se para Freud há o inconsciente, para o Espírito não podemos deixar de fora também essa hipótese. Porém, Freud resume a ideia a uma existência, posto que materialista. Já o Espiritismo, quando se aprofunda no estudo do ser imortal, deixa a tese ainda mais complexa e o sujeito ainda mais rico, pois que suas experiências não remontam a alguns anos, mas a séculos, o que torna o inconsciente da alma ainda mais robusto.

Se todas as bases sociais, ações, omissões e tantos outros ões têm em suas estruturas uma parcela do inconsciente humano, imaginemos a tese muito mais vigorosa de que o inconsciente mergulha nas múltiplas existências, a mostrar que as questões são bem mais profundas do que se imagina.

A quem tiver curiosidade basta buscar na literatura as reminiscências que algumas crianças têm de suas existências pretéritas. Há pesquisas e pesquisadores sérios que dedicaram boa parte de suas vidas para averiguar esses intrigantes pontos. Como justificar um medo insano da água numa criança de 2 anos de idade e que, de forma concomitante, começa a ter recordações de que em algum momento de suas existências já “perdeu” a vida num lago?

Essa suposta recordação da criança pode ser imaginação, produto inconsciente do agora ou fruto da influência de algum parente que lhe contou uma história? Sim, pode. Todavia, para efeito de estudos e busca por instrução, não se pode descartar a tese da imortalidade da alma, sendo esta recordação uma vivência real da criança e o medo exposto ao ver a água o ponto de início, o gatilho que produziu o medo. Ou seja, essa recordação está aparentemente no inconsciente da alma e emerge ao receber um estímulo.

Em termos práticos, o que isso significa? Significa abrir as portas para um olhar muito mais abrangente do sujeito, tanto no campo do consciente quanto no campo do seu inconsciente, dos seus símbolos, significados e formas de interação com o mundo. Quando os meus olhos deitam atenção sobre alguém não está apenas olhando aqueles 20, 30, 40 anos de existência física, mas séculos, pois para o Espiritismo é isso mesmo, o ser que vive hoje já viveu e viverá.

Quando tento entender as razões pelas quais alguém age desta ou daquela forma, eu não me vinculo apenas a sua comunicação inconsciente do agora, mas, provavelmente, a uma comunicação do inconsciente de séculos.

Somos ricos e ainda estamos palmilhando os caminhos da verdade. Os conhecimentos que existem, mesmo que aparentemente estejam em polos distantes e sejam contraditórios, podem constatar que as diferenças, embora existentes, não são, assim, tão gritantes. Talvez haja mais convergências do que divergências entre os inúmeros saberes, e o preconceito, lamentavelmente, esteja afastando ideias que poderiam não se complementar, mas dialogar, como no caso, por exemplo, do Espiritismo e a psiquiatria ou, ainda, da psiquiatria e a psicologia.

Portanto, partindo do raciocínio acima, do diálogo entre os saberes sem, naturalmente, um sobrepor-se ao outro, a psicanálise e o Espiritismo podem, sim, oferecer elementos de reflexão mútuos e ajudar o sujeito a lidar com as complexidades do ontem, as incertezas do amanhã a promover um presente muito melhor e saudável, que possa ser vivido em sua plenitude, apesar de todos os pesares.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita