O inconsciente da alma
Quando Freud buscou desvendar os bastidores dos desejos,
impulsos, memórias e sentimentos nas comunicações
humanas, notou que nem tudo estava no campo da
consciência. Havia algo mais e que merecia ser
investigado e trabalhado com cuidado. Há, escondida, bem
na intimidade de cada sujeito, uma porção de questões
ainda pouco trabalhadas e que, de certa forma, são
lançadas neste “repositório” com o objetivo de proteger
e deixar o psiquismo dentro de um padrão saudável de
organização. Esses desejos, impulsos e sentimentos ficam
imersos nesse lugar denominado de inconsciente, mas que,
não raro, emerge à superfície da existência quando
recebe alguns estímulos. Claro que Freud, materialista,
resumia sua visão a uma única existência do sujeito.
Eis que nessa teoria materialista que não é errada,
contudo incompleta, adentra o ser imortal, o Espírito,
que por longos tempos trafega entre traumas, desejos,
repressões, vivências, impulsos e experiências e aloca
de alguma forma todos esses pontos nos bastidores da
alma, numa espécie, se assim podemos chamar, de um
inconsciente da alma.
Se para Freud há o inconsciente, para o Espírito não
podemos deixar de fora também essa hipótese. Porém,
Freud resume a ideia a uma existência, posto que
materialista. Já o Espiritismo, quando se aprofunda no
estudo do ser imortal, deixa a tese ainda mais complexa
e o sujeito ainda mais rico, pois que suas experiências
não remontam a alguns anos, mas a séculos, o que torna o
inconsciente da alma ainda mais robusto.
Se todas as bases sociais, ações, omissões e tantos
outros ões têm em suas estruturas uma parcela do
inconsciente humano, imaginemos a tese muito mais
vigorosa de que o inconsciente mergulha nas múltiplas
existências, a mostrar que as questões são bem mais
profundas do que se imagina.
A quem tiver curiosidade basta buscar na literatura as
reminiscências que algumas crianças têm de suas
existências pretéritas. Há pesquisas e pesquisadores
sérios que dedicaram boa parte de suas vidas para
averiguar esses intrigantes pontos. Como justificar um
medo insano da água numa criança de 2 anos de idade e
que, de forma concomitante, começa a ter recordações de
que em algum momento de suas existências já “perdeu” a
vida num lago?
Essa suposta recordação da criança pode ser imaginação,
produto inconsciente do agora ou fruto da influência de
algum parente que lhe contou uma história? Sim, pode.
Todavia, para efeito de estudos e busca por instrução,
não se pode descartar a tese da imortalidade da alma,
sendo esta recordação uma vivência real da criança e o
medo exposto ao ver a água o ponto de início, o gatilho
que produziu o medo. Ou seja, essa recordação está
aparentemente no inconsciente da alma e emerge ao
receber um estímulo.
Em termos práticos, o que isso significa? Significa
abrir as portas para um olhar muito mais abrangente do
sujeito, tanto no campo do consciente quanto no campo do
seu inconsciente, dos seus símbolos, significados e
formas de interação com o mundo. Quando os meus olhos
deitam atenção sobre alguém não está apenas olhando
aqueles 20, 30, 40 anos de existência física, mas
séculos, pois para o Espiritismo é isso mesmo, o ser que
vive hoje já viveu e viverá.
Quando tento entender as razões pelas quais alguém age
desta ou daquela forma, eu não me vinculo apenas a sua
comunicação inconsciente do agora, mas, provavelmente, a
uma comunicação do inconsciente de séculos.
Somos ricos e ainda estamos palmilhando os caminhos da
verdade. Os conhecimentos que existem, mesmo que
aparentemente estejam em polos distantes e sejam
contraditórios, podem constatar que as diferenças,
embora existentes, não são, assim, tão gritantes. Talvez
haja mais convergências do que divergências entre os
inúmeros saberes, e o preconceito, lamentavelmente,
esteja afastando ideias que poderiam não se
complementar, mas dialogar, como no caso, por exemplo,
do Espiritismo e a psiquiatria ou, ainda, da psiquiatria
e a psicologia.
Portanto, partindo do raciocínio acima, do diálogo entre
os saberes sem, naturalmente, um sobrepor-se ao outro, a
psicanálise e o Espiritismo podem, sim, oferecer
elementos de reflexão mútuos e ajudar o sujeito a lidar
com as complexidades do ontem, as incertezas do amanhã a
promover um presente muito melhor e saudável, que possa
ser vivido em sua plenitude, apesar de todos os pesares.